via universidade de Gil Gonçalves em 24/09/09
Fernando Correia da Silva
Deus, Pátria e Família é investimento seguro.
Salazar equilibra o orçamento. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
Nos corredores da Ditadura militares conspiram com liberais (os "bonzos" recuperados) e conservadores para me derrubarem. Mas em 1930 já ninguém consegue remover-me, peguei de estaca. Não sou ainda o presidente do Conselho de Ministros, mas hei-de ser, não tarda muito. Com o auxílio do exército imponho novas contribuições. Veto despesas públicas e alcanço o equilíbrio do orçamento, liquido a dívida flutuante, estabilizo a moeda. Não me arredam, já não conseguem, ou eu ou a bancarrota.
Aperta-se o cinto, há quem se queixe da vida, pelos menos na capital. Mas nas aldeias ninguém se queixa. Ali, às vezes, não há trabalho, mas raramente eles deixam de comer. Ali, às vezes, falta dinheiro e roupa para vestir, mas há sempre uma côdea ou um caldo para enfrentar um novo dia. Prefiro o povo das aldeias.
A União Nacional
Comecei por aforrar prestígio. Agora vou aplicá-lo na formação de um partido, a União Nacional. Deus, Pátria e Família é investimento seguro. Não eu, mas outros por mim, devem começar a fazer o alarde, nacionalistas que beberam do Integralismo. Eu ficarei na sombra, serei sempre o desejado, o encoberto, o Anjo da Guarda em retiro. Não vou desgastar a minha imagem junto da populaça, nem isso me apetece, omnipresença será um dos meus atributos. Embora com objectivos convergentes, sou o avesso do Mussolini.
Uma intentona malograda dos "reviralhistas" e logo se precipita o previsível: ainda em 1930 tomo posse como Presidente do Conselho de Ministros. Trato de oficializar a União Nacional. Declaro:
- Temos uma doutrina e somos uma força!
Recomendo ao Cerejeira que encerre o Centro Católico Português. Saiba ele, e saibam todas as direitas, que a União Nacional passou a ser a Direita, a única.
Cada coisa em seu lugar
Exijo disciplina, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. O lugar dos políticos é na Política, o dos militares é nos quartéis, o do clero é na Igreja.
Em 1932 recomponho o Governo. Dos quatro generais dispenso três, apenas reservo o Carmona para continuar como Presidente da República. Se os três dispensados quiserem começar a conspirar contra mim, pois que o façam, atrevam-se eles a enfrentar o meu prestígio...
Na cerimónia de posse dos novos Ministros também está presente o Alfredo da Silva, o patrão da CUF - Companhia União Fabril. Não gosto dele, pior do que a exuberância é a sua ânsia de alargar império, de dia para dia mais cresce o número dos seus operários. E é nesta classe de infelizes que mais facilmente germina o bolchevismo, semente do Mal. Sem dar por isso, ele e outros como ele, estão a cavar a própria sepultura, talvez a minha e a da Nação. Cego, magnata cego...
Vou depois apresentar cumprimentos ao cardeal Cerejeira, é a praxe. Desde que foi encerrado o Centro Católico Português, ele tem vindo a agitar o nome do Cunha Leal para me substituir. Não discuto intrigas de sacristia. Declaro-lhe que só posso levar em consideração os interesses da Igreja desde que se conjuguem com os interesses do Estado Novo. Espero que entenda o recado. Perante Deus somos todos iguais, mas cada qual no seu lugar.
O Estado Novo
Só vêem o que lhes passa diante do nariz, são incapazes de distinguir entre a letra e o espírito. A nova Constituição, ratificada em 1933, prevê eleições? Pois prevê, assim travo os republicanos conservadores e vagamente democratas que herdámos do "28 de Maio". Mas quem controla as eleições sou eu, é a União Nacional, através das restrições relativas ao grau de instrução, ao sexo e à propriedade do eleitorado. Isto não o vêem os conservadores, nem sequer os nacionais-sindicalistas do Rolão Preto.
Entusiasmados com a vitória do nacional-socialismo na Alemanha, milhares de camisas azuis fazem a saudação romana e andam a agitar o povo de norte a sul da Nação, gritam e proclamam que os traí. É preciso pôr um ponto final nestas arruaças, para isso contarei com o tácito apoio dos conservadores, militares e civis. Chamo ao meu gabinete o Teotónio Pereira e o Manuel Múrias. Ouvem-me com atenção e tratam de esfacelar, por dentro, o Movimento Nacional-Sindicalista a que pertencem, colocando o Rolão Preto em minoria. Assim isolado, logo o mando prender e expulso-o da Nação. Mas ao mesmo tempo abro as portas da União Nacional aos órfãos de camisa azul. Apenas sugiro que vistam outras. Para os consolar, também eu começo a fazer a saudação romana. Ficam aliviados e contentes. Serão eles os grandes activistas do Estado Novo.
Em 1936, nas comemorações do 10.º aniversário da Revolução Nacional, declaro:
- Às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século procurámos restituir o conforto das grandes certezas. Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua história; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.
Imagem: http://1.bp.blogspot.com/
Deus, Pátria e Família é investimento seguro.
