quinta-feira, 8 de julho de 2010

O mito de Vasco da Gama na visão de um indiano

O mito de Vasco da Gama na visão de um indiano

via Lusofonia Horizontal by Daniel on 7/7/10

O historiador Sanjay Subrahmanyam, natural de Nova Delhi, foi professor em Filadelfia, Minneapolis, Lisboa, Delhi e Paris. É filho de K. Subrahmanyam, conhecido analista de assuntos estratégicos internacionais (filiado à escola neorealista indiana). Em 1993, Sanjay publicou um exaustivo estudo sobre a presença portuguesa na Índia. Em 1997, lançou uma polêmica biografia de Vasco da Gama, sob o título The Career and Legend of Vasco da Gama (Cambridge University Press).


A seguir, algumas opiniões de Sanjay Subrahmanyam sobre os mitos em torno do ilustre (e belicoso) biografado:

"No século 19 temos a reinvenção do Gama, mais uma vez com base em Os Lusíadas, mas também para mostrar aos outros europeus que o pequeno Portugal tem uma grande envergadura, tem os seus herois iguais a quaisquer da Inglaterra ou da França. Não são Isaac Newton ou Jean-Jacques Rousseau, não são herois do pensamento, mas verdadeiros herois de ação. É curioso ver que no século 16 era muito mais possível criticar Vasco da Gama que no século 19. Ler mais
"A ideia das expedições secretas (ou desconhecidas) no Atlântico não me parece totalmente inacreditável. Mas, no caso do oceano Índico, parece absurdo. E o papel de Gama nisso é pura fantasia de Armando Cortesão. É sempre difícil mostrar que uma coisa não aconteceu. Eis a vantagem dos argumentos ex silentio.

"Não há uma presença portuguesa na Índia, mas várias presenças, porque os portugueses ficaram lá durante quatro séculos e meio. Existe, como consequência, uma verdadeira aculturação, num campo de poder bem desigual, sem sombra de dúvida. Mas essa presença não se compara, seja nas dimensões, seja nos processos sociais subjacentes, à presença britânica na Índia. Não me parece interessante dizer que estes eram melhores que aqueles: não podemos dar notas num curso de imperialismo.

"De fato, há grupos ultranacionalistas na Índia que veem toda tentativa de falar de Vasco da Gama como uma forma de ultra-imperialismo. Em Portugal, por sua vez, há grupos que dão razão a esses receios. Nesse país sobrevive, em parte, inclusive entre membros do governo, um discurso muito nacionalista (nós, os portugueses, que somos os melhores do mundo, que descobrimos tudo etc.). Mas há igualmente pessoas mais razoáveis, entre as quais o próprio diretor da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos, António Manuel Hespanha, que é um bom historiador e também uma pessoa aberta a toda opinião razoável. (...) Numa democracia, até os malucos têm o direito de se exprimir (a condição é que não seja de uma maneira violenta)."

Sem comentários: