domingo, 26 de setembro de 2010

E, AFINAL, O QUE SÃO AS ROCHAS?

E, AFINAL, O QUE SÃO AS ROCHAS?

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 9/19/10

A ATENÇÃO dada às rochas e a procura da sua utilidade percorreram uma caminhada tão longa quanto a do Homo sapiens, caminhada de que temos testemunhos na Pré-história e variadíssimos relatos escritos desde a Antiguidade.

Na sua gíria própria, entendível entre pares, os profissionais falam de rochas, dizendo que são sistemas químicos, mono ou polifásicos, resultantes do equilíbrio termodinâmico atingido pelos seus constituintes em determinados ambientes. Entendendo-se por constituintes os elementos químicos incluídos nos respectivos minerais. Por outras palavras, entendíveis pelo comum das gentes, pode, então, dizer-se que as rochas são corpos naturais formados por associações mais ou menos estáveis de minerais compatíveis entre si e com o ambiente onde foram gerados e que são elas, as rochas, que constituem a capa rígida da Terra que, por essa razão, recebeu o nome de litosfera. Ler mais

Para os geólogos são ainda rochas certos materiais não consolidados como os barros, as areias soltas, as cascalheiras e ainda outros, de natureza não mineral, como os carvões fósseis e o petróleo (óleo de pedra). Chamar rochas a estes materiais, às vezes tão afastados da imagem vulgar de pedra, decorre do conceito geológico de rocha, no qual se inclui o modo de ocorrência e o respectivo processo de formação (petrogenético). A mecânica das rochas define-as como entidades sempre rígidas e coesas ("sólidas" e "duras", como também se diz, ainda que incorrectamente) com capacidade de suportar cargas e que, na eventualidade de terem de ser escavados ou removidos, há que usar tecnologias com explosivos. Este conceito corresponde, aliás, à ideia mais divulgada de rocha, como atrás se referiu. Além das muitas que conhecemos na Terra, são rochas os basaltos e os anortositos que afloram na crosta do nosso satélite natural. Rochosos são também Mercúrio, Vénus e Marte e igualmente pedregosos são ainda os núcleos dos cometas e muitos dos asteróides, de que temos conhecimento pelos meteoritos caídos na Terra. Quando se apelidam as rochas de magmáticas, sedimentares ou metamórficas não se está apenas a rotulá-las para efeitos de arrumo ou arquivo, muito menos se estão a criar novos vocábulos para sobrecarga dos estudantes ou do cidadão em geral. Estes designativos, acrescentados à palavra rocha, informam de imediato sobre a sua origem: magmática ou sedimentar, qualquer delas em resultado de processos naturais fáceis de entender, e metamórfica, em consequência de um outro processo, muito menos ao alcance da vivência do vulgo, mas que se explica sem grandes dificuldades. Apelidam-se de metamórficas as rochas que, posteriormente a uma primeira formação, como magmáticas ou sedimentares, foram submetidas a pressões e/ou a temperaturas, no interior da crosta, que lhes modificaram a composição e/ou a textura.

Uma vez despertada a curiosidade de quem nos ouve ou nos lê, estes vocábulos ganham significado a um primeiro escalão do saber, e todos os outros termos, que se lhes associem ou acrescentem, constituem outros tantos escalões no avolumar dos conhecimentos. Foi através do estudo das rochas que os geólogos desvendaram o essencial dos acontecimentos que marcaram a história deste «Planeta Azul» no qual a vida encontrou condições para despertar e onde evoluiu ao ponto de se interrogar sobre essa mesma história.

