O 25 de Abril e Marcello Caetano pela PIDE - I
via nonas by nonas on 7/20/08
«A PIDE ou o Governo já sabiam que ia ocorrer uma revolução a 25 de Abril?»«É claro que sabiam. Principalmente depois do golpe das Caldas, a 16 de Março, controlávamos todos os movimentos dos militares subversivos. Sabe o que nos enganou? Estávamos convencidos de que o general Spínola dominava a situação. É que o general Spínola ainda nos inspirava alguma confiança, não era comunista. Sabíamos que ia dar-se o 25 de Abril, o que não sabíamos é que o 25 de Abril teria o desfecho que teve…»
«Acha que Marcello Caetano pode ter combinado com Spínola o 25 de Abril?»
Tenho praticamente a certeza. Na manhã do dia 25 o director da PIDE, major Silva Pais, estabeleceu um contacto com Marcello Caetano, que já estava no Quartel do Carmo, e acordaram que uma brigada da polícia iria buscar o presidente do Conselho. Eu, o Sílvio Mortágua, o Abílio Pires e o Agostinho Tienza fomos os escolhidos. Num carro seguiram o Mortágua, o Tienza e eu. O Pires foi no seu próprio carro, atrás de nós. Seguimos em dois carros para que, em caso de necessidade, um deles pudesse executar uma qualquer manobra de diversão. Íamos esperar o presidente do Conselho à Rua do Carmo. Existe uma ligação – eu não quero ser romanesco e dizer que há uma passagem secreta – entre o Quartel do Carmo e a Rua do Carmo. Essa ligação ainda deve existir hoje, concerteza. O major Silva Pais combinou o nosso encontro com Marcello Caetano para esse local. Seguindo as suas instruções, parámos o carro mais ou menos a meio da Rua do Carmo, uns metros acima dos pilares do elevador de Santa Justa. Como o Marcello nunca mais aparecia, eu disse aos outros para permanecerem ali, subi a Rua do Carmo, virei na Rua Garrett, subi a Calçada do Sacramento e apresentei-me no Quartel do Carmo. Fui recebido pelo comandante-geral da GNR, que me conduziu até ao Marcello. Disse-lhe que estávamos à sua espera na Rua do Carmo, de acordo com o que havia sido combinado com o major Silva Pais, e o Marcello respondeu-me que não era preciso porque já tinha tudo tratado com o general Spínola!... (p. 151)
Nunca recebemos na PIDE qualquer ordem para atacar o Salgueiro Maia e as tropas estacionadas no Carmo. O que se esperava, aliás, era que as tropas fiéis ao governo pusessem cobro àquela situação irregular. Não puseram… E repare que a GNR aquartelada no Carmo era, só por si, uma força, um esquadrão de Cavalaria que tinha certamente autometralhadoras e que, sem necessitar de mais ninguém, podia acabar com aquilo. O Marcello Caetano é que nunca permitiu que a PSP ou a GNR actuassem. Se tivesse dado ordens concretas à PSP ou à GNR nesse sentido, aquilo acabava tudo em cinco minutos.» (p. 153)
Óscar Cardoso
Inspector da PIDE/DGS.
Inspector da PIDE/DGS.
In Bruno Oliveira Santos, Histórias Secretas da PIDE/DGS, Nova Arrancada, Lisboa, 2000.
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