via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 02/11/09
UM OCEANO NASCE a partir de uma situação embrionária, surgida em terra, que podemos imaginar semelhante à que caracteriza o Vale do Rifte, no leste africano. Esforços distensivos tendem a afundar este tipo de faixas de terreno permitindo, no futuro, a invasão do mar. A continuação desses esforços afastam entre si os compartimentos de litosfera de um e de outro lado desta importante fractura, possibilitando a ascensão de materiais de natureza basáltica oriundos do manto e consequente formação de crosta oceânica. Na fase juvenil, o oceano tem uma configuração próxima da do Mar Vermelho, estreito e alongado, continuando a alargar-se até atingir, na maturidade, a dimensão do Atlântico ou até maior. Na continuidade desta evolução, o oceano entra em declínio, na medida em que a respectiva placa vai sendo consumida, por subducção, nas chamadas zonas de Benioff, de que é exemplo a que margina, a Ocidente, a América do Sul. Esta redução da largura de um oceano é acompanhada da aproximação dos continentes que, de um lado e outro, o limitam. É o que está a acontecer no Pacífico e, num estado muito mais avançado, no Mediterrâneo visto como residual do antigo oceano a que foi dado o nome de Tethys, a deusa do mar na mitologia grega. Finalmente, o oceano fecha-se quando os continentes em aproximação colidem, uma situação exemplificada pelos Himalaias.
A origem e evolução de uma cadeia orogénica são hoje perfeitamente explicadas à luz da tectónica global. A fase inicial, ou seja, a abertura da bacia oceânica está relacionada com esforços distensivos, afectando extensas regiões. Esta fase é acompanhada pela acumulação de sedimentos nos vários sectores da bacia, mais volumosa nas margens. A fase de enrugamento ou orogénica, que se lhe sucede muitas dezenas de milhões de anos depois, está, pelo contrário, relacionada com esforços compressivos, à mesma escala. O interior das placas é, comparativamente, estável. Esta estabilidade, em termos de geodinâmica interna, só é perturbada pelo incessante trabalho dos agentes externos, nomeadamente, a erosão, que tende a nivelar os relevos criados em fases orogénicas antigas e recentes ou os resultantes de subidas dos continentes, por reajustamentos isostáticos, de velhas cadeias arrasadas.
O geodinamismo subjacente à tectónica global, assegurado pelo calor interno do planeta, é a causa e o suporte das principais transformações da litosfera, particularmente expressas nas fronteiras de placas, em especial, nos riftes e nas zonas de subducção. Os limites divergentes coincidem com os riftes. Há, aí, magmatismo primário, gerador de um tipo particular de basaltos, por ascensão de magmas oriundos do manto. O estilo tectónico é distensivo, com abertura de falhas normais (falhas segundo planos inclinados, em que os dois compartimentos se afastam entre si e em que um deles desce, "escorregando", relativamente ao outro) e formação de depressões alongadas e estreitas, que os definem. Em associação com este tipo de limites, a actividade sísmica é frequente e pouco profunda.
Nos limites convergentes, o mergulho das placas origina importante actividade sísmica, às vezes muito profunda, atingindo os 700Km. No mergulho, os materiais arrastados em profundidade sofrem compressão e aquecimento, acabando por fundir. Desta fusão pode resultar um vulcanismo mais viscoso, diferente do que gera o dos basaltos oceânicos, dando origem a uma actividade geralmente explosiva com abundante projecção de cinzas e de outros piroclastos.
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