segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Flutuantes como Espuma

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 06/09/09
SENDO O CRESCIMENTO da litosfera oceânica um facto plenamente comprovado, sabendo-se que os enrugamentos montanhosos não são suficientes para compensar esse alastramento e, uma vez que a Terra não está em expansão, é forçoso que haja, em simultâneo, destruição de litosfera, o que acontece ao longo das chamadas zonas de subducção, por mergulho e reabsorção por fusão no manto. Estas zonas estão associadas quer a arcos insulares, isto é, conjuntos de ilhas vulcânicas que se alongam em arco (Curillas, Aleutas e outras), quer a margens continentais de tipo andino, de que é exemplo a margem frontal à cordilheira dos Andes, no bordo ocidental da América do Sul. Nos arcos insulares, o contacto estabelece-se entre duas placas oceânicas em aproximação e, então, qualquer uma delas pode mergulhar sob a outra. Nas margens de tipo andino, a aproximação põe em confronto uma placa continental e uma oceânica, sendo esta que, por ser mais densa, mergulha, no geral, sob a outra. Parte dos sedimentos acumulados na margem continental, ao longo de dezenas de milhões de anos, acabam por ser enrugados e emergir, participando na formação de montanhas, como é o caso nas várias cadeias recentes (Alpes, Andes, Montanhas Rochosas, entre outras), ainda em construção e, portanto, activas. Quando a subducção engole a totalidade da placa oceânica situada entre dois blocos continentais em aproximação, eles acabam por colidir. Foi o que aconteceu nos Himalaias, há uns 40 milhões de anos, em resultado da colisão da Índia com o Sudoeste da Ásia. Nesta região verifica-se uma excepção à generalizada flutuabilidade da crosta continental. Uma porção considerável do continente indiano deslizou sob o continente eurasiático, sendo a causa da elevação do planalto do Pamir.

Tendo muita dificuldade em mergulhar no manto, os continentes encerram as mais antigas rochas do planeta, algumas com mais de 4000 milhões de anos. São, por assim dizer, entidades permanentes à superfície do planeta, quais jangadas à deriva. Flutuantes como a espuma, as placas litosféricas estão sujeitas a fragmentações, translações e subsequentes rearranjos, sempre à superfície do globo. Claude Allègre chamou-lhes l'écume de la Terre, a espuma da Terra. Mesmo o desgaste que sofrem, por erosão, não os destrói. Com efeito, os sedimentos resultantes da sua erosão acumulam-se nas respectivas margens e são-lhes devolvidos em episódios orogénicos posteriores.

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