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A notícia da existência, ou suposta existência, daquele célebre personagem era anterior de mais de três séculos à missão confiada agora a Pêro da Covilhã. O bispo Otho de Freisingen, irmão do imperador Conrado, a quem acompanhara à Terra Santa na segunda Cruzada, havia escrito no seu Chronicon, como no ano de 1145 se encontrara em Roma com um bispo de Gabala, enviado ao papa Eugénio III pelas igrejas da Arménia. O bispo arménio lamentava-se com muitas lágrimas dos perigos, que ameaçavam as igrejas da Ásia depois da tomada de Edessa; e contava, como alguns anos antes, um certo João, rei e padre, habitando para além da Arménia e da Pérsia no extremo oriente, e seguindo com o seu povo a religião cristã da seita nestoriana, havia feito a guerra a uns irmãos, chamados Samiardos, reis da Pérsia e da Média, desbaratando-os em sangrentas batalhas e tomando-lhes a capital dos seus estados, Ecbatana. Depois destas vitórias, havia marchado para ocidente em socorro da Igreja de Jerusalém; mas infelizmente, chegando ao Tigris, não encontrando meio de passar, e começando a morrer a gente do exército de doença, havia sido forçado a voltar para os seus estados. Este Presbítero João, que assim o costumavam chamar, dizia-se ser da antiga raça dos Reis Magos, e em memória destes Santos Reis seus ascendentes vinha assim em auxílio da Terra Santa.
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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