Hoje:
«Somos um país pequeno e pobre e que não tem
senão o mar
muito passado e muita História e cada vez menos
memória
país que já não sabe quem é quem
país de tantos tão pequenos
país a passar
para o outro lado de si mesmo e para a margem
onde já não quer chegar.
País de muito mar
e pouca viagem."
(Manuel Alegre)
Ontem:
«Ó tu, Sertório, ó nobre Cariolo,
Catilina, é vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias com profano
Coração vos fizestes inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes».
(Luiz de Camões in Lusíadas, IV, 58)
Mais de oitocentos anos de história de Portugal e duzentos milhões de seres humanos a falar em português é o mais "vivo" legado que, ainda, move o orgulho de ser português.
O resto... foi "arrastado" no naufrágio universal das ilusões. Na desordem das paixões e na sedução da retórica forjaram-se poderes ocultos e pantominas nas coisas sérias. Hoje, as reservas de ouro e a soberania encontram-se beliscadas pelas vivências de um quotidiano - interno e externo - fortemente condicionado pelos ditames mais bizarros que, descaradamente, mascaram as verdades mais genuínas.
Já não vale a pena falar de "traidores" e /ou responsáveis intervenientes directos que "fogem" sempre a tempo.
É triste que tudo se modifique à nossa volta e que a Pátria amada se mantenha "prisioneira" das indecisões, das injustiças, da incompetência , dos interesses pessoais...
Neste dia, importa referir o seguinte: não é difícil o progresso... pelo contrário , o que é difícil é conservar-se idêntico, continuar a ser o "rochedo" batido por todas as "tempestades", mas que fica de pé e que nenhum furação consegue abalar.
Há agressividades reveladoras de orgulhos feridos, insinuações e afirmações para esquecer. Há vocacionados a mais para donos e senhores da Pátria e do povo.
A linguagem das promessas em que tudo se dá sem nada se possuir, em que se apaga o que vem detrás sem se apreciar com objectividade, é, de facto, uma pobreza e uma falta de seriedade que pressagia tempos menos auspiciosos.
Entretanto, o povo, resignado, desta "velha" Pátria, vai, paulatinamente, perguntando - enquanto faz contas à vida -, onde encontrar uma razão de ser? Onde encontrar uma verdadeira regra, uma lei justa? Onde encontrar na desordem da "aldeia global" um "templo" ainda de pé? Nos momentos de alteração da ordem publica, onde esta a autoridade do Estado?
A história de uma Nação não pode ser movida a petróleo, retórica, fado, religião, discursos pejados de "indirectas" e, muito menos por um relvado com uma bola milionária lá dentro...
Uma Nação é constituida por muitas "almas" e estas são movidas pela dignidade da pessoa humana, justiça e, sobretudo, pela certeza na autoridade do Estado.
Já passaram 829 anos (23 de Março de 1179) desde que o Papa Alexandre III emitiu a bula «manifestis probatum" - a magna carta de Portugal- que declarava o Condado Portucalense independente do Reino de Leão e legitimava D. Afonso Henriques o seu Rei: « Alexandre, Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao Caríssimo filho em Cristo, Afonso, ilustre Rei dos portugueses, e a seus herdeiros, in perpetum . Está claramente demonstrado que, com bom filho e príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno de memória e exemplo merecedor de imitação. Deve a Sé Apostólica amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governar e salvação do povo. Por isso, Nós, atendemos às qualidades de prudência, justiça, e idoneidade de governo que ilustram a tua pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos aos vizinhos príncipes cristão. E para que mais te fervores em devoção e serviço ao príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus, prometemos defender-te, quando caiba em nosso apostólico magistério.»
A verdade é que a realidade actual de Portugal já não possui os requisitos exigíveis na "bula manifestis probatum" para que, assim, nós - os herdeiros - possamos ter a protecção do "apostólico magistério" da Igreja Católica ...
Paulo
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