quarta-feira, 23 de abril de 2008

Rui Ramos, *Haverá sangue?*, hoje no *Público*. Extractos:

Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:

via Da Literatura de Eduardo Pitta em 23/04/08

Rui Ramos, Haverá sangue?, hoje no Público. Extractos:


«Afinal, não foi preciso a bomba. Menezes foi-se embora. Disse ele que por causa da "guerra interna". E nós, curiosamente, acreditamos: não no motivo da saída, mas na guerra que eles, no PSD, dizem fazer uns aos outros. Mas alguém viu sangue?

Que eles não gostam uns dos outros é óbvio. Que tentam limitar-se e inutilizar-se uns aos outros também. Mas onde estão os confrontos em órgãos directivos, como na última transição do CDS? Os deputados expulsos, como no PCP? Os candidatos dissidentes, como aconteceu ao PS nas presidenciais e em Lisboa? Ou as grandes cisões, como no tempo de Sá Carneiro? Por enquanto, a actual "guerra interna" no PSD arde sem se ver, como o fogo de Camões. [...]

É que se os rivais de Menezes perceberam entretanto o "erro" de terem deixado Mendes perder, também Menezes percebeu o "erro" de ter ganho a Mendes. [...] A sua saída é, na prática, uma proposta de negociação. Por ele, só haverá guerra agora, se não arranjar quotas devidamente honrosas nas célebres "listas". Têm um mês para ficarem todos mais ou menos contentes. E como as querelas são sobretudo pessoais, sem nada de ideológico ou "social" (ao contrário do que gosta de imaginar a imprensa, para dar profundidade ao que a não tem), não é impossível um entendimento: tudo é uma questão de equilíbrio e bom senso.

E não, não é a interpretação que é cínica, é o PSD que é assim: uma meada de calculismos, da qual ninguém tem o fio. A pressão sobre Manuela Ferreira Leite para se candidatar revela o que procuram as gentes do PSD: ninguém espera uma Thatcher, mas uma
"federadora", uma santa da "unidade" e "pacificação", supostamente abençoada em Belém. Se Ferreira Leite se deixar propor nesses termos, o PSD terá à frente uma espécie de "presidente da mesa do congresso" glorificada, para arbitrar entre personalidades e facções. É, aliás, o que mais convém a um partido que existe sobretudo como uma federação de autarquias, naturalmente avessas a lideranças nacionais demasiado exigentes.

Ficará Santana de fora destes eventuais compromissos? Nesse caso, talvez haja algum sangue. Mas apenas o necessário para expelir um agitador diminuído. Quanto ao mais, os que desejam grandes debates, grandes líderes, grandes "diferenças" em relação ao PS devem talvez sentar-se, porque vão ter de esperar. [...] Até porque o que está em jogo em 2009, do ponto de vista da elite do partido, pode não ser suficiente para justificar uma "guerra interna" a sério.

Seja qual for o novo chefe, não faltará o entusiasmo inicial da praxe — como houve com Menezes. Os imaginativos hão-de conseguir ver Sócrates, com a ajuda da "crise", já diminuído ou até apeado — como também conseguiram ver com Menezes. Sobreviverão essas esperanças — como não sobreviveram com Menezes? Talvez não, e por duas razões. Em primeiro lugar, porque o PSD continua a tentar responder à mesma pergunta do PS (como conjugar o modelo social com a competitividade?), e condenado por isso a chegar a uma resposta mais ou menos semelhante. Ora, não podendo dizer, no fundo, que fará diferente, também não conseguirá convencer ninguém, devido ao seu passado recente, de que fará melhor. Sem uma catástrofe, Teixeira dos Santos vencerá sempre Ferreira Leite. Em segundo lugar, quanto mais credível a liderança do PSD, mais o PS poderá suscitar voto útil à esquerda. O que perder num lado ganhará no outro. Daí que, muito provavelmente, um PSD reforçado seja uma notícia pior para Louçã e Jerónimo do que para Sócrates.»

Sem comentários: