Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
A carta é evidentemente falsa, e sem dúvida teria sido forjada na Europa; talvez simples impostura de algum aventureiro literário, que daí quisesse tirar proveito, talvez uma pia fraude dos que assim pretendiam fortalecer a coragem dos cristãos, confirmando a existência de um natural e poderoso aliado. É certo, no entanto, que a carta foi naqueles tempos geralmente considerada verdadeira; e a lenda, assim ampliada, foi passando de simples e mal fundado boato, a realidade quase segura e provada. Tanto, que alguns anos depois, no de 1177, o mesmo papa Alexandre III, embora ignorasse onde realmente se poderia encontrar aquele misterioso personagem, parece ter-lhe enviado, ou procurado enviar-lhe, uma carta assim dirigida: Charissimo in Christo filio, illustri et magnifico indorum regi, sacerdotum sanctissimo. […]
A lenda devia, porém, ter um fundo real, que é necessário procurar. E em primeiro lugar podemos estabelecer, que o Preste João dos primeiros tempos, do séc. XII, XIII e em parte ainda do século XIV, se colocava geralmente na Ásia. E digo geralmente, porque não é lícito afirmar, que ninguém então pensasse na África, e nomeadamente na Etiópia. Algumas opiniões valiosas, posto que bastante isoladas, julgam a carta de Alexandre III dirigida já ao rei da Abissínia. Mas, mesmo que a carta seja autêntica e fosse dirigida ao rei abexim – e nenhuma das coisas está provada – fica de pé o que dissemos, isto é, que a opinião geral se voltava para a Ásia. […]
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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