Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
Estava posto o problema, que devia resolver parcialmente Bartolomeu Dias, totalmente Vasco da Gama. Compreende-se, pois, todo o interesse que havia, em obter informações sobre este ponto especial e capital. Julgava-se então, que a Etiópia se estendia – como diz Barrsos – "té o mar do Sul". Os naturais da terra deviam conhecer o modo por que terminava a África. Ali na Etiópia, ou talvez na Índia, devia saber-se alguma coisa sobre a tão importante passagem – essa passagem, dada a qual os planos de D. João II podiam ser uma realidade, sem a qual seriam sempre um sonho. Nada mais natural, portanto, di que a recomendação, feita – segundo Ramusio – aos exploradores: indagar se havia alguma notícia che si possa passare ne mari di ponente. […]
Tais seriam, segundo todas as probabilidades, as instruções dadas aos dois escudeiros: que um deles se dirigisse directamente ao rei cristão da Etiópia; que o outro procurasse passar à Índia, e estudasse as condições do comércio oriental; que ambos colhessem por onde podessem informações sobre o modo e sítio de comunicação dos mares do levante com os mares do ocidente.
Pelos primeiros dias do mês de Maio todos os preparativos estavam terminados, e os dois escudeiros munidos da sua carta de marear e das suas instruções secretas. No dia 7 daquele mês de Maio do ano de 1487, D. João II deu-lhes a última audiência em Santarém, à qual assistia o duque de Beja. O rei entregou aos viajantes quatrocentos cruzados, tirados do cofre das suas propriedades de Almeirim, e também uma carta de crédito "pera todas as terras e províncias do mundo". Ao despedir-se deitou-lhes a sua bênção.
"Viagens de Pêro da Covilhã", Conde Ficalho, ed. Viagens Alma Azul, Outubro 2004
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