sábado, 24 de julho de 2010

Homenagem a António Quadros (14 de Julho de 2010)

Homenagem a António Quadros (14 de Julho de 2010)

via António Quadros by aquadrosferro@gmail.com (António Quadros Ferro) on 7/23/10

"Para mim, hoje, António Quadros representa, acima de tudo, a saudade de uma grande amizade, de um longo convívio e de uma comunhão de ideais patrióticos e espirituais, de uma luta comum pelo reconhecimento do significado e valor da filosofia e da cultura portuguesas e luso-brasileira, pela actualização de fecunda, embora encoberta, ignorada e esquecida tradição cultural. Na data em que completaria 87 anos, recordo também o homem bom, desinteressado e corajoso, que se entregou, com a razão e o coração, a um ideal espiritual superior e cuja obra é, cada vez mais, reconhecida pela sua rica e múltipla originalidade, aberta compreensão e subtil inteligência hermenêutica."

António Braz Teixeira

"Ler António Quadros foi uma revelação. Conhecer António Quadros tornou-se uma descoberta permanente. Conversar com António Quadros era um encanto superlativo e intemporal. Rememorar António Quadros é deixar-nos invadir pela saudade, mas é também uma oportunidade de o celebrar. António Quadros marcou gerações sucessivas com uma cultura enciclopédica – sobretudo dos clássicos que "tratava por tu" –, com um inefável Amor a Portugal, com uma arguta percepção da peregrinação lusíada pelo mundo, com uma densidade comunicacional simples, mas profunda. Hoje, mais do que em qualquer outra época da nossa contemporaneidade recente, que falta nos faz António Quadros!

Roberto Carneiro

[newsletter nº 13, Julho de 2010, Fundação António Quadros]

quinta-feira, 22 de julho de 2010

11 de Novembro

via António Quadros by aquadrosferro@gmail.com (António Quadros Ferro) on 7/21/10

"Veio o médico de serviço. Veio a irmã Eugénia, solícita, bondosa, passando-me a mão sobre a fronte. Vieram enfermeiros. Foi uma agitação ruidosa e insuportável. Conduziram-me de maca até à enfermaria. Deram-me não sei que pílulas, atarefaram-se em meu redor. Trouxeram-me de novo para o quarto e deitaram-me. Melhorei, um pouco pelo menos, e a dor fortíssima desapareceu, ficando só a mesma pressão sobre o peito. Sinto-me agoniado. Vou morrer? Vou morrer? [...] Pensar, lembrar, as duas dores confundem-se-me, a dor dos meus ideais abatidos (e todavia resistentes) e a dor desta opressão que me sufoca [...] Lembro-me do que me disseste, há muitos anos, na minha visita à Holanda quando exilado de Portugal. Ah! A hora primeira! Quando com assombro se descobre que não há margem para dúvidas! Quando se chega a de onde não se pode voltar! O que se encontra, meu Deus!
Foste arrepiantemente premunitório. O que se encontra? Um quarto de hospital, um cheiro a desinfectantes, a comiseração das pessoas que nos olham como se já não estivéssemos cá, as últimas despedidas, a visita de uma amiga querida mas logo saudosa, as más recordações, um olhar para trás e perceber que tudo passou velozmente e não aproveitámos o nosso tempo, um reviver os nossos erros e um menosprezar dos nossos possíveis acertos. Olhamos para dentro de nós e apercebemo-nos que fomos pouca coisa, de que somos pouca coisa. Escrevemos livros, sobretudo um livro, montámos toda uma teoria de respostas satisfatórias para as nossas mais fundas interrogações, julgámo-nos senhores de um saber superior ao da maioria dos nossos amigos ou contemporâneos, mas sempre a mesma pergunta contundente e inevitável. O que se encontra, meu Deus?"
António Quadros
Uma Frescura de Asas, Europress (1990) pp. 114-115

Helena

via António Quadros by aquadrosferro@gmail.com (António Quadros Ferro) on 7/21/10

"[...] A que eu julgara ter morrido no meu coração como eu teria morrido no dela, a que eu magoara, a que sobrevivera à minha fuga lamentável estava agora comigo, apertando naturalmente a minha mão, acarinhando-a e tratando-me de novo [...] pelo meu nome próprio. As nossas mãos acomodaram-se, a minha palma e os meus dedos calejados de escritor e jornalista, a suavidade feminina da sua pele, que o manuseio dos livros e as lidas da casa não tinham conseguido desfrear. Eu desejava-a, sim desejava-a. Perguntarás, atónito: como, agora, assim, tu, velho filósofo doente? Uma alegria. Uma dor. Um querê-la absurdamente, quando sabia que nunca a poderia ter. Mas uma consolação. Eu vivia. Não ousámos sequer sorrir-nos. Quase embaciados os seus olhos, mas conseguiu dominar-se...Eu vivia, vivia uma vida de homem. Não era capaz de dizer mais do que: - Helena, Helena..."

António Quadros
Uma Frescura de Asas, Europress (1990) pp. 95-96

Dobrado sobre a grande máquina

Dobrado sobre a grande máquina

via António Quadros by aquadrosferro@gmail.com (António Quadros Ferro) on 7/21/10

"Marinho era o contemplador do número, do espírito recôndito, na experiencia anagógica da visão unívoca. Mas Álvaro Ribeiro era o operário de Deus, o trabalhador que, dobrado sobre a grande máquina do mundo e sobre o formigueiro dos homens, tentava fazê-los mover, arrolando cada um de nós para uma função própria e levando-nos as instruções deixadas pelo fabricante de origem. A cada pensador português, o seu poeta. Se Junqueiro para Bruno, Antero para Sérgio, Pascoaes para Leonardo e Marinho, Pessoa para Agostinho, o poeta de Álvaro Ribeiro era José Régio […]"
António Quadros
Memórias das Origens Saudades do Futuro,
Publicações Europa-América (1992) p. 318

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mensagem do desassossego

Mensagem do desassossego

via Mundo Pessoa on 7/19/10

Considerando que eu ganhava pouco, disse-me o outro dia um amigo, sócio de uma firma que é próspera por negócios com todo o Estado: «você é explorado, Soares». Recordou-me isso de que o sou; mas como na vida temos todos que ser explorados, pergunto se valerá menos a pena ser explorado pelo Vasques das fazendas do que pela vaidade, pela glória, pelo despeito, pela inveja ou pelo impossível.
Há os que Deus mesmo explora, e são profetas e santos na vacuidade do mundo.

Livro do Desassossego, Bernardo Soares, edição Richard Zenith, Assírio & Alvim, 1998, p. 51.

ANGOLA: Sobre o 27 de Maio

ANGOLA: Sobre o 27 de Maio

via ANGOLA DO OUTRO LADO DO TEMPO... by MARIANJARDIM on 7/19/10
Sobre o 27 de Maio
Agostinho Neto terá dito:
«Até tu, monstro Imortal?!»

De acordo com o relato de Eugénia Neto, Monstro Imortal, mítico comandante das FAPLA morto no decurso dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, tinha sido criado em casa dos pais de Agostinho. «Foi traidor duas, ou três vezes. Neto confiou nele e o mandou para a primeira região. Eles não mereceram isso, foram esses da primeira região que se portaram mal.»

«Neto mandou, não sei quantos grupos. Uns dos que chegou com sucesso que foi o do Monstro e depois o do Ingo. Chegaram só vinte e tal porque [os restantes] se perderam no caminho. Neto fez tudo que pode pela primeira região, agora, eles lá começaram a ficar com poder sem serem controlados pela direcção do movimento e começaram a fazer asneiras», contou Eugénia Neto. Ler mais

Colonização: Entrevista com Adriano Moreira

Colonização: Entrevista com Adriano Moreira

via ANGOLA DO OUTRO LADO DO TEMPO... by MARIANJARDIM on 7/18/10



Entrevista
Adriano Moreira
Primeira parte da entrevista concedida por Adriano Moreira, distinguido com a edição de 2009 do «Prémio de Cultura Árvore da Vida - Padre Manuel Antunes», a Paulo Rocha e Luís Filipe Santos, da Agência Eccesia.
No seu livro «Espuma do Tempo» afirma: "A arte de esquecer a inutilidade em que se traduz a maior parte das inquietações que consomem o nosso tempo, reduz as recordações a tão pouco que, muitas vezes, se contam num gesto, e sem palavra". Que gesto recordaria o seu contributo para a sociedade portuguesa ao longo destes anos?
Não me considero um exemplo dessa capacidade de resumir tudo num gesto. No entanto, tenho a convicção de que - isso corresponde à verdade - aquilo que sempre sublinhou a minha intervenção foi a convicção do papel da Universidade na vida portuguesa. Para que tal acontecesse tive de praticar alguns gestos e, certamente, não foram todos agradáveis. Tivemos dificuldades grandes no percurso, mas acho que está suficientemente recompensado. Ler mais

quinta-feira, 15 de julho de 2010

'Abatemos um militar e um civil sem razão'

via Leste de Angola by Jorge Santos - Op.Cripto on 7/13/10

Sérgio Marques dos Santos, que esteve na Guiné, em 1971/73, Tem, na Revista «Domingo» do «Correio da Manhã», onde diz: Fui o homem do meu esquadrão com mais tempo na frente de combate. Fui como voluntário, depois de assistir a...

Gilles Lapouge: Paris e sua política africana

via Lusofonia Horizontal by Daniel on 7/14/10

Na dita Comunidade Francófona, os interesses econômicos acima de tudo, com algum verniz cultural. A respeito dos Anciens Combattants das antigas colônias francesas, saiu no Visão Global de O Estado de S. Paulo de 14 de julho de 2010 o texto colado abaixo, de autoria do excelente correspondente francês do diário paulista, Gilles Lapouge:

Há mais de dois séculos, a França comemora, com grande festa, a Revolução Francesa, que teve início em 14 de julho de 1789 com uma revolta popular e a tomada de uma prisão simbólica, a Bastilha. Este ano, uma novidade: a França compartilhará sua festa nacional com 14 Estados da África Ocidental que foram colônias francesas e conquistaram sua independência graças ao general Charles de Gaulle, a partir de 1958.

Contingentes de 14 Exércitos africanos terão a honra de desfilar ao lado das unidades francesas na Champs Elysées. No entanto, essa participação desencadeou uma polêmica. Tanto a Federação Internacional dos Direitos Humanos como personalidades francesas e africanas se disseram chocadas. Ler mais

quarta-feira, 14 de julho de 2010

MESTRE JOÃO COXO

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 7/11/10

Fotografia de Pedro Tavares, no BLOG OLHARES, 2009
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QUANDO, NO ALENTEJO, se dizia sopas de carne, queria, sobretudo, acentuar-se que não eram de peixe nem de azeite. Nesse tempo, nos montes e nas aldeias, carne fresca só a de porco, nos meses da matança, em geral, pelo inverno, ou a de borrego, pela Páscoa. Frangos e galinhas quase todos tinham no quintal ou em liberdade, no campo, em redor da casa, e lá se matava um destes animais em dia de festa ou como dieta de gente acamada. Ler mais

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A gênese de Os Donos do Poder

A gênese de Os Donos do Poder

via Lusofonia Horizontal by Daniel on 7/8/10

Tanscrevo algumas passagens interessantes da ótima entrevista de Raymundo Faoro a Marcelo Coelho, da Folha de S. Paulo, em maio de 2000, sobre o percurso intelectual de um dos maiores intérpretes da formação político-jurídica do Brasil (e não só).


Coelho: O contato com a cultura jurídica talvez tenha sido uma vacina contra o oficialismo dominante.

Faoro: Há coisas formais que hoje, estão mudando, mas deveriam mudar totalmente. Por que aquele formulário, o "data venia", o sistema de raciocinar que é o mesmo desde Quintiliano, a indrodução, a explicação, a prova, a retutação, a conclusão? É o mesmo clichê, a mesma prosa que, como advogado, nunca segui. Sempre procurei escrever como um cidadão, sem jargão jurídico. Aliás, só escrevi a segunda edição de Os Donos do Poder porque ninguém tinha entendido a primeira. Ler mais

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sobre a proposta de adesão da Guiné Equatorial à CPLP

Sobre a proposta de adesão da Guiné Equatorial à CPLP

via Lusofonia Horizontal by Daniel on 7/7/10

Uma questão a ser levantada: como é que os defensores de tal adesão a justificam? A seguir, importante artigo de opinião, na íntegra (aos interessados, conferir as observações de Gerhard Seibert disponíveis na internet).

