Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
Pondo de parte a questão das problemáticas e antiquíssimas circum-navegações de África, admitindo – e admitindo sem inspiração de falso patriotismo, simplesmente porque nos parece exacto – que a parte austral do continente foi desconhecida até à viagem de Bartolomeu Dias, fica, no entanto, o facto incontestável de que se acreditava na possibilidade da circum-navegação. A geografia sistemática dos antigos, e depois a dos árabes e da Idade Média, admitia em geral a hipótese de um mar envolvente, e portanto a de uma comunicação do oceano Atlântico com o oceano Índico. A dúvida estava no modo porque se estabelecia essa comunicação; que podia fazer-se pelo mar livre e desembaraçado, ou talvez por canais estreitos de difícil ou impossível navegação, como dizia, por exemplo, o geógrafo árabe Albyruny.
Não havia pois a certeza, mas havia a esperança de poder passar. Havia esta esperança em Portugal já no tempo do infante D. Henrique, e com mais razão no de D. João II. Quando, a partir do cabo das Palmas, a costa africana começou a correr no rumo de leste, imaginou-se ser ali a passagem, o que estava de acordo com as opiniões de alguns antigos cosmógrafos, os quais limitavam a África pelo sul logo nas proximidades do equador. Depois, passado o golfo de Guiné, a costa voltou a correr norte sul, e ficou-se na dúvida acerca da sua terminação.
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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