sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

MUSEU DO QUARTZO

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 30/01/09
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Museu do Quartzo, em finais de construção. Foto de Susana Andrade
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A EXPLORAÇÃO DO QUARTZO no Monte de Santa Luzia (Viseu), entre 1961 e 1986, pela "Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos", de Canas de Senhorim, teve como resultado o enorme rasgão na paisagem que ali se observa, desde sempre considerado como elemento altamente negativo em termos de impacto ambiental.
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Desta exploração, durante uma vintena de anos, ficou-nos, como é costume entre nós, uma pedreira abandonada, onde o quartzo filoniano, num escarpado de acentuada brancura, contrasta com a densa arborização envolvente, aspecto que se mantém desde que ali terminou a lavra, há 22 anos, sem que o agente económico tivesse procedido a quaisquer trabalhos de requalificação. A solicitação da Câmara Municipal de Viseu (CMV), concebi, em nome do Museu Nacional de História Natural (MNHN), um projecto de musealização do sítio, envolvendo a sua aceitação como um pólo de
interesse geológico a valorizar e conservar.
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O escarpado deixado pela referida actividade extractiva tem, na óptica da preservação e valorização do nosso património natural, o mérito de chamar a atenção para o mais volumoso e possante filão de quartzo leitoso, de entre os muitos que atravessam o substrato do nosso território, como exemplo da actividade hidrotermal residual, associada aos granitos do final da era paleozóica, com cerca de 280 milhões de anos
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À semelhança de uma "janela aberta" para o interior da crosta, este rasgão na paisagem permite observar, por dentro, diversas e interessantes particularidades geológicas e mineralógicas deste tipo de ocorrências.
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O Monte de Santa Luzia constitui um pequeno relevo suportado pela maior dureza do quartzo e pela sua maior resistência à meteorização, relativamente ao granito que atravessa. Com várias dezenas de metros de espessura, este filão é a causa da existência deste relevo residual com cento e poucos metros acima da superfície planáltica que o rodeia.
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A valorização deste sítio decorre não só da grandiosidade e espectacularidade deste acidente, como também da grande importância mineralógica, geológica e económica do quartzo, do seu elevado número de variedades, quer em termos de cores, quer no que diz respeito aos diferentes hábitos cristalinos, modos de jazida, associações com outras espécies minerais, etc.
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Tal valorização decorre, ainda, e muito, da invulgar diversidade das aplicações do quartzo, como matéria-prima, nas mais variadas indústrias, com destaque para a fundição, a cerâmica, a vidraria, a cristalaria, a óptica, a química, a electrónica, a relojoaria e a joalharia. Ao aceitar este projecto de musealização, a autarquia visou recuperar o que resta de uma exploração caótica abandonada, transformando-a num pólo da Universidade de Lisboa (protocolo assinado entre o MNHN e a CMV, em 14 de Outubro de1997), com grades potencialidades pedagógicas, culturais e, também, naturalmente, turísticas.
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Para além da recuperação do escarpado (a frente de exploração tal como foi deixada) e da identificação e sinalização dos diversos pontos com particularidades geológicas e mineralógicas acessíveis no terreno, o referido projecto visa, ainda, requalificar os equipamentos industriais existentes no local e recuperar outros que ainda existam, mediante contactos com a antiga empresa. O conjunto disporá de um percurso pedonal criteriosamente estabelecido, apoiado em painéis explicativos, convenientemente localizados, e em alguma documentação escrita (desdobráveis, brochuras) a facultar aos visitantes.
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Concebido para, numa primeira fase, de âmbito local, servir as escolas da região e divulgar conhecimentos entre o cidadão comum, o Museu do Quartzo começará por reunir uma representação significativa de exemplares desta espécie mineral (e suas variedades) e das suas múltiplas aplicações industriais e artísticas, a par de oficinas pedagógicas adequadas. A médio prazo, numa segunda fase, de âmbito nacional, aspira-se a uma colaboração activa com as Universidades e as Empresas interessadas no quartzo como matéria-prima nas mais variadas tecnologias. Na eventualidade de previsível sucesso deste embrião de saber, e se as entidades competentes (a Autarquia e/ou o Poder Central) assim o entenderem e apoiarem, o Museu do Quartzo poderá e deverá evoluir para um Centro de Investigação Científica e Tecnológica em torno desta temática, a nível internacional, domínio amplamente justificável e, por si só, susceptível de atrair patrocínios por parte de grandes empresas interessadas nesta investigação.
O projecto do Monte de Santa Luzia, cuja componente arquitectónica, incluindo o edifício do Museu do Quartzo, é da autoria do Arqto Mário Moutinho, foi galardoado, em 1997, com o Prémio Nacional do Ambiente (Autarquias).
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O acompanhamento científico e pedagógico deste futuro museu mantêm-se a cargo do MNHN, acção em que continuo empenhado, agora em estreita colaboração com o actual director, Prof. Fernando Barriga.

Missão de amar?

Missão de amar?

via Projecto Clarice de patricialino1@sapo.pt (Patrícia Lino) em 24/01/09
"O saguim é tão pequeno como um rato, e da mesma cor.
A mulher, depois de se sentar no ônibus e de lançar uma tranquila vista de proprietária pelos bancos, engoliu um grito: ao seu lado, na mão de um homem gordo, estava aquilo que parecia um rato inquieto e que na verdade era um vivíssimo saguim. Os primeiros momentos da mulher versus saguim foram gastos em procurar sentir que não se tratava de um rato disfarçado.
Quando isso foi conseguido, começaram momentos deliciosos e intensos: a observação do bicho. O ônibus inteiro, aliás, não fazia outra coisa. Mas era privilégio da mulher estar ao lado do personagem principal. De onde estava podia, por exemplo, reparar na minimeza que é uma língua de saguim: um risco de lápis vermelho. E havia os dentes também: quase que se poderiam contar cerca de milhares de dentes dentro do risco da boca, e cada lasca menor que a outra, e mais branca. O saguim não fechou a boca um instante.
Os olhos eram redondos, hipertireóidicos, combinando com um ligeiro prognatismo - e essa mistura, se lhe dava um ar estranhamente impudico, formava uma cara meio oferecida de menino de rua, desses que estão permanentemente resfriados e que ao mesmo tempo chupam bala e fungam o nariz. Quando o saguim deu um pulo no colo da senhora, esta conteve um frisson, e o prazer encabulado de quem foi eleita.
Mas os passageiros olhavam-na com simpatia, aprovando o acontecimento, e, um pouco ruborizada, ela aceitou ser a tímida favorita. Não o acariciou porque não sabia se esse era o gesto a ser feito. E nem o bicho sofria à míngua de carinho. Na verdade o seu dono, o homem gordo, tinha por ele um amor sólido e severo, de pai para filho, de dono para mulher. Era um homem que, sem um sorriso, tinha o chamado coração de ouro. A expressão de seu rosto era até trágica, como se ele tivesse missão. Missão de amar? O saguim era o seu cachorro na vida.
O ônibus, na brisa, como embandeirado, avançava. O saguim começou a comer biscoito. O saguim coçou rapidamente a redonda orelha com a perna fina de trás. O saguim guinchou. Pendurou-se na janela, e espiou o mais depressa que podia - despertando nos ônibus opostos caras que se espantavam e que não tinham tempo de averiguar se tinham mesmo visto o que tinham visto.
Enquanto isso, perto da senhora, uma outra senhora contou a outra senhora que tinha um gato. Quem tinha posses de amor, contou. Foi nesse ambiente de família feliz que um caminhão quis passar à frente do ônibus, houve quase encontro fatal, os gritos. Todos saltaram depressa. A senhora, atrasada, com hora marcada, tomou um táxi. Só no táxi lembrou-se de novo do saguim. E lamentou com um sorriso sem graça que - sendo os dias que correm tão cheios de notícias nos jornais e com tão poucas para ela - tivessem os acontecimentos se distribuído tão mal a ponto de um saguim e um quase desastre sucederem na mesma hora.
"Aposto" - pensou - "que nada mais me acontecerá durante muito tempo, aposto que agora vou entrar no tempo das vacas magras". Que era em geral seu tempo.
Mas nesse mesmo dia aconteceram outras coisas. Todas até que dentro da categoria de bens declaráveis. Só que não eram comunicáveis. Essa mulher era, aliás, um pouco silenciosa para si mesma e não se entendia muito bem consigo própria.
Mas assim é. E jamais se soube de um saguim que tenha deixado de nascer, viver e morrer - só por não se entender ou não ser entendido.
De qualquer modo fora uma tarde embandeirada."

Uma tarde plena, in Onde estivestes de noite
Clarice Lispector

Clariceando, Clariceando

Clariceando, Clariceando

via Projecto Clarice de patricialino1@sapo.pt (Patrícia Lino) em 26/01/09
(Pequeno génerico de apresentação ao Projecto Clarice. Passe a palavra.
Realização por Patrícia Lino.)

"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando".
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?" Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem. Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."

Das vantagens de ser bobo, in A Descoberta do Mundo
Clarice Lispector


Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 4)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 4)

via Espiral Dourada de noreply@blogger.com (RS) em 30/01/09
Ensaio da autoria de António Quadros
(publicado na Folha "57", n.º11 - Junho de 1962)

A verdade que cumpre seja compreendida finalmente pelos portugueses, a verdade que excede o problema, é esta: existe e subsiste a pátria portuguesa, mas não para servir pragmáticamente uma classe, não para armoriar uma facção, não para garantir um tradicionalismo conservador e estacionário; existe e subsiste a pátria portuguesa porque insiste e está procurando existir uma filosofia portuguesa, uma determinada concepção do mundo e do homem, do imanente e do transcendente, do virtual e do real. A pátria é uma existência e uma insistência, mas só há pátrias, quando as nações são dotadas de uma filosofia própria. Língua portuguesa, filosofia portuguesa, espírito português, são as raízes autênticas da pátria e das suas implicações secundárias: nação, sociedade, estado, comunidade, povo.

Implicita e implicada na sua duração histórica e transiente, simbolizada na aventura, na viagem e na arte, a filosofia portuguesa sé no século XX surge à luz como uma realidade primeira em que as demais actividades devem mergulhar a sua ânsia de movimento e progressão. A filosofia portuguesa é o universal concreto, sendo a pátria o concreto que materializa e anima o universal sófico. A filosofia ecuménica, expressão do universal abstracto, sem base vitalista, é já uma utopia do passado.

O caos das políticas, das ideologias e das facções, terá o seu termo quando a pátria for pensada a partir de si mesma, quando o universal se assumir em suas determinações pátrio-sóficas.

(continua)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 3)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 3)

via Espiral Dourada de noreply@blogger.com (RS) em 29/01/09
Ensaio da autoria de António Quadros
(publicado na Folha "57", n.º11 - Junho de 1962)

Primeiro problema:
FILOSOFIA E PÁTRIA

A força da realidade pátria, força que desce do plano intelectual ao plano sentimental, que transparece nas determinações inconscientes, quando a consciência deixou de pensar, a força e a profundidade da sua objectivação nos homens é, por isso, porque é influente e interior em cada um, sistematicamente desviada, aproveitada, canalizada, atraiçoada, pragmatizada. E assim, a política apodera-se da ideia da pátria, desvirtua o seu significado e adapta-o aos seus fins.

É tempo de discernir e meditar. A ideia da pátria está em crise entre nós, precisamente porque toda a acção pragmática que em seu nome é realizada, neste ou naquele sentido, não é deduzida e derivada de uma filosofia da pátria, de uma filosofia portuguesa. Não é possível pensar, postular, legislar, criticar de acordo coordenadas exóticas e, a partir desta realidade mental desfocada e des-axializada, exercer uma actividade propriamente patriótica. Nestas condições, o que fica da pátria é apenas um substracto emocional e retórico, que não suscita uma inteira adesão a uma efectiva participação.

O homem, composto de elementos físicos, de elementos psíquicos e de elementos racionais, apenas se move verdadeiramente pelo acordo sincrónico destas três zonas. Se a razão dos portugueses é desenvolvida e estimulada pelos processos lógicos culturais franceses, alemães ou ingleses, os quais, diga-se de passagem, estão atingindo uma saturação metamórfica nas suas formas idealistas, existencialistas e fenomenologistas, muito precariamente o psíquico, isto é, a sua alma, será capaz de escolher decidida e decisivamente o caminho que é consubstancial à pátria.

É quando a acção não se adequa ao pensamento, que o problema toma aspectos vitais de dramaticidade, de existir agónico e angustiado. Em suma, não há acção portuguesa, acção profunda e cumulativa, sem adequação do agir e do pensar, segundo uma lógica e uma gnosiologia portuguesas, que são os seus autentificados suportes.

Assim, enquanto as nossas escolas, os nossos liceus e as nossas universidades não forem fontes de pensamento português e de filosofia portuguesa, os portugueses viverão permanentemente em crise e em cisão, divididos no seu ser, procurando como derivativo vincular-se a sistemas ideológicos onde a pátria não tem já lugar próprio, sistemas condenados ao fracasso porque o sistema ideológico é hoje uma tentativa metafísica invalidada por todas as correntes modernas sem excepção.

(continua...)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 2)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 2)

via Espiral Dourada de noreply@blogger.com (RS) em 28/01/09
Ensaio da autoria de António Quadros
(publicado na Folha "57", n.º11 - Junho de 1962)

"Não será todavia possível clarificar um pouco uma problemática tão perturbada e caótica? Não será possível reconduzir tal problemática ao cerne de um problema crucial e essencial? Sim, é o problema da pátria, que por sua vez se ramifica e hierarquiza em outros problemas que lhes estão indissociavelmente ligados.

A pátria. Não é a nação que está fundamentalmente em causa. Não é a sociedade. Não é a comunidade natural. Há muitas nações, muitas sociedades, muitas comunidades, mas são poucas e raras as pátrias. Um dos erros abissais do pensamento não qualificativo que presidia à fundação da O.N.U. foi equiparar as simples nações, que são meras sociedades políticas, às nações-pátrias, em que a estrutura social, implicita ou explicitamente, derivam de uma filosofia ou tradição filosófica que a todo o instante a alimenta, dinamiza e lança no futuro, em busca da mais alta realização arquetipal.

Verdadeiramente, é o paradoxo da pátria, que constitui o mais profundo problema português, na medida em que os nacionais do nosso país se encontram perpetuamente dilacerados perante opções que, cada vez com maior insistência e acuidade, lhes são postas. Dir-se-ia que os portugueses - durante um largo período de alguns séculos - perderam a capacidade de decisão. A posteriori se verifica que a partir do século XVII até aos nossos dias, a posteriori se verifica, diziamos, que a decisão tomada não fora a que se coadunasse com o vero movimento ascencional da pátria, que, não o esqueçamos, é menos um absoluto, do que um microcosmos laboratorial da humanidade. A decisão portuguesa tem sido efectivamente, mesmo quando transportando em si um impulso patriótico, uma como que decisão cindida.

Sem dúvida, esta situação trágica, mas ao mesmo tempo promissora, porquanto nunca joga o nosso espírito inteiro num só e por ventura decepcionante caminho, inspirou ao filósofo José Marinho, a sua interpretação da realidade como cisão pura. Cisão do ôntico, cisão do humano, cisão do divino, mesmo.

Ora a pátria portuguesa se é explicitamente, ser de cisão, é também , implicitamente, movimento, dinamismo, razão agente, trans-história, ideal, radicação misteriosa num princípio de causa cisiva e saparatista, mas de objecto reintegrador. Desdobrando-se o problema genérico dapátria nos três problemas particulares que o configuram, especialmente na hora presente, nós acreditamos contribuir para que a recuperação do movimento venha a transcender a dramaticidade da cisão extrema dos portugueses em relação a si mesmos. Certo está partir de uma verdade que é ambiguidade, pardoxo e cisão, mas mais certo ainda é acreditar no dinamismo espiritual que pode, senão resolver totalmente, pelo menos transformar decisivamente essa verdade imediata."

(continua)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 1)

Os três problemas portugueses: filosofia, história e futuro da Pátria (parte 1)

via Espiral Dourada de noreply@blogger.com (RS) em 28/01/09
Ensaio da autoria de António Quadros
(publicado na Folha "57", n.º11 - Junho de 1962)

"Em nosso entender e segundo a nossa análise, a problemática portuguesa, dia a dia mais grave e agravada pelo curso dos acontecimentos e pela reacção dos homens, tem sido encarada à esquerda e à direita, não nas suas determinações essênciais e profundas, mas nas suas manifestações exteriores e, por assim dizer, epidérmicas. As soluções preconizadas para os problemas, são pois de ordem política ou jurídica. Diveras podem apresentar-se quanto ao conteúdo, diversas e até aparentemente antagónicas. Mas raramente se compreende a que ponto elas se identificam, precisamente por se defrontarem no terreno comum da acção política e do seu suporte legislativo. Ora é este terreno comum que exactamente contestamos e pomos em causa. Há quatrocentos anos que, entre nós, mudam os regimes, as estruturas e as forças dominantes, mas na realidade pouco ou nada se modificou no tipo de estatismo em que pantanosamente mergulhamos.

