quarta-feira, 17 de agosto de 2011

NA APRESENTAÇÃO DO ELMO DE D. SEBASTIÃO

via O Adamastor by Adamastor on 8/11/11

Aqui está o produto final do Filme-Documentário acerca do ELMO.
Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=D3MiSjOBfKM
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=PUFafc7susY
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=PymMR9zVrqQ

No passado Domingo, dia 7 de Agosto, na quinta Wimmer de Rainer Daehnhardt foi apresentado o elmo de D. Sebastião.
Lá estive com o anfitrião e o Emb. Jorge Preto para fazer a apresentação com uma vasta assistência.
Fica a minha palestra intitulada;

A IMPORTÂNCIA DO REAPARECIMENTO DO ELMO DE D. SEBASTIÃO NA NOSSA GERAÇÃO
"Morrer sim, mas devagar"
D. Sebastião, em Alcácer Quibir

    Passou a ser recorrente, entre nós, atacar a figura do nosso rei D. Sebastião – nome único entre todos os nossos reis e também no mundo – que de "Desejado" por todos, como ficou para a História, passou a ser considerado, por muitos, como o símbolo do erro e da leviandade.

    Tudo porque arriscou uma partida difícil e perdeu uma batalha que quase esteve ganha. Acaso a tivesse ganho seria hoje um herói?

      Creio que aquela imagem começou a ser construída no século XIX, pela historiografia emergente da Convenção de Évora-Monte, quase toda ela Liberal e Maçónica, e que se prolongou pela I República, da qual também saiu ferido o infeliz rei D. João VI, cuja figura está a ser lenta e justamente recuperada.

    Não nos fica bem tratar, deste modo, o jovem Rei-Menino, que parece, afinal, ter morrido velho…


Em primeiro lugar porque a jornada de África, sendo discutível, não era desprovida de nexo estratégico. Não acreditamos que se tratasse de ocupar todo o Marrocos – para o que, sozinhos, nunca disporíamos de forças suficientes – mas sim jogar em apoios que permitissem deter o Império Otomano em rápida expansão nos Balcãs e no Norte de África, onde já tinham chegado a áreas argelinas – lembra-se que os Turcos só foram parados às portas de Viena em 1529 e, mais tarde, em 1683.

    Lembro ainda que a batalha de Lepanto, que quebrou a expansão naval turca, no Mediterrâneo, se dera, em 1571. O perigo não tinha findado, porém, recordando-se a acção dos Cavaleiros do Santo Sepulcro de Jerusalém, a partir da ilha de Malta (e a importância da ajuda nacional nesse âmbito), e a decisiva contribuição da esquadra portuguesa na vitória do Cabo Matapam, contra os Turcos, em 1707, 130 anos depois de Alcácer Quibir…

     Acresce a tudo isto o constante perigo que representava para a navegação cristã (e para as populações do litoral), a pirataria Berbere e também a "concorrência"espanhola, que cada vez intervinha mais no litoral norte africano, desde Carlos V, como são exemplos os ataques a Tunis e Argel, onde também participaram fortes esquadras portuguesas.

     No Reino também se assistiu a uma mudança de política, relativamente à ideia de abandono de praças em Marrocos, posta em prática no reinado de D. João III, sobretudo após as Cortes de 1562 e da extraordinária defesa ao formidável cerco que os Mouros puseram a Mazagão, nesse mesmo ano.

     A situação política em Marrocos era, outrossim, favorável: havia guerra civil e um dos principais contentores aceitou fazer uma aliança com Portugal.

    É certo que o monarca português cometeu erros, sendo o maior de todos, o de se colocar à testa do Exército sem ter assegurado descendência – embora tal se devesse, em muito, à pressão dos acontecimentos; não avaliou bem as intenções do seu tio Filipe II, de Espanha – que o traiu – e, durante a batalha foi mais um combatente voluntarioso em detrimento da acção de comando na direcção da contenda.

    Mesmo a critica de se ter afastado da costa perdendo assim a protecção da frota não colhe, já que o ataque a Larache, um dos principais objectivos da expedição, era muito difícil de fazer por mar, para o que se contava com os 50 navios e os 5000 homens prometidos por Filipe II, e que nunca vieram. Já o "timing" da expedição, no pino do verão marroquino, é menos sustentável, se bem que decorresse dos atrasos sucessivos a que a prontidão do Exército foi sujeita. Houve também dificuldades de recrutamento de tropas, sobretudo no Norte de Portugal, o que obrigou ao recurso de mercenários alemães, italianos e espanhóis o que tornou o Exército algo heterogéneo. A carriagem era, ainda, muito pesada tornando difíceis as deslocações.

    Sem embargo, Sebastião não nos desmereceu: começou por preparar a campanha com antecedência, para o que reformou toda a legislação militar, incluindo a primeira concepção moderna de serviço militar obrigatório; depois, combateu bem e com denodo; deu o exemplo, e pagou com a vida ou o desterro – e tudo indica que foi esta última hipótese que ocorreu – a sua audácia e crenças. Dele disse o grande Mouzinho, na sua esplêndida carta ao Príncipe D. Luís Filipe: "…mas a morte de valente, expiatória e heróica, redime os maiores erros. Bem merece ele o nome de soldado…"

    O desfecho da batalha pode não redimir totalmente a figura do jovem Rei, mas salvou para sempre a sua imagem. De tal modo que se entranhou no imaginário nacional, um peculiaríssimo estado de alma – à revelia de toda a racionalidade - e que só os portugueses entendem: o "sebastianismo", essa saudade das glórias passadas, misturado com a esperança da redenção do porvir.

    Deve ainda ter-se em conta que não foi por D. Sebastião ter sido derrotado em Alcácer Quibir, que Filipe II se apoderou da coroa portuguesa – a nossa Marinha, por ex., ficou intacta: foi pelo caquectismo e pusilanimidade do velho Cardeal D. Henrique, e porque a maioria do alto clero e alta nobreza se deixou seduzir e corromper pelos ideais iberistas e pela prata de Sevilha! Uma lição de que nos deveríamos lembrar hoje, todos os dias…

    Em síntese, apesar da sua pouca idade em Alcácer – 24 anos – D. Sebastião não nos deixou ficar mal, não fugiu, não desertou do combate, não traiu. Deu o exemplo, pôs-se à frente das tropas, combateu com bravura, não desmereceu dos seus maiores, não envergonhou a nobreza, o clero e o povo. Sebastião agiu de boa mente e com boas intenções.

    Não era um "louco" ou um doente com deformações, como quiseram fazer crer. O seu reinado tinha sido um bom reinado: ocorreram um número elevado de vitórias militares, em três continentes; estabeleceram-se muitas medidas para o saneamento da economia e finanças e, até, da moral e dos costumes, e o próprio Rei se interessou pessoalmente pela administração da Justiça.

     Ao contrário do que também quiseram fazer crer, o jovem rei não era incapaz de conceber e não se opôs a casar-se. Opôs-se sim, a casar com quem lhe destinavam e, ou, nos moldes em que o propunham. Neste âmbito é necessário recordar toda a má política seguida por seu tio, o sempre presente Filipe II.

    O "Desejado" passou, desde o seu desaparecimento, a representar a esperança da redenção da Pátria, de tal modo que o povo se recusou sempre a acreditar, contra tudo e contra todos, na sua morte.

    A sua figura foi um pilar fundamental da resistência à usurpação filipina e inspiradora da Restauração da Independência; foi um sustentáculo da Fé e da coesão, foi a luz que nunca se extinguiu no fim da esperança. "Da Lusitana antiga liberdade…" no dizer de Camões.

    Configurou o mito da Fénix renascida, agregou vontades e deu um sentido para o futuro; ao mesmo tempo que ajudava a suportar os sacrifícios e as humilhações do longo calvário de 60 anos em que estivemos sujeitos a Madrid.

    D. Sebastião nunca morreu entre nós, esteve sempre presente na mente do povo e dos grandes portugueses, nas artes e na literatura. É um ícone do nosso imaginário!

    De facto, a acreditar no que D. Sebastião representa, é conseguir ultrapassar-nos a nós próprios.

   O elmo de combate, em boa hora recuperado, que hoje está entre nós, e que reúne muitos indícios que podem levar a concluir, sem rebuço, que é aquele que o nosso Rei usou na malograda batalha – e disso é mister fazer prova junto da comunidade académica e cientifica - é o que nos resta d' Ele, é um símbolo d' Ele, é uma imagem que podemos recriar d' Ele.

