Platão (C. 428-347 A.C.)
PREAMBULO
Com o fim do Conselho da Revolução, em 30/09/1982, o Poder Político ficou totalmente nas mãos das forças políticas – surgidas na sequência do 25 de Abril de 74 – que as sucessivas pugnas eleitorais colocavam nos órgãos de soberania, segundo o figurino constitucional entretanto aprovado.
Para trás ficavam anos conturbados que se iniciaram com a perda de controlo da situação originada no golpe de estado do MFA; numa transição político/social caótica e numa descolonização traumática e muito vergonhosa, cujas consequências estão a revelar-se piores das que se seguiram à entrada do Duque de Alba e do Marquês de Santa Cruz, em Lisboa, em 1580, e das Cortes de Tomar de 1581, que foram o seu epílogo. Ler mais
Em poucos meses o melhor e mais poderoso aparelho militar que a Nação Portuguesa conseguiu montar desde Afonso Henriques, ruía como um baralho de cartas e ainda hoje – quase 40 anos volvidos – ainda está longe de ter recuperado.
Em poucos meses o melhor e mais poderoso aparelho militar que a Nação Portuguesa conseguiu montar desde Afonso Henriques, ruía como um baralho de cartas e ainda hoje – quase 40 anos volvidos – ainda está longe de ter recuperado.
A estabilização político/social/ económica levou cerca de 10 anos a estabilizar, passando-se por duas ameaças de banca rota, em 1978 e 1983 (que levaram a intervenção do FMI), apesar de a guerra ter acabado, do país estar a crescer 6,9% ao ano, em 1973 e o anterior regime ter deixado uma das moedas mais fortes do mundo e vastas reservas de ouro e divisas.
Os novos governantes – a maioria dos quais formados no estrangeiro ou lá emigrados – profundos desconhecedores do país, mas assumindo-se como opositores fundamentalistas das anteriores políticas (até da História), parece que tinham como elemento fundamental de actuação, fazerem tudo ao contrário do que era norma.
Podiam ter tido, ao menos, o bom senso de fazer uma leitura pragmática do que representava para a Nação Portuguesa ter sido despojada de um modo violento e dilacerante, de 95% do seu território e 60% da população, com as enormes consequências geopolíticas e geoestratégicas que tal implicou.
Mas não, ignorantes das coisas e dos homens decretaram o direito à felicidade de todos e dever a coisa nenhuma.
De todas as grandes decisões, político/estratégicas postas em prática, não se vislumbra uma única que se possa apelidar de correcta, senão pela mesma, pelo menos na sua execução. Para as analisar são necessários vários livros.
Interessa, todavia, reter duas: o sistema político e a adesão à CEE.
Não havendo sistema político nenhum perfeito e sendo a melhor forma da sua legitimidade e representatividade, uma discussão sem fim, optou-se por um modelo semi - presidencialista que não é carne nem peixe, organizando-se todo o Estado num sistema de equilíbrios que não geram resultantes. Ou seja tudo está montado para não funcionar.
A piorar as coisas, a classe política organizou-se para defender ideologias e negócios e “esqueceu-se” dos interesses do país como um todo. Deixaram de se sentir portugueses e muitos escorregaram para as malhas de estruturas internacionalistas de poder.
A qualidade dos actores políticos tem, por outro lado, decaído a olhos vistos e não há o menor critério para os preparar e seleccionar.
Abandonado o grande projecto nacional e humanista, de ser Portugal em todo o mundo que os portugueses criaram e se sentissem como tal, não restou à classe política emergente, mais do que se entregar nos braços da CEE, já que tinham desistido ou nunca acreditaram, de poderem ser uma CEE sozinhos…
Mandaram-se de cabeça, ponderando pouco…
Direi apenas isto (e podia ser outro livro): os órgãos de soberania consideraram a adesão como sendo um objectivo nacional permanente histórico – que jamais o será – em vez de considerarem essa adesão como um objectivo nacional importante, mas circunstancial – que devia ter sido a opção feita. A diferença é de substância e o modo de actuar idem.
