domingo, 7 de novembro de 2010

«Ratos, Camaleões, Rinocerontes, etc. (pequeno estudo zoológico)»

"Modestamente, venho-me dedicando há anos a estudos de zoologia. Sem pretender rivalizar com os grandes investigadores deste ramo científico, resolvo-me todavia hoje a publicar algumas notas, aliás seleccionadas de entre muito material acumulado e que um dia valerá a pena reunir e sistematizar para a posteridade.

Os ratos
Estes pequenos roedores são na realidade tímidos e vulneráveis. Escondem-se durante o dia, mas de noite (assustadiços como são) conseguem alimentar-se de sobejos e detritos, circulando nos forros das casas, nos canos de esgoto, nas lixeiras. Têm um instinto seguro. Quando a casa começa a arder, ei-los que fogem imediatamente em massa, antes de o perigo se tornar mortal. Escolhem então outra casa, outro lar. E de novo irão prosperar à sua maneira tímida e nojenta, em novos forros, em novos canos de esgoto, em novas lixeiras. Ler mais

Quem são os Portugueses depois do Oriente? Alguns Cenários dos Mil e Um Encontros

"- Hoje sente-se indiano?
- Não, indiano não, mas às vezes sinto-me goês...
- E português?
- Isso já não sei. O que é um português?"
José Eduardo Agualusa, Um Estranho em Goa (2000: 50)

O traço de interatividade da presença portuguesa no Oriente tem transformado não só Portugal, como talvez os povos com quem os portugueses ali dialogam há muitos séculos. Opinar sobre a qualidade dessas relações não é o objetivo deste texto. É bem verdade que tais trocas também podem ser vistas à luz de realidades como: a guerra, a colonização, a conversão ao catolicismo, ou o comércio de pessoas e de bens. Aqui, quero tão somente debruçar-me sobre o que sedimentou dessas relações culturais e pessoais para tentar entender uma certa especificidade da cultura portuguesa com raízes em cenários luso-asiáticos e a importância do futuro dessas relações. Assim, a minha abordagem mede-se pelo interesse em compreender o sentir-se emocionalmente curioso perante o mundo, uma ideia constante nos textos portugueses que narram o diálogo luso-asiático. Ler mais

Sampaio Bruno morreu há 95 anos


"Não é absurdo (digamos: ridículo) conceber que toda esta laboriosa evolução mundial se operou, opera, operará para que o Sr. Fulano saiba bem física e o Sr. Beltrano não tenha segundo no cálculo? [...] Saber por saber é uma espécie de masturbação superior. [...] Porque o desfecho e remate do homem não é gozar-se, repita-se. Se o mundo não existe para que o homem saiba, odioso seria fantasiar que o universo continua subsistindo para que o desfrute o homem. [...] O fim do homem neste mundo é libertar-se a si, libertando os outros seres. [...]"

Sampaio Bruno, A Ideia de Deus, (1902)
Livraria Chardron - Lello & Irmão, Editores, pp. 468-469

sobre a liberdade


"[…] Ora só pode entender-se que uma sociedade é verdadeiramente livre ou em potência de liberdade quando os cidadãos atingirem um grau mínimo de autonomia individual, isto é, quando souberem conjugar o seu emprenho pessoal nos interesses superiores da polis com a capacidade de optarem por si próprios, compreendendo a todo o momento o que de fundamental está em jogo e estando aptos a resistir à pressão intelectual que sobres eles é exercida pelo poder ou pelos poderes, através das mil formas de sedução, de propaganda, de manipulação e de «formação», que visam usá-los, por vezes mais do que servi-los.
A liberdade de pensamento é pois a primeira das liberdades e precede-as. Mas a liberdade de pensamento não é um dado natural, é uma difícil conquista, é, digamos, uma iniciação, que parte da descoberta da nossa própria subjectividade e que se desenvolve, escreve Álvaro Ribeiro noutro livro, no trânsito do intelecto passivo para o intelecto activo ou da menoridade intelectual para a maioridade mental. A liberdade do pensamento implica uma iniciação, uma descoberta e também um movimento ineterrupto e de algum modo ascético para o saber."

António Quadros
Memórias das Origens - Saudades do Futuro
 Publicações Europa-América, 1992, pág. 302
*via cadernos de filosofia extravagante

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O ESTUDO DAS ROCHAS

1 - DA OBSERVAÇÃO À VISTA DESARMADA, AO USO DO MICROSCÓPIO POLARIZANTE

DESDE o mais primitivo dos nossos antepassados que as rochas estão presentes na vida e, consequentemente, nas preocupações da humanidade. Basta pensar no sílex e na chamada pedra lascada, na argila usada em cerâmica, no cobre, no estanho, no ferro. O seu estudo motivou os alquimistas da Idade Média, mas só começou a ser abordado em termos científicos a partir do século XVIII e a começar pelas rochas magmáticas ou ígneas. Ler mais

NÃO FUI EU QUE O DISSE...


"Estes politiqueiros, com as suas famílias e os seus agentes, têm necessidade de dinheiro: dinheiro para as diversões, para manter a clientela política, para os votos e para comprar consciências humanas. A seguir as suas hordas correrão e despojarão o País. É isto o significado, em última análise, do seu governo e da sua obra. Esgotarão o orçamento do Estado e dos Municípios; agarrar-se-ão como carrapatos aos conselhos de administração de todas as empresas, das quais receberão percentagens de dezenas de milhões sem fazerem trabalho algum, subtraindo-o do suor e do sangue dos trabalhadores esgotados.
Estarão enquadrados nos conselhos dos banqueiros ELEITOS, dos quais receberão mais milhões e dezenas de milhões como preço da estirpe que venderam.
criarão negócios escandalosos que assombrarão o mundo; a corrupção estender-se-á à vida pública do País como uma praga, desde o mais ínfimo criado até aos ministros. Vender-se-ão a qualquer um..."