O perigoso silêncio de Brasil e Portugal

MARINA COSTA LOBO (professora de Ciência Política na Univeridade de Lisboa)

Publicado no diário O Globo (Rio de Janeiro), domingo, 04/07/2010
Opinião, p. 07

Na próxima cúpula da Comunidade de Países de Língua Por tuguesa (CPLP) que ocorrerá no dia 23 de julho em Luanda, será discutida a entrada da Guiné Equatorial nesta organização internacional. A Guiné Equatorial é uma das ditaduras mais ferozes do mundo. Tem como líder Teodoro Obiang Nguema, que, nas últimas eleições de setembro de 2009, ganhou com 95,8% dos votos válidos.Não, isso não significa que este presidente é muito popular. Quer dizer apenas que a fraude eleitoral é maciça.Na Guiné Equatorial, nunca houve uma eleição livre, sendo Obiang o ditador que há mais tempo se mantém no poder na África. Dos 100 membros do Parlamento, 99 pertencem ao partido de um presidente que controla todos os recursos do país. Ler mais

O mito de Vasco da Gama na visão de um indiano

O mito de Vasco da Gama na visão de um indiano

via Lusofonia Horizontal by Daniel on 7/7/10

O historiador Sanjay Subrahmanyam, natural de Nova Delhi, foi professor em Filadelfia, Minneapolis, Lisboa, Delhi e Paris. É filho de K. Subrahmanyam, conhecido analista de assuntos estratégicos internacionais (filiado à escola neorealista indiana). Em 1993, Sanjay publicou um exaustivo estudo sobre a presença portuguesa na Índia. Em 1997, lançou uma polêmica biografia de Vasco da Gama, sob o título The Career and Legend of Vasco da Gama (Cambridge University Press).


A seguir, algumas opiniões de Sanjay Subrahmanyam sobre os mitos em torno do ilustre (e belicoso) biografado:

"No século 19 temos a reinvenção do Gama, mais uma vez com base em Os Lusíadas, mas também para mostrar aos outros europeus que o pequeno Portugal tem uma grande envergadura, tem os seus herois iguais a quaisquer da Inglaterra ou da França. Não são Isaac Newton ou Jean-Jacques Rousseau, não são herois do pensamento, mas verdadeiros herois de ação. É curioso ver que no século 16 era muito mais possível criticar Vasco da Gama que no século 19. Ler mais

Homenagem a Paulo Teixeira Jorge


via Lusofonia Horizontal by Daniel on 7/7/10

Um belo texto de Óscar Monteiro, em homenagem ao grande nacionalista angolano Paulo Teixeira Jorge, reserva moral da velha guarda do MPLA, falecido no último sábado:

Paulo Jorge do MPLA: De mensageiro a meu herói
ERA Maio em Paris de 1963. A viagem de fim de curso dos quintanistas de Direito da Universidade de Coimbra oferecia-me uma oportunidade inesperada de fazer algum contacto com os meus colegas que entretanto se haviam juntado aos movimentos de libertação, alguns cabo-verdianos, na maior parte angolanos. Eu vivia em Coimbra numa república de estudantes anticoloniais, de onde regularmente se fugia ou se era preso. Ler mais


sábado, 3 de julho de 2010

Couto Viana, o voto de pesar e a troca de correspondência entre José Campos ...

Couto Viana, o voto de pesar e a troca de correspondência entre José Campos e Sousa e Pedro Mexia

via nonas by nonas on 7/2/10
Recebi do meu bom amigo José Campos e Sousa e de Pedro Mexia - com a devida autorização de ambos - esta troca de correspondência sobre o tema da negação do voto de pesar a António Manuel Couto Viana.
"Meu Caro Pedro Mexia
Assisti, fora de horas, como algumas vezes faço, ao "Eixo do Mal" . Vi com surpresa que estava presente, em missão de substituição.
Falou-se do inevitável Saramago e da forçosa falta que ele faz aos Portugueses. Quero desde já dizer-lhe que pertenço à imensamente ignorante parte de Portugal a quem ele de pouco serve e a quem também não faz falta nenhuma. Ler mais