Agora sim, o futuro iria ser luminoso e nem seria preciso trabalhar muito – conceito entretanto desaparecido do léxico público…
Num curto espaço de tempo chegou a Portugal uma soma de riqueza tal que, possivelmente, suplantou os proventos de todas as riquezas da India, dos Brasis e de África, juntas.
A voracidade e o deslumbramento foi tanto que, apesar de toda a riqueza vertida (da qual nunca ninguém prestou contas), não foi “suficiente”, tendo-se assistido a um endividamento, interno e externo, galopante e criminoso.
Com a poeira assente, restou um aumento do nível de vida (e do consumo) com riqueza que não produzíamos, restando agora muito cimento, quase nenhumas mais-valias para o futuro, e uma dívida a crescer exponencialmente. Dava vários compêndios.
A nível da sociedade passou a imperar a “ditadura” dos direitos, sem a menor noção que estes adquirem-se e devem derivar dos deveres cumpridos; fez-se tábua rasa da hierarquia social e instalou-se o facilitismo, o nivelar por baixo, a irresponsabilidade.
Em termos morais impera o “relativismo”…
Fiquemos por aqui, pois 24 horas de emissão televisiva não davam para enumerar os erros cometidos.
Pode-se argumentar que muito do que aconteceu foi feito com boa intenção e com a informação e crenças, que os protagonistas dispunham na altura. Poderá ser assim, mas os erros não deixam de ser erros (que tardam sempre a ser reconhecidos e emendados) nunca se fazendo um “mea culpa”; e de boas intenções está … o inferno cheio!
*****
E, deste modo, chegámos ao momento presente onde se pode constatar, sem grande margem para dúvidas, que:
- O País está com soberania limitada, a caminho do estado exíguo e de ser um protectorado; a “Troika”, que nunca deveria ter sido chamada, é pior do que ter a Duquesa de Mântua no Palácio Real, protegida pela “Guarda Alemã” aquartelada no Castelo de S. Jorge;
- O actual sistema político está bloqueado e sem soluções;
- O Governo está condenado pois não dá o exemplo, perdeu o rumo e a coligação está ferida de cancro; apenas se mantém por não haver alternativas credíveis e ser prejudicial desencadear uma crise política;
- O País jamais conseguirá pagar a dívida, tão pouco os juros da mesma, se parte dela não for “perdoada”, os juros deixarem de ser leoninos e os prazos não forem dilatados. E, claro, não passar a haver “superavit” nas contas públicas ao fim de cada ano;
- Se o programa da “Troika” chegar ao fim, a única coisa que se conseguirá – além de estarmos todos mais pobres – será a de juntarmos mais dívida àquela que já tínhamos;
- O País está a parar e a desintegrar-se e caminha, a passos largos, para que a taxa de desemprego chegue aos 98% (os restantes 2% pertencem à classe política);
- As tensões sociais irão descontrolar o País e existe uma probabilidade muito elevada do Poder vir a cair na rua; em tal hipótese o PCP continua a ser a única força organizada capaz de tomar conta da coisa;
- A criminalidade irá subir; os “esquemas” vão-se multiplicar e o contrabando vai passar a ser rotina;
- As Forças de Segurança estão desmotivadas, divididas e “infiltradas”;
- Os Serviços de Informação não funcionam desde 1974;
- A Justiça é um sofisma;
- A Essência do Sistema Educativo (e seus resultados) é medíocre;
- O Sistema Nacional de Saúde é incomportavelmente caro e o desperdício é enorme;
- A Diplomacia limita-se ao exercício deletério das Relações Internacionais - não existe a menor ideia do que são a defesa dos interesses nacionais a defender;
- Não há Defesa Nacional, apenas existe um ministro para as FAs - para, eufemisticamente, colocar “a tropa na ordem;
- As Forças Armadas estão reduzidas a quadros, crescentemente chateados como perús em véspera de Natal; tirando acorrer a catástrofes, a Constituição da República inibe qualquer outra intervenção interna;
- O aparelho produtivo é uma manta de retalhos;
- A Economia é vista como um fim em si mesma (erro) e não como tendo de derivar de uma Política e ser instrumento de uma Estratégia (certo);
