domingo, 3 de maio de 2009

EMBAIXADOR FRANCO NOGUEIRA ESCREVEU SOBRE SALAZAR

via DA TAILÂNDIA COM AMOR E HUMOR de Jose Martins em 02/05/09
Salazar foi uma vontade inquebrantável. Criador da lei, era o seu primeiro escravo.
Não pedia favores, e não aceitava obséquios
Na sua extrema complexidade, Salazar foi acima de tudo uma vontade inquebrantável, com domínio constante e absoluto sobre todo o seu ser.
Da sua energia íntima retirava toda a sua força. Sensível, nervoso, emotivo, permanecia contudo sempre sereno, frio, sem cóleras, desapaixonado, sem pressas, sem excitação, em particular quando em torno de si todos se mostravam incertos e perplexos.
Nunca o abandonava a sua lucidez, que usava como método de penetração e conhecimento da realidade, nem jamais se obscurecia ou enfraquecia a sua capacidade de análise demorada, lenta, minuciosa, de que extraía conclusões a sínteses, arquivava-as de forma sistemática, e dava depois a sensação de haver reflectido durante séculos sobre cada assunto ou situação.
Aderia e entregava-se a tudo quanto o cercasse em cada instante; cuidava de cada problema com uma absorção exclusiva e intensa, como se nenhum outro existisse e como se, para encontrar a melhor solução, tivesse à sua frente a eternidade.
Criador da lei, era o seu primeiro escravo, e submetia-se-lhe como seu mais humilde servo.
Defensor do Estado, não subordinava essa defesa a quaisquer outros critérios ou considerações; era glacial no tratamento e condução dos negócios públicos; e por acto de vontade calcava gostos pessoais, vencia emoções, suprimia ressentimentos, desconhecia ofensas.
Escutava sem interromper, com atenção concentrada, e retinha com fidelidade quanto se lhe dizia; não se sentia afrontado com objecções ou ideias opostas; não era impressionável, nem influenciável; mas factos e argumentos alteravam a sua posição.
Era intransigente nos princípios, mesmo que pudesse correr risco de destruição; mas era flexível na táctica e subtil na mudança de rumo; e dava à nova linha que prosseguisse uma nova construção lógica, de modo a não se contradizer nem desmentir.
Considerava-se emanação genuína do povo, de cujos interesses se sentia universitário, e cujos sentimentos misteriosamente compreendia e avaliava.
Era céptico e indiferente perante as élites.
Delegava autoridade, e aguardava que cada um cumprisse o seu dever; mas não tinha no íntimo a segurança de que o fizessem.
Não pedia favores, e não aceitava obséquios que lhe criassem dependências ou familiaridades.
Interessava-se por tudo, e informava-se nos mínimos pormenores; e sabia em cada momento qual a posição política e pessoal de cada homem que contasse no País.
Tinha acima de tudo um ângulo de visão só nacional.
Franco Nogueira
P.S. Alberto Marciano Gorjão Franco Nogueira, além de ter sido um brilhante Embaixador de Portugal, foi Ministro dos Negócios Estrangeiros (1961-1969) no Governo de Salazar.

Sem comentários: