segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O Complexo de Culpa dos Colonizadores

O Complexo de Culpa dos Colonizadores

via Mente Vertical by Simão Salgado on 12/15/09
Foram os interesses que levaram as nações europeias, no século passado, ao assalto da África, assim como são os interesses que movem hoje no mesmo sentido as actuais superpotências: Rússia, China e Estados Unidos da América. Mas não há duvida de que, ao lado do aproveitamento económico das terras ocupadas, os colonialistas fizeram muitos beneficios. Se o imperialismo europeu e norte-americano teve ás vezes aspectos atrozmente negativos, no caso especial da África realizaram os colonialistas uma obra altamente meritória. Negá-la, esquece-la, não a apresentar como contrapartida aos idealismos independentistas do nosso tempo e ir atrás do logro, chorando lágrimas de arrependimento, é sobretudo injusto. Há trinta anos, um belga, Fred van der Linden, apontava contra os cantadores ceguinhos, acompanhados das falácias de Rousseau, a obra realizada pelos coloniadores em beneficio de povos sujeitos ainda a práticas bárbaras, a sacrificios humanos e à autoridade de chefes despóticos, injustos e cruéis.

A esses povos o colonizador levou antes de mais nada a paz e a segurança. Foram os colonizadores quem pôs fim ás guerras tribais e ao tráfico da escravatura – que fora durante séculos negócio corrente entre os chefes nativos e os negreiros e um direito normal do guerreiro vitorioso. Levaram aos povos autóctones o conhecimento de novas culturas, de sentido universalista, que os alçavam à consciência de membros da grande familia humana e de filhos do mesmo Deus. Organizaram o estudo e a luta contra as doenças, abriram hospitais, sanatórios, lazaretos, consultórios, laboratórios de análises, ordenaram o ensino da medicina e enfermagem, multiplicaram as campanhas de desparasitação, quininização, rastreio da tuberculose, combate aos agentes patogénicos. É de notar, no combate à mosca tzé-tzé, causa da doença do sono, a actividade dos médicos portugueses, que praticamente erradicaram esta doença dos nossos territórios. Generalizaram o ensino primário, abriram escolas técnicas e secundárias, universidades e institutos superiores de investigação. Os nossos institutos de investigação veterinária e agricola em Angola, por exemplo, eram organismos de categoria intenacional.

O colonialismo fez leis de trabalho e de previdência social, estudou os melhores métodos de cultura das terras e da criação de gado, aproveitou fontes de energia, instalou industrias, construiu portos maritimos, rasgou estradas, caminhos de ferro e pistas de aeroportos, edificou cidades, estabeleceu ligações terrestres, maritimas e aéreas, com todo o mundo. Não têm as nações colonizadoras em Àfrica, dum modo geral, razões para se sentirem culpadas do que por lá fizeram. Porque, a par de erros cometidos – e alguns desmedidamente avolumados pelos facciosismos da propaganda – há toda uma obra de trabalho, de progresso, de promoção social, que os africanos mais tarde hão-de lembrar reconhecidos e que para os europeus será sempre motivo de orgulho e não de complexo de culpa, injusto e absurdo. Pode dizer-se que até nalguns erros a obra dos colonizadores ficou. Tal o caso dos limites das novas nações africanas. Foram talhadas com fronteiras artificiais, no arbitrio dos acordos entre as potências europeias. Muitas separaram grupos étnicos que ficaram divididos por dois paises novos, parte num, parte noutro. Pois apesar disso é de supor que os novos estados fiquem com as fronteiras convencionadas pelos colonizadores e dentro delas desenvolvam, progridam e façam a sua História.

Conta-se que, depois do 25 de Abril, um diplomata do Leste europeu visitou Lourenço Marques. Acompanhou-o ali um dos dirigentes da FRELIMO apontou indignado para as palhotas:

-Isto é uma herança do colonialismo!
O diplomata do Leste sorriu e comentou:
-Isto aqui é África. A herança do colonialismo está ali.
E apontava para os altos prédios que se erguiam imponentes a umas centenas de metros...

Fonte: Barradas de Oliveira – Quando os Cravos Murcham

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