via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 8/18/08
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COM UM VASTÍSSIMO ESPAÇO, aberto sob as arcadas da Praça do Geraldo, o café cujo nome nelas se inspirou, nasceu para o público eborense da classe média, nos anos 40 do século passado. Com linhas muito modernas, um sem número de mesas, muitos criados e música ao vivo nas tardes de Domingo, assegurada por uma pequena orquestra, ao estilo de café-concerto, enchia-se até à porta, onde ficavam muitos dos que esperavam uma possibilidade para entrar. Por oito tostões (0,04 euros), nas ditas tardes de Domingo, mandava vir um "garoto" e, na companhia do meu irmão Mário e de mais três ou quatro amigos, à roda de uma mesa redonda, ouvíamos as músicas mais em voga, jogávamos à batalha naval e conversávamos. Só nessas tardes musicais era aceite, sem reparos, a presença das senhoras e das filhas adolescentes, desde que acompanhadas dos respectivos maridos e pais. No resto do tempo, o "Arcada" era espaço dos homens. De manhã dava assento e convívio a uns tantos reformados e a alguns ociosos com gente a trabalhar por sua conta. Depois do almoço, tomava-se ali a bica na companhia dos amigos, fazendo tempo de voltar ao emprego e, depois do jantar, enchia-se com todos aqueles que quisessem conviver fora de casa, sempre muitos nesse tempo, enquanto as mulheres ficavam a lavar a loiça, a costurar e a cuidar dos filhos.
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Às terças-feiras, o grande café, transformado em bolsa de valores e em câmara de comércio, fervilhava de homens ligados à lavoura. Neste formigueiro de gente, entre produtores, compradores e intermediários, transaccionava-se toda a cortiça de um montado, a azeitona de um olival ou uma vara de porcos, alugava-se uma debulhadora ou uma porção de hectares de terra para fazer uma seara de pão. Também por ali andava um ou outro agiota, cuja presença era providencial no fecho de muitas transacções. Combinavam-se preços, datas e taxas de juros e os negócios eram fechados, sem papéis, com apertos de mão. Na grande maioria, estes homens conviviam bem com o regime político de então mas, entre eles, havia um muito pequeno número de donos de terras, cuja ideologia social e política apontava noutras direcções, e isso fazia com que, também no meio desta pequena multidão, andassem por ali, vendo e ouvindo, alguns informadores da Pide.
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Às terças-feiras, o grande café, transformado em bolsa de valores e em câmara de comércio, fervilhava de homens ligados à lavoura. Neste formigueiro de gente, entre produtores, compradores e intermediários, transaccionava-se toda a cortiça de um montado, a azeitona de um olival ou uma vara de porcos, alugava-se uma debulhadora ou uma porção de hectares de terra para fazer uma seara de pão. Também por ali andava um ou outro agiota, cuja presença era providencial no fecho de muitas transacções. Combinavam-se preços, datas e taxas de juros e os negócios eram fechados, sem papéis, com apertos de mão. Na grande maioria, estes homens conviviam bem com o regime político de então mas, entre eles, havia um muito pequeno número de donos de terras, cuja ideologia social e política apontava noutras direcções, e isso fazia com que, também no meio desta pequena multidão, andassem por ali, vendo e ouvindo, alguns informadores da Pide.
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