    Hoje D. Sebastião, o seu espírito e o que ele representa, é-nos mais necessário do que nunca. Regressados às fronteiras do século XIII, se bem que enriquecidos com os Arquipélagos Atlânticos, poderíamos manter-nos uma pequena potência mas, em vez disso, deixámo-nos escorregar, por via de lideranças incompetentes e antipatrióticas – que nós temos tolerado - para um quase estado exíguo, que vive desmoralizado e de mão estendida.

    E não temos mais retaguarda estratégica…

    Três grandes perigos/ameaças impendem sobre o nosso país: o federalismo europeu, o iberismo – que aquele potencia em extremo – e, sobretudo, o desleixo nacional, o baixar das guardas, a perda de referências e de auto-estima.

    A União Europeia – recordo que nem o Conde Duque Olivares se atreveu a substituir-nos a moeda – só pode evoluir em três sentidos: ficar a patinar na situação cacofónica em que está, e nós com ela; fazer uma fuga para a frente e avançar de qualquer maneira na integração económica, social e política - e Portugal desaparece como Estado, primeiro, e com o passar do tempo, como Nação; ou implode, e cada um irá por si, estilhaçando-se em conflitos e egoísmos algo catastróficos. Qualquer dos cenários é mau e devemos preparar-nos rapidamente para fazer face a qualquer um desses cenários.

    O que passa, obviamente, por preparar o abandono desta organização internacionalista cujos fins são indefinidos. A Europa só nos interessa enquanto preservar a individualidade da Nação Portuguesa. Não menos do que isso. Qualquer outra solução representa o nosso epitáfio!

    Os perigos do Iberismo aumentaram exponencialmente pois todas as defesas que criámos ao longo dos tempos foram todas derrubadas desde a experiência funesta que iniciámos em 1986.

    O "fraco rei faz fraca a forte gente", não é apenas uma frase lapidar camoniana, é uma verdade incontornável de todos os tempos. Vamos ter que ter grande coragem, liderança e perspicácia estratégica para conseguirmos sobreviver a tudo isto.

    Creio termos que regressar à matriz nacional e a acreditar no velho espírito da casa lusitana. Em síntese, reaportuguesar Portugal!

    Para isso nada melhor para nos inspirar do que a figura do Rei menino que quis a glória da terra que lhe deu o berço. O seu elmo de batalha aí está a significar a sua intemporalidade e transcendência. Ele nos fará correr mais rápido o sangue nas veias, de modo a que nos disponhamos a enfrentar quaisquer perigos.

    Com ele se levantará a altaneira "raça" portuguesa e não haverá Adamastor que nos detenha.

    Uma nota final:
   D. Sebastião está, pois, vivo entre nós; o que ele representa está vivo, viva então em nós o "Desejado"!

     E se os seus restos mortais foram inumados em Limoges, como estudos recentes parecem atestar, e existindo forte possibilidade de se conhecer a urna em que estiveram depositados, então só nos resta pugnar, junto do governo francês, para que a dita urna e toda a memoralistica que se possa vir a identificar, regresse a Portugal.

      Devemos, então, enviar uma escolta de cadetes das Academias Militares, para o acto de tomada de posse, enviar tudo para o porto mais próximo e embarcar num navio da esquadra portuguesa, que faria o transporte para Portugal. A Cruz de Cristo, das asas dos caças da Força Aérea, será protecção segura após entrada em águas nacionais. O desembarque seria no Restelo, após salvar a artilharia; seguir-se-ia guarda de honra e "Te Deum" nos Jerónimos e festa em todo o país.

    D. Sebastião é um dos nossos maiores, deve regressar à Pátria. É um dever e uma dívida de todos nós.

     Viva o Desejado!

     Arraial, Arraial, por Portugal

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

SENGHOR, O BRASIL E PORTUGAL: ALGUNS MARCOS CULTURAIS LUSÓFONOS

»Antes de mais nada, queremos apontar para as duas razões que nos levaram a optar pelo tema da nossa comunicação; destacaremos seguidamente a personalidade de Senghor, que, na verdade, não carece de apresentação. Será depois o momento para nos debruçarmos sobre alguns marcos culturais lusófons de que Senghor é o protagonista, e que o ligam afectuosamente ao Brasil e a Portugal.»

Autor: Texto de Banjamim Pinto Bull
Fonte: Associação Internacional de Lusitanistas/Benjamim Pinto Bull