quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Forças Armadas: Assim Se Vai Fazendo a História e Jornalismo

O jornal Público publicou um título "Tropas Portuguesas decapitaram em Angola". Segue resposta. Há 51 anos passou-se um dos Natais mais dolorosos de toda a nossa História colectiva. Angola estava a "arder" e o país em pé de guerra; Goa, Damão e Diu, estavam debaixo da pata militar da União Indiana, mas a esmagadora maioria da Nação estava coesa e pronta para a luta, à volta da lareira dos seus antepassados, com a velha cruz de Ourique ao peito, a espada numa mão e a charrua na outra. A vigília foi nossa! Hoje o Sr. Ministro ds Defesa escusa-se a ir visitar as tropas no Kosovo e no Afeganistão (onde não defendem terras nem gentes portuguesas), para poupar uns euros (maldita moeda). Sinais dos tempos...

Fiquem bem.


Perigosos opressores colonialistas eliminados pelos libertadores de Angola (1961)

Com parangonas e ar de escândalo, a edição do jornal “Público”, do pretérito dia 16 de Dezembro, entendeu dar a conhecer aos seus leitores que “tropas portuguesas decapitaram em Angola”, remetendo para páginas adentro os comentários a tais façanhas retiradas de um relatório de uma acção militar, em 27 de Abril de 1961, na sanzala Mihungo, Norte de Angola.

Este relatório terá sido encontrado nos arquivos da PIDE/DGS, na Torre do Tombo, constando de um livro recentemente editado. Ler mais

Presumo que o livro não trate só desta questão, mas foi esta que foi puxada à colação pelas duas jornalistas autoras do referido artigo, que enquadram o episódio na alegada “Guerra Colonial”, termos com que a ignorância atrevida e as ideologias malsãs teimam em apelidar o conflito havido.


O equilíbrio com que alguns dos entrevistados enquadra o evento não chega para ultrapassar o sentido critico, de repulsa e condenação que emana do artigo no seu todo e, especialmente, do seu titulo de 1ª página.


É claro que é fácil às duas moças jornalistas, que nunca cheiraram a pólvora, nem nos foguetes de Santo António, se façam de virgens ofendidas, por tão funesto acto; ou que burgueses, bem - postos na vida, após barriga cheia, se esmerem em dissertar sobre o “como” e o “deviam” as coisas se ter passado.


O que, seguramente, nunca fizeram foi colocar-se na situação daqueles que, há mais de 50 anos, foram confrontados com uma chacina hedionda. Sim, senhoras jornalistas, entrevistados e demais leitores, como é que pensam que reagiriam, já meditaram?

E curiosidade das curiosidades, em todo o artigo não aparece uma palavra de condenação relativamente aos terroristas genocidas da UPA e de quem a apoiou, armou e incentivou, por aquilo que fizeram![1]

A falta de vergonha na cara, desonestidade intelectual e a mais torpe parcialidade ideológica têm campeado em Portugal e tudo teremos que fazer para a erradicar da sociedade, um dia!


Por outro lado, não conheço povo mais masoquista do que aquele a que pertenço e que se compraz em autoflagelar-se – ainda por cima sem motivo para tal – ao ponto, e por ex., do cineasta português, mais consagrado de todos os tempos, se ter lembrado de fazer um filme só com derrotas que os portugueses sofreram na sua vetusta História…[2]

Não tenho qualquer dúvida que o relatório aludido é verdadeiro e que o caso relatado não foi o único que ocorreu. Isto é, não foi a única vez que se cortaram cabeças aos bandidos que nos retalharam a carne e os haveres – embora, creio, nunca se o tivesse feito a pessoas (?) vivas.


Quero acrescentar, para eventual escândalo de muitos que, apesar do horror da cena, ela se justificou. E isto não tem nada a ver com a estafada afirmação de que todas as guerras acarretam actos de violência gratuita e inumana.


Em primeiro lugar, sobretudo para os mais distraídos, deve começar por se dizer que não fomos nós que começámos…


Na imagem, um soba esventrado pelos terroristas da UPA (norte de Angola, 1961)

Depois a UPA provocou o genocídio, com inicio em 15 de Março de 1961, deliberadamente – e, também, ainda não vi ninguém preocupado em julgar os responsáveis nos tribunais internacionais, que vão sendo postos de pé para julgarem os inimigos das grandes potências, leia-se EUA e Inglaterra.

O objectivo, já ensaiado, com sucesso, no Congo Belga, era causar o pânico e o terror, provocando a debandada dos portugueses brancos e a fuga e o choque das populações indígenas.


Enganaram-se, pois os portugueses não são belgas…


Para além da aplicação do “principio” de que nas guerras se têm de aplicar os meios que melhor neutralizam as tácticas e armamento do inimigo foi, neste caso especifico, necessário usar pontualmente este método, não só para evitar que a UPA continuasse a fazer barbaridades, como a causar real medo a tal corja de assassinos, cujas hordas drogadas por feiticeiros, estavam inculcadas da ideia de que eram invulneráveis às balas.


Além disso a separação da cabeça do corpo tinha um significado religioso, pois para as crenças daquela gente, tal impedia uma futura ressurreição.



E, o que é certo é que a “táctica” teve um sucesso fulminante, pois ao fim dos primeiros dois meses, os actos selvagens por parte da UPA terminaram.

O PAIGC e a FRELIMO quando desencadearam a subversão, respectivamente, na Guiné (1963) e Moçambique (1964), não cometeram os mesmos erros.


O ocorrido não põe em causa a civilidade e, até, o humanismo com que as tropas portuguesas se comportaram na sua esmagadora maioria, em todo o longo conflito.


A Instituição Militar portuguesa tem quase 900 anos de existência e não tem pejo em se confrontar com qualquer “Exército” das nações mais civilizadas, ou outras, no modo como sempre combateu, relativamente às leis da guerra e sua evolução pelos séculos fora.


E foi sempre fiel cumpridora das convenções internacionais assinadas pelos diferentes governos portugueses, ao longo dos tempos.


Penso que isto é claro mesmo para os desertores e traidores que foram pontuando a nossa existência…


Só não estou seguro do modo como foram decididas as poucas acções deste tipo desencadeadas pelas nossas tropas e qual a cadeia de comando e directivas (se é que alguma) envolvidos. Mas já era tempo de, quem de direito, tornar público, oficialmente, o que se sabe que se passou, pois não parece que haja nada a esconder.


O mesmo se aplica à história de “Wiriamu”, que já tresanda!

Jornalistas, comentadores e “historiadores”, à falta de melhor, ressuscitam o caso quase com sincronia de calendário – é uma espécie de disco riscado – e nunca se os vê preocupados com os milhares (milhares, leram bem?), de acções violentas, raptos, bombardeamentos, trabalho forçado, assassinatos, etc., que a FNLA, o MPLA, a UNITA, o PAIGC e a FRELIMO fizeram contra as populações de todas as cores que queriam continuar portuguesas.


Só mesmo com um pano encharcado no “fácies”![3]
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[1]UPA, União dos Povos de Angola, organização independentista baseada no ex-Congo Belga e chefiada por Holden Roberto.
[2]Já terão pensado, também, naquilo que as populações portuguesas faziam aos franceses invasores (1807-1811), quando os apanhavam à mão, depois das barbaridades que eles cá fizeram?
[3]Em português Vicentino (de Gil Vicente), lê-se “tromba”.

 João José Brandão Ferreira
Ten. Cor. Piloto Aviador (ref.) - Cmd. Linha Aérea
21 de Dezembro de 2012

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