sexta-feira, 26 de março de 2010

The End of Work

via Um Homem das Cidades by Diogo on 3/24/10

Introdução à edição de 2000 do livro «O FIM DO TRABALHO [The End of Work]»

Por Jeremy Rifkin


Durante os cinco anos que passaram desde que publiquei "O Fim do Trabalho", o desemprego estrutural manteve-se perigosamente elevado na Europa e noutros países do mundo, não obstante ganhos tanto na produtividade global como no produto interno bruto. Em 1995, 800 milhões de pessoas estavam desempregadas ou subempregadas. Hoje [2000], mais de mil milhões de pessoas encontram-se numa destas duas categorias.

Paradoxalmente, nos Estados Unidos, falando numa das maiores nações industriais, o desemprego baixou para um recorde de 4%, levantando a questão se o país teria sozinho encontrado a fórmula do sucesso na nova economia. Na realidade, os ganhos de emprego nos Estados Unidos têm menos a ver com razões económicas e mais com uma combinação de remendos a curto prazo que podem dar a aparência de uma economia robusta, mas que escondem uma negra realidade.

Para começar, os Estados Unidos contam os seus trabalhadores desempregados de uma forma muito limitada. Se os benefícios de um trabalhador desempregado acabam e ele ou ela desistem de procurar trabalho, são considerados como trabalhadores "desistentes" e não contam para os números oficