A armada parte do rio Tejo em 8 de Julho de 1497. Embora escreva muitos anos depois deste evento, talvez porque terá assistido a muitas partidas das naus da carreira da Índia, João de Barros logra transmitir o ambiente psicológico em que tem lugar a primeira de todas elas: «E quando veio ao desfraldar das velas, que os mareantes, segundo seu uso, deram aquele alegre princípio de caminho, dizendo: <Boa viagem!>, todos os que estavam prontos na vista deles, com uma piedosa humanidade, dobraram estas lágrimas e começaram de os encomendar a Deus e lançar juízos, segundo o que cada um sentia daquela partida.
»Os navegantes, dado que com o fervor da obra e alvoroço daquela empresa embarcaram contentes, também passado o termo no desferir das velas, vendo ficar em terra seus parentes e amigos, e lembrando-lhes que sua viagem estava posta em esperança, e não em tempo certo nem lugar sabido, assim os acompanhavam em lágrimas como em o pensamento das coisas que em tão novos casos se representam na memória dos homens. Assim que, uns olhando para a terra e outros para o mar, e juntamente todos ocupados em lágrimas e pensamento daquela incerta viagem, tanto estiveram prontos nisso, até que os navios se alongaram do porto.»
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, pp. 109 e 112
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