Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
via O Homem Sincero em 06/05/08
Depois do adeusEu confesso: não sou amigo de ex-namoradas. Ao contrário de outros caras, não faço o menor esforço para manter a amizade de quem saiu da minha cama, dos meus pensamentos e da minha agenda. Não é por raiva, não é por mágoa, não é por revanche. É simplesmente por desinteresse. O elo que nos uniu foi rompido na separação. Aquela vontade de estar junto, de compartilhar as pequenas coisas do cotidiano, de trocar um olhar furtivo e cúmplice no meio da multidão perdeu-se. Não sobra base nenhuma em cima da qual construir uma relação de amizade. Quem já foi tudo para alguém é melhor que se transforme em nada, com a ruptura, e não em pouco.
Não estou dizendo que se deva ser rude, tosco, bruto. Não advogo aqui que se vire o rosto para o lado num reencontro fortuito. Ou que se bata o telefone na cara ao ouvir aquela voz cujo timbre, poder e influência tiveram tanto significado para você. Também não prego que se lancem calúnias sobre ela e, embora seja grande a tentação, sobre ele, o novo homem. (Porque o novo homem é inapelavelmente um perfeito idiota, um canalha absoluto.) E acho uma tolice, na separação, pegar por birra, e só por birra, os livros e os discos que você sabe que são os prediletos dela. Tudo isso seriam provas de um espírito fraco, vingativo. O que recomendo, e pratico, é a indiferença. A indiferença pode ser natural, o que é a melhor opção. Ou pode ser também cultivada, caso a namorada perdida continue a ter presença em seus pensamentos. O que se deve evitar, enfim, é a continuação empobrecida, sem sentido e quase sempre hipócrita de uma relação que se acabou.
Por mais que se diga e que se finja que não, um homem só é genuinamente amigo de outro homem. O pequeno grande código da amizade não mistura homens e mulheres. Imagine dois amigos num bar, falando de futebol. Mais especificamente, do soberbo futebol que o Corinthians tem praticado nos últimos tempos. A descrição da série endiabrada de dribles do Dentinho é bruscamente interrompida quando uma mulher gostosa passa diante dos dois amigos. Ambos olham para ela, depois um para o outro, e então vem um sorriso que diz e resume tudo. E enfim se retoma a conversa paralisada: isso é o retrato da amizade entre dois caras. É impossível reproduzir essa situação quando se trata de um homem e uma mulher. Logo, não há chance de amizade. Eu citei uma situação clássica. Há dezenas de outras, que vocês conhecem tão bem quanto eu. E sei que o inverso é também verdadeiro: uma mulher só é realmente amiga de outra mulher. (Embora a inveja e a rivalidade entre as mulheres, em geral num grau acentuadamente maior do que o que se verifica entre nós, atrapalhem muitas amizades. Mas isso é problema delas, não nosso.)
Uma relação entre um homem e uma mulher pode ser divina. Uma das maiores bênçãos que os Deuses concederam ao homem é estar dentro da mulher amada, unidos no corpo, unidos na alma, num lapso de tempo que, embora precário, se confunde com a eternidade. Uma dupla, metade masculina e metade feminina, pode formar um universo de enlevo, êxtase e inspiração. Mas a amizade fica de fora. Sejamos objetivos: o único amigo genuíno que uma mulher pode encontrar no gênero masculino é, até para reproduzir a situação clássica masculina, aquele que há de compartilhar com ela um olhar cúmplice de admiração quando irromper um homem considerado bonito.
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