Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 2)
via Espiral Dourada de noreply@blogger.com (RS) em 28/01/09
Ensaio da autoria de António Quadros(publicado na Folha "57", n.º11 - Junho de 1962)
"Não será todavia possível clarificar um pouco uma problemática tão perturbada e caótica? Não será possível reconduzir tal problemática ao cerne de um problema crucial e essencial? Sim, é o problema da pátria, que por sua vez se ramifica e hierarquiza em outros problemas que lhes estão indissociavelmente ligados.
A pátria. Não é a nação que está fundamentalmente em causa. Não é a sociedade. Não é a comunidade natural. Há muitas nações, muitas sociedades, muitas comunidades, mas são poucas e raras as pátrias. Um dos erros abissais do pensamento não qualificativo que presidia à fundação da O.N.U. foi equiparar as simples nações, que são meras sociedades políticas, às nações-pátrias, em que a estrutura social, implicita ou explicitamente, derivam de uma filosofia ou tradição filosófica que a todo o instante a alimenta, dinamiza e lança no futuro, em busca da mais alta realização arquetipal.
Verdadeiramente, é o paradoxo da pátria, que constitui o mais profundo problema português, na medida em que os nacionais do nosso país se encontram perpetuamente dilacerados perante opções que, cada vez com maior insistência e acuidade, lhes são postas. Dir-se-ia que os portugueses - durante um largo período de alguns séculos - perderam a capacidade de decisão. A posteriori se verifica que a partir do século XVII até aos nossos dias, a posteriori se verifica, diziamos, que a decisão tomada não fora a que se coadunasse com o vero movimento ascencional da pátria, que, não o esqueçamos, é menos um absoluto, do que um microcosmos laboratorial da humanidade. A decisão portuguesa tem sido efectivamente, mesmo quando transportando em si um impulso patriótico, uma como que decisão cindida.
Sem dúvida, esta situação trágica, mas ao mesmo tempo promissora, porquanto nunca joga o nosso espírito inteiro num só e por ventura decepcionante caminho, inspirou ao filósofo José Marinho, a sua interpretação da realidade como cisão pura. Cisão do ôntico, cisão do humano, cisão do divino, mesmo.
Ora a pátria portuguesa se é explicitamente, ser de cisão, é também , implicitamente, movimento, dinamismo, razão agente, trans-história, ideal, radicação misteriosa num princípio de causa cisiva e saparatista, mas de objecto reintegrador. Desdobrando-se o problema genérico dapátria nos três problemas particulares que o configuram, especialmente na hora presente, nós acreditamos contribuir para que a recuperação do movimento venha a transcender a dramaticidade da cisão extrema dos portugueses em relação a si mesmos. Certo está partir de uma verdade que é ambiguidade, pardoxo e cisão, mas mais certo ainda é acreditar no dinamismo espiritual que pode, senão resolver totalmente, pelo menos transformar decisivamente essa verdade imediata."
(continua)
A pátria. Não é a nação que está fundamentalmente em causa. Não é a sociedade. Não é a comunidade natural. Há muitas nações, muitas sociedades, muitas comunidades, mas são poucas e raras as pátrias. Um dos erros abissais do pensamento não qualificativo que presidia à fundação da O.N.U. foi equiparar as simples nações, que são meras sociedades políticas, às nações-pátrias, em que a estrutura social, implicita ou explicitamente, derivam de uma filosofia ou tradição filosófica que a todo o instante a alimenta, dinamiza e lança no futuro, em busca da mais alta realização arquetipal.
Verdadeiramente, é o paradoxo da pátria, que constitui o mais profundo problema português, na medida em que os nacionais do nosso país se encontram perpetuamente dilacerados perante opções que, cada vez com maior insistência e acuidade, lhes são postas. Dir-se-ia que os portugueses - durante um largo período de alguns séculos - perderam a capacidade de decisão. A posteriori se verifica que a partir do século XVII até aos nossos dias, a posteriori se verifica, diziamos, que a decisão tomada não fora a que se coadunasse com o vero movimento ascencional da pátria, que, não o esqueçamos, é menos um absoluto, do que um microcosmos laboratorial da humanidade. A decisão portuguesa tem sido efectivamente, mesmo quando transportando em si um impulso patriótico, uma como que decisão cindida.
Sem dúvida, esta situação trágica, mas ao mesmo tempo promissora, porquanto nunca joga o nosso espírito inteiro num só e por ventura decepcionante caminho, inspirou ao filósofo José Marinho, a sua interpretação da realidade como cisão pura. Cisão do ôntico, cisão do humano, cisão do divino, mesmo.
Ora a pátria portuguesa se é explicitamente, ser de cisão, é também , implicitamente, movimento, dinamismo, razão agente, trans-história, ideal, radicação misteriosa num princípio de causa cisiva e saparatista, mas de objecto reintegrador. Desdobrando-se o problema genérico dapátria nos três problemas particulares que o configuram, especialmente na hora presente, nós acreditamos contribuir para que a recuperação do movimento venha a transcender a dramaticidade da cisão extrema dos portugueses em relação a si mesmos. Certo está partir de uma verdade que é ambiguidade, pardoxo e cisão, mas mais certo ainda é acreditar no dinamismo espiritual que pode, senão resolver totalmente, pelo menos transformar decisivamente essa verdade imediata."
(continua)
Sem comentários:
Enviar um comentário