sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

MUSEU DO QUARTZO

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 30/01/09
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Museu do Quartzo, em finais de construção. Foto de Susana Andrade
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A EXPLORAÇÃO DO QUARTZO no Monte de Santa Luzia (Viseu), entre 1961 e 1986, pela "Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos", de Canas de Senhorim, teve como resultado o enorme rasgão na paisagem que ali se observa, desde sempre considerado como elemento altamente negativo em termos de impacto ambiental.
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Desta exploração, durante uma vintena de anos, ficou-nos, como é costume entre nós, uma pedreira abandonada, onde o quartzo filoniano, num escarpado de acentuada brancura, contrasta com a densa arborização envolvente, aspecto que se mantém desde que ali terminou a lavra, há 22 anos, sem que o agente económico tivesse procedido a quaisquer trabalhos de requalificação. A solicitação da Câmara Municipal de Viseu (CMV), concebi, em nome do Museu Nacional de História Natural (MNHN), um projecto de musealização do sítio, envolvendo a sua aceitação como um pólo de
interesse geológico a valorizar e conservar.
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O escarpado deixado pela referida actividade extractiva tem, na óptica da preservação e valorização do nosso património natural, o mérito de chamar a atenção para o mais volumoso e possante filão de quartzo leitoso, de entre os muitos que atravessam o substrato do nosso território, como exemplo da actividade hidrotermal residual, associada aos granitos do final da era paleozóica, com cerca de 280 milhões de anos
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À semelhança de uma "janela aberta" para o interior da crosta, este rasgão na paisagem permite observar, por dentro, diversas e interessantes particularidades geológicas e mineralógicas deste tipo de ocorrências.
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O Monte de Santa Luzia constitui um pequeno relevo suportado pela maior dureza do quartzo e pela sua maior resistência à meteorização, relativamente ao granito que atravessa. Com várias dezenas de metros de espessura, este filão é a causa da existência deste relevo residual com cento e poucos metros acima da superfície planáltica que o rodeia.
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A valorização deste sítio decorre não só da grandiosidade e espectacularidade deste acidente, como também da grande importância mineralógica, geológica e económica do quartzo, do seu elevado número de variedades, quer em termos de cores, quer no que diz respeito aos diferentes hábitos cristalinos, modos de jazida, associações com outras espécies minerais, etc.
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Tal valorização decorre, ainda, e muito, da invulgar diversidade das aplicações do quartzo, como matéria-prima, nas mais variadas indústrias, com destaque para a fundição, a cerâmica, a vidraria, a cristalaria, a óptica, a química, a electrónica, a relojoaria e a joalharia. Ao aceitar este projecto de musealização, a autarquia visou recuperar o que resta de uma exploração caótica abandonada, transformando-a num pólo da Universidade de Lisboa (protocolo assinado entre o MNHN e a CMV, em 14 de Outubro de1997), com grades potencialidades pedagógicas, culturais e, também, naturalmente, turísticas.
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Para além da recuperação do escarpado (a frente de exploração tal como foi deixada) e da identificação e sinalização dos diversos pontos com particularidades geológicas e mineralógicas acessíveis no terreno, o referido projecto visa, ainda, requalificar os equipamentos industriais existentes no local e recuperar outros que ainda existam, mediante contactos com a antiga empresa. O conjunto disporá de um percurso pedonal criteriosamente estabelecido, apoiado em painéis explicativos, convenientemente localizados, e em alguma documentação escrita (desdobráveis, brochuras) a facultar aos visitantes.
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Concebido para, numa primeira fase, de âmbito local, servir as escolas da região e divulgar conhecimentos entre o cidadão comum, o Museu do Quartzo começará por reunir uma representação significativa de exemplares desta espécie mineral (e suas variedades) e das suas múltiplas aplicações industriais e artísticas, a par de oficinas pedagógicas adequadas. A médio prazo, numa segunda fase, de âmbito nacional, aspira-se a uma colaboração activa com as Universidades e as Empresas interessadas no quartzo como matéria-prima nas mais variadas tecnologias. Na eventualidade de previsível sucesso deste embrião de saber, e se as entidades competentes (a Autarquia e/ou o Poder Central) assim o entenderem e apoiarem, o Museu do Quartzo poderá e deverá evoluir para um Centro de Investigação Científica e Tecnológica em torno desta temática, a nível internacional, domínio amplamente justificável e, por si só, susceptível de atrair patrocínios por parte de grandes empresas interessadas nesta investigação.
O projecto do Monte de Santa Luzia, cuja componente arquitectónica, incluindo o edifício do Museu do Quartzo, é da autoria do Arqto Mário Moutinho, foi galardoado, em 1997, com o Prémio Nacional do Ambiente (Autarquias).
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O acompanhamento científico e pedagógico deste futuro museu mantêm-se a cargo do MNHN, acção em que continuo empenhado, agora em estreita colaboração com o actual director, Prof. Fernando Barriga.

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