via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 1/25/10
OS TRABALHOS INOVADORES nos domínios da análise e da sistemática químicas levados a efeito por Lavoisier (1743 – 1794), tragicamente guilhotinado na voragem da Revolução Francesa, contribuíram decisivamente para que a Mineralogia se elevasse acima da ciência empírica que fora até aí. Nas classificações mineralógicas que se seguiram a este alvorecer da química moderna, foram usadas não a natureza dos catiões metálicos constituintes, mas sim os respectivos grupos aniónicos. Da classificação em "minerais de ferro", "minerais de cobre", "minerais de chumbo", etc., passou-se a outra que distingue sulfatos, carbonatos, cloretos, tungstatos, etc.
Do outro lado do Atlântico, seguindo esta nova perspectiva, o mineralogista James Dwight Dana propunha, em 1837, o seu System of Mineralogy, uma classificação abrangente das muitas centenas de espécies então conhecidas que, com algumas achegas que a melhoraram e valorizaram, chegou aos nossos dia e está patente na organização das colecções dos museus e das universidades e escolas de todo o mundo. A utilização dos raios-X no conhecimento da estrutura íntima da matéria cristalina marcou o começo do século XX, provou a existência de redes atómicas na sua constituição e permitiu a ao cristalógrafo alemão, Hugo Strunz, em 1941, melhorar a classificação de Dana, sobrepondo-lhe um critério estrutural, nomeadamente nos silicatos, nos boratos, nos fosfatos. A cristalografia estrutural pôs como que um ponto final à velha cristalografia morfológica, usada no passado como precioso complemento na diagnose das espécie minerais, sendo hoje um domínio importante da física do estado sólido, arrastando consigo o vasto mundo dos minerais.
Há pouco mais de uma vintena de anos surgiu uma nova tendência classificativa dos minerais, essencialmente estrutural, em substituição da velha classificação química. Esta nova via, proposta pelo português José Lima-de-Faria, é uma espécie de extensão, a todo o reino mineral, da classificação estrutural dos silicatos, de Strunz. Se é certo que o progresso científico assenta na criatividade e na não estagnação, não é menos certo que é difícil mudar hábitos mentais e apontá-los para novos rumos. A inovação necessita de tempo. As bases da moderníssima classificação estão lançadas, porém a sua aplicação está ainda longe de ser realidade.
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