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via Luís Graça & Camaradas da Guiné de Luís Graça em 23/04/08
Título: Marechal Costa Gomes: No Centro da Tempestade.
Autor: Luís Nuno Rodrigues.
Editora: A Esfera do Livro, Lisboa.
Ano: 2008.
Colecção: História Biográfica
Preço: c. 27 €
Nº páginas: 408 + 24 extratextos
Encadernação: Cartonado
COSTA GOMES,O MARECHAL QUE NOS AJUDOU A FUNDAR ESTA REPÚBLICA
por Beja Santos
Os seus detractores chamaram-lhe "Chico Rolha" ou "O Cortiça" mas também o "Agente dos Vermelhos". No entanto, foi a figura decisiva de uma revolução, a última que tivemos no século passado, que moderou sem nunca ter tido aspirações a ser revolucionário.
Foi indiscutivelmente o oficial general mais prestigiado e brilhante das Forças Armadas Portuguesas no século XX, mas nunca deixou de pensar como um civil, sem, contudo, ter deixado em momentos decisivos de agir como o garante da dignidade dos militares. É considerado uma figura modelar ao nível da estratégia, sobretudo em Moçambique e Angola, mas previu que não havia solução militar para os conflitos armados nos três teatros de guerra. Quando, em Agosto de 1973, Caetano sugeriu o abandono discreto da província da Guiné, reagiu desfavoravelmente, lembrado da tragédia de Goa.
Homem da matemática, nunca escondendo a sua formação católica, esteve no centro dos acontecimentos políticos e militares entre 1974 e 1976. Suscitou invejas, ódios, acusações e, logo que possível, muitos políticos que tanto lhe deviam, tudo fizeram para procurar apagar ou distorcer a marca indelével que ele deixou na História de Portugal.
Marechal Costa Gomes, no centro da tempestade é a biografia que lhe consagrou Luís Nuno Rodrigues, um relato rigoroso e muito acessível da trajectória de um militar-político, que indiscutivelmente conseguiu conter as tensões extremadas do Verão Quente de 1975, evitando o perigo da guerra civil e manobrando com êxito para que se viesse a fundar o regime democrático em Portugal (A Esfera dos Livros, 2008) (1).
Francisco da Costa Gomes tornou-se presidente da República quando António de Spínola renunciou ao cargo, em 30 de Setembro de 1974, em consequência de uma prolongada tensão com as forças do MFA, sobretudo a sua Comissão Coordenadora, e depois de uma tentativa falhada em criar uma onda de simpatia para o seu projecto autocrático.
Tratando-se de uma biografia, o autor descreve as principais etapas da educação e formação do presidente da república: o Colégio Militar, os seus primeiros passos na carreira militar, a sua missão em Macau (etapa fundamental para o prestígio que granjeou na hierarquia), depois a sua passagem pela NATO, a sua nomeação como Subsecretário de Estado do Exército, onde teve um papel capital na reorganização das forças ultramarinas, nos finais dos anos 50 e início dos anos 60. Teve igualmente um papel discreto nos acontecimentos do pronunciamento militar conhecido por "Abrilada" ou "Golpe Botelho Moniz", em Abril de 1961.
Afastado do poder, foi "recuperado" quando eclodiu em todo o seu fragor a guerra colonial, a seguir a 1965: segundo-comandante da Região Militar de Moçambique, de 1965 a 1967, e depois seu comandante até 1969, tendo indiscutivelmente travado o esforço militar da FRELIMO; em 1970 parte para Angola onde exerceu as funções de comandante da Região Militar e onde vai permanecer até meados de 1972, conseguindo assinaláveis sucessos na modernização do dispositivo militar, atraindo e formando tropas locais, reduzindo a guerra de guerrilhas a quase nada. Em Setembro de 1972 foi nomeado chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
A partir de 1973, quando estala o conflito entre o Governo de Marcelo Caetano e os capitães do Quadro Permanente, Costa Gomes aparece como defensor dos interesses destes oficiais, ouvindo-os e alertando os ministros do Exército e da Defesa para as razões do descontentamento. Criado o Movimento das Forças Armadas, Costa Gomes foi o general mais votado para surgir como líder do Movimento. Enquanto Spínola se mantém activo e acolhe regularmente um grupo de oficiais, Costa Gomes deliberou manter o seu distanciamento.
Luís Nuno Rodrigues escreve com documentação segura tudo quanto se vai passar ao nível das relações militares com Marcelo Caetano até ao 25 de Abril de 1974: a amizade entre Spínola e Costa Gomes e as suas carreiras diferenciadas, em que pesou o princípio do desmoronamento do teatro da Guiné, em 1973, e que revela a contingência do colapso militar. Costa Gomes visita a Guiné nesse momento crítico e propõe a redução da área efectivamente ocupada, proposta recebida desfavoravelmente por Spínola. Spínola pede a demissão de governador e comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné e é substituído.
A leitura de Marcelo Caetano, como se disse acima, ainda era mais drástica, pois propunha o acantonamento das Forças Armadas à península de Bissau, o que também não foi aceite, já que parecia configurar-se como uma manobra aparentada com o desastre da Índia, com a consequente hipótese de haver acusação de cobardia militar.
A autorização da publicação do livro de Spínola, Portugal e o Futuro, foi o detonador para as movimentações militares, até então circunscritas às reuniões clandestinas dos jovens oficiais. Caetano entrega o poder a Spínola no convento do Carmo, mas não houve equívoco no que os militares pensavam da personalidade de Costa Gomes, incapaz de um acto impulsivo e nunca tentado para o poder pessoal.
Enquanto Spínola se emaranha na formação do 1º Governo e nas tensões da descolonização, Costa Gomes viaja pelas províncias ultramarinas e constata que não há margem de manobra para continuar as guerras, em qualquer dos teatros de operações. O conflito de Spínola/MFA é indisfarçável após a queda do primeiro Governo Provisório. A relação entre os dois oficiais generais é de progressivo afastamento, embora, mesmo depois do 28 de Setembro tenham mantido um recíproco bom trato. O 11 de Março mudou tudo.
Nomeado presidente da República, Costa Gomes colocou a descolonização como o principal problema que se punha ao país, continuou um bom relacionamento com o MFA, apaziguou conflitos levantados ao nível da sua ala radical, é um período de inúmeros encontros internacionais com políticos das principais áreas de decisão, sobretudo na Europa e Estados Unidos.
A sua voz e a sua serenidade revelaram-se da maior importância perante o acumular de preocupações com a degradação da situação interna. Com efeito, a partir de Outubro e Novembro de 1974 vive-se numa atmosfera de permanente sobressalto, de golpismo, de crescimento de utopias, de tensões entre o PS e o PCP até se chegar ao 11 de Março de 1975, onde a postura de Costa Gomes foi decisiva para a manutenção das propostas iniciais do MFA quanto a eleições e à formação de uma Assembleia Constituinte.
Assim se chega ao Verão Quente e o autor vai destacando ao longo desses meses determinantes as declarações de Costa Gomes que evidenciam um pensamento firme quanto à manutenção do pluralismo partidário. Lendo à distância dos anos estas declarações, é incontestável uma deliberada postura de Costa Gomes, pautada por uma elevada cautela na redução dos conflitos num período em que o PS e o PPD saíram do Governo, em que se forma o V Governo Provisório, em que os boatos de todos os matizes proliferam no país, em que se estabelece uma ponte aérea para retirar os fugitivos de Angola, em que toda a gente de manifestava a qualquer hora do dia e da noite e em que o MFA se cindia em grupos cada vez mais irredutíveis.
Assim se chegou ao 25 de Novembro, talvez o ponto culminante da ágil capacidade de manobra de Costa Gomes, bem sucedido em travar os confrontos militares e políticos. A documentação invocada por Luís Nuno Rodrigues é de inexcedível importância, e é base irrefutável do papel desempenhado por Costa Gomes.
Trata-se de uma biografia marcada pela elegância das atitudes do biografado, escusando-se a destacar a mesquinhez dos políticos que tudo fizeram para a apoucar o papel de Costa Gomes na consolidação do processo democrático, ou as manobras para o impedir de continuar a servir Portugal, ele que possuía tantos talentos e que inclusivamente ganhara prestígio na cena internacional.
Luís Nuno Rodrigues ganhou a aposta em relançar o mais prestigiado militar português do século XX no seu papel de presidente da República naqueles momentos tão conturbados que se viveram entre 1974 e 1976. O que esta biografia deixa em suspenso é saber como e quando Portugal irá reconhecer na plenitude o papel desempenhado por Costa Gomes na fundação da nossa República.
