domingo, 7 de novembro de 2010

«Ratos, Camaleões, Rinocerontes, etc. (pequeno estudo zoológico)»

"Modestamente, venho-me dedicando há anos a estudos de zoologia. Sem pretender rivalizar com os grandes investigadores deste ramo científico, resolvo-me todavia hoje a publicar algumas notas, aliás seleccionadas de entre muito material acumulado e que um dia valerá a pena reunir e sistematizar para a posteridade.

Os ratos
Estes pequenos roedores são na realidade tímidos e vulneráveis. Escondem-se durante o dia, mas de noite (assustadiços como são) conseguem alimentar-se de sobejos e detritos, circulando nos forros das casas, nos canos de esgoto, nas lixeiras. Têm um instinto seguro. Quando a casa começa a arder, ei-los que fogem imediatamente em massa, antes de o perigo se tornar mortal. Escolhem então outra casa, outro lar. E de novo irão prosperar à sua maneira tímida e nojenta, em novos forros, em novos canos de esgoto, em novas lixeiras. Ler mais

Quem são os Portugueses depois do Oriente? Alguns Cenários dos Mil e Um Encontros

"- Hoje sente-se indiano?
- Não, indiano não, mas às vezes sinto-me goês...
- E português?
- Isso já não sei. O que é um português?"
José Eduardo Agualusa, Um Estranho em Goa (2000: 50)

O traço de interatividade da presença portuguesa no Oriente tem transformado não só Portugal, como talvez os povos com quem os portugueses ali dialogam há muitos séculos. Opinar sobre a qualidade dessas relações não é o objetivo deste texto. É bem verdade que tais trocas também podem ser vistas à luz de realidades como: a guerra, a colonização, a conversão ao catolicismo, ou o comércio de pessoas e de bens. Aqui, quero tão somente debruçar-me sobre o que sedimentou dessas relações culturais e pessoais para tentar entender uma certa especificidade da cultura portuguesa com raízes em cenários luso-asiáticos e a importância do futuro dessas relações. Assim, a minha abordagem mede-se pelo interesse em compreender o sentir-se emocionalmente curioso perante o mundo, uma ideia constante nos textos portugueses que narram o diálogo luso-asiático. Ler mais

Sampaio Bruno morreu há 95 anos


"Não é absurdo (digamos: ridículo) conceber que toda esta laboriosa evolução mundial se operou, opera, operará para que o Sr. Fulano saiba bem física e o Sr. Beltrano não tenha segundo no cálculo? [...] Saber por saber é uma espécie de masturbação superior. [...] Porque o desfecho e remate do homem não é gozar-se, repita-se. Se o mundo não existe para que o homem saiba, odioso seria fantasiar que o universo continua subsistindo para que o desfrute o homem. [...] O fim do homem neste mundo é libertar-se a si, libertando os outros seres. [...]"

Sampaio Bruno, A Ideia de Deus, (1902)
Livraria Chardron - Lello & Irmão, Editores, pp. 468-469

sobre a liberdade


"[…] Ora só pode entender-se que uma sociedade é verdadeiramente livre ou em potência de liberdade quando os cidadãos atingirem um grau mínimo de autonomia individual, isto é, quando souberem conjugar o seu emprenho pessoal nos interesses superiores da polis com a capacidade de optarem por si próprios, compreendendo a todo o momento o que de fundamental está em jogo e estando aptos a resistir à pressão intelectual que sobres eles é exercida pelo poder ou pelos poderes, através das mil formas de sedução, de propaganda, de manipulação e de «formação», que visam usá-los, por vezes mais do que servi-los.
A liberdade de pensamento é pois a primeira das liberdades e precede-as. Mas a liberdade de pensamento não é um dado natural, é uma difícil conquista, é, digamos, uma iniciação, que parte da descoberta da nossa própria subjectividade e que se desenvolve, escreve Álvaro Ribeiro noutro livro, no trânsito do intelecto passivo para o intelecto activo ou da menoridade intelectual para a maioridade mental. A liberdade do pensamento implica uma iniciação, uma descoberta e também um movimento ineterrupto e de algum modo ascético para o saber."

António Quadros
Memórias das Origens - Saudades do Futuro
 Publicações Europa-América, 1992, pág. 302
*via cadernos de filosofia extravagante

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O ESTUDO DAS ROCHAS

1 - DA OBSERVAÇÃO À VISTA DESARMADA, AO USO DO MICROSCÓPIO POLARIZANTE

DESDE o mais primitivo dos nossos antepassados que as rochas estão presentes na vida e, consequentemente, nas preocupações da humanidade. Basta pensar no sílex e na chamada pedra lascada, na argila usada em cerâmica, no cobre, no estanho, no ferro. O seu estudo motivou os alquimistas da Idade Média, mas só começou a ser abordado em termos científicos a partir do século XVIII e a começar pelas rochas magmáticas ou ígneas. Ler mais

NÃO FUI EU QUE O DISSE...


"Estes politiqueiros, com as suas famílias e os seus agentes, têm necessidade de dinheiro: dinheiro para as diversões, para manter a clientela política, para os votos e para comprar consciências humanas. A seguir as suas hordas correrão e despojarão o País. É isto o significado, em última análise, do seu governo e da sua obra. Esgotarão o orçamento do Estado e dos Municípios; agarrar-se-ão como carrapatos aos conselhos de administração de todas as empresas, das quais receberão percentagens de dezenas de milhões sem fazerem trabalho algum, subtraindo-o do suor e do sangue dos trabalhadores esgotados.
Estarão enquadrados nos conselhos dos banqueiros ELEITOS, dos quais receberão mais milhões e dezenas de milhões como preço da estirpe que venderam.
criarão negócios escandalosos que assombrarão o mundo; a corrupção estender-se-á à vida pública do País como uma praga, desde o mais ínfimo criado até aos ministros. Vender-se-ão a qualquer um..."

...mas sim Corneliu Zelea Codreanu, na sua obra "Guarda de Ferro" a páginas 263 e 264... e atenção ele falava da Roménia de 1927, ao contrário do que alguns excluídos sociais possam pensar, isto nunca se passou, não se passa, nem se irá passar em Portugal!

Actual, actualíssimo... e do século XIX


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias,
sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem
para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que
um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.


Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula,
não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha,
sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima,
descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação,
da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença
geral,
escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.


Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador; e este, finalmente,
tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,
incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero,
e não se malgando e fundindo, apesar disso,
pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

MOGANGO DE COENTRADA (para 4 adultos ou a servir como entrada)

1 kg de mogango (a vulgaríssima abóbora cor de laranja que se vende em Lisboa)
3 cebolas
1 molho de coentros
4 dentes de alho
2 a 3 colheres de sopa de farinha de trigo sem fermento
1 dl de bom azeite
1 golada de vinagre
sal, para quem o utilizar.

Corte o mogango às fatias grossas e dê-lhe uma fervura muito leve. Faça uma cebolada abundante, em azeite, aromatizada de alho e coentro. Coloque parte desta cebolada no fundo da assadeira e, sobre ela, as fatias do mogango.

Regue o conjunto com um batido de água, vinagre, farinha e coentro picado, polvilhe a seu gosto, com pimenta, cubra com o resto da cebolada e leve ao forno.

Polvilhe com mais coentro, na hora de servir.

Acompanha fritadas de peixe, pataniscas ou pastéis de bacalhau.

VARIANTE
Substitua o mogango por cenouras cortadas às rodelas grossas.