...mas sim Corneliu Zelea Codreanu, na sua obra "Guarda de Ferro" a páginas 263 e 264... e atenção ele falava da Roménia de 1927, ao contrário do que alguns excluídos sociais possam pensar, isto nunca se passou, não se passa, nem se irá passar em Portugal!

Actual, actualíssimo... e do século XIX


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem
para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença
geral,
escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

MOGANGO DE COENTRADA (para 4 adultos ou a servir como entrada)

1 kg de mogango (a vulgaríssima abóbora cor de laranja que se vende em Lisboa)
3 cebolas
1 molho de coentros
4 dentes de alho
2 a 3 colheres de sopa de farinha de trigo sem fermento
1 dl de bom azeite
1 golada de vinagre
sal, para quem o utilizar.

Corte o mogango às fatias grossas e dê-lhe uma fervura muito leve. Faça uma cebolada abundante, em azeite, aromatizada de alho e coentro. Coloque parte desta cebolada no fundo da assadeira e, sobre ela, as fatias do mogango.

Regue o conjunto com um batido de água, vinagre, farinha e coentro picado, polvilhe a seu gosto, com pimenta, cubra com o resto da cebolada e leve ao forno.

Polvilhe com mais coentro, na hora de servir.

Acompanha fritadas de peixe, pataniscas ou pastéis de bacalhau.

VARIANTE
Substitua o mogango por cenouras cortadas às rodelas grossas.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

VULCANISTAS E PLUTONISTAS (Continuação)

VULCANISTAS E PLUTONISTAS (Continuação)

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 10/24/10

UM PIONEIRO DA ESCOLA vulcanista foi o francês Nicholas Desmarest (1725­-1815), a quem se deve trabalho inovador no referido Maciço Central. Coube a este geólogo o mérito de negar a combustão de carvões e betumes, no interior da crosta, como fonte de calor necessária às erupções vulcânicas, defendida pelos neptunistas, preferindo admitir que o basalto poderia resultar da fusão do granito, sem, contudo, explicar qual a fonte de calor para tal. Ao reconhecer no basalto uma lava antiga e ao afirmar que a erosão era, sobretudo, um trabalho dos rios ao nível das terras emersas e não uma acção do mar, como preconizavam os wernerianos, Desmarest dava um outro duro golpe na teoria neptunista. Leopold von Buch (1774-1853), discípulo de Werner que, com o seu mestre, foi um dos geólogos neptunistas mais ilustres do seu tempo, acabou também por se converter à origem vulcânica do basalto ao visitar os vulcões de Itália e ao observar, na Noruega e na Irlanda, um certo tipo de filões cortando e metamorfizando calcários fossilíferos. Ler mais

terça-feira, 19 de outubro de 2010

NEPTUNISTAS E VULCANISTAS

NEPTUNISTAS E VULCANISTAS

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 10/17/10
O PRIMEIRO CONTACTO do Homem com o magmatismo e com as rochas magmáticas fez-se através do vulcanismo activo, processo geológico que as populações da margem norte do Mediterrâneo puderam presenciar desde sempre. Santorini, ilha grega das Cíclades, no mar Egeu, Vulcano e Estromboli, nas ilhas Lipari, Etna, na Sicília e o Vesúvio, na Itália, foram, além de uma curiosidade, uma enorme preocupação para todos os que viveram ao lado deste vulcões. Ler mais

PURÉ DE MAÇÃ REINETA

PURÉ DE MAÇÃ REINETA

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 10/16/10
É uma confecção tão simples que, certamente, já outros a fizeram. Como nunca a vi feita ou escrita por outrem, aqui fica a receita sem pretensões de autoria.
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Como acompanhamento de carne assada:

Descasque apenas uma maçã, corte-a às fatias finas e coloque-as dentro de uma tigela que possa ir ao microondas.

Deixe cozer 3 a 4 minutos, retire e mexa bem com uma colher até ficar em puré e verta, depois, para um recipiente maior, de servir à mesa.
Repita a operação com uma segunda maçã e verta o respectivo puré no dito recipiente.
Faça outro tanto (sempre uma de cada vez) com as maçãs necessárias ao número e ao apetite dos seus convivas.

Tratar uma maçã de cada vez permite que o puré fique muito claro, levemente amarelado, com muito bom aspecto. O tempo necessário para descascar e fatiar meia dúzia de maçãs, de seguida, faz com que estas se oxidem e, assim, o puré fica escuro e com menor apresentação.

Como sobremesa:

Proceda de igual modo, tigela a tigela, polvilhando, de cada vez, com açúcar (sempre pouco e entre fatias) e aromatizando com um fio de vinho do Porto.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

POSTAL DE WAGENINGEN. ENTRE A HISTÓRIA E O AFECTO

POSTAL DE WAGENINGEN. ENTRE A HISTÓRIA E O AFECTO

via Justino Pinto de Andrade by Justino on 9/29/10

1. Envio-vos este "postal" a partir de um dos países mais antigos e mais simbólicos da Europa – um país de que se conhecem vestígios humanos há, pelo menos, 100.000 anos. Estou por alguns dias nos Países Baixos, incorrectamente chamados Holanda, pois as "Holandas" são apenas duas das suas doze Províncias, a Holanda do Norte e a do Sul. Ler mais

Foi a revolução francesa uma vingança dos Templários?

