via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 18/01/09
.INICIALMENTE USADA para referir o pedaço de pão migado e embebido no caldo, a palavra sopa, com origem no germânico suppa, chegou-nos através do francês soupe.
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Fazer sopas de pão, deve ter começado por ser um acto de elementar economia. Foi um modo de aproveitar o pão duro, onde já se não metia o dente. Só molhado! Daí à prática corrente de avolumar com pão os magros cozinhados, foi um nunca mais acabar de experiências, em que as mais bem sucedidas estão hoje à nossa mesa e na de alguns restaurantes que descobriram o seu grande interesse gastronómico, face a uma clientela crescente em procura deste e de outros tipos de bens culturais.
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Entre nós, sopas também refere os pedaços de pão, em fatias ou nacos cortados à faca, ou migados à mão, quer os que já estão embebidos no caldo, quer os que ainda estão em vias de o ser. É neste último contexto que molhamos a sopa na travessa, num gesto generalizado que nos permitimos fazer a coberto da frase tradicional e de bom-tom, «isto não se deve fazer...», mas que sempre se faz. Era ainda neste contexto que o meu tio Almaça, com oficina de sapateiro à Porta Nova, sempre que se queria ver livre de mim, ordenava, gracejando, «vai lá dizer à tia que vá migando as sopas, que eu já lá levo o pão».
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Sopas de pão é assim uma redundância muito nossa, que evita possíveis confusões. Sopas de pão e açorda são sinónimos no sentido alentejano deste termo. Ao dizer sopas (no plural) disto ou daquilo referimo-nos a uma só confecção se esta for à base de pão. Mas se delas (sopas) não fizer parte o pão, estamos a falar de diferentes tipos de sopa (no singular). O alfacinha pega nas sopas de favas de uma qualquer receita alentejana, tira-lhe o pão, corta-lhe no alho e nos coentros e faz dela uma delicada e excelente sopa de favas, cremosa, bem batida num aveludado puré que, quando muito e eventualmente, servirá com umas migalhitas de pão torrado ou frito. O alentejano, ao contrário, agarra numa ligeira sopa de alface, carrega-lhe no alho e nos coentros, acrescenta-lhe queijo, escalfa-lhe uns ovos, miga-lhe pão em quantidade e transforma-a numas fartas e perfumadas sopas de alface.
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Entre as muitas sopas de pão ganharam relevo as açordas e os ensopados, sendo variável, consoante os lugares ou as famílias, o emprego destas expressões. Ensopados, no geral, são os de borrego, mas ouve-se falar de ensopado de lebre, de ervilhas ou de favas. Açordas são geralmente as de coentros ou de poejos, mas também as há de tomate e outras. A culinária não é ainda uma disciplina científica, antes segue os caminhos da vivência e, também, os da arte. Não há, pois, grande mal em não seguir à risca sistemáticas e nomenclaturas. Que cada um chame as coisas pelos nomes que aprendeu e de que mais gosta.
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Entre nós, as sopas de pão são normalmente comidas com colher e garfo. A colher leva à boca e o garfo ajuda, quer no ajeitar da sopa na colher, quer na divisão dos condutos. Só não precisam de garfo as tais, ditas "de mão no bolso", uma vez que, não havendo conduto, só trabalha a mão que agarra na colher.
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Fazer sopas de pão, deve ter começado por ser um acto de elementar economia. Foi um modo de aproveitar o pão duro, onde já se não metia o dente. Só molhado! Daí à prática corrente de avolumar com pão os magros cozinhados, foi um nunca mais acabar de experiências, em que as mais bem sucedidas estão hoje à nossa mesa e na de alguns restaurantes que descobriram o seu grande interesse gastronómico, face a uma clientela crescente em procura deste e de outros tipos de bens culturais.
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Entre nós, sopas também refere os pedaços de pão, em fatias ou nacos cortados à faca, ou migados à mão, quer os que já estão embebidos no caldo, quer os que ainda estão em vias de o ser. É neste último contexto que molhamos a sopa na travessa, num gesto generalizado que nos permitimos fazer a coberto da frase tradicional e de bom-tom, «isto não se deve fazer...», mas que sempre se faz. Era ainda neste contexto que o meu tio Almaça, com oficina de sapateiro à Porta Nova, sempre que se queria ver livre de mim, ordenava, gracejando, «vai lá dizer à tia que vá migando as sopas, que eu já lá levo o pão».
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Sopas de pão é assim uma redundância muito nossa, que evita possíveis confusões. Sopas de pão e açorda são sinónimos no sentido alentejano deste termo. Ao dizer sopas (no plural) disto ou daquilo referimo-nos a uma só confecção se esta for à base de pão. Mas se delas (sopas) não fizer parte o pão, estamos a falar de diferentes tipos de sopa (no singular). O alfacinha pega nas sopas de favas de uma qualquer receita alentejana, tira-lhe o pão, corta-lhe no alho e nos coentros e faz dela uma delicada e excelente sopa de favas, cremosa, bem batida num aveludado puré que, quando muito e eventualmente, servirá com umas migalhitas de pão torrado ou frito. O alentejano, ao contrário, agarra numa ligeira sopa de alface, carrega-lhe no alho e nos coentros, acrescenta-lhe queijo, escalfa-lhe uns ovos, miga-lhe pão em quantidade e transforma-a numas fartas e perfumadas sopas de alface.
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Entre as muitas sopas de pão ganharam relevo as açordas e os ensopados, sendo variável, consoante os lugares ou as famílias, o emprego destas expressões. Ensopados, no geral, são os de borrego, mas ouve-se falar de ensopado de lebre, de ervilhas ou de favas. Açordas são geralmente as de coentros ou de poejos, mas também as há de tomate e outras. A culinária não é ainda uma disciplina científica, antes segue os caminhos da vivência e, também, os da arte. Não há, pois, grande mal em não seguir à risca sistemáticas e nomenclaturas. Que cada um chame as coisas pelos nomes que aprendeu e de que mais gosta.
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Entre nós, as sopas de pão são normalmente comidas com colher e garfo. A colher leva à boca e o garfo ajuda, quer no ajeitar da sopa na colher, quer na divisão dos condutos. Só não precisam de garfo as tais, ditas "de mão no bolso", uma vez que, não havendo conduto, só trabalha a mão que agarra na colher.
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