E isto porque o nosso pensamento político, há quatrocentos anos que não é criador, mas aderente. Queremos dizer que, incapazes de criar doutrina política, necessariamente derivada de uma filosofia e de uma visão do mundo, os nossos políticos se limitam a lutar pela adesão do pais a este ou aquela doutrina, forjada por outros a partir de circunstâncias históricas, ideológicas e sociais inteiramente diversas das nossas. Quel é o partido político que, nos últimos séculos, pôde ou soube postular uma teoria própria e original? Portugal é pensado como um pequeno e triste astro sem luz própria, reflectindo a sombra e o sol dos outros, e opr isso todos os nossos movimentos de reacção e acção, sejam a Contra-Reforma e o Iluminismo, sejam o Absolutismo e o Liberalismo, sejam a Monarquia constitucional e a República, sejam as outras teses e antíteses que se lhes seguiram, tiveram de comum, a ideia concordante da menoridade da pátria, incapaz de teorizar pelas próprias vias, sistemas de filosofia, de educação e de política.

Qualquer das correntes atribuiu e atribui a sua falência, por vezes espectacular e trágica, à actividade das correntes contrárias. Mas é chegado o momento de consciência, é chegado o momento de ver mais longe e mais fundo. É para uma licidez, que não se coaduna com interesses criados e com filiações programáticas, que desejamos contribuir com este ensaio de prospecção filosófica-política, que, demais o sabemos, não pactua com o turbilhão de impulsos divergentes, volteando avidamente sobre o cadáver adiado.

E porque é chegado o momento? Porque se está atingindo muito provavelmente um limite. Porque, talvez sem darmos por isso, estamos já do outro lado de uma fronteira. O presente ensaio liga-se aliás, por uma patente linha de continuidade, ao que foi a orientação expressa do "57" nos últimos quatro anos, e particularmente aos Manifestos que apresentaram a público este ponto de vista novo e escandaloso: um ponto de vista português sobre os problemas portugueses. Ora estes problemas andam de tal forma obscurecidos por ambiguidades artificiais, o drama consequente é de tal modo menorizado por proposições sentimentais e volitivas, o essencial é tantas vezes ocultado pelo acessório, que a maioria das pessoas cada vez sabe menos o que há-de pensar, quando não se encontra filiada em qualquer organização que por eles pense.

A pequena política é a grande dissolutora das mais belas e verdadeiras ideias humanas, porque não quer reconhecer a hierarquia dos problemas e a lógica das relações entre o menor e o maior. Assim, a mediocridade é o plano em que se agitra, o superior é arrastado ao nível do inferior, as mais fecundas concepções filosóficas são degradadas em nome dos interesses imediatos, circundantes, egoístas e pragmáticos. Crescem os actos puramente utilitários, as atitudes provincianas, as ilusões utópicas, os partidarismos irreflectidos, as subordinações confessas ou inconfessas, e é tudo isto, toda esta gama de detritos provindo de ideias e crenças moribundas, que está alimentando e envenenando um número majoritário de portugueses."

(continua...)

Pacheco Pereira merece bengaladas

Pacheco Pereira merece bengaladas

via Banco Corrido de Paulo Pedroso em 30/01/09
Pacheco Pereira faz parte do leque de pessoas que se santifica a si mesmo e acha todos os outros capazes de todas as vilanias. Junta a esse pessimismo antropológico um grande desinteresse pela verdade material e uma visão conspirativa do mundo.

A combinação dessas atitudes faz dele um guionista de telenovela, num mundo amoral. Não hesita em associar-se a difamações, a acusar sem provas, a julgar sem contraditório e em transformar as suas opiniões, mesmo as mais disparatadas, em verdades absolutas.

Se as vítimas dessa sua maneira de ver o mundo não fossem pessoas a coisa não seria grave. Mas são e ele tem a fria consciência dos ditadores, conhece o poder destrutivo da sua influência e usa-o.

Depois de tudo o que já li, escrito por si sobre mim, desejo-lhe apenas que nunca passe pelo que tive que passar. Aprenderia muito sobre a condição humana. Mas ele não conhece o sofrimento humano nem sequer a diferença entre a verdade e a mentira.

Num mundo de gente de honra, coisas como as que escreve aqui merecem um processo por difamação ou bengaladas. Como a justiça portuguesa acha os opinion-makers irresponsáveis não terá processo, como não uso bengala fica este testemunho: Pacheco Pereira mente descaradamente sobre cabalas e contra-cabalas e fala de mim como um reles porta-voz dos difamadores, deliberadamente emprestando o seu nome e credibilidade a uma série monstruosa de falsidades.


quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

EL UNDECIMO PRESIDENTE DE ESTADOS UNIDOS

via Alejandro el Grande de samehellas@gmail.com (Same) em 25/01/09
El pasado martes 20 de enero de 2009 asumió la jefatura del imperio
Barack Obama como el Presidente número once de Estados Unidos, desde
el triunfo de la Revolución Cubana en enero de 1959.
Nadie podría dudar de la sinceridad de sus palabras cuando afirma que
convertirá a su país en modelo de libertad, respeto a los derechos
humanos en el mundo y a la independencia de otros pueblos. Sin que
esto, por supuesto, ofenda a casi nadie, excepto a los misántropos en
cualquier rincón del planeta. Ya afirmó cómodamente que la cárcel y
las torturas en la Base ilegal de Guantánamo cesarían de inmediato, lo
cual comienza a sembrar dudas a los que rinden culto al terror como
instrumento irrenunciable de la política exterior de su país.
El rostro inteligente y noble del primer presidente negro de Estados
Unidos desde su fundación hace dos y un tercio de siglos como
república independiente, se había autotransformado bajo la inspiración
de Abraham Lincoln y Martin Luther King, hasta convertirse en símbolo
viviente del sueño americano.
Sin embargo, a pesar de todas las pruebas soportadas, Obama no ha
pasado por la principal de todas. ¿Qué hará pronto cuando el inmenso
poder que ha tomado en sus manos sea absolutamente inútil para superar
las insolubles contradicciones antagónicas del sistema?
He reducido las Reflexiones tal como me había propuesto para el
presente año, a fin de no interferir ni estorbar a los compañeros del
Partido y el Estado en las decisiones constantes que deben tomar
frente a dificultades objetivas derivadas de la crisis económica
mundial. Yo estoy bien, pero insisto, ninguno de ellos debe sentirse
comprometido por mis eventuales Reflexiones, mi gravedad o mi muerte.
Reviso los discursos y materiales elaborados por mí a lo largo de más
de medio siglo.
He tenido el raro privilegio de observar los acontecimientos durante
tanto tiempo. Recibo información y medito sosegadamente sobre los
acontecimientos. Espero no disfrutar de tal privilegio dentro de
cuatro años, cuando el primer período presidencial de Obama haya
concluido.

Fidel Castro Ruz
22 de enero de 2009
6 y 30 p.m.

«Falar» na polícia (3)

via Caminhos da Memória de Diana Andringa em 27/01/09
João Abel Manta O primeiro interrogatório teve lugar no 4º dia de prisão. "Y" declarou, logo de início, não querer prestar declarações. Intenção que o escrivão anotou, perguntando, de seguida, se também se recusava a assinar o auto, o que "Y" confirmou. A um observador menos informado não deixará de causar perplexidade o facto de um preso [...]

Simon Wiesenthal – o caçador de nazis – nega as conclusões dos Julgamentos d...

Simon Wiesenthal – o caçador de nazis – nega as conclusões dos Julgamentos de Nuremberga

via Um Homem das Cidades de noreply@blogger.com (Diogo) em 21/01/09

Carta de Simon Wiesenthal ao Jornal militar norte-americano "The Stars and Stripes", edição europeia, Domingo, 24 de Janeiro de 1993 (pág. 14).

Gaseamentos na Alemanha

"Surgiu uma carta neste jornal intitulada "Erro nas Câmaras de Gás" (5 de Janeiro de 1993). Já que sou citado nesta carta, acho necessário declarar o seguinte:

É verdade que não existiam campos de extermínio em solo alemão e portanto não existiram gaseamentos em massa tal como os que aconteceram em Auschwitz, Treblinka e noutros campos. Uma câmara de gás estava a ser construída em Dachau, mas nunca chegou a ser terminada.


Gaseamentos, contudo, aconteceram em Mauthausen, que na altura pertencia à Alemanha.

O programa de eutanásia nazi incluía quatro instituições (Hartheim próximo de Linz, Hadamar, Sonnestein próximo de Pirna, e Grafenegg), nas quais pessoas, física e mentalmente deficientes, foram mortas – muitas vezes com a ajuda de gás. Todas estas quatro instituições estavam localizadas em solo alemão.

Foram encerradas na sequência de protestos mas antes serviram como uma espécie de escola para assassínios em massa: a partir de 1942 os membros das SS que lá prestaram serviço foram transferidos para os grandes campos de concentração, tais como Treblinka, Sobibor e Belzec na Polónia."

Simon Wiesenthal

Viena, Áustria

(Clicar na imagem para aumentar)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Olá mãe

Que lindas palavras sobre uma mãe octogenária. Pedi-as emprestadas ao JotaCê Carranca e envio-tas com muito carinho a ti, minha mãe.
Rui Moio

Olá mãe
via A Minha Sanzala de JotaCê Carranca em 24/01/09
Hoje passei a ser filho duma octagenária. Estou de parabens por ter uma mãe assim que nem tu. Estou de parabens porque conseguiste fazer-me assim que nem eu sou. Estou de parabens, mãe, porque além de seres a Minha Mãe ainda és a Minha Amiga.
Obrigado mãe por me aguentares estes anos todos e ainda seres capaz de ralhar quando a razão te assiste.
Um beijo grande, mãe, por este dia que está agora a começar.

Sanzalando

Hitler's bodyguard: The Fuhrer was a good boss - Haaretz - Israel News

Hitler's bodyguard: The Fuhrer was a good boss - Haaretz - Israel News

http://www.haaretz.com/hasen/spages/1000937.html

My Role in Berlin on July 20, 1944

My Role in Berlin on July 20, 1944

A versão de Otto Remer do atentado contra Hitler de 20 de Julho de 1944.
Rui Moio

Fonte: This essay is from The Journal of Historical Review, Spring 1988 (Vol. 8, No. 1), pages 41-53. It is translated by Mark Weber from a chapter of Otto Ernst Remer’s memoir, Verschwörung und Verrat um Hitler (“Conspiracy and Treason Around Hitler”). A review of this book appears in the same Spring 1988 issue of the IHR Journal. This essay parallels Remer’s address at the Eighth IHR Conference (1987).

domingo, 25 de janeiro de 2009

Stella Piteira Santos

Stella Piteira Santos

via Caminhos da Memória de Maria Manuela Cruzeiro em 24/01/09
Sabíamos-te doente e frágil nos teus noventa e dois anos, mas a força da tua personalidade e a tua história fantástica de resistente e lutadora davam-nos a ilusão de eternidade, como eternas são as causas que abraçaste desde a juventude. Por isso recordo, da entrevista que te fiz em 2000 para o Projecto de História [...]


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

I Have a Dream - Uma reconstrução para o povo de Angola -

Também tivemos um sonho, igual a este mas... contrariamente ao sonho americano, o nosso, o do nosso povo, o povo do Portugal inteiro, o Portugal de todas as raças e dos cinco continentes foi cortado. Para todos nós, que éramos 22 milhões, este sonho não se concretizou. E não se concretizou por obra de um grupelho de militares e de políticos a soldo de interesses estrangeiros que se intitulavam e ainda se intitulam como os donos da Liberdade e da História.
Rui Moio

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Batalha de Carenque

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 21/01/09
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O PROCESSO QUE FICOU CONHECIDO por "Batalha de Carenque" remonta a 1986, quando dois finalistas da Licenciatura em Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa, Carlos Coke e Paulo Branquinho, meus ex-alunos, descobriram um vasto conjunto de pegadas de dinossáurios no fundo de uma pedreira abandonada, na altura a ser usada como vazadouro de entulhos e lixeira clandestina, em Pego Longo, concelho de Sintra, na vizinhança imediata de Carenque. Esta importante jazida paleontológica corresponde a uma superfície rochosa com cerca de duas centenas de pegadas, de onde sobressai, pela sua excepcional importância, um trilho com 132 metros de comprimento, no troço visível, formado por marcas subcirculares, com 50 a 60cm de diâmetro, atribuídas a um dinossáurio bípede. Além deste, considerado na altura o mais longo trilho contínuo da Europa, identificaram-se, na mesma superfície, pegadas tridáctilas atribuíveis a carnívoros (terópodes), parte delas igualmente organizadas em trilhos. O chão que suporta estas pegadas corresponde ao topo de uma delgada camada de calcário do Cretácico, com cerca de 95 milhões de anos, com 10 a 15cm de espessura, levemente basculada para Sul. Muito fracturada (à escala centimétrica), esta camada assenta sobre uma outra, bem mais espessa, de natureza argilosa, condições que dão grande fragilidade a esta jazida.
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Para além das consequências inevitáveis de degradação decorrentes do uso deste enorme buraco como vazadouro, fui alertado, em Maio de 1992, para o facto de o traçado da então projectada Circular Regional Exterior de Lisboa (CREL) vir a destruir a maior parte do trilho principal, precisamente no seu troço mais interessante. Louvavelmente, a Brisa, empresa interessada neste processo, apercebeu-se do valor patrimonial em causa, mantendo -se em consonância com o Museu Nacional de História Natural na procura de soluções que corrigissem uma tal situação, não desejável.
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Após uma longa batalha, de que a comunicação social de então deu ampla divulgação, a abertura dos túneis de Carenque foi, finalmente, a solução aceite pelo governo, representando para as finanças públicas um esforço acrescido, na ordem de um milhão e seiscentos mil contos (8 milhões de euros), merecedor de aplauso. Dois anos e meio depois, a 9 de Setembro de 1995, o então Primeiro-Ministro Cavaco Silva inaugurava a Circular Regional Exterior de Lisboa (CREL), tendo tido a atenção de me incluir na comitiva que com ele percorreu os túneis de Carenque sob as pegadas de dinossáurios que tanta tinta têm feito correr. Terminava, assim, uma primeira batalha entre os cifrões e a cultura de que esta, em boa hora, saiu vitoriosa. Mas a guerra não ficou ganha. Há, ainda, como todos sabemos, uma última batalha que é imperioso e urgente ganhar. Ganhá-la passa pela conveniente musealização do sítio, cujo projecto de arquitectura, "Museu e Centro de Interpretação de Pego Longo (Carenque)", aprovado pela Câmara de Sintra em 2001, aguarda há sete anos o necessário cabimento de verba. A sua concretização, que deve rondar, aos preços actuais, os 3,5 milhões de euros, não necessita ser encarada em bloco. Pode ser faseada no tempo, começando pelas peças mais urgentes e atractivas. (ver post "Há 95 milhões de anos, na região de Carenque" - [aqui]) Não é compreensível ter-se dispendido tanto dinheiro na abertura dos túneis, para salvaguarda da jazida, e não viabilizar, agora, o financiamento necessário à conclusão da obra prevista e tirar dela os dividendos que é lícito esperar como potencial pólo de atracção turística.
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Passados mais de treze anos sobre esta data, o trânsito automóvel flui normalmente sob um raro e valioso património, lamentavelmente deixado ao abandono. Entretanto, a jazida degrada-se sob a vigência de uma administração cega, surda e muda, indiferente aos milhões já ali investidos, não obstante a obra em falta representar muito pouco face à cifra já gasta com a abertura dos túneis.
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E quando, em nome dos euros, se argumenta contra este empreendimento, podemos responder com o enorme potencial turístico desta jazida. A topografia do terreno permite uma boa adaptação do local aos fins em vista, dispondo do lado SW de um pequeno relevo (residual da exploração da pedreira) adaptável, por excelência, a miradouro, de onde se pode observar, de um só golpe de vista e no conjunto, toda a camada – uma imensa laje pejada de pegadas – levemente basculada no sentido do local do observador, numa panorâmica de justificada e invulgar grandiosidade. Em acréscimo deste significativo potencial está o facto de a jazida se situar na vizinhança de uma grande metrópole e numa região de intensa procura turística (Sintra, Queluz, Belas) e, ainda, o de ser servida por duas importantes rodovias, a via rápida Lisboa-Sintra (IC-19), por Queluz, e a Circular Regional Externa de Lisboa (CREL-A9) que a torna acessível pelo nó de Belas e, no futuro, mais comodamente, pelo nó de Colaride.
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O reconhecimento desta jazida como valioso e excepcional relíquia geológica e paleontológica, à escala internacional, é hoje um dado adquirido. Assim e tendo em conta a condição privilegiada da região sintrense e a sua classificação, pela UNESCO, como Património Mundial, justifica-se todo o envolvimento que possa surgir, por parte das Administrações Local e Central, nesta realização, que transcende não só as fronteiras da autarquia, como também as do País. Todos sabemos que os dinossáurios constituem um tema de enorme atracção entre o público e que qualquer iniciativa neste domínio da paleontologia está votada ao sucesso. A exposição dos dinossáurios robotizados, levada a efeito pelo Museu Nacional de História Natural, assim o demonstrou. Nesta realidade, a Jazida de Pego Longo, convenientemente adaptada a uma oferta de turismo da natureza, de grande qualidade e suficientemente bem equipada e promovida, garante total rentabilidade a todo o investimento que ali se queira fazer.
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Pela minha parte, continuo a oferecer, graciosamente, o meu trabalho na concretização deste projecto. Como cidadão profundamente envolvido nesta causa, sinto-me no dever e no direito de nela voltar a insistir. Esquecidas dos poderes local e central, as pegadas de dinossáurios de Carenque estão bem vivas na mente de todos os que, como eu, sabem do que estão a falar, ou seja, os geólogos, docentes e investigadores nacionais nesta área científica e todos os especialistas internacionais que aqui acorreram, das Américas à China e à Mongólia, sem esquecer, claro, os nossos vizinhos da Europa. Estão, ainda, no coração de todos os que respeitam os valores da Natureza.
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Lembrando a sessão de dia 11 de Fevereiro de 1993, no Parlamento, na qual foi votada, por unanimidade (coisa rara), a recomendação ao executivo, no sentido da salvaguarda desta jazida paleontológica, apelo, uma vez mais, ao governo e à autarquia sintrense que reúnam vontades e interesses a fim de que se não perca este valioso património tão antigo quanto cento e doze mil vezes a História de Portugal.

Sopas de pão

Sopas de pão

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 18/01/09
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INICIALMENTE USADA para referir o pedaço de pão migado e embebido no caldo, a palavra sopa, com origem no germânico suppa, chegou-nos através do francês soupe.
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Fazer sopas de pão, deve ter começado por ser um acto de elementar economia. Foi um modo de aproveitar o pão duro, onde já se não metia o dente. Só molhado! Daí à prática corrente de avolumar com pão os magros cozinhados, foi um nunca mais acabar de experiências, em que as mais bem sucedidas estão hoje à nossa mesa e na de alguns restaurantes que descobriram o seu grande interesse gastronómico, face a uma clientela crescente em procura deste e de outros tipos de bens culturais.
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Entre nós, sopas também refere os pedaços de pão, em fatias ou nacos cortados à faca, ou migados à mão, quer os que já estão embebidos no caldo, quer os que ainda estão em vias de o ser. É neste último contexto que molhamos a sopa na travessa, num gesto generalizado que nos permitimos fazer a coberto da frase tradicional e de bom-tom, «isto não se deve fazer...», mas que sempre se faz. Era ainda neste contexto que o meu tio Almaça, com oficina de sapateiro à Porta Nova, sempre que se queria ver livre de mim, ordenava, gracejando, «vai lá dizer à tia que vá migando as sopas, que eu já lá levo o pão».
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Sopas de pão é assim uma redundância muito nossa, que evita possíveis confusões. Sopas de pão e açorda são sinónimos no sentido alentejano deste termo. Ao dizer sopas (no plural) disto ou daquilo referimo-nos a uma só confecção se esta for à base de pão. Mas se delas (sopas) não fizer parte o pão, estamos a falar de diferentes tipos de sopa (no singular). O alfacinha pega nas sopas de favas de uma qualquer receita alentejana, tira-lhe o pão, corta-lhe no alho e nos coentros e faz dela uma delicada e excelente sopa de favas, cremosa, bem batida num aveludado puré que, quando muito e eventualmente, servirá com umas migalhitas de pão torrado ou frito. O alentejano, ao contrário, agarra numa ligeira sopa de alface, carrega-lhe no alho e nos coentros, acrescenta-lhe queijo, escalfa-lhe uns ovos, miga-lhe pão em quantidade e transforma-a numas fartas e perfumadas sopas de alface.
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Entre as muitas sopas de pão ganharam relevo as açordas e os ensopados, sendo variável, consoante os lugares ou as famílias, o emprego destas expressões. Ensopados, no geral, são os de borrego, mas ouve-se falar de ensopado de lebre, de ervilhas ou de favas. Açordas são geralmente as de coentros ou de poejos, mas também as há de tomate e outras. A culinária não é ainda uma disciplina científica, antes segue os caminhos da vivência e, também, os da arte. Não há, pois, grande mal em não seguir à risca sistemáticas e nomenclaturas. Que cada um chame as coisas pelos nomes que aprendeu e de que mais gosta.
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Entre nós, as sopas de pão são normalmente comidas com colher e garfo. A colher leva à boca e o garfo ajuda, quer no ajeitar da sopa na colher, quer na divisão dos condutos. Só não precisam de garfo as tais, ditas "de mão no bolso", uma vez que, não havendo conduto, só trabalha a mão que agarra na colher.

Prof. Costa Leite Lumbrales e a Universidade

Prof. Costa Leite Lumbrales e a Universidade

via Os Veencidos Da Vida de Lory Boy em 20/01/09
"Nesta Universidade se formou(Salazar), nesta escola deu as suas aulas, dela saiu para realizar uma grande obra nacional que é o desenvolvimento lógico da sua actividade de intelectual. O seu espírito traduz também o espírito desta escola, velha mas cheia de mocidade, da mocidade que lhe emprestais e daquela com que procura sempre desempenhar a sua missão, servir os mais altos ideais, contribuir para o engrandecimento da Nação. Tem sido essa sempre a missão da Universidade de Coimbra, a sua tradição: ser alheia a lutas que dividam mas não aos movimentos que interessam à vida e ao engrandecimento da Nação. Não é política a Universidade; a sua missão é procurar a verdade, alheia a partidos, a sectarismos e a paixões. Mas porque é portuguesa e sempre tem servido a Nação, nunca foi surda ao apelo que esta lhe fizesse para a servir e engrandecer...

Foi moda em tempos dizer que a missão do intelectual é um devaneio do espírito, uma ânsia vaga de construir sistemas e agitar ideias, um desprendimento do mundo exterior — não só nas comodidades que oferece, mas nas realidades que parece impor. Que a verdade está dentro de cada um, ou melhor, que é cada um que cria a sua verdade, alheia aos outros, alheia ao mundo, porque o mundo é ele.

A Universidade trabalha sem cansaço para encontrar a verdade, para ensinar os homens a procurá-la e servi-la. Por isso serviu sempre a Nação como realidade indiscutível, sem dobrar a verdade aos interesses da política e sem se recusar em nome da ciência a servir a Nação. Uma e outra têm o seu lugar numa mesma escala de valores, uma e outra vivem da Verdade, e para servi-la.

Há sempre porém, quem repita a pergunta de Pilatos; mas certo é que a Verdade se revela a quem tem fé e quer conhecê-la, e quando o orgulho dos homens os leva a desprezá-la, ela mostra bem duramente, como nos nossos dias, que não consente a vida aos que pensam ter dentro de si a sua essência."

João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), Uma importante data comemorativa (Conf. do Prof. JPCLL sob o título: Salazar, professor e homem de Estado, lida no dia 27 de Abril de 1938, na Sala dos Capelos da Univ. de Coimbra), in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra vol.15, ano 1938-39, p.397-398


Prof. Costa Leite Lumbrales e o Nacionalismo Português

Prof. Costa Leite Lumbrales e o Nacionalismo Português

via Os Veencidos Da Vida de Lory Boy em 20/01/09
"O nacionalismo português não repousa nem em reivindicações externas ou desejos de expansão, nem numa preocupação de domínio económico, nem em reivindicações de raças, mas apenas na preocupação de fazer a Nação forte em si mesma, de não permitir que particularismos, sectarismos, interesses individuais mal compreendidos prejudiquem a sua grandeza, ofendam a sua unidade, lesem os seus interesses como um todo orgânico e uma realidade histórica que tem de viver pela solidariedade estreita entre os seus membros e tem de condicionar os interesses de cada um. Significa que não são legítimos interesses, actividades, agrupamentos, partidos que não se contenham dentro dos interesses da Nação, que os desconheçam como norma fundamental da sua actividade; que ponham problemas e procurem resolvê-los à luz de doutrinas, de critérios, de paixões, de interesses alheios ao da comunidade, que a história, o sangue, o sacrifício e a fé fizeram uma unidade e realidade que tem de presidir às actividades de todos os que dentro dela se contêm. Não existem interesses de classe fora do interesse nacional; o Estado é de todos, não pode ser de um partido ou de uma facção; a produção é um elemento de vida nacional, não uma mera fonte de lucros individuais. E como a harmonia do conjunto não pode resultar de acções divergentes e antagónicas, a produção e a vida económica não podem desenvolver-se sob o signo do lucro ou da avidez, mas sim sob o de uma função remunerada segundo o valor que tiver para a vida da Nação.

Esta não é um grupo fechado ou alheio aos outros, mas não se dilui neles. É uma realidade viva que colabora com as outras; mas para isso tem de ter asseguradas as condições essenciais da sua própria existência — sem o que não pode viver e colaborar na vida internacional. O mundo não é um aglomerado amorfo de indivíduos, mas um todo orgânico que não pode viver sem que tenham vida sã os órgãos que o compõem. Por isso mesmo, a consciência nacional, longe de se opor à colaboração das Nações, é indispensável à sua realização efectiva. Indivíduo e Estado, Nação e Humanidade, não são termos antagónicos e em luta permanente, mas elementos orgânicos de um composto que em Deus tem A expressão da sua unidade...

Por isso a vida nacional não pode ser o reflexo de um partido, de uma facção, de uma opinião perfilhada ou não pela maioria. A vida política tem que exprimir a verdade, a unidade da Nação, os seus interesses superiores, e são esses interesses, os reais, os da vida, que têm que estar representados janto do Estado para informar e dirigir a sua acção. Acode-nos ao espírito aquele trecho de PASCAL: «os que não amam a verdade, vão buscar à multidão dos que a negam o pretexto da sua contestação...»."

João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), Uma importante data comemorativa (Conf. do Prof. JPCLL sob o título: Salazar, professor e homem de Estado, lida no dia 27 de Abril de 1938, na Sala dos Capelos da Univ. de Coimbra), in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra vol.15, ano 1938-39, p.394-396

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O rei-fado

O rei-fado

via Caminhos da Memória de Caminhos da Memória em 19/01/09
Um texto de Paulo Pinto (*) No dia 20 de Janeiro de 1554, exactamente há 455 anos, nascia uma criança que iria mudar os destinos de Portugal. Era um rapaz. Órfão de pai. Viria a ser chamado de D. Sebastião e sob os seus ombros carregou as esperanças, as frustrações e os anseios de toda uma [...]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

In Memoriam T.C. - (Teresa Coelho)

In Memoriam T.C.

via Ciberescritas de admin em 18/01/09

(Clicar na imagem para ler)

E aqui podem ir ler depoimentos dos amigos e dos que a conheceram.

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domingo, 18 de janeiro de 2009

Afinal, ainda cá estão

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 14/01/09

AS PRIMEIRAS OSSADAS de dinossáurios estudadas cientificamente eram vistas como sendo fósseis de répteis de proporções gigantescas, pelo que foram imaginados como monstruosos, medonhos, terríveis. Partindo desta convicção, Richard Owen, primeiro director do Museu de História Natural de Londres, atribuiu-lhes, em 1841, o nome por que ficaram conhecidos e que resultou da reunião de dois elementos: dino, do grego deinós, que quer dizer medonho, terrível, e sáurio, do grego saurós, que significa lagarto, réptil.
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A partir dos seus restos ósseos chegámos às imagens que hoje temos destes animais do passado. A configuração corporal das respectivas réplicas assenta em aturado trabalho de investigação científica. As texturas e as cores da pele são, porém, pura imaginação. Para além do estudo minucioso dos seus inúmeros fósseis, procura-se hoje conhecer os seus hábitos. Estudam-se os seus movimentos e modos de locomoção e especula-se sobre a sua fisiologia e o seu psiquismo.
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Os dinossáurios fizeram a sua aparição há cerca de 235 milhões de anos, no primeiro período da Era Mesozóica, ou seja, no Triásico. Viveram, diversificaram-se e expandiram-se em todos os continentes, durante cerca de 170 milhões de anos. Entre eles houve quadrúpedes gigantescos, herbívoros, uns com mais de 30m de comprimento e outros altos como um prédio de 4 andares, pesando dezenas de toneladas. Houve bípedes, uns herbívoros, outros carnívoros, numa imensa variedade de formas e tamanhos, desde os muito pequenos aos gigantescos e monstruosos.
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Os dinossáurios do nosso imaginário desapareceram, quase totalmente, repito, quase totalmente, há cerca de 65 milhões de anos, de forma abrupta, na sequência de uma grande catástrofe, à escala global (cuja causa continua a ser tema de preocupação dos cientistas) que vitimou cerca de três quartos dos grupos biológicos que então viviam. Durante muitos milhões de anos foram animais terrestres, alguns vivendo na proximidade de rios, lagos ou pântanos, como sucede a muitos animais dos nossos dias. Nunca foram, porém, animais marinhos e só no final da era mesozóica, ao evoluírem para as aves, foram voadores. Sabemos hoje que as aves são descendentes de um ramo de dinossáurios corredores e carnívoros que, afinal, não se extinguiu. Portanto, ao comermos peru ou frango, estamos a comer dinossáurios. Ao vermos uma avestruz estamos a ver o maior dinossáurio dos dias de hoje e ao ouvirmos um rouxinol, estamos a escutar o canto de um dinossáurio muito pequenino.
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Os dinossáurios continuam, pois, entre nós nos museus, no cinema, na banda desenhada, numa variedade imensa de artigos à nossa disposição no comércio e, ainda, bem vivos, por todos os lugares da Terra, representados pela imensa variedade das aves.

18 de Janeiro de 1934

18 de Janeiro de 1934

via Caminhos da Memória de Irene Pimentel em 17/01/09
Logo que chegou à chefia do poder, em 5 de Julho de 1932, António de Oliveira Salazar começou a elaborar a Constituição sobre a qual assentaria o seu novo regime, o Estado Novo. Após ser plebiscitado, o texto constitucional foi promulgado em Abril de 1933, no ano em que o novo regime salazarista criou a [...]

As Lógicas Imperiais e os Processos Contemporâneos

As Lógicas Imperiais e os Processos Contemporâneos

via Folhas de História de História - Mestra da Vida em 17/01/09
http://br.groups.yahoo.com/group/dialogos_lusofonos/message/10709 http://babilonia.ulusofona.pt/arquivo/revista_4/pdf_rev4/Dossier_teotonio_souza.pdf É uma análise das lógicas coloniais-imperiais portuguesas a partir de nove memórias publicadas em Goa e em Portugal. São cinco os autores goeses e quatro portugueses. Quaquer delas já vem tarde para intervir e alterar o rumo. São pós-visões do passado, e o pós-visionismo põe em risco a capacidade de captar a contemporaneidade dos processos que acompanharam [...]

Matamos e morremos pelas identidades forjadas?

via Folhas de História de História - Mestra da Vida em 17/01/09
Todos os estudos recentes apontam para mutações constantes, mais ou menos sentidas. Não existe nenhuma identidade individual ou colectiva que possa ser considerada permanente. Identidades construidas em volta de língua, raça, casta, religião, nação, etc. são construções sociais com que se pretende defender algum interesse sectorial ou de um grupo social. Viveriamos todos melhor e com [...]

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Libertação do Tarrafal, 1 de Maio de 1974

Libertação do Tarrafal, 1 de Maio de 1974

via Caminhos da Memória de Joana Lopes em 16/01/09
No passado dia 29 de Outubro, realizou-se em Lisboa o colóquio Tarrafal, uma prisão, dois continentes, por iniciativa do Movimento «Não apaguem a memória!» Da intervenção de um dos antigos presos, Justino Pinto de Andrade, divulgamos hoje os minutos finais em que é descrita a libertação, no dia 1 de Maio de 1974, de todos os [...]

Lembrança de Teixeira Pinto/Pelundo I e Pelundo II

Lembrança de Teixeira Pinto - de 01Abr2004 (a)
Pelundo I - de 29Abri2004
Pelundo II - de 29Abri2004

Fonte: Blogue "Boacima"

(a) - No artigo é sumariamente relatada a emboscada onde foram mortos à traição a 20Abr1970 pelo PAIGC os Majores Passos Ramos Pereira da Silva e Osório

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

mais flagrante

mais flagrante

via portugal contemporâneo de noreply@blogger.com (Pedro Arroja) em 12/01/09

"O exemplo mais flagrante do provincianismo português é Eça de Queiroz. É o exemplo mais flagrante porque foi o escritor português que mais se preocupou (como todos os provincianos) em ser civilizado. As suas tentativas de ironia aterram não só pelo grau da falência, senão também pela inconsciência dela (...)
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Compare-se Eça de Queiroz, não direi já com Swift, mas, por exemplo, com Anatole France. Ver-se-à a diferença entre um jornalista, embora brilhante, de província, e um verdadeiro, se bem que um limitado, artista".
(Fernando Pessoa, O Provincianismo Português, 1929)

As palavras de Afonso Queiró

As palavras de Afonso Queiró

via Os Veencidos Da Vida de Lory Boy em 13/01/09
Palavras proferidas pelo Director da Faculdade de Direito, Doutor Afonso Rodrigues Queiró, no funeral do Doutor António de Oliveira Salazar, em 27 de Julho de 1970.

SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA
SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO
SENHORES VICE-PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL E PRESIDENTE DA CÂMARA CORPORATIVA
SENHORES MINISTROS, SECRETÁRIOS E SUBSECRETÁRIOS DE ESTADO
SENHORA VICE-REITORA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES

Não sei desde quando vem sendo praxe académica usarem os decanos das Faculdades de Coimbra da palavra na circunstância do enterramento dos seus professores, para exaltarem a sua personalidade e celebrarem seus merecimentos e suas obras; sei apenas que ora me apetece infringi-la, a essa praxe, tanto excede os meus dotes desempenhar-me adequadamente da obrigação de o fazer em relação à figura insigne de professor que foi o Doutor António de Oliveira Salazar.

Creio, aliás, que, em alturas como esta, se deveriam omitir palavras profanas, que mais nos fazem reparar nas coisas precárias e caducas da existência terrena dos homens do que meditar nas eternas e transcendentes para que o supremo transç da morte inevitavelmente aponta.

Sem timbre na minha voz nem vigor no meu verbo que me elevem à altura do encargo de traçar aqui o perfil do Homem, em toda a sua grandeza, direi simplesmente, em dois apontamentos, muito breves, do professor — um professor que parecia, em Coimbra, pela austeridade da vida, pela simplicidade quase monacal dos hábitos, pela autoridade moral, pela plena dedicação e amor às tarefas do espírito, pelo equilíbrio do pensamento e da acção, pela dignidade do porte, pela seriedade em tudo posta, um clérigo-doutor que, tendo vivido e ensinado séculos antes no Studiutn Generale, miraculosamente houvesse transposto os sucessivos tempos secularizantes para, em pleno século XX, servir de paradigma a universitários, de exemplo a estudantes e de modelo a todos.

Ora sucedeu que esse professor o foi de um feixe de disciplinas que imediata ou indirectamente tinham que ver com os problemas mais candentes da existência colectiva do nosso País nos anos vinte e seguintes, quais eram principalmente, como toda a gente sabe, o da situação caótica das suas finanças, o da carência de um mínimo de infraestruturas, o do atraso da sua economia e o da desordem política e social; e que o seu ensino delas — designadamente da Ciência das Finanças, da Economia Política e da Economia Social — não fora teórico e conceptualista, racionalista e livresco: fora vivo e aderente às realidades nacionais, constantemente por ele invocadas para desmentir ou confirmar teses e doutrinas.

Quer dizer: a Escola preparou o estadista em que, passada uma década, pouco mais ou menos, sobre o início da sua docência, veio a transformar-se o professor. As soluções que, primeiro na pasta das Finanças e depois na chefia do Governo, fez consagrar nas leis e na diuturna acção política e administrativa, tinha-as ele perfilhado já nas suas aulas desde que em Coimbra sucedera a Marnoco e Sousa no ensino das disciplinas econó-mico-sociais da Licenciatura em Direito.

De tal modo os cursos de Oliveira Salazar haviam sido já, em si, um projecto de acção política, Logos e Praxis entrelaçados e conviventes, de acordo com a ideia de que «a ciência é uma forma de actuar», que mal daria por que ele passara da cátedra de Coimbra para a cadeira curul do Terreiro do Paço quem pudesse figurar-se a ouvi-lo, sem estar ao corrente desse facto, a fazer certas das suas lições universitárias ou a ler os preâmbulos e exposições de motivos de algumas das suas grandes reformas legislativas ou o texto de determinados discursos seus, sobre temas politico-sociais.

É que, na verdade, Oliveira Salazar, uma vez no Governo, continuou igual a si próprio: perante o grande auditório do País, continuou a ser o professor que fora, ante os seus alunos, atentos e maravilhados, nas aulas.

Aliás, não foram apenas a dignidade da palavra e a objectividade imperturbável e intransigente das ideias que fizeram compreender e sentir a toda a gente que o professor universitário se transferira, sem se transmudar, de Coimbra para Lisboa.

Levou também consigo, para o aplicar e fazer observar no governo e na administração pública, sem desfalecimentos, todo o cabedal daqueles princípios deontológicos que, ele e outros grandes Mestres da Faculdade de Direito, seus contemporâneos, tinham definitivamente firmado e feito triunfar no seio dela, reagindo, obstinada a quase heroicamente, contra as expressões mais degradantes da corrupção que havia penetrado na própria Universidade, a partir da sociedade política da época da baixo liberalismo.

Mais do que professor, entendido como especialista ou bom conhecedor de certa ou certas matérias, o Doutor Oliveira Salazar foi, porém, um filósofo das coisas sociais e políticas — e foi como tal que ele veio a ser governante excepcionalíssimo. Não é o professor de Finanças, de Economia e de Direito Fiscal que marcou uma época na vida política da Nação, por grandes e benéficas que tenham sido, e foram-no, realmente, no consenso geral, as consequências da sua acção na governação do País, à frente do departamento da Fazenda. Marcou uma época na nossa História, de preferência, o filósofo que se encobria na figura do professor universitário — bastando que o Destino lhe proporcionasse a ocasião, para o poder revelar, à frente do Executivo. Platão disse, no diálogo da República, que seria bom qde os filósofos se tornassem reis ou que os reis e os príncipes se tornassem filósofos. Verificou-se com Salazar, no nosso País, durante dezenas de anos, este voto. Salazar foi filósofo, porque o ornou a sabedoria, a coragem, a temperança e o espírito de justiça — virtudes cardiais do homem de Estado, como nesse diálogo se defende; foi-o, ainda, na medida em que desprezou a opinião e pôs toda a sua fé no saber e na ciência — e foi filósofo, finalmente, enquanto soube elevar-se à altura da expressão teorética das suas próprias ideias e conceitos sobre o Estado e a governação.

Eis, Senhoras e Senhores, uma das facetas do Homem que vamos deixar aqui, para sempre — a única, repito, que julguei ser do meu dever, na qualidade em que vos falo, pôr muito concisamente em destaque. Esse Homem não morreu. Vive, e viverá, porque subiu e passou definitivamente a pertencer ao mundo imperecível do Espírito.
Disse.

(Publicado no Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol.46, 1970, pág. 220 e ss)



terça-feira, 13 de janeiro de 2009

da sexta pessoa

da sexta pessoa

via portugal contemporâneo de noreply@blogger.com (Pedro Arroja) em 12/01/09

"Parecemo-nos muito com os alemães. Como eles, agimos sempre em grupo, e cada um do grupo porque os outros agem. Por isso aqui, como na Alemanha, nunca é possível determinar responsabilidades; elas são sempre da sexta pessoa num caso onde só agiram cinco. Como os alemães, nós esperamos sempre pela voz de comando. Como eles, sofremos da doença da Autoridade - acatar criaturas que ninguém sabe por que são acatadas, citar nomes que nenhuma valorização objectiva autentica como citáveis, seguir chefes que nenhum gesto de competência nomeou para as responsabilidades da nação. Como os alemães, nós compensamos a nossa rígida disciplina fundamental, por uma insdisciplina superficial, de crianças que brincam à vida. E somos invejosos, grosseiros e bárbaros, de nosso verdadeiro feitio, porque tais são as qualidades de toda a criatura que a disciplina moeu, em que a individualidade se atrofiou.

Diferimos dos alemães, é certo, em certos pontos evidentes das realizações da vida. Mas a diferença é apenas aparente. Eles elevaram a disciplina social, temperamental neles como em nós, a um sistema de Estado e de governo; ao passo que nós, mais rigidamente disciplinados e coerentes, nunca infligimos a nossa rude disciplina social, especializando-a para um Estado ou para uma administração. Deixamo-la coerentemente entregue ao próprio vulto integral da sociedade. De aí a nossa decadência."
(Fernando Pessoa, ibid.)

orgia

Ser abrileiro é negar a Pátria, é negar a portugalidade, é trocar os valores altos de dignidade, honra, coragem solidariedade, altruísmo, grandeza, combatitividade, honestidade, por cobardia, entreguismo, facilitismo, deserção do cumprimento do dever de defender a Pátria, derrotismo, mesquinhez de espírito, alta-traição ao serviço das grandes potências do mundo, é defender a ideia de que Portugal não tem nem poderia ter um destino Histórico e de que a destruição do império foi algo que era necessário fazer-se porque a guerra estava perdida... é a alienação cobarde e racista de milhões de portugueses, é justificar o entreguismo do Ultramar defendendo a ideia de que na Pátria não cabiam as Províncias Ultramarinas nem as suas populações, é defender a ideia que no golpe abrilista não houve derramamento de sangue quando houve mais de um milhão de mortos.
Ser apelidado de abrileiro é, ou deveria ser, um insulto para qualquer HOMEM BOM que habite o nosso planeta.
Rui Moio

orgia
via portugal contemporâneo de noreply@blogger.com (Pedro Arroja) em 12/01/09

