R: Foi dois ou três dias depois do 11 de Março. Estava a voltar do Hospital, onde fora a uma consulta e o Comandante do Batalhão, Major Jaime Neves, dirigiu-se a mim e disse: “Olha! Veio uma ordem para te apresentares em Caxias”. Eu sabia lá onde era isso…
Apareceu logo um voluntário, um tenente de Artilharia, para me escoltar. Fiquei no Presídio de Caxias durante dois meses, no isolamento (cela 41).
Ao fim desse tempo, em 18 de Maio, vieram dizer-me que estava uma viatura à minha espera para me levar para o Regimento de Comandos (tinha sido mudada a designação da Unidade e o Comandante graduado em coronel). Fui para casa. Na noite seguinte, passadas 24h00, o oficial de dia, o então Capitão Ribeiro da Fonseca, mandou o oficial de ronda, Tenente Carronda Rodrigues, ir buscar-me a casa. Mas como eu já ouvira no Rádio Clube Português, que tinha sido preso “por pertencer ao grupo fascista e terrorista ELP”, dirigi-me para o quartel.
Á minha frente, o Ribeiro da Fonseca, telefonou para o Jaime Neves dizendo que queriam a minha entrega, com escolta, no RALIS, o que o comandante autorizou. Depois, aquele oficial de dia disse ao Carronda Rodrigues que me levasse, esperasse pelo fim do interrogatório e me trouxesse de volta. Tal não aconteceu assim. Ele entregou-me ao oficial de dia e veio embora.
P: A tortura a que foi sujeito no RALIS já está descrita no meu último livro”25 de Novembro de 1975; os «comandos» e o Combate pela Liberdade”. Saiu em liberdade depois de estar mais cinco meses em Caxias?
R: Sim. Fui libertado em fins de Outubro. Depois decidi ir-me embora para Espanha.
(*)Marcelino da Mata nasceu em 7-5-1940, na Guiné e foi incorporado em 3-1-1960, em Bolama. Condecorado com uma Medalha de Cruz de
Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito em 10-9-1969. Foi ainda condecorado com duas medalhas de Cruz de Guerra de 1.ª classe, em 20-6-1971 e em 1-10-1973; e outra de 3.ª classe, em 15-9-1973, como alferes graduado.
in "Memórias da Revolução" do Coronel Manuel Amaro Bernardo
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