Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
… fez-me repescar um texto de há uns tempos, publicado no outro antro.
Desde miúda que sou, assumo, muito manipulável pela actualidade, filmes/ documentários que vejo ou livros que leio. Sendo o manipulável aqui entendido da seguinte maneira: se há um um qualquer assunto que me faz clic (xoooooo, nada de interpretações manarentas, ok?) começo numa busca, quase obsessiva, de informação sobre o tema.
A exibição do "Guerra", de Joaquim Furtado, tem tido em mim esse efeito, tem-me levado a ocupar algum do meu tempo livre à procura de leituras sobre o tema e fez com que revisitasse velha papelada, alguma dela com mais 20 anos (porque já foi há bué que tive História dos Países Africanos de Expressão Portuguesa na Faculdade). No meio desses velhos papéis, muitos já amarelados e tudo, descobri o trabalho que fiz para a referida cadeira e que tem como título "1940. A Exposição do Mundo Português - Um marco na ideologia colonial". À medida que o ia folheando relembrava, porque está carregado de citações, verdadeiras obras de arte do discurso oficial colonial que me apetece partilhar (um pouco na senda do que já antes fiz com um livro de conduta feminina,lembram-se?). O discurso de abertura do Congresso do Mundo Português (infelizmente, e que eu desse por isso, os volumes das Actas que a mim mais me interessaram- os 3 tomos do 9º Congresso - não estão disponíveis para consulta no site da BN), feito pelo Ministro das Colónias é, de longe, a maior das minas, de tão carregadinho de "amor" que está.
"Sem arrogância na consciência da nossa superioridade, porque educados no sentimento da fraternidade cristã, longe de nos mantermos impermeáveis e inacessíveis, antes tornamos íntimo, para que seja mais fecundo, o contacto com as populações indígenas(…) vontade de continuar a dar o nosso contributo, cada vez mais esclarecido e eficiente, para o progresso das populações mais atrasadas de que a Providência nos confiou a missão civilizadora. (…) É dando-se amorosamente, com amor entusiástico, capaz de ciúme[chegada aqui embatuquei. Ciúme de quem? hum?], porque feito de dedicações abnegadas, e sem comparticipações que lhe retraiam o esforço, que é possível realizar obra perdurável na integração dos poucos indígenas na nossa civilização e cultura.".
É lindo, não é? Mas há mais, oh se há, e de igual candura:
"É a nossa mentalidade que desejamos transmitir aos povos das colóias, não é a sua riqueza que pretendemos extorquir-lhe(…)[ cruzes credo, havia lá de ser isso!](…) Para nós, portugueses, colonizar é(…) proceder a uma transfusão de almas" - ainda não tinha havido nenhum escândalo associado à palavra transfusão, é o que é. Aliás, metáforas sanguíneas abundam em várias comunicações e discursos associados aos evento. O Cardeal Patriarca de Lisboa também não escapou à praga "O nosso nacionalismo não se dobrou a si mesmo num orgulho de casta. Nas novas conquistas e colónias abrimos o sangue real das nossas veias para com êle enobrecer as populações indígenas fazendo-as entrar na comunhão dos nossos bens". Devolvo a palavra ao Ministro das Colónias "Colonizar é, para nós portugueses, um verdadeiro e contínuo acto de amor [hum, priapismo?](…)Segundo o conceito que realizamos e profundamente vivemos, um país colonizador dá o sangue aos seus filhos, insufla a sua própria vida, amplia a alma da Nação.".
E, para terminar, fala Augusto de Castro, Comissário Geral da Exposição, "O génio português não desvendou apenas mundos - o que já de si seria imenso: formou-os, moldou-os, soube preservá-los, nacionalizá-los, defendê-los. Soube exercer até ao fim a sua missão paternal."
Portugal e as colónias constituíam, no fundo, uma linda e tradicional família portuguesa… um cadito disfucional, mas quem é que quer saber disso? [
. "Discurso do Ministro das Colónias na sessão inaugural do Congresso Colonial realizado na Sociedade de Geografia em Lisboa, na noite de 11 de Novembro", Revista dos Centenários, nº23, Nov. 1940, pp 13/… o número está esborratado pelo tempo (e uma mancha de café), não consigo ler o número da página onde termina
."Alocução proferida por Sua Eminência o Cardeal Patriarca de Lisboa a 27 de Junho na missa pontifical celebrada na Igreja dos Jerónimos", Revista dos Centenários, nº19-20, Julho/Agosto, 1940, pp.35/36
.excertos do discurso de Augusto Castro retirados de "A Exposição do Mundo Português - a colonização é o Império e representa a grande prova política de uma capacidade nacional sem paralelo", Diário de Notícias, 2 de Julho de 1940, p.4
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