via NOVA ÁGUIA de Renato Epifânio em 05/07/08
De José Marinho a Eduardo Lourenço e Miguel Real, passando por Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva - breve reflexão sobre o nosso "atraso".Sendo, desde logo, o nosso descentramento de cariz espacial, geográfico - daí a nossa "situação finistérrea" -, ele é também, senão sobretudo, um descentramento de cariz temporal, histórico. Como escreveu José Marinho, esse descentramento histórico é de tal modo acentuado que "nos pensadores de maior consciência teorética ou especulativa, emerge o pensamento português alheio ao tempo da modernidade".
Para muitos, justifica-se esse desfasamento pelo nosso proverbial "atraso". Para esses, estranho seria, aliás, que, estando Portugal"atrasado" em relação aos mais "avançados" países da Europa nos mais diversos domínios, não o estivesse também no domínio da filosofia. Para esses, a par de um défice económico, social e político, deve pois mencionar-se um défice cultural, senão mesmo civilizacional, que, por sua vez, se consubstancia num alegado défice filosófico. Eis, em suma,a opinião mais generalizada e, dir-se-ia, a mais "sensata".
Não propriamente por ter "prazer em discordar" - prazer esse que, aliás, assumiu não ter - não é essa, contudo, a visão de Marinho. Daí, desde logo, esta sua dúvida, esta sua interrogação: se Portugal, enquanto essa "região espiritual, a mais agudamente cristã da Europa, que os nossos 'inteligentes' desde Luís António Verney vêm considerando a mais atrasada, a mais improgressiva (...), não será, noutro sentido, a mais adiantada, a que primeiro tentou a grande aventura da terra, esgotou os caminhos e ficou à espera que a experiência humanista chegasse à nova encruzilhada".
Convocando outros pensadores - nomeadamente, Eduardo Lourenço -, ensaiaremos defender essa perspectiva.
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