via Sobre o tempo que passa de JAM em 15/05/09
Ontem, ao fim da tarde, na Estrada das Laranjeiras, no auditório da Embaixada do Brasil, entre bons amigos brasilienses, como o Professor Moniz Bandeira, e portugueses do Portugal de Sempre, com destaque para o Mendo Castro Henriques e os lançadores do IDP, tive a honra de poder expressar o meu amor lusíada e de dissertar, um pouco provocatoriamente, conforme a qualificação do moderador, General Garcia Leandro, sobre essas pluralidades de pertenças que podem pilotar o futuro dos povos que pensam, amam e falam na língua de Camões, Pepetela, Mia Couto e Manuel Bandeira. Aliás, o meu general, até começou por invocar o facto de uma das filhas ter nascido em Macau e a outra em Dili, tal como eu invoquei meu nome fenício, de um avoengo oriundo da ilha dita refúgio, Melita ou Malta, provindo de uma emigração do século XVIII, onde a maioria da família nem se estabeleceu na Lusitânia, dado que logo passou para o que era então a América Portuguesa.
Confesso que sou pouco dado a colóquios, seminários e conferências, sobretudo as que servem de tacos para "papers" e outras miudezas que enchouriçam os "curricula". E raramente uso o argumento de alguns que dizem ter escrito cinco livros sobre Angola e participado em colóquios em não sei quantas capitais europeias. Gosto mais de dizer que residi, para além da fase turística do "veni, vidi, vinci", aprendi e ensinei em universidades e centros de estudo luso-chineses, angolanos, timorenses, brasilienses, moçambicanos e guineenses, sentindo a terra e o infinito dessas noites lusotropicais, isto é, experimentando aquilo que apenas alguns julgam na super-estrutura do livresco ou do seminaresco. Abraço armilar é do navegar é preciso...
Por isso, recordei os velhos projectos de um triângulo estratégico de um Atlântico maior, de um Índico de saudade e de um Pacífico armilar, em íntima aliança com os nossos irmãos hispânicos, da UE ao Mercosul, tentando reprimir certos discursos de justificação do situacionismo lusitano, mistos de neocolonialismo de preconceito e de verbosidades retóricas gerontocolonialistas. Por isso, advogo o eixo que vai de São Paulo do Piratininga a São Paulo de Luanda, como base de poderio para uma CPLP que, além dos afectos dos eternos Estados Unidos da Saudade, tem de ter estratégia, isto é, tem de evitar que as potencialidades se transformem em vulnerabilidades e que as vulnerabilidades se volvam em potencialidades. Daí que a prova de vida de futuro passe pela resposta que todos os CPLPs devem dar a Timor Lorosae, essa pátria de poder-ser que nos voltou a dar sonho, quando o David dos cem guerrilheiros teve um povo aliado em aliança de libertação, contra o Golias de um Exército invasor e ocupante que ocupou o nome de um povo amigo e aliado. Logo, todos os CPLPs têm de fazer com que o Brasil não se esqueça da sua função liderante desta comunidade de sonhos. Porque o que pode-ser tem muita força, quando, depois do querer de Deus, o homem sonha e a obra via nascendo. O telegrama da Lusa sobre o colóquio, apesar de injustamente me destacar, revela apenas um dos ramos da árvore daquela floresta por onde ontem peregrinámos
P.S. (Telegrama da Lusa, em sic): Para José Adelino Maltez, professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), o primeiro problema é a falta de meios da CPLP, mas Portugal também tem um papel em alimentar uma "nova visão do Brasil sobre a África". Segundo ele, os portugueses devem aceitar a dar primazia aos brasileiros, "colocando-se no seu devido lugar para poder melhor servir um projeto maior". "Somando 200 milhões de brasileiros, com os futuros 50 milhões de angolanos e os futuros 20 milhões de moçambicanos, nós [Portugal] somos um "entrepostozinho" do sul na Europa", afirmou o professor. Além disso, Maltez acrescentou que "temos de rever toda a nossa maneira de pensar, como foi expresso de maneira lamentável por todas as reticências em relação ao acordo ortográfico". "Parece que não se percebe que [a CPLP] não são os Estados Unidos da Saudade. É a pilotagem do futuro no balanço da globalização. Basta perguntar quanto gasta cada país da CPLP no orçamento", afirmou o acadêmico. Apesar das dificuldades, "estamos condenados ao regresso de algum triângulo estratégico Luanda-Lisboa-Bahia/Rio de Janeiro/São Paulo" e o Brasil "tem um papel de destaque" na cena internacional, até porque quando "fala forte nos palcos internacionais está a representar-nos a todos", afirmou.
P.S. (D). Pela noitinha, lá tive que aturar mais um debate, agora na TVI, dos cabeças de listas às europeias, certamente subsidiado pela central negra do movimento pela abstenção, porque também eu fiz "zapping", ao confirmar que o melhor continua a ser o Miguel Portas. Só que caí nas declarações de dois ministros do presente governo sobre uma boca de um recluso turco que disse querer pedir a nacionalidade portuguesa por causa do terceiro segredo de Fátima. Luís Amado foi incisivo e esteve muito bem, quando isse que já não há nada que o surpreenda. Silva Pereira confirmou o anedótico quando aproveitou o sensacionalismo para tempo de antena onde, mais uma vez, meteu a palavra na poça da picareta oficiosa. E na espiral do hiperinformativo e do propagandístico, até foi dito que o terrorista e papicida cometeu o crime nestes reinos do aquém-mar...
Sem comentários:
Enviar um comentário