sexta-feira, 6 de junho de 2008

Viagens de Pêro da Covilhã (X)

Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:

via Carreira da Índia de Leonel Vicente em 06/06/08

O primeiro acto desta nova fase foi a tomada de Ceuta (1415). Era a antiga guerra aos mouros, mas desviada do solo português, já libertado, e levada às terras da própria Mourama – para nos servirmos da expressiva palavra popular. No séquito de D. João I, passou às terras africanas o seu terceiro filho, então ainda uma criança, e que depois devia mais que ninguém influir na nova orientação da vida nacional. O infante D. Henrique era já, por muitos lados, um homem da Renascença: pelo espírito largo e aberto a todas as ideias novas, pela pura curiosidade científica, pelo desejo, eminentemente moderno, de saber para saber. Quando, muito mais tarde, das arribas do Algarve, ele via aos seus pés o oceano azul, desenrolando-se até às brumas do horizonte incinzeirado, irritava-o não lhe conhecer os limites. Parecia-lhe impossível, que aquelas águas, límpidas e claras, tão docemente frisadas nas tardes de Verão pelo norte da costa portuguesa, se convertessem lá ao longe no sombrio e inavegável Mar Tenebroso. E umas após outras, enviava para o sul as suas caravelas, mordido pela febre do desconhecido, a mesma que depois impeliu Colombo e Magalhães, de quem foi o precursor. Mas D. Henrique era também, por outro lado, um homem da Idade Média, um verdadeiro mestre da Ordem de Cristo, herdeira da Ordem do Templo, levado pela índole, pelas tradições, pelos impulsos do seu atavismo de príncipe cristão, para a guerra aos mouros. Essa guerra, concebia-a ele por dois modos: directa nos campos da África Septentrional, em seguimento à empresa de Ceuta, o que o levou à infeliz jornada de Tânger; indirecta, pelos descobrimentos ao longo da costa atlântica, torneando a África dos mouros, reconhecendo-lhes os limites, e – quem sabe? – encontrando talvez ao longe um aliado cristão. E aqui, nós vemos surgir no espírito do Infante a grande figura lendária do Preste. […]

"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004

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