Salazar equilibra o orçamento. Entretanto, o que está a acontecer no resto do mundo? Consulta a Tábua Cronológica.
Nos corredores da Ditadura militares conspiram com liberais (os "bonzos" recuperados) e conservadores para me derrubarem. Mas em 1930 já ninguém consegue remover-me, peguei de estaca. Não sou ainda o presidente do Conselho de Ministros, mas hei-de ser, não tarda muito. Com o auxílio do exército imponho novas contribuições. Veto despesas públicas e alcanço o equilíbrio do orçamento, liquido a dívida flutuante, estabilizo a moeda. Não me arredam, já não conseguem, ou eu ou a bancarrota.
Aperta-se o cinto, há quem se queixe da vida, pelos menos na capital. Mas nas aldeias ninguém se queixa. Ali, às vezes, não há trabalho, mas raramente eles deixam de comer. Ali, às vezes, falta dinheiro e roupa para vestir, mas há sempre uma côdea ou um caldo para enfrentar um novo dia. Prefiro o povo das aldeias.
A União Nacional
Comecei por aforrar prestígio. Agora vou aplicá-lo na formação de um partido, a União Nacional. Deus, Pátria e Família é investimento seguro. Não eu, mas outros por mim, devem começar a fazer o alarde, nacionalistas que beberam do Integralismo. Eu ficarei na sombra, serei sempre o desejado, o encoberto, o Anjo da Guarda em retiro. Não vou desgastar a minha imagem junto da populaça, nem isso me apetece, omnipresença será um dos meus atributos. Embora com objectivos convergentes, sou o avesso do Mussolini.
Uma intentona malograda dos "reviralhistas" e logo se precipita o previsível: ainda em 1930 tomo posse como Presidente do Conselho de Ministros. Trato de oficializar a União Nacional. Declaro:
- Temos uma doutrina e somos uma força!
Recomendo ao Cerejeira que encerre o Centro Católico Português. Saiba ele, e saibam todas as direitas, que a União Nacional passou a ser a Direita, a única.
Cada coisa em seu lugar
Exijo disciplina, um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. O lugar dos políticos é na Política, o dos militares é nos quartéis, o do clero é na Igreja.
Em 1932 recomponho o Governo. Dos quatro generais dispenso três, apenas reservo o Carmona para continuar como Presidente da República. Se os três dispensados quiserem começar a conspirar contra mim, pois que o façam, atrevam-se eles a enfrentar o meu prestígio...
Na cerimónia de posse dos novos Ministros também está presente o Alfredo da Silva, o patrão da CUF - Companhia União Fabril. Não gosto dele, pior do que a exuberância é a sua ânsia de alargar império, de dia para dia mais cresce o número dos seus operários. E é nesta classe de infelizes que mais facilmente germina o bolchevismo, semente do Mal. Sem dar por isso, ele e outros como ele, estão a cavar a própria sepultura, talvez a minha e a da Nação. Cego, magnata cego...
Vou depois apresentar cumprimentos ao cardeal Cerejeira, é a praxe. Desde que foi encerrado o Centro Católico Português, ele tem vindo a agitar o nome do Cunha Leal para me substituir. Não discuto intrigas de sacristia. Declaro-lhe que só posso levar em consideração os interesses da Igreja desde que se conjuguem com os interesses do Estado Novo. Espero que entenda o recado. Perante Deus somos todos iguais, mas cada qual no seu lugar.
O Estado Novo
Só vêem o que lhes passa diante do nariz, são incapazes de distinguir entre a letra e o espírito. A nova Constituição, ratificada em 1933, prevê eleições? Pois prevê, assim travo os republicanos conservadores e vagamente democratas que herdámos do "28 de Maio". Mas quem controla as eleições sou eu, é a União Nacional, através das restrições relativas ao grau de instrução, ao sexo e à propriedade do eleitorado. Isto não o vêem os conservadores, nem sequer os nacionais-sindicalistas do Rolão Preto.
Entusiasmados com a vitória do nacional-socialismo na Alemanha, milhares de camisas azuis fazem a saudação romana e andam a agitar o povo de norte a sul da Nação, gritam e proclamam que os traí. É preciso pôr um ponto final nestas arruaças, para isso contarei com o tácito apoio dos conservadores, militares e civis. Chamo ao meu gabinete o Teotónio Pereira e o Manuel Múrias. Ouvem-me com atenção e tratam de esfacelar, por dentro, o Movimento Nacional-Sindicalista a que pertencem, colocando o Rolão Preto em minoria. Assim isolado, logo o mando prender e expulso-o da Nação. Mas ao mesmo tempo abro as portas da União Nacional aos órfãos de camisa azul. Apenas sugiro que vistam outras. Para os consolar, também eu começo a fazer a saudação romana. Ficam aliviados e contentes. Serão eles os grandes activistas do Estado Novo.
Em 1936, nas comemorações do 10.º aniversário da Revolução Nacional, declaro:
- Às almas dilaceradas pela dúvida e o negativismo do século procurámos restituir o conforto das grandes certezas. Não discutimos Deus e a virtude; não discutimos a Pátria e a sua história; não discutimos a autoridade e o seu prestígio; não discutimos a família e a sua moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever.
Imagem: http://1.bp.blogspot.com/
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