__________
Nota dos editores:
(1) Vd. poste de 16 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2765: Convite (4): Lançamento do livro Marechal Costa Gomes no Centro da Tempestade (Esfera dos Livros, Lisboa)
Encadernação: Cartonado
COSTA GOMES,O MARECHAL QUE NOS AJUDOU A FUNDAR ESTA REPÚBLICA
por Beja Santos
Os seus detractores chamaram-lhe "Chico Rolha" ou "O Cortiça" mas também o "Agente dos Vermelhos". No entanto, foi a figura decisiva de uma revolução, a última que tivemos no século passado, que moderou sem nunca ter tido aspirações a ser revolucionário.
Foi indiscutivelmente o oficial general mais prestigiado e brilhante das Forças Armadas Portuguesas no século XX, mas nunca deixou de pensar como um civil, sem, contudo, ter deixado em momentos decisivos de agir como o garante da dignidade dos militares. É considerado uma figura modelar ao nível da estratégia, sobretudo em Moçambique e Angola, mas previu que não havia solução militar para os conflitos armados nos três teatros de guerra. Quando, em Agosto de 1973, Caetano sugeriu o abandono discreto da província da Guiné, reagiu desfavoravelmente, lembrado da tragédia de Goa.
Homem da matemática, nunca escondendo a sua formação católica, esteve no centro dos acontecimentos políticos e militares entre 1974 e 1976. Suscitou invejas, ódios, acusações e, logo que possível, muitos políticos que tanto lhe deviam, tudo fizeram para procurar apagar ou distorcer a marca indelével que ele deixou na História de Portugal.
Marechal Costa Gomes, no centro da tempestade é a biografia que lhe consagrou Luís Nuno Rodrigues, um relato rigoroso e muito acessível da trajectória de um militar-político, que indiscutivelmente conseguiu conter as tensões extremadas do Verão Quente de 1975, evitando o perigo da guerra civil e manobrando com êxito para que se viesse a fundar o regime democrático em Portugal (A Esfera dos Livros, 2008) (1).
Francisco da Costa Gomes tornou-se presidente da República quando António de Spínola renunciou ao cargo, em 30 de Setembro de 1974, em consequência de uma prolongada tensão com as forças do MFA, sobretudo a sua Comissão Coordenadora, e depois de uma tentativa falhada em criar uma onda de simpatia para o seu projecto autocrático.
Tratando-se de uma biografia, o autor descreve as principais etapas da educação e formação do presidente da república: o Colégio Militar, os seus primeiros passos na carreira militar, a sua missão em Macau (etapa fundamental para o prestígio que granjeou na hierarquia), depois a sua passagem pela NATO, a sua nomeação como Subsecretário de Estado do Exército, onde teve um papel capital na reorganização das forças ultramarinas, nos finais dos anos 50 e início dos anos 60. Teve igualmente um papel discreto nos acontecimentos do pronunciamento militar conhecido por "Abrilada" ou "Golpe Botelho Moniz", em Abril de 1961.
Afastado do poder, foi "recuperado" quando eclodiu em todo o seu fragor a guerra colonial, a seguir a 1965: segundo-comandante da Região Militar de Moçambique, de 1965 a 1967, e depois seu comandante até 1969, tendo indiscutivelmente travado o esforço militar da FRELIMO; em 1970 parte para Angola onde exerceu as funções de comandante da Região Militar e onde vai permanecer até meados de 1972, conseguindo assinaláveis sucessos na modernização do dispositivo militar, atraindo e formando tropas locais, reduzindo a guerra de guerrilhas a quase nada. Em Setembro de 1972 foi nomeado chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas.
A partir de 1973, quando estala o conflito entre o Governo de Marcelo Caetano e os capitães do Quadro Permanente, Costa Gomes aparece como defensor dos interesses destes oficiais, ouvindo-os e alertando os ministros do Exército e da Defesa para as razões do descontentamento. Criado o Movimento das Forças Armadas, Costa Gomes foi o general mais votado para surgir como líder do Movimento. Enquanto Spínola se mantém activo e acolhe regularmente um grupo de oficiais, Costa Gomes deliberou manter o seu distanciamento.