"Ser revolucionário é servir o inimigo. Ser liberal é odiar a pátria. A Democracia moderna é uma orgia de traidores".
(Fernando Pessoa, A Opinião Pública, 1919)


domingo, 11 de janeiro de 2009

Os meus livros

via Jacarandá de noreply@blogger.com (António Barreto) em 09/01/09
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UMA DAS MAIORES FRUSTRAÇÕES da minha vida consiste em não viver com os meus livros todos! Reunidos e arrumados, debaixo do mesmo tecto. Actualmente, tenho-os distribuídos por três locais diferentes: a minha casa, o meu escritório e o meu gabinete na Universidade. Sendo que tenho ainda umas caixas deles guardadas num antigo escritório.
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Por reflexo atávico, nunca deito fora um livro. Seja qual for. Isto faz com que o problema do espaço é crescente e só se resolveria com muitas centenas de metros quadrados. Não me queixo da minha casa, nem do meu escritório, pois são razoavelmente grandes. O problema é que os livros são ainda maiores. Houve alguém que disse que, ao contrário do provérbio estúpido, "o saber ocupa lugar"! Ocupa sim! E muito!
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O arranjo dos meus livros é relativamente clássico. Em primeiro lugar, por temas de trabalho ou interesse. Por exemplo, tenho secções mais ou menos organizadas de: História de Portugal moderna e contemporânea; sociedade portuguesa; estatísticas; Douro; vinhos; política; fotografia. Depois tenho secções por género: ficção; poesia; ensaio; pintura. Ou então: grandes clássicos do pensamento.
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Outra secção, enorme, é a de dicionários, vocabulários e enciclopédias. Não vivo nem trabalho sem um permanente recurso a estes instrumentos. Como "estou dividido" entre três locais, tenho muitas vezes de comprar dicionários e enciclopédias repetidos. Há um costume que estranho e que consiste em, numa mesa de amigos, ou num escritório da universidade, se discute um qualquer tema e há uma controvérsia sobre um nome, um autor, uma data, enfim, um facto. Pode estar-se a discutir horas, aos berros, e quase ninguém tem o reflexo simples de ir buscar um dicionário e encontrar a resposta. Tenho amigos que são capazes de discutir durante duas horas a data de nascimento de Masaccio! Ou o cognome de D. Afonso II! Têm mais prazer nisso do que simplesmente encontrar a verdade e passar à frente!
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Gosto muito de revistas, que vou lendo todos os dias, mas fujo delas, isto é, não as guardo. Nem revistas nem jornais. Não consigo viver com pilhas de jornais e revistas que se deixam de lado "para um dia ler" ou "para um dia recortar"... Já sei que nunca lerei, nem recortarei. E ocupam espaço a mais. E são tentações para "fazer colecção", colecção pela colecção (é preciso ter os números todos...), o que me irrita. As poucas "colecções" de revistas ou livros que tenho (como, por exemplo, a "Análise Social") são as que se tornaram indispensáveis para trabalhar e escrever. Quando tenho mais de três exemplaras do "Economist" ou da "The New York review of books", faço uma razia, tiro as páginas que realmente quero guardar e... tudo para o lixo!
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Dentro de cada secção da biblioteca, a intenção original, sempre reafirmada, nunca realizada, seria a de ter os livros arrumados por autor ou por época... Eis que não se consegue. Há um permanente desajuste entre o espaço previsto na estante, a dimensão da parede e a quantidade de livros que surge sobre esse tema... Já desisti. Há autores que, por acaso ou por necessidades de trabalho, estão bem colocados, com as suas obras seguidas... Há outros que estão divididos por várias estantes. Dentro das mesmas secções, claro, que nesse aspecto sou mais cumpridor.
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Há autores de quem tenho muitos livros. Sempre à espera de que sejam publicadas as "obras completas" em edição compacta, para poupar espaço. Assim fiz com Marx, Tocqueville, Malraux, Proust, Orwell, Chateaubriand, Tolstoi, Eça, Camilo e outros. O problema é que saem as obras completas, na Pléiade, na Aguilar, na Folio ou na Lello, compro-as imediatamente e... fico com todos, os dispersos e os reunidos em papel bíblia!
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O problema da diversidade de formatos não tem resolução. Por mais engenhocas que se seja. Já não vale a pena lutar. Ainda por cima, há cada vez mais a mania de fazer livros de formatos estranhos. Para dar nas vistas. De repente, aparece uma revista ou um livro (daqueles de mesa de café...) com 40 cm por 40 cm! Ou com 60 cm de altura! Não há nada a fazer. A não ser arranjar uma vala comum para esses descarados. Há gente assim, está sempre com invenções... Para os livros de fotografia, que são geralmente de grandes dimensões, mandei fazer uma estante adequada. O problema é que, pouco depois, começou a moda de fazer livros de fotografia em formato de bolso (alguns deles muito bons!). O que faz com que certas estantes mais se parecem com a boca de um velho e grande desdentado, com altos e baixos.
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Detesto livros no chão, livros em cima de armários, livros em locais pouco apropriados (quartos de banho, cozinhas, dispensas, garrafeira, etc.), livros nos corredores, livros nos vãos das janelas, livros em arcas, livros em caixas de cartão... Para já não falar de livros colocados na horizontal, por cima de livros arrumados na vertical! Ou de livros encostados na oblíqua! Por isso vou periodicamente condenando mais uma parede. Isto é, mando fazer estantes, do chão ao tecto, a fim de aumentar o espaço disponível. O que retira parede para ter algumas fotografias penduradas e bem visíveis diante de mim. Por vezes, quando olho, sinto-me cercado. Pior, sinto que vivo numa biblioteca. Que horror! E se, de repente, chegassem leitores?
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Raramente empresto livros. E só o faço a meia dúzia de pessoas de muita confiança. Se um dia alguém não me devolve um livro (em boas condições...), nunca mais! Vai direito para a lista negra! Raramente peço emprestados livros. Quando preciso, compro. Ou vou à biblioteca da Universidade. Mas, de preferência, compro. Reconheço que há qualquer coisa de perverso (ou de fetiche...) na posse de um livro.
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Gosto de comprar livros em boas livrarias, aquelas onde se faz perguntas e se obtém respostas. Onde se pode encomendar um livro. Acontece que já quase não há dessas livrarias. Compro também na FNAC, pois claro, onde a confusão e a desordem são totais, mas há lá empregados sabedores. Detesto comprar livros nos supermercados. E acontece-me frequentemente comprar livros em aeroportos. A princípio, irritava-me com a ideia de mandar vir livros da Amazon e de outros comerciantes da Internet. Mas depressa percebi que aquela via era genial. Encontra-se quase tudo o que se procura e compro muitos livros que não procurava, deleite supremo. Ainda por cima são baratos e chegam em boas condições. E é um verdadeiro prazer receber aqueles pacotes muito bem feitos, em casa, com os livros encomendados! Como é um prazer oferecer, à distância, um livro a alguém que se ama, por intermédio da Amazon, com embrulho e dedicatória!
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Detesto livros com traços de leitura feitos por outros. Notas, sublinhados, comentários ou exclamações. Quero lá saber o que outros disseram a propósito do que estou a ler! Eu próprio faço pouco uso dessas técnicas anti-ecológicas! Tomo notas em cadernos, folhas, etc., que por vezes guardo entre as páginas.
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Tenho alguns livros muito valiosos. Primeiras edições raras. Livros ilustrados dos séculos XVIII e XIX. Livros raros de carácter histórico. Mas em geral vieram parar às minhas mãos por amor, acaso, presente, destino, herança... Ou porque não existem edições modernas mais adequadas à leitura. Na verdade, não gosto de tratar os livros como se fossem peças de ourivesaria, de que, aliás, também não gosto. Ainda se fosse, por exemplo, uma "Bíblia" de Gutemberg, glosada e comentada por Lutero!... Ou "O Príncipe", anotado à mão por Napoleão!...
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Ainda não consegui realizar um sonho estúpido que tenho: fazer fichas, em Access, de todos os meus livros. Depois, fazer, também em Access, fichas de leitura, à medida que vou lendo. Mas rapidamente compreendo que tal método acabaria por tirar prazer e interesse na leitura e faria de mim uma espécie de "Robot" ou de guarda-livros. Na verdade, o que distingue a minha biblioteca de uma qualquer biblioteca pública é exactamente isso: visto-a. Como um casaco usado. Vivo com ela na pele. Ela tem tanto a minha marca, como eu tenho a dela. É mesmo uma união a sério, para a vida, para o melhor e o pior.
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Um dia, um amigo de poucas leituras veio a minha casa, olhou em volta, coçou o queixo e disparou: "Você leu isto tudo?". Confesso que, durante segundos, fiquei perplexo. Quase envergonhado. Com vontade de mentir e lhe dizer que sim, tinha ido tudo. Mas percebi a tempo que a reacção, além de covarde, era estúpida. Ler todos os livros que se tem em casa? Obras completas? Obras de referência? Manuais e tratados? Livros de estatística? Livros académicos? Dicionários? Enciclopédias? Percebi que só há duas hipóteses. Quem leu tudo o que tem casa, tem meia dúzia de livros. Ou está a mentir.
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Quantos livros tenho? Muitos!