via portugal contemporâneo de noreply@blogger.com (Pedro Arroja) em 19/11/08
A censura sempre existiu em Portugal, com excepção de breves períodos que normalmente foram maus para a sociedade portuguesa. Foi o Marquês de Pombal que criou a censura na sua versão moderna e laica, substituindo a Inquisição.
O Estado Novo restaurou a censura depois da desordem cívica e política da I República. Tem-se afirmado que a censura institucional, tal como praticada no regime de Salazar, era dirigida especialmente contra o comunismo. Trata-se apenas de meia verdade. Primeiro, porque a censura estava dirigida a todas as expressões do pensamento político que, na opinião dos governantes, atentassem contra a coesão da sociedade portuguesa, e não exclusivamente contra o comunismo.
Segunda, porque a censura tinha como um dos seus objectivos prioritários, senão mesmo o principal, defender os portugueses contra as agressões praticadas sobre eles pelos próprios portugueses. Salazar tinha vivido o período de "liberdade de expressão" da I República e tinha-se apercebido que, na nossa cultura, a "liberdade de expressão" resultava invariavelmente na opressão da expressão: as pessoas acabavam por se coibir de exprimir em público as suas ideias para evitar os insultos, as calúnias, os boatos e as difamações que são uma marca distintiva e permanente da nossa vida pública sob o regime de "liberdade de expressão". Trata-se de uma versão da chamada Lei de Gresham ("a moeda má expulsa a moeda boa").
Salazar não tinha ilusões a este respeito:
"...Temos agora o aspecto moralizador da censura, a sua intervenção necessária nos ataques pessoais e nos desmandos da linguagem. A nossa Imprensa, que tem melhorado consideravelmente, oferecia-nos, por vezes, nalguns dos seus órgãos, a triste imagem de um saguão: intrigas, insultos, insinuações, pessoalismos, provicianismos, baixa intelectualidade..." (1)
Noutra altura,
"Falando do caso concreto da imprensa portuguesa, acha que o nível desta se não elevou [com a censura] e que não ganhou em correcção e compostura? O que perdeu a essa Imprensa [a da I República]? Os insultos e as baixas expressões? Mas vale a pena verter lágrimas sobre tal prejuízo?". (2)
Na opinião de Salazar - a minha é hoje idêntica - os portugueses tendiam por norma a ser malcriados e soezes uns com os outros em público. A censura visava conter-lhes a má-criação e, em última instância, pôr-lhes pimenta na língua, que é aquilo que ainda hoje muitos portugueses precisam.
(1) António Ferro, Entrevistas a Salazar, Lisboa: Parceria A.M. Pereira, 2007, p. 33.
(2) ibid., p. 159
O Estado Novo restaurou a censura depois da desordem cívica e política da I República. Tem-se afirmado que a censura institucional, tal como praticada no regime de Salazar, era dirigida especialmente contra o comunismo. Trata-se apenas de meia verdade. Primeiro, porque a censura estava dirigida a todas as expressões do pensamento político que, na opinião dos governantes, atentassem contra a coesão da sociedade portuguesa, e não exclusivamente contra o comunismo.
Segunda, porque a censura tinha como um dos seus objectivos prioritários, senão mesmo o principal, defender os portugueses contra as agressões praticadas sobre eles pelos próprios portugueses. Salazar tinha vivido o período de "liberdade de expressão" da I República e tinha-se apercebido que, na nossa cultura, a "liberdade de expressão" resultava invariavelmente na opressão da expressão: as pessoas acabavam por se coibir de exprimir em público as suas ideias para evitar os insultos, as calúnias, os boatos e as difamações que são uma marca distintiva e permanente da nossa vida pública sob o regime de "liberdade de expressão". Trata-se de uma versão da chamada Lei de Gresham ("a moeda má expulsa a moeda boa").
Salazar não tinha ilusões a este respeito:
"...Temos agora o aspecto moralizador da censura, a sua intervenção necessária nos ataques pessoais e nos desmandos da linguagem. A nossa Imprensa, que tem melhorado consideravelmente, oferecia-nos, por vezes, nalguns dos seus órgãos, a triste imagem de um saguão: intrigas, insultos, insinuações, pessoalismos, provicianismos, baixa intelectualidade..." (1)
Noutra altura,
"Falando do caso concreto da imprensa portuguesa, acha que o nível desta se não elevou [com a censura] e que não ganhou em correcção e compostura? O que perdeu a essa Imprensa [a da I República]? Os insultos e as baixas expressões? Mas vale a pena verter lágrimas sobre tal prejuízo?". (2)
Na opinião de Salazar - a minha é hoje idêntica - os portugueses tendiam por norma a ser malcriados e soezes uns com os outros em público. A censura visava conter-lhes a má-criação e, em última instância, pôr-lhes pimenta na língua, que é aquilo que ainda hoje muitos portugueses precisam.
(1) António Ferro, Entrevistas a Salazar, Lisboa: Parceria A.M. Pereira, 2007, p. 33.
(2) ibid., p. 159
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