Foi a revolução francesa uma vingança dos Templários?

via Legião Vertical by LEGIÃO VERTICAL on 10/13/10

Um historiador francês observou que apesar de hoje se reconhecer que as doenças do organismo humano não nascem sozinhas, mas que se devem a agentes invisíveis, a micróbios e bactérias, no que se refere às doenças desses maiores organismos que são as sociedades e os Estados, doenças correspondentes às grandes crises históricas e às revoluções, pensa-se que aqui, pelo contrário, as coisas sucedem de outra forma, quer dizer que se trataria de fenómenos espontâneos ou devidos a simples circunstâncias exteriores, apesar de nas mesmas poderem ter actuado com grande vigor um conjunto de forças invisíveis similares aos micróbios nas doenças humanas. Ler mais

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Descolonização Portuguesa » Nova Tese

Descolonização Portuguesa » Nova Tese

via FÓRUM IGNARA#GUERRA COLONIAL by susana on 9/17/10
Investigador defende que norte-americanos pretendiam travar a expansão soviética

O investigador José Filipe Pinto defendeu esta quarta-feira que a descolonização portuguesa, tardia, teve a conivência dos Estados Unidos, que pretendiam travar a expansão soviética, argumentando que Portugal nunca esteve «orgulhosamente só», escreve a Lusa.
Esta é a tese defendida pelo professor da Universidade Lusófona no seu livro «O Ultramar Secreto e Confidencial» apresentado, esta quarta-feira, em Lisboa. Ler mais


domingo, 10 de outubro de 2010

A fuga da cidade do Namibe (ex- Moçâmedes) no «Silver Sky»: 10 de Janeiro de...

A fuga da cidade do Namibe (ex- Moçâmedes) no «Silver Sky»: 10 de Janeiro de 1976

via GENTE DO MEU TEMPO (Album de recordações) by MARIANJARDIM on 9/30/10




















O velho navio cargueiro grego «Silver Sky» encimado pela foto de um dos refugiados.

DA CIDADE DE MOÇÂMEDES NOS ÚLTIMOS MESES DA COLONIZAÇÃO
PORTUGUÊSA, À CIDADE DO NAMIBE NOS PRIMEIROS MESES DO PÓS  INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA.  A FUGA NO «SILVER SKY» em 10 de Janeiro de 1976

Mário Lopes viveu o auge do  processo revolucionário em curso (PREC), desenrolado em 1975,  tanto na Metrópole como em Angola. Tal como na Metrópole, mas pior que na Metrópole,  também em Angola, "com os movimentos de libertação instalados em Luanda, o ambiente revolucionário ia permitindo  toda uma série abusos, ocupações, etc,  mesmo de propriedades ganhas  com o suor do rosto. Os movimentos bombardeavam-se  de delegação para delegação, e a tropa portuguesa assistia passivamente ao  decair da situação, enquanto os o som mais audível por todas as cidades  era o martelar de caixotes.» Ler mais

terça-feira, 28 de setembro de 2010

AS PEDRAS E AS PALAVRAS

AS PEDRAS E AS PALAVRAS

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 9/26/10

Este texto, que é necessariamente longo, foi concebido e escrito a pensar nos professores que, nas nossas escolas básicas e secundárias, ensinam geologia e/ou matérias afins, sendo desejável que também os outros, seus colegas de outras áreas curriculares, o possam ler. Seria, pois, desejável que os eventuais leitores o pudessem reenviar a quem entendam que ele possa interessar.

O PIOR QUE SE PODE FAZER no ensino das rochas ou das pedras, como toda a gente lhes chama, é apresentá-las desinseridas dos respectivos contextos prático e cultural, precisamente os que têm mais probabilidades de permanecer na formação global do cidadão, em geral, e, naturalmente, também, dos estudantes. Ler mais

domingo, 26 de setembro de 2010

ARROZ DE BACALHAU, DE COENTRADA (para 4 adultos)

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 9/24/10

2 postas de bacalhau do lombo, previamente demolhadas
300 g de arroz
4 dentes de alho (ou mais, consoante o gosto de cada um)
1 decilitro de azeite de muito boa qualidade
1 molho grande de coentros
2 ovos cozidos
1,5 L de água
1/4 de pimento encarnado

Coza o bacalhau, limpe-o de peles e espinhas, lasque-o e reserve-o.
Na água da cozedura coza, de seguida, o arroz.
Entretanto, na batedeira ou num copo com a "varinha", faça um batido de azeite, com o alho e os coentros picados (só não aproveita a raiz). Se necessário, acrescente uma pequena golada de água da cozedura para ajudar a operação. O batido, que deve ficar oleoso e espesso, tem uma bela cor verde e aumenta substancialmente os aromas do alho e dos coentros, valorizando-os. Ler mais

E, AFINAL, O QUE SÃO AS ROCHAS?

E, AFINAL, O QUE SÃO AS ROCHAS?

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 9/19/10

A ATENÇÃO dada às rochas e a procura da sua utilidade percorreram uma caminhada tão longa quanto a do Homo sapiens, caminhada de que temos testemunhos na Pré-história e variadíssimos relatos escritos desde a Antiguidade.

Na sua gíria própria, entendível entre pares, os profissionais falam de rochas, dizendo que são sistemas químicos, mono ou polifásicos, resultantes do equilíbrio termodinâmico atingido pelos seus constituintes em determinados ambientes. Entendendo-se por constituintes os elementos químicos incluídos nos respectivos minerais. Por outras palavras, entendíveis pelo comum das gentes, pode, então, dizer-se que as rochas são corpos naturais formados por associações mais ou menos estáveis de minerais compatíveis entre si e com o ambiente onde foram gerados e que são elas, as rochas, que constituem a capa rígida da Terra que, por essa razão, recebeu o nome de litosfera. Ler mais

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

António Quadros por ele próprio

António Quadros por ele próprio

via ANTÓNIO QUADROS by aquadrosferro@gmail.com (António Quadros Ferro) on 8/30/10

"[...] O autor pertence ao tipo de navegadores lentos e pacientes, explorando velhos e novos espaços por sua conta e risco. Não sabe construir rapidamente brilhantes catedrais. Não pretende lisonjear as tendências da massa, da multidão, dos ideais dominantes. Não reconhece verdadeiramente adversários em sua volta, porque de todos se sente irmão, na origem da sua actividade, na geratriz da sua energia ao serviço de uma causa. O fio estreito sobre que caminho, a muitos parecerá insatisfatório e frustre. É, porém, o seu fio de Ariadna no labirinto da vida, tal como a pode visionar. Da imperfeição do seu pensar ou da banalidade do que julga descobrir, extasiado, frequentemente, com panoramas que outros já abriram, percorreram, analisaram antes dele - e porventura com mais minúcia [...] não se penitencia, porque o pensar dramático do pesquisador não dá espaço para a penitência: seguir adiante, porque os degraus formados e transpostos estão já queimados, calcinados, aniquilados. A aventura do pensamento - mesmo que só intenção, só desejo, só ideal -, não admite retorno. Nenhum lar, confortável ou árido, o aguarda. Envolto em nevoeiro, ficou para trás o porto de onde partiu. Dele conserva uma recordação, uma saudade, talvez uma herança. [...] Mas o autor, a estas observações, apenas pode replicar, desatento: que caminho, que regresso, que erros, que passado meio esquecido já, é esse? Tudo não foi mais do que a amálgama escaldante, em ebulição, de uma experiência que se concentra no presente, pronta a dar o salto para o futuro. Sensação penosa, dolorosa é, em verdade, para o escritor, reler o que ficou escrito, o que se fixou escrito é a cristalização do imperfeito. No mesmo instante em que termina um livro, relê-lo, é tentado a tudo destruir para recomeçar de novo. O mesmo nos aconteceu, mas compreendemos que recomeçar de novo seria recomeçar eternamente de novo, num ritmo infindável e destrutivo. Por isso, aqui damos esta obra ao leitor com todas as suas imperfeições e, até, com o excesso da sua ambição. Ensaiando uma busca que se nos tornou imperiosa, vamos criando, ao mesmo tempo, uma forma de ser, de estar e de agir, que esperamos possa ultrapassar os limites da subjectividade. [...] Iniciemos, pois, a nossa multiforme investigação agente."

António Quadros, O Movimento do Homem,
 Sociedade de Expansão Cultural (1963) pp. 18-19

sábado, 18 de setembro de 2010

Antologias - posts mais lidos nos últimos 30 dias (Entre 20Ago e 18Set2010)


Posts mais lidos entre 20 de Agosto e 18 de Setembro de 2010 


Cecília Meireles sobre Fernanda de Castro
Príncipe Nicolau do Congo
António Telmo 1927-2010
A propósito do 5 de Outubro: memórias de um dos seus heróis
Memórias de África - Jorge Eduardo da Costa Oliveira 


Fonte: Blogger.com - Blogue "Antologias" - Estatística

Discernimento mental

Discernimento mental

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 9/13/10
O "Bonifácio"(1)
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A MINHA PASSAGEM pela Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, como cadete do Curso de Oficiais Milicianos, não foi brilhante. Longe disso. Terminei o dito curso, em Fevereiro ou Março de 1953, em oitavo lugar…a contar do fim, num total de cento e vinte cadetes. Tive por comandante um coronel, que ficou célebre por ter silenciado, pelas armas, cerca de um milhar de trabalhadores das roças da então nossa ilha de São Tomé, de que era governador. Como consequência deste massacre, que a censura do Estado Novo procurou ocultar, os mais altos responsáveis militares transferiram-no para Vendas Novas como comandante da dita Escola Prática de Artilharia. Ler mais

“JUS DE FRUITS”

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 9/5/10
QUANDO, EM 1964, concluí o 3ème Cycle, em Sedimentologia, na Universidade de Paris, um grau académico equivalente ao nosso mestrado, com a orientação directa do professor André Cailleux, na capital francesa, e o apoio, à distância, dos professores Orlando Ribeiro e Carlos Teixeira, em Lisboa, oferecemos, a Isabel e eu, um pot aos nossos colegas e amigos do departamento de Geologia que me acolhera, como era hábito ali em idênticas situações. A tradição local nestas confraternizações passava sempre por umas garrafas de champagne e por aqueles incaracterísticos aperitivos ensacados, à venda no mercado. Ler mais

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (X)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (X)

via Revisionismo by Johnny Drake on 8/19/10
(CONTINUAÇÃO)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (I)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (II)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (III)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (IV)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (V)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (VI)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (VII)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (VIII)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (IX)

Argumento 10: O Relatório Leuchter contém inúmeros erros. O facto de Leuchter não ter encontrado concentrações significativas de ferrocianetos nas paredes das câmaras de gás de Auschwitz é irrelevante porque os ferrocianetos dissolvem-se com a chuva, neve, vento, etc..

Resposta: Sim, o Relatório Leuchter [64] contém, realmente, uma série de erros. Podem ser parcialmente explicados pelo facto de Leuchter ter escrito o relatório muito à pressa. Ele tinha que ser apresentado no julgamento de Ernst Zündel em Toronto e, naquela altura, (Abril de 1988) estava a aproximar-se do fim. Mas as conclusões de Leuchter foram completamente confirmadas por Germar Rudolf num estudo muito mais científico [65]. Ler mais




segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ensino superior não é estudado no país_Entrevista ao Jornal Notícias

Ensino superior não é estudado no país_Entrevista ao Jornal Notícias

via B’andhla by patricio.langa@uem.mz (Patricio Langa, Cape Town.) on 8/30/10


A PARTICIPAÇÃO do Ensino Superior no desenvolvimento do país tem sido nestes últimos anos, uma matéria de grandes debates envolvendo por um lado os políticos, por outro os académicos e a sociedade civil. O número de graduados cresce anualmente, mas poucos são aqueles que desenvolvem acções de pesquisa e investigação em busca de conhecimento que possa conduzir o país ao almejado desenvolvimento económico e por conseguinte, social. Para colmatar esta situação, em 2008, por despacho da Ministra da Justiça de 28 de Novembro, nasce no país, o Centro de Estudos de Ensino Superior e Desenvolvimento (CESD), cuja finalidade é compreender e conhecer a própria academia para posterior entendimento de como ela pode contribuir para o desenvolvimento. Para melhor compreender esta nova instituição, entabulamos uma conversa com o seu director executivo, Patrício Langa, sociólogo de formação, docente e investigador da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) que, dentre vários assuntos revela que o ensino superior enquanto objecto e campo de estudo, em Moçambique é praticamente inexistente. Patrício Langa especializou-se na área de "Estudos de Ensino Superior" (Higher Education Studies) na República da África do Sul. Está envolvido em alguns projectos internacionais de pesquisa que investigam a complexa relação entre o Ensino Superior e o Desenvolvimento em África. A seguir transcrevemos partes significativas da conversa. Aqui.

MEMÓRIAS DE ÁFRICA - Jorge Eduardo da Costa Oliveira

MEMÓRIAS DE ÁFRICA - Jorge Eduardo da Costa Oliveira

via ANGOLA DO OUTRO LADO DO TEMPO... by MARIANJARDIM on 8/21/10

A MULTIRRACIALIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Pg.150/156. Costuma-se dizer que Deus fez o branco e o preto e o português fez o mestiço. Trata-se do reconhecimento de que nenhum outro povo como o nosso praticou a miscegenação, tanto a miscegenação biológica como a miscegenação cultural.
No tempo em que exerci funções governativas em Angola, a posição doutrinária do Governo português ia no sentido de assegurar igualdade de oportunidades aos portugueses de todas as raças, em todos os escalões da Administração. Vimos já que se tratava de uma realidade verificada na prática, com as restrições decorrentes do facto de não haver ainda uma Universidade em Angola e da reduzida capacidade financeira da maior parte dos angolanos pretos. Realidade que se fazia sentir sobretudo nos Serviços públicos onde a ascensão na carreira não exigia necessariamente a licenciatura, como no caso da Fazenda e das Alfândegas.
Assim, por exemplo nos Serviços da Fazenda, passaram por lá, além dos Directores Simões de Abreu, Joaquim Carvalho e Tomás Rafael, brancos, os Directores Modesto, Barretes (dois irmãos), Mário Dantas Reis, Cristelo e Dr. Victor Correia, mestiços, Alcântara de Melo (goês) e os Directores Lourenço Mendes da Conceição (uma referência dos movimentos independentistas) e José Van-Dunem, de cor preta.
Entretanto, na recta final da Administração portuguesa, a chefia de importantes Serviços na área económica e financeira em Angola estava confiada a naturais do Ultramar. Ler mais

UMA QUESTÃO DE CULTURA

UMA QUESTÃO DE CULTURA

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 8/22/10
DURANTE OS TRABALHOS de feitura dos moldes das pegadas que antecederam a abertura dos túneis de Carenque, íamos almoçar num muito modesto estabelecimento da zona, meio-café, meio-restaurante, onde se comia um saboroso bacalhau com massa de cotovelo e feijão frade, numa confecção muito semelhante a uma muito frequente no rancho no meu tempo de serviço militar, em Artilharia 3, em Évora. Ler mais

SAUDADES DE GOA

SAUDADES DE GOA

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 8/29/10
A GEOMORFOLOGIA é uma disciplina fundamental entre as licenciaturas do ensino universitário na área das Ciências da Terra, tendo por objecto o estudo das formas de relevo terrestres. Explica-nos porque há praias nuns sítios e arribas rochosas noutros, porque é que a serra de Sintra surge como um relevo isolado acima das terras aplanadas que a rodeiam ou porque é a Ria Formosa uma área de marismas. A configuração das montanhas, o escavamento dos vales pela erosão dos rios ou dos glaciares, o porquê das planícies de inundação, como é o caso do nosso Ribatejo, aqui, ou do Bangladesh, lá longe, são preocupações da Geomorfologia. Nela se aprende a relacionar a paisagem de uma dada região com o tipo das rochas que a constituem, com o clima aí reinante e, consequentemente, com a vegetação que eventualmente a cubra. Uma paisagem em terrenos de xisto é diferente de uma outra moldada em fragas de granito. Há particularidades que as distinguem. Às colinas suaves e arredondadas pela erosão nos campos xistentos do Baixo Alentejo, estendendo-se numa quase planura, opõem-se formas mais vigorosas e alcantiladas nas vertentes graníticas de certas áreas montanhosas do norte do país. Longas cristas alinhadas no terreno e eriçadas de cumes pontiagudos são a expressão da existência de rochas muito duras e estratificadas, como é o caso dos quartzitos, de que há belos exemplos, entre nós, desde a serra de Alcaria Ruiva, no Alentejo, à de la Culebra, perto de Rio de Onor, no nordeste Transmontano, passando pelas Portas de Rodão, pelos Penedos de Góis e por muitas outras serranias da mesma natureza. Ler mais

John Andrade [23-08-2010] - II

John Andrade [23-08-2010] - II

via Império, Nação, Revolução by Riccardo Marchi on 8/31/10

Mais umas valiosas memórias de John Andrade acerca da Legião Portuguesa.

Sobre a Legião Portuguesa: a partir do momento em que Marcello Caetano subiu ao poder, a LP, que estava em decadência, começou a reorganizar-se, aceitando antigos combatentes do Ultramar (em especial Comandos e Rangers) e alguns voluntários estrangeiros para construir uma frente de oposição a Marcello, que já há anos era considerado de pouca confiança; e Marcello sabia disto, de tal modo que tentou acabar com a LP, mas sem o conseguir. Por outro lado, o Serviço de Informação da LP tinha à frente um holandês, o Engenheiro Gijsbert Andringa, que se suspeitava que fosse Marcellista e tinha uma filha comunista, a Diana Andringa; e o subchefe era o Major Antunes, pai do famoso Melo Antunes, bem conhecido por ligações à esquerda activa e com ficha na PIDE. Em resumo, o SI estava infiltrado indirectamente, e ainda por cima estava sob a vigilância da PIDE, por ordem directa de Marcello. Ler mais

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A BRIEF HISTORY OF WHAT IT WAS LIKE AT MARROMEU

A BRIEF HISTORY OF WHAT IT WAS LIKE AT MARROMEU

via . by Fernando on 8/22/10

1967 TO 1972
Escrito por:/Written by Jean & Lindley Siepman.
Jean is the daughter of Harry & Irene Benwell who lived and worked at Sena Sugar Estates.

The mills only carried on for a few years after that before closing down, approx. 1976 as the terrorists invaded and the there was war in Mozambique.

The river flowed between Marromeu and Luabo mills and the terrorists were often seen rowing down the river. At that time both Jean and myself decided that it was time for the folks to leave. They were very happy there but we weren't.

They came back and Dad joined Natal Tanning and became the Chief Engineer of Hermansburg and then CE of Melmoth before going to head office in PMB and retiring.

Dad has been dead for approx. 5 years now and mom is 88 and still going strong. Right now she is baby sitting 3 of her great grandchildren in Kloof who are sick and off school and don't want their grannies to look after them but want their great granny. She will be there for a week, so thought I would quickly send to you the few lines that she managed to write before "her call of duty". Ler mais


António Telmo 1927-2010

António Telmo 1927-2010

via António Quadros by aquadrosferro@gmail.com (António Quadros Ferro) on 8/22/10

"Para o espírito que nega, se a demência for conseguida tudo o mais virá por acréscimo e consequência. É falso que o homem moderno viva em inquietação. Tornou-se indiferente ao que de monstruoso se vai produzindo, ao crime que perverte a natureza, a todas as formas de homogeneização que lhe destroem a individualidade. " António Telmo

MEMÓRIAS DE ÁFRICA - Jorge Eduardo da Costa Oliveira

MEMÓRIAS DE ÁFRICA - Jorge Eduardo da Costa Oliveira

via ANGOLA DO OUTRO LADO DO TEMPO... by MARIANJARDIM on 8/21/10




A MULTIRRACIALIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Pg.150/156. Costuma-se dizer que Deus fez o branco e o preto e o português fez o mestiço. Trata-se do reconhecimento de que nenhum outro povo como o nosso praticou a miscegenação, tanto a miscegenação biológica como a miscegenação cultural.
No tempo em que exerci funções governativas em Angola, a posição doutrinária do Governo português ia no sentido de assegurar igualdade de oportunidades aos portugueses de todas as raças, em todos os escalões da Administração. Vimos já que se tratava de uma realidade verificada na prática, com as restrições decorrentes do facto de não haver ainda uma Universidade em Angola e da reduzida capacidade financeira da maior parte dos angolanos pretos. Realidade que se fazia sentir sobretudo nos Serviços públicos onde a ascensão na carreira não exigia necessariamente a licenciatura, como no caso da Fazenda e das Alfândegas.
Assim, por exemplo nos Serviços da Fazenda, passaram por lá, além dos Directores Simões de Abreu, Joaquim Carvalho e Tomás Rafael, brancos, os Directores Modesto, Barretes (dois irmãos), Mário Dantas Reis, Cristelo e Dr. Victor Correia, mestiços, Alcântara de Melo (goês) e os Directores Lourenço Mendes da Conceição (uma referência dos movimentos independentistas) e José Van-Dunem, de cor preta.
Entretanto, na recta final da Administração portuguesa, a chefia de importantes Serviços na área económica e financeira em Angola estava confiada a naturais do Ultramar. Ler Mais



Citação do Dia (citação de António Oliveira Salazar)

Citação do Dia

via FALANGISTA CAMPENSE by Falangista Campense on 8/20/10

"Não temos medo do comunismo porque temos uma doutrina e somos uma força"
António Oliveira Salazar

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Meditações na Cartuxa

via Legião Vertical by LEGIÃO VERTICAL on 8/18/10

Uma pálida paisagem invernal de campos espargidos de neve e charcos de água. Esqueletos negros de árvores desnudas. Um alto céu de zinco. Um grande silêncio. Nesta solidão, levada desde uma altura, surge à clara linearidade de uma fachada de igreja, a que se enlaça um alto cerco, mais além do qual se vê uma série regular de edifícios pequenos. Na parte dianteira, uma explanada com uma grande cruz negra. A entrada está fechada – dir-se-ia que desde tempos remotos – com uma pesada parada negra de madeira esculpida. Um símbolo: sete estrelas ao redor de uma esfera com uma cruz em cima, acompanhada da frase: «stat dum volvitur orbi». Tal é a Cartuxa de Hain, perto de Düsseldorf.  Ler Mais

Uma noite no deserto do Namibe

Uma noite no deserto do Namibe

via A Matéria do Tempo by Fernando Ribeiro on 8/13/10


Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010), escritor e antropólogo angolano (Foto: Walter Fernandes)
(...) Há anos que eu andava a ver se conseguia dormir assim sozinho no deserto. Mas de facto nunca viajava completamente sozinho e nunca tinha querido, também, impor uma escala assim despropositada aos meus companheiros de viagens. Estava agora ali, afastado um pouco da fogueira, a fixar aquele círculo de chão iluminado, a aferir a gradação do limite entre a substância do palpável e a vastidão compacta da noite. A adequação dos sentidos: a vista, durante o dia, o ouvido, agora. O silvo discreto das torrentes da brisa, dos canais do vento. Qualquer ruído acrescentado a estes, uma folha de capim cedendo ao rastejar de algum mínimo réptil, o indeciso progredir de algum insecto escuso, estava o alerta disparado e em guarda, indiferente contudo ao choro dos chacais. Assente e a sós na caixa do silêncio. O vento, só. Não chegas a saber se o das correntes de ar ou só aquele que a Terra há-de soprar embrulhada no curso da rotação que a leva. E há um rumor de estrelas a que por vezes, de súbito, se acrescenta o grito, sideral, de algum astro candente. E o permanente caudal , que sempre entendi de esperma, da via láctea, suspensão morosa na uterina fluidez da noite. Até que a lua nasce a confirmar contornos guardados intactos pela minha vigília. (...)
Ruy Duarte de Carvalho, in Vou lá visitar pastores, Edições Cotovia, Lisboa, 1999


Um pequeno trecho do céu austral. A constelação do Cruzeiro do Sul está um pouco acima e à direita do centro da imagem (Foto: Greg Bock)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Fantasmas

Fantasmas

via Janelas by JPB on 8/12/10
«-Tens fome, Jacinto?
-Não. Tenho horror, furor, rancor!... e tenho sono.
Com efeito! depois de tão desencontradas emoções só apetecíamos as camas que esperavam, macias e abertas. Quando caí sobre a travesseira, sem gravata, em ceroulas, já o meu Príncipe, que não se despira, apenas embrulhara os pés no meu paletó, nosso único agasalho, ressonava com majestade.
Depois, muito tarde e muito longe, percebi junto do meu catre, na claridadezinha da manhã, coada pelas cortinas verdes, uma fardeta, um boné, que murmuravam baixinho com imensa doçura:
-V. Exas não têm nada a declarar?... Não há malinhas de mão?...
Era a minha terra! Murmurei baixinho com imensa ternura:
-Não temos aqui nada... pergunte V.Ex.ª pelo Grilo... Aí atrás, num compartimento... Ele tem as chaves, tem tudo... É o Grilo.
A fardeta desapareceu, sem rumor, como sombra benéfica. E eu readormeci com o pensamento em Guiães, onde a tia Vicência, atarefada, de lenço branco cruzado no peito, decerto já preparava o leitão.
Acordei envolto num largo e doce silêncio. Era uma Estação muito sossegada, muito varrida, com rosinhas brancas trepando pelas paredes - e outras rosas em moutas, num jardim, onde um tanquezinho abafado de limos dormia sob mimosas em flor que recendiam. Um moço pálido, de paletó cor de mel, vergando a bengalinha contra o chão, contemplava pensativamente o comboio. Agachada rente à grade da horta, uma velha, diante da sua cesta de ovos, contava moedas de cobre no regaço. Sobre o telhado secavam abóboras. Pôr cima rebrilhava o profundo, rico e macio azul de que meus olhos andavam aguados.
Sacudi violentamente Jacinto:
-Acorda, homem, que estás na tua terra!
Ele desembrulhou os pés do meu paletó, cofiou o bigode, e veio sem pressa, à vidraça que eu abrira, conhecer a sua terra.
-Então é Portugal, hem?... Cheira bem.
-Está claro que cheira bem, animal!
A sineta tilintou languidamente. E o comboio deslizou, com descanso, como se passasse para seu regalo sobre as duas fitas de aço, assobiando e gozando a beleza da terra e do céu.
O meu Príncipe alargava os braços, desolado:
-E nem uma camisa, nem uma escova, nem uma gota de água-de-colónia!... entro em Portugal, imundo!»

Eça de Queirós (in "A Cidade e as Serras")

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A segunda humanidade

A segunda humanidade

via ANGOLA DO OUTRO LADO DO TEMPO... by MARIANJARDIM on 5/26/10

Estudo genético revela que espécie humana quase se dividiu em duas há cerca de 150 mil anos

CLAUDIO ANGELO
Os bosquímanos da África do Sul sempre foram considerados povos singulares: são fisicamente distintos, preservam uma cultura de caçadores-coletores que remete aos hábitos da humanidade na Idade da Pedra e têm línguas que não se parecem com nenhuma outra (uma de suas consoantes, por exemplo, é um estalo feito com a boca). Agora, um grupo de geneticistas encontrou uma razão para tamanhas diferenças: os ancestrais dos bosquímanos estiveram a ponto de originar uma outra espécie humana.
Durante um tempo que variou de 50 a 100 milênios, os khoisan (nome comum dado a todos esses povos) estiveram evoluindo isoladamente do restante das populações de Homo sapiens, uma espécie relativamente nova e com talento para colonizar novas terras -mas que, no entanto, ainda não havia deixado a África. Ler mais

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (IX)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (IX)

via Revisionismo by Johnny Drake on 8/2/10

(CONTINUAÇÃO)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (I)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (II)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (III)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (IV)

O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (V)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (VI)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (VII)
O Debate Sobre o Holocausto Entre Otto Perge e o Dr. Laszlo Karsai na Hungria (VIII)

(CONTINUAÇÃO)


Argumento 8: Os 'Einsatzgruppen' usaram camiões onde os gases de combustão saídos dos mesmos assassinaram uma grande quantidade de Judeus na Frente Leste. Ler mais

Portugal: UM PAÍS QUE NÃO SE LEVA A SÉRIO!

Portugal: UM PAÍS QUE NÃO SE LEVA A SÉRIO!

via Mente Vertical by Simão Salgado on 8/8/10

Por: Ten. Coronel Brandão Ferreira



É do senso comum e da sabedoria popular que um qualquer indivíduo não se deve levar demasiado a sério e conseguir, até, rir-se de si próprio. Isto pretende significar que ninguém se deve julgar acima do que é, ou aquilo que não é, não se tornar obcecado por qualquer ideia ou pretensão e ser suficientemente saudável para, descontraidamente, se amenizar com eventuais disparates que pensou ou realizou.

Isto não quer dizer que não leve nada a sério, que abdique nos princípios ou se curve a indignidades. O mesmo se pode aplicar aos países com a diferença, significativa, de aos órgãos do Estado, não se poderem admitir, institucionalmente, algumas atitudes desculpáveis em indivíduos.

Parece que o estado Português tem estes conceitos algo baralhados, o que induz, parte da sociedade, a acompanhá-los nos erros e nas atitudes. Ler mais

Dias Lourenço – sobreviveu quase 56 anos

Dias Lourenço – sobreviveu quase 56 anos

via Entre as brumas da memória by Joana Lopes on 8/7/10

… à fuga mais heróica e solitária da história da ditadura portuguesa e morreu hoje, com 95 anos. Estava preso no famoso «segredo», em Peniche, conseguiu desfazer a porta e atirou-se ao mar de uma altura de 20 metros. Nadou uma hora e meia, chegou mais ou menos despido à povoação, explicou a algumas pessoas quem era e conseguiu fugir numa camioneta de peixe.

sábado, 7 de agosto de 2010

'Falar de cinco séculos de colonização portuguesa é uma burla!' (Entrevista de José Pedro Castanheira a René Pélissier

'Falar de cinco séculos de colonização portuguesa é uma burla!'

via Leste de Angola by Jorge Santos - Op.Cripto on 8/3/10

Entrevista de José Pedro Castanheira (texto), no suplemento Actual, do semanário «Expresso» a René Pélissier: É um dos mais importantes historiadores estrangeiros da moderna colonização portuguesa. Estudou a conquista militar de Angola, Moçambique, Guiné e Timor. A viver perto de...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Mensagem do desassossego

Mensagem do desassossego

via Mundo Pessoa on 7/27/10

Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros com alma igual.

Livro do Desassossego, Bernardo Soares, edição Richard Zenith, Assírio & Alvim, 1998, p. 95.

domingo, 1 de agosto de 2010

SEM TEMPO, NEM PACIÊNCIA!...

via MMC | Contingências by mmc on 7/29/10

Se há ideia com que se tenha identificado a evolução técnica e tecnológica do último século, foi sem dúvida com a da promessa que ela propiciaria mais tempo à humanidade, libertando-a de diversas pressões que condicionam a vida quotidiana dos indivíduos. E contudo, apesar da proliferação dos inventos que substituem o trabalho humano, e da multiplicação das inovações tecnológicas que permitem fazer tudo mais depressa (fax, internet, telefone portátil, etc.), que tornaram possível que hoje se trabalhe metade do que se trabalhava há cerca de cem anos e se viva muito mais longamente, é exactamente o contrário que se verifica: vivemos hoje com a noção de, afinal, não ter tempo para nada… Ler mais