sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pesamos mais na praia do que na montanha

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 06/07/09
TODOS SABEMOS que a massa de um corpo é a medida da quantidade de matéria nele contida e que o peso desse corpo é a força com que a Terra o atrai. Essa força gravítica, como nos ensinou Newton (1642-1727) e que todos decorámos na escola, é directamente proporcional às massas do planeta e desse corpo e inversamente proporcional ao quadrado da distância que separa os respectivos centros de gravidade. Uma vez que a Terra não é perfeitamente esférica, uma mesma massa tem pesos diferentes consoante os locais onde se encontra. Nos pólos, onde o raio do planeta é menor, qualquer corpo pesa mais do que no equador, onde o raio é cerca de 25km mais longo. No cimo do Monte Evereste (8 848m), os corpos pesam menos do que ao nível do mar. São cerca de nove quilómetros de diferença na distância ao centro do planeta. Podemos afirmar, então, que pesamos mais na praia do que na montanha.

Um outro factor interfere na referida força de atracção, e esse factor é a densidade das rochas do subsolo onde se proceda à pesagem de um corpo. Quanto mais densas forem essas rochas, maior é a força da gravidade. Assim, no mar, longe os continentes, um mesmo corpo pesa mais do que em terra, uma vez que a crosta oceânica, basáltica, é mais densa (2,9) do que a crosta continental (2,7), essencialmente granítica. Há, pois, uma relação estreita entre as anomalias da gravidade e o equilíbrio isostático.

Os gravímetros são aparelhos de alta precisão com capacidade para medir o valor da aceleração da gravidade em qualquer lugar, em terra ou no mar. A sua grande sensibilidade põe em evidência variações mínimas daqueles valores, em função da latitude, da altitude e da natureza geológica dos locais onde são instalados.

Através de cálculos matemáticos podemos sempre determinar o valor da aceleração da gravidade em qualquer ponto da superfície da Terra. Os valores medidos com o gravímetro necessitam de ser referidos à superfície do geóide e corrigidos de interferências de natureza geológica, a fim de serem comparados com os valores calculados. Verifica-se, então, que, em geral, os valores medidos e corrigidos não coincidem com os valores calculados matematicamente. A diferença entre estes dois resultados é entendida como uma anomalia da gravidade, passível de interpretação geológica. Consideram-se anomalias negativas quando o valor calculado supera o valor medido, e positivas na situação contrária. Nos continentes, as anomalias da gravidade são negativas e aumentam em valor absoluto nas regiões montanhosas, onde a crosta continental (menos densa) é mais espessa. Nos oceanos as anomalias são positivas e variam em função da estrutura do respectivo substrato.

«DN» de 3 de Junho de 2009

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