O "herói" Rosa Coutinho pelo general Gonçalves Ribeiro
via nonas de nonas em 04/07/08
Uma das páginas mais revoltantes e delirantes do livro assinado pelo general Gonçalves Ribeiro é a que nos relata uma versão do assalto ao Palácio do Governador, na qual quer transmitir a ideia de acto de coragem e de heroísmo do almirante vermelho, Rosa Coutinho.
Uma página que não lembra nem ao careca!
"Mas esta nova onda de violência rapidamente se propaga a outros muceques. Diz-se. Diz-se. Os boatos não param. Que anda gente fardada a disparar indiscriminadamente. Que bandos armados e com armas russas assaltam, roubam e matam.
A população branca expulsa de um daqueles muceques, o Cazenga, concentra-se no Comando da Polícia bramindo por protecção e reforço da segurança. Outros se lhes juntam. Exaltados, organizam uma coluna automóvel que percorre as ruas de Luanda, buzinando sem parar.
Convergem para o Palácio do Governo, onde eu me encontrava.
E dei por eles.
O meu gabinete de trabalho dispunha de um duplo acesso, abrindo uma das portas para um extenso corredor que começava numa das entradas do edifício e terminava num varandim, logo sem qualquer outra saída. Era já o fim da tarde de uma terça-feira, 5 de Agosto. Aguardara aquela altura do dia, em que as solicitações exteriores já eram menos frequentes, para me debruçar sobre um determinado dossier. Mas um ruído estranho, anormal, começou a fazer-se ouvir no corredor, aumentando progressivamente. Levantei-me, abri a porta, olhei para o lado da entrada e, de imediato, atónito, assisti, é o termo, a um desfile que nunca pensaria ver naquele preciso local. Uma autêntica turbamulta de gente exaltada, suada, vociferadora, muitos com os botões da camisa abertos até à cintura, engolfava-se num espaço apertado e sem saída. À procura de quê ou de quem? E disse, assisti, porque me mantive impávido à porta do gabinete, sem que alguém me dirigisse a palavra ou forçasse a entrada. Ao contrário do que aconteceu no gabinete imediatamente a seguir, onde entraram e, pelo ruído provocado, terão derrubado cadeiras e materiais diversos existentes sobre as secretárias. Subitamente, algo lhes terá chamado a atenção. O sentido do movimento alterou-se no imediato para convergir, sob pressão dos que atrás se encontravam, num outro gabinete sensivelmente na frente do meu. E lá dentro os berros aumentavam numa monumental cacofonia. Fui ver. Afastando um a um os que se encontravam no corredor, consegui, embora com dificuldade, penetrar naquele gabinete, deparando-se-me um espectáculo inolvidável. Sobre o tampo de uma secretária, o Almirante Rosa Coutinho, à paisana, perorava, tentando fazer-se ouvir e, sobretudo, ganhar ascendente, sobre uma assembleia descontrolada, ululante que lhe fazia queixas e exigia protecção e segurança.
A oportuna chegada de uma força de fuzileiros contribuiu decisivamente para acalmar os ânimos e, sem recurso a qualquer tipo de violência, lá conseguiu pôr toda aquela gente na rua." (p. 98)
Senhor general, esta é uma boa versão para Hollywood!
A população branca expulsa de um daqueles muceques, o Cazenga, concentra-se no Comando da Polícia bramindo por protecção e reforço da segurança. Outros se lhes juntam. Exaltados, organizam uma coluna automóvel que percorre as ruas de Luanda, buzinando sem parar.
Convergem para o Palácio do Governo, onde eu me encontrava.
E dei por eles.
O meu gabinete de trabalho dispunha de um duplo acesso, abrindo uma das portas para um extenso corredor que começava numa das entradas do edifício e terminava num varandim, logo sem qualquer outra saída. Era já o fim da tarde de uma terça-feira, 5 de Agosto. Aguardara aquela altura do dia, em que as solicitações exteriores já eram menos frequentes, para me debruçar sobre um determinado dossier. Mas um ruído estranho, anormal, começou a fazer-se ouvir no corredor, aumentando progressivamente. Levantei-me, abri a porta, olhei para o lado da entrada e, de imediato, atónito, assisti, é o termo, a um desfile que nunca pensaria ver naquele preciso local. Uma autêntica turbamulta de gente exaltada, suada, vociferadora, muitos com os botões da camisa abertos até à cintura, engolfava-se num espaço apertado e sem saída. À procura de quê ou de quem? E disse, assisti, porque me mantive impávido à porta do gabinete, sem que alguém me dirigisse a palavra ou forçasse a entrada. Ao contrário do que aconteceu no gabinete imediatamente a seguir, onde entraram e, pelo ruído provocado, terão derrubado cadeiras e materiais diversos existentes sobre as secretárias. Subitamente, algo lhes terá chamado a atenção. O sentido do movimento alterou-se no imediato para convergir, sob pressão dos que atrás se encontravam, num outro gabinete sensivelmente na frente do meu. E lá dentro os berros aumentavam numa monumental cacofonia. Fui ver. Afastando um a um os que se encontravam no corredor, consegui, embora com dificuldade, penetrar naquele gabinete, deparando-se-me um espectáculo inolvidável. Sobre o tampo de uma secretária, o Almirante Rosa Coutinho, à paisana, perorava, tentando fazer-se ouvir e, sobretudo, ganhar ascendente, sobre uma assembleia descontrolada, ululante que lhe fazia queixas e exigia protecção e segurança.
A oportuna chegada de uma força de fuzileiros contribuiu decisivamente para acalmar os ânimos e, sem recurso a qualquer tipo de violência, lá conseguiu pôr toda aquela gente na rua." (p. 98)
Senhor general, esta é uma boa versão para Hollywood!
Na realidade, muito resumidamente o que se passou foi isto:
"Centenas de pessoas dirigiram-se ao Palácio do Governador para pedir protecção e ajuda da tropa fandanga portuguesa face aos acontecimentos que se estavam a viver na capital angolana. Foram recebidos pela guarda que lhes impediu a entrada. Então, a "turbamulta de gente exaltada, suada, vociferadora" protestou contra a "recepção de boa vindas" que de armas apontadas e a tiritarem de coragem, acabou por provocar uma reacção das centenas de pessoas que começou por arrancar o gradeamento do jardim do Palácio, invadindo o edifício pelas janelas e arrombando a porta da entrada vindo a encontrar, numa das várias e grandes salas do Palácio, Rosa Coutinho que - inicialmente - os afrontou -. Um dos invasores, uma mulher avança para o almirante vermelho, chegando a deitar-lhe a mão ao pescoço.
Que fez o heróico marinheiro? Tremendo de medo e quase em pânico, saltou para cima de uma mesa e exigiu protecção da sua guarda pretoriana que já tinha pedido reforços de uma força de fuzileiros, logo que se deu a concentração em frente ao Palácio e, então, a rápida e "oportuna chegada de uma força de fuzileiros que cercou e contribuiu decisivamente para" a fuga de Rosa Coutinho por uma das janelas traseiras do edifício. As centenas de pessoas que invadiram o edifício viram-se ameaçadas de morte e com ordem para abandonar rapidamente o Palácio, o que fizeram relutantemente.
A partir deste momento, o super-herói Rosa Coutinho passou a viver num navio da marinha "portuguesa" e só pisava terra angolana escoltado por uma guarda pretoriana.
Esta é a versão autêntica. Esta é a Verdade.
Sem comentários:
Enviar um comentário