quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Exomuseu da Natureza

Exomuseu da Natureza

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 20/09/09
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Nas Portas de Ródão

EM 1983 FUI DESIGNADO pelos meus pares da Faculdade de Ciências de Lisboa para dirigir o Museu Mineralógico e Geológico, parte importante do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, confinado às suas paredes, como ainda é, trinta anos volvidos sobre o grande incêndio de 1978. Um tal vazio e a inexistência de qualquer propósito de recuperação, não obstante as promessas, por parte da tutela, deixaram-me espaço para conceber um outro tipo de musealização que me conduziu, à ideia de um Exomuseu da Natureza.

Concebido como um conjunto de ocorrências naturais, esta estrutura museológica, geograficamente dispersa, é coordenada a partir de uma dada instituição (um museu, uma autarquia, uma universidade, uma fundação) que as identifica, inventaria, e as aceita como "peças" que, como tal, protege, estuda, valoriza e explica ao visitante. Expu-la no 1º Encontro Nacional do Ambiente, Turismo e Cultura, reunido em Sintra, em 1989, por iniciativa do Centro Nacional de Cultura, ao tempo da saudosa Helena Vaz da Silva.

Entre essas ocorrências, que podemos considerar também como pólos desse exomuseu, devem estar, entre outras do património natural, os geossítios e os geomonumentos localizados em pontos diversos de um dado território. Sendo evidente que tais ocorrências não cabem, fisicamente, dentro do edifício de um museu convencional e tendo em atenção que o seu enquadramento natural, no local onde se encontram, é essencial à sua compreensão, elas têm, forçosamente, de permanecer fora das paredes da referida instituição.

É esta particularidade, que sai fora do conceito tradicional de museu, que determinou o neologismo, no qual o prefixo exo, do grego ekso (fora, de fora, por fora), a distingue de um outro tipo – o ecomuseu – já conhecido do grande público. O conceito de exomuseu abarca, ainda, todas as ocorrências que, embora tenham sofrido intervenção humana, continuem a ser considerados como documentos da história da Terra e da Vida, como são, por exemplo, as minas e as pedreiras abandonadas.

Passadas duas décadas sobre a sua formulação, o exomuseu é hoje algo mais do que um nome ou do que uma ideia. Não tendo ainda realidade jurídica, nem figurando nos dicionários, esta estrutura já existe no terreno, representada pelos vários geomonumentos entretanto musealizados e nos textos oficiais dos protocolos assinados entre o Museu Nacional de História Natural e algumas autarquias.

Alguns geomonumentos referenciados em Portugal foram convertidos em pólos dispersos de uma estrutura museológica, nos moldes referidos atrás, mediante protocolos já celebrados entre o citado Museu e as Câmaras Municipais de Évora, Lisboa, Setúbal e Viseu. Nos acordos assim firmados, estes geomonumentos foram considerados pólos da Universidade de Lisboa nos citados concelhos. Nestes, o cimo granítico de uma colina nos arredores de Évora é hoje o Núcleo Museológico do Alto de São Bento, em funcionamento efectivo e permanente ao serviço, sobretudo, das escolas da região. Na cidade de Lisboa foram musealizados, ou estão em vias de o ser, uma série de geomonumentos. O sítio da Pedra Furada, recuperado e explicado ao público, é uma realidade em Setúbal. O Museu do Quartzo, na pedreira de Santa Luzia, em Viseu, está prestes a ser inaugurado.

Outra sorte não tem tido o Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo (Carenque) – a grande jazida com pegadas de dinossáurios do Cretácico - com projecto iniciado há mais de vinte anos e aprovado pela autarquia sintrense, já lá vão oito, continua, lamentável e incompreensivelmente, à espera de concretização e de poder constituir a fonte de receita turística que se lhe adivinha.

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