Luís Nuno Rodrigues escreve com documentação segura tudo quanto se vai passar ao nível das relações militares com Marcelo Caetano até ao 25 de Abril de 1974: a amizade entre Spínola e Costa Gomes e as suas carreiras diferenciadas, em que pesou o princípio do desmoronamento do teatro da Guiné, em 1973, e que revela a contingência do colapso militar. Costa Gomes visita a Guiné nesse momento crítico e propõe a redução da área efectivamente ocupada, proposta recebida desfavoravelmente por Spínola. Spínola pede a demissão de governador e comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné e é substituído.
A leitura de Marcelo Caetano, como se disse acima, ainda era mais drástica, pois propunha o acantonamento das Forças Armadas à península de Bissau, o que também não foi aceite, já que parecia configurar-se como uma manobra aparentada com o desastre da Índia, com a consequente hipótese de haver acusação de cobardia militar.
A autorização da publicação do livro de Spínola, Portugal e o Futuro, foi o detonador para as movimentações militares, até então circunscritas às reuniões clandestinas dos jovens oficiais. Caetano entrega o poder a Spínola no convento do Carmo, mas não houve equívoco no que os militares pensavam da personalidade de Costa Gomes, incapaz de um acto impulsivo e nunca tentado para o poder pessoal.
Enquanto Spínola se emaranha na formação do 1º Governo e nas tensões da descolonização, Costa Gomes viaja pelas províncias ultramarinas e constata que não há margem de manobra para continuar as guerras, em qualquer dos teatros de operações. O conflito de Spínola/MFA é indisfarçável após a queda do primeiro Governo Provisório. A relação entre os dois oficiais generais é de progressivo afastamento, embora, mesmo depois do 28 de Setembro tenham mantido um recíproco bom trato. O 11 de Março mudou tudo.
Nomeado presidente da República, Costa Gomes colocou a descolonização como o principal problema que se punha ao país, continuou um bom relacionamento com o MFA, apaziguou conflitos levantados ao nível da sua ala radical, é um período de inúmeros encontros internacionais com políticos das principais áreas de decisão, sobretudo na Europa e Estados Unidos.
A sua voz e a sua serenidade revelaram-se da maior importância perante o acumular de preocupações com a degradação da situação interna. Com efeito, a partir de Outubro e Novembro de 1974 vive-se numa atmosfera de permanente sobressalto, de golpismo, de crescimento de utopias, de tensões entre o PS e o PCP até se chegar ao 11 de Março de 1975, onde a postura de Costa Gomes foi decisiva para a manutenção das propostas iniciais do MFA quanto a eleições e à formação de uma Assembleia Constituinte.
Assim se chega ao Verão Quente e o autor vai destacando ao longo desses meses determinantes as declarações de Costa Gomes que evidenciam um pensamento firme quanto à manutenção do pluralismo partidário. Lendo à distância dos anos estas declarações, é incontestável uma deliberada postura de Costa Gomes, pautada por uma elevada cautela na redução dos conflitos num período em que o PS e o PPD saíram do Governo, em que se forma o V Governo Provisório, em que os boatos de todos os matizes proliferam no país, em que se estabelece uma ponte aérea para retirar os fugitivos de Angola, em que toda a gente de manifestava a qualquer hora do dia e da noite e em que o MFA se cindia em grupos cada vez mais irredutíveis.
Assim se chegou ao 25 de Novembro, talvez o ponto culminante da ágil capacidade de manobra de Costa Gomes, bem sucedido em travar os confrontos militares e políticos. A documentação invocada por Luís Nuno Rodrigues é de inexcedível importância, e é base irrefutável do papel desempenhado por Costa Gomes.
Trata-se de uma biografia marcada pela elegância das atitudes do biografado, escusando-se a destacar a mesquinhez dos políticos que tudo fizeram para a apoucar o papel de Costa Gomes na consolidação do processo democrático, ou as manobras para o impedir de continuar a servir Portugal, ele que possuía tantos talentos e que inclusivamente ganhara prestígio na cena internacional.
Luís Nuno Rodrigues ganhou a aposta em relançar o mais prestigiado militar português do século XX no seu papel de presidente da República naqueles momentos tão conturbados que se viveram entre 1974 e 1976. O que esta biografia deixa em suspenso é saber como e quando Portugal irá reconhecer na plenitude o papel desempenhado por Costa Gomes na fundação da nossa República.
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Nota dos editores:
(1) Vd. poste de 16 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2765: Convite (4): Lançamento do livro Marechal Costa Gomes no Centro da Tempestade (Esfera dos Livros, Lisboa)
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