- As Finanças são encaradas como um meio de engordar banqueiros e “gestores financeiros” (erro) e não como um instrumento para financiar a economia e atender a preocupações sociais (certo);
- Não existem meios eficazes de controlo – veja-se, por ex., o que se passa com a actuação do Banco de Portugal e com os relatórios do Tribunal de Contas;
- Nem Governo, Parlamento ou PR tem mostrado ter estratégia seja para o que fôr – está demonstrado à evidência – sobra-lhes, contudo, receios;
- O Governo não consegue pôr ordem em interesses instalados;
- Toda a gente, todos os dias, fala demais; o ruído é enorme;
- A Comunicação Social (que, como tudo virou negócio) carece de melhor regulação, exigência deontológica e de deixar de se comportar como combustível no meio de uma fogueira e em explorar os piores instintos humanos em vez de puxar pelos melhores;
- Os Partidos (nome horrível), nem querem ouvir falar em medidas que possam prejudicar os seus apaniguados mais chegados, ou seja o que fôr que possa pôr em causa o financiamento dos seus cofres;
- O património do país está a ser vendido ao desbarato, para se tentar aliviar os problemas de tesouraria, ao mesmo tempo que vai enriquecer os grandes “trusts” internacionais; por este andar vamos acabar sem anéis, sem dedos e sem alma…;
- Não é possível recuperar um país que se auto – destruiu e endividou durante mais de três décadas, em meia dúzia de anos… nem sequer é sensato pensá-lo; só a abjecta inclinação dos políticos de serviço, pela ditadura da caça ao voto, justifica a mentira do discurso;
- No balanceamento da política de alianças estratégicas, está-se a cometer o gravíssimo erro de nos colocarmos ao lado da “continentalidade”, contra a “maritimidade”; tal é sobretudo visível dentro da UE;
- Tudo aquilo que se passar no Mundo, que nos possa vir a afectar, sobretudo naquele que nos é mais próximo, deve merecer a maior atenção, não o ambiente no balneário do Benfica;
- Neste particular toma especial relevo a situação em Espanha que caminha a passos largos para uma situação insurrecional próxima da que antecedeu a guerra civil, em 1936;
- Existem muitas “guerras” cruzadas, no mundo, que nos afectam ou podem vir a afectar e nós temos que procurar sobreviver no meio delas, e não persistirmos em destruir todo o Poder Nacional de que dispúnhamos.
Finalmente, quem pensar que os mesmos actores políticos que nos trouxeram a este ponto calamitoso, servidos pelo mesmo sistema político, são os mesmos que nos vão tirar da “crise”, ou não percebem nada da vida ou não estão no seu juízo perfeito.
Vai ter que haver rupturas.
Vai ter que haver rupturas.
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Com a manifestação a nível nacional, de 15 de Setembro de 2012, quebrou-se a ténue fronteira de esperança e confiança entre a população (e não a Intersindical) e o Governo – diria as forças políticas; mais do que tudo quebrou-se um vínculo psicológico: daqui para a frente a revolta ficou latente;
O mesmo pode acontecer no seio das FAs e ninguém sabe prever se, e quando, se dará esse clique mas, a partir de agora, o caldo de cultura passou a existir, não só pelo que ficou dito, mas por muitas asneiras contumazes e especificas.
Há que ter juízo.
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De facto e lamentavelmente, os principais actores do Estado, que elegemos na 3ª República, têm -se comportado, maioritariamente, não como os fautores que nos conduzissem às aspirações utópicas da Segurança, da Justiça e do Bem-Estar, mas apenas com simples destruidores do Poder Nacional. E, ainda, – o que acontece pela primeira vez na nossa vetusta História – como agentes subversivos da Nação dos Portugueses.
Esta é, sem sombra de dúvida, o momento mais perigoso da História de Portugal e aquele em que dispomos de menos recursos para lhe fazer face.
Se teremos ou não saber e coragem para o ultrapassar é o que o futuro nos dirá.
Fonte: Blogue "O Adamastor", post de 14Out2012
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