quarta-feira, 9 de julho de 2008

A Viagem (VIII)

A Viagem (VIII)

via Carreira da Índia de Leonel Vicente em 09/07/08

Quatro dias depois, a 7 de Dezembro (Barros e Góis dizem ter sido no dia 8), regressam ao mar. […]

Navegando ao longo da costa, depois de algum contratempo (no meio de uma tormenta, perdera-se temporariamente a caravela de Nicolau Coelho), chegam a 15 de Dezembro a Birds Island, que Álvaro Velho chama de ilhéu da Cruz. Estão perto do derradeiro local onde Bartolomeu Dias chegara, e onde em 1488 colocara um padrão (de São Gregório).

No dia de Natal - lê-se no texto - «tínhamos descoberto por costa setenta léguas». Navegando entre o dia 28 de Dezembro e 10 do mês seguinte, praticando-se já o rateio do fornecimento de água («daqui andámos tanto pelo mar, sem tomarmos porto, que não tínhamos já água que bebêssemos nem fazíamos já de comer senão com água salgada e para nosso beber não nos davam senão um quartilho que era necessário de tomarmos porto»), chegam finalmente a um local - rio Inharrime - onde se abastecem e são cordialmente acolhidos pela população local. Vasco da Gama chama-lhe Terra da Boa Gente. Idêntica recepção encontrariam os navegantes poucos dias depois no chamado rio dos Bons Sinais, onde retemperaram as forças durante cerca de um mês. Estão já no Zambeze. […]

Aí, teriam tido notícias da navegação árabe, como se depreende da seguinte informação: «E, depois de haver dois ou três dias, que aqui estávamos, vieram dois senhores desta terra a ver-nos, os quais eram tão alterados que não prezavam coisa que lhes dessem. E um deles trazia uma touca posta na cabeça com vivos lavrados de seda, e o outro trazia uma carapuça de cetim verde. Isso mesmo vinha em sua companhia um mancebo que, segundo eles acenavam, era de outra terra daí longe e dizia que já vira navios grandes, como aqueles que nós levávamos, com os quais sinais nós folgávamos muito porque nos parecia que nos íamos chegando para onde desejávamos.»

Segundo o texto de Castanheda, esta informação «acrescentou muito o prazer de Vasco da Gama e de todos, parecendo-lhes que chegavam à Índia».

[…]

De certo modo, pode dizer-se que, no desbravar da rota do Índico, o Zambeze representa, na sequência das escalas, a segunda escala-tipo verdadeiramente significativa.

A primeira escala-tipo está representada no ilhéu da Cruz, derradeiro local onde Bartolomeu Dias chegou em 12 de Março de 1488.

"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, pp. 135, 138 e 139

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