Se quem ensina, falando ou escrevendo, tiver o cuidado de analisar e descodificar cada um dos vocábulos necessários ao discurso, estes deixam de ser nomes a "empinar", entre uma imensidão deles, a afugentar qualquer não iniciado, para passarem a ser conceitos habilmente sintetizados numa única palavra. Melanocrático, ortomagmático, anatexia, vitrófiro, pegmatítico, kimberlito e tantos outros, são apenas nomes sem qualquer significado ou utilidade para a maioria dos cidadãos, mas podem ser transformados em conhecimento, mais ou menos completo e/ou aprofundado, à medida da curiosidade de cada um ou do interesse que soubermos despertar-lhe.
Os conhecimentos directos de que hoje dispomos relativos às rochas da Terra limitam-se aos que se obtêm do estudo das que afloram à superfície, das recolhidas em dragagens nos fundos marinhos e das retiradas da profundidade, quer em minas quer através de sondagens. Esta profundidade, que não excede 3 km, no primeiro caso, e 11 km, no segundo (na península de Kola), pode considerar-se insuficiente, se comparada com as três a quatro dezenas de quilómetros de espessura média da crosta continental. É já muito vasto o conhecimento que temos desta capa mais superficial do nosso planeta. Obtivemo-lo através das rochas que constantemente vemos e pisamos, muitas delas geradas em zonas profundas da crosta, trazidas à superfície pelos enrugamentos de origem tectónica, geradores das montanhas, e, subsequentemente, postas a descoberto pela erosão. Outras rochas próprias de muito maiores profundidades, inclusive do manto inferior, como é o caso dos xenocristais e dos xenólitos, isto é, cristais e fragmentos rochosos gerados nessas regiões e que ascendem à superfície, na sequência de actividade vulcânica, englobados ou encravados nos produtos magmáticos que ali se formaram ou por ali passaram. Na ilha da Madeira, por exemplo, são frequentes os xenólitos olivínicos que ascenderam até à superfície no seio das lavas envolvidas no processo que originou esta ilha.

As rochas a que temos acesso, mais ou menos directo, representam uma parcela importante da diferenciação da Terra e, à semelhança da água, do ar e dos seres vivos, são o resultado de imensas transformações, numa vasta e complexa rede de interrelações ocorridas ao longo dos tempos neste «planeta vivo», pleno ainda de energia interna (sob a forma de calor) a que se adiciona toda a que lhe chega do exterior, isto é, a radiação solar. Como escreveu Maurice Mattauer, as pedras nascem, vivem e morrem; como nós, elas têm uma idade e uma história. A petrologia é a disciplina que estuda as rochas, não só da Terra como dos meteoritos e dos planetas que nos estão mais próximos. Como principais objectivos deste importante ramo das ciências da Terra e do espaço contam-se o modo de ocorrência, composição e origem das rochas e as suas relações com os processos geológicos. Para atingir tais propósitos, a petrologia serve-se da petrografia, um ramo desta disciplina que tem por fim a identificação dos minerais constituintes das rochas e a caracterização do seu arranjo espacial com vista à respectiva classificação no contexto da imensa variedade de tipos existentes. Para além desta atitude visando a sistemática e a nomenclatura, a petrologia desenvolveu um outro ramo, a geoquímica, através da qual busca o conhecimento da composição química das rochas (e dos seus minerais, quando necessário) em termos de elementos principais, secundários e vestigiais, além de que procura estabelecer os parâmetros de pressão e temperatura que presidiram à sua formação. É ainda preocupação da petrologia, através da geoquímica, o conhecimento da composição isotópica de alguns componentes das rochas, com destaque para os isótopos radioactivos, via que permite investigar-lhes não só a origem como, também, a idade e, assim, situá-las no seu contexto geológico e na sua correcta posição geocronológica em termos absolutos. O estudo geoquímico proporciona níveis de conhecimentos, aprofundados e rigorosos, que permitem atingir os fins últimos da petrologia, isto é, participar, ao lado de outras disciplinas das geociências, na procura do conhecimento da origem, natureza, constituição e evolução da Terra no âmbito do Sistema Solar e do Universo.

Para além deste interesse, meramente teórico, como ciência fundamental, a petrologia assume elevado interesse no campo económico, pois é clara e constante a relação entre as rochas e certas ocorrências a que chamamos jazigos minerais. Se bem que os étimos lithos (grego) e petra (latim) sejam sinónimos, petrologia e litologia encerram conceitos diferentes, ainda que relacionados entre si. A petrologia é um ramo da geologia com dimensão de ciência, de vastos recursos nos campos da física, da química e, naturalmente, também, da matemática. A litologia é habitualmente entendida como a disciplina que estuda as rochas num campo prático. Serve a geologia de engenharia, tendo em vista a implantação de grandes edifícios e outras obras volumosas cujas fundações exigem o conhecimento dos terrenos. A litologia dá igualmente respostas à pedologia (o estudo dos solos) e à indústria extractiva de rochas ornamentais, usadas na arquitectura, na cantaria ou na estatuária, e de rochas industriais, exploradas como importantes matérias-primas para a construção civil, a cerâmica, o vidro, o cimento, a cal, e a indústria química.

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