domingo, 27 de novembro de 2011

Em Defesa da Portugalidade

Em Defesa da Portugalidade:

Tendo deixado pegadas do meu nome em dezenas de livros que são os marcos miliários da minha obra caleidoscópica, não preciso de perguntar a nenhum dos que estão aqui, o que, nessa obra, os trouxe aqui. 
 Não foram os Poemas, nem os estudos históricos; não foram os trabalhos de investigação erudita, nem os estudos de revisão histórica; não foram as polémicas literárias ou filosóficas, ou as críticas teológicas. Pode haver alguma coisa de tudo isto; mas o que principalmente vêem em mim é o que lá fora faz de mim alvo dos aplausos delirantes, ou de pedradas furiosas: o doutrinador político e social, o expositor da Monarquia e do Nacionalismo integral, do Autoritarismo contra-revolucionário, do Tradicionalismo católico e ocidental – numa palavra, o doutrinador de Portugalidade.
Repito e insisto: de Portugalidade. Ler mais

 Nem da Latinidade – termo que nada significa, por amplo de mais; nem da Hispanidade, que nos absorve e confunde; nem da Lusitanidade, que nos abastarda. Não somos latinos, nem somos hispanos, nem somos lusitanos, somos portugueses!
A Latinidade é uma categoria histórica, sem base concreta; a Hispanidade tem Castela por centro; a Lusitanidade tem por lar a Lusitânia que não é toda nossa.
Só a Portugalidade é inteiramente nossa, característica e tipicamente nossa.
Portugalenses, portugaleses, portugueses, assim nos chamamos e nos chamaram, ao nascer; assim nos chamamos e nos chamaram, durante séculos, até que a pedantaria dos humanistas nos crismou de – lusitanos.
Portugueses nascemos, portugueses devemos morrer. Doutrinador de Portugalidade – eis o sector da minha multiforme actividade intelectual, que, como íman fatídico, atrai as dedicações luminosas que me cercam, aqui, e lá fora, e encandeia os ódios e os rancores que me seguem a sombra...
Porque doutrinador de Portugalidade – católico, não católico progressivo, à maneira de Maritain e os seus sequazes portugueses, mas católico português, como sempre foram os portugueses católicos que nunca se envergonharam de o ser, e nunca se esconderam sacrílega e comodamente atrás do termo equívoco, confuso e neutro de cristão, como nunca aceitaram que lhes estendessem a mão os inimigos da sua Fé.
Sou católico, intemeratamente fiel ao Credo fixado na Profissão fidei tridentina, em 13 de Novembro de 1534; católico conscientemente informado no Syllabus; católico português, empregando todos os meus esforços para que a Nação regresse à sua missão de Fidelíssima, mas não tocada dum Fidelismo progressivo, e anarquizante das consciências.
Porque doutrinador de Portugalidade – monárquico, porque foi a Monarquia que fez Portugal, mas a Monarquia pura, a Monarquia tradicional, a que vem de 1128, se afirma em Ourique, se consolida em Aljubarrota, rasga o caminho marítimo da Índia, cria o Império, sucumbe, devagar, em Alcácer, e ressuscita em 1640, para cair, apunhalada pelas costas, em 1834, em Évora-Monte.
Porque doutrinador de Portugalidade – monárquico, mas da Monarquia que fez a Nação, e não da que começou a desfazê-la; da Monarquia em que o Rei é a síntese viva do Povo, da Monarquia que ama o Povo, que se confunde com o próprio Povo – mas o Povo verdadeiro, e não o Povo dos Partidos, o Povo pulverizado em indivíduos que são números; a Monarquia que é o próprio Povo, o Povo trabalhador, – camponês, soldado, marinheiro, artífice, doutor, padre, letrado, sábio, artista, funcionário, e não o Povo vadio e tunante das conjuras, das alfurjas, dos apetites das facções, dos grupos e dos clubes políticos, dos demagogos e arruaceiros.
Porque doutrinador da Portugalidade – inimigo da Democracia que, entrando as nossas fronteiras nas mochilas das hordas napoleónicas representativas da Revolução Francesa, nos veio dementar, e se instalou no Poder em 1820, e tomou conta definitivamente do Estado, sob a máscara de Monarquia, em 1834, com o Senhor D. Pedro, Imperador do Brasil, e sem máscara, em 5 de Outubro de 1910, por obra e graça da Carbonária de Lisboa.
Porque doutrinador de Portugalidade – inimigo do Liberalismo político que matou as liberdades profissionais ou corporativas, e as regalias municipais – preanunciando o Standardismo comunista.
Porque doutrinador de Portugalidade – adversário do Parlamentarismo que é a falsificação do Supremo Interesse Nacional.
Porque doutrinador de Portugalidade – amigo do Povo, cheio de carinhos para as suas desditas, cheio de entusiasmo fervoroso para as suas glórias, ríspido, às vezes, para os seus desmandos, mas sempre zeloso das suas virtudes, e, consequentemente, inimigo declarado e implacável dos exploradores das suas paixões e dos seus instintos, dos que, sistematicamente, fazem dele degrau para as suas ambições mais depravadas, e para a satisfação dos seus interesses mais inconfessáveis.
Porque doutrinador de Portugalidade – defensor do Povo contra os Mitos que o fascinam e pervertem, contra as nuvens que o embriagam e corrompem, contra as Miragens que o seduzem e estrangulam.
Porque doutrinador de Portugalidade – nacionalista integral, pondo acima de tudo, e de todas as considerações, o Interesse legítimo, o Prestígio honesto, a grandeza eterna, e a honra Imaculada da Pátria – e por isso mesmo católico e monárquico.
E é ainda porque doutrinador de Portugalidade, que páro, a escutar e a interpretar as vozes que vêm de lá de fora e da distância – pela repercussão que possam ter nos destinos da minha Pátria.

Alfredo Pimenta in Em Defesa da Portugalidade.

2 comentários:

Eurico disse...

D. Miguel era um homem de ideais católicos e tradicionalistas, os quais defendia com frontalidade. Era pouco popular entre a burguesia, mais aberta à influência do ideário liberal, mas gozava de grande popularidade entre o povo, que, caído na miséria após as guerras contra Espanha e França, via num rei forte a figura de um salvador. A isto acresce que era a Igreja quem muitas vezes matava a fome do elevadíssimo número de mendigos e deserdados de mais de 30 anos de guerras, pelo que a inimizade dos liberais face a esta instituição terá levado a que o povo se colocasse ainda mais do lado miguelista.

D. Miguel era também um admirador do chanceler Metternich da Áustria, embora afirmasse não ser adepto de uma monarquia absoluta mas apenas pretender libertar Portugal das influências estrangeiras, principalmente das ideias da Maçonaria, que considerava nefastas.D. Miguel emitiu a seguinte proclamação:

"Portugueses:
É tempo de quebrar o férreo jugo em que vivemos (…) A força dos males nacionais, já sem limites, não me deixa escolha (…)
Em lugar dos primitivos direitos nacionais que vos prometeram recuperar em 24 de Agosto de 1820, deram-vos a sua ruína e o Rei reduzido a um mero fantasma; (…) a nobreza (…) à qual deveis a vossa glória nas terras de África e nos mares da Ásia, reduzida ao abatimento e despojada do brilho que outrora obtivera do reconhecimento real; a religião e os seus ministros, objecto de mofa e de escárnio (…).
Acho-me no meio de valentes e briosos portugueses, decididos como eu a morrer ou a restituir a Sua Majestade a sua liberdade e autoridade (…).
Não hesiteis, eclesiásticos e cidadãos de todas as classes, vinde auxiliar a causa da religião, da realeza e de vós todos e juremos não tornar a real mão, senão depois de Sua Majestade ser restituído à sua autoridade.
Vila Franca, 27 de Maio de 1823.

No dia 30 de Abril de 1824, o Infante D. Miguel, que havia sido nomeado generalíssimo do Exército Português, fez deter, nos calabouços do Castelo de São Jorge e nos da Torre de Belém, importantes personalidades civis e militares do país. Entre elas destacavam-se as figuras do Intendente-geral da Polícia, barão de Rendufe, o duque de Palmela (então no governo em coligação com o conde de Subserra) e o visconde de Santa Marta.
D. Miguel, que contava com o apoio de sua mãe Carlota Joaquina, considerava-os culpados de serem partidários do liberalismo e de seu pai, D. João VI, sendo sua intenção declarada acabar com o que denominava de "pestilenta cáfila de pedreiros-livres", numa referência à Maçonaria liberal e constitucional.

Partidos Políticos Liberalismo

Vintistas (1820)
Cartistas (1826)
Chamorros (1833)
Conservadores (1834)
Ordeiros (1836)
Setembristas (1836)
Progressistas (1842)
Comissão Revolucionária de Lisboa (1848)
Grande Oriente de Portugal (1849)
Confederação Maçónica Portuguesa (1849)
Partido Nacional (união dos
Cartistas e Setembristas) (1849)


Partidos Políticos Monarquia Constitucional

Partido Regenerador (1851)
Grande Capítulo Central da Maçonaria Lusitana (1851)
Partido Histórico (1854)
Partido Reformista (1862)
Confederação Maçónica Progressista de Portugal (1864)
Partido dos Melhoramentos Materiais (1865)
Partido Reformista (1867)
Partido Avilista (1868)
Grande Oriente Lusitano Unido (1869)
Partido Constituinte (1871)
PSP - Partido Socialista Português (1875)
Partido Progressista (1876)
PRP - Partido Republicano Português (1876)
Grande Loja dos Antigos Maçons Livres e Aceites de Portugal (1882)
Liga Liberal (1901)
Partido Regenerador Liberal (Partido Franquista), (1901)
Partido Nacionalista (1903)
Dissidência Progressista (1905)
Partido dos Operários Socialistas de Portugal
Partido Socialista Operário Português
Centro Académico da Democracia-Cristã (1901)
Liga Liberal (1901)
Partido Nacionalista (1902)
Associação Católica
Círculo Católico dos Operários
Dissidência Progressista (1905)

Rui Moio disse...

Obrigado Eurico pelo grande e esclarecedor comentário. É um prazer tê-lo aqui!