Assim, a 16 de Novembro fazem-se de novo ao mar, a caminho do Cabo da Boa Esperança. Neste momento - talvez mais do que em qualquer outro, desde que tinham partido de Cabo Verde -, é fundamental o recurso à experiência do piloto Pêro de Alenquer, que por aquelas paragens, anos antes, tinha navegado com Bartolomeu Dias. E o aviso do piloto não é muito claro, talvez porque - informa o texto - no regresso da viagem de 1487-1488 tinham passado ao largo do cabo de noitem e «por estes respeitos não eram em conhecimento donde éramos».
Mas, de facto, estão muito perto. Dois dias depois, no sábado, dia 18, avistam finalmente o Cabo. Mas, até o alcançarem, serão necessários quatro dias, e não poucas manobras. Estamos no início do Verão austral, e, como anos antes tinha acontecido a Bartolomeu Dias, sopra ao largo da costa africana o forte vento austral: «E, em este dia mesmo, virámos em a volta do mar e de noite virámos em a volta da terra. E ao domingo pela manhã, que foram dezanove dias do mês de Novembro, fomos outra vez com o Cabo e não o pudemos dobrar porque o vento era su-sueste e o dito Cabo jaz nordeste-sudoeste. E, em este dia mesmo, virámos em a volta do mar; e à noite de segunda-feira, viemos em a volta da terra. E à quarta-feira, ao meio-dia, passámos pelo dito Cabo ao longo da costa com vento à popa.»
Sigo aqui a cronologia do roteiro, uma vez que Barros e Góis apresentam uma versão diferente: a passagem do Cabo teria tido lugar no dia 20. Mas é um pormenor.
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, p. 131
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