Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
Já nos fins do século XV, o príncipe, que despacha Pêro da Covilhã em sua procura, é D. João II, a quem ninguém pode negar uma vista larga e perspicaz, uma deliberação fria, e intentos eminentemente práticos. O que seduzia estes homens não era por certo o vago sabor poético da lenda, era a importância da realidade possível. Sobre todos eles – especialmente sobre os dos antigos tempos, que a D. João II, moviam já outras razões – sobre todos eles pesavam duras preocupações religiosas e políticas, nascidas da apertada situação da Europa, do isolamento da cristandade ocidental, do poder crescente do Islamismo, da desesperada situação dos principados cristãos da Palestina e da Síria, cuja conservação se julgava necessária, não só à dignidade do cristianismo, como à segurança na Europa. O mito do Preste João é, pois, singular; não vive dos elementos poeticamente vagos, que habitualmente sustentam os mitos, mas das considerações políticas e diplomáticas, que habitualmente os destroem. Forma-se em volta dele uma lenda, uma destas criações da Esperança e da Fé, que resistem a todas as desilusões, porque ele seria um aliado salvador, se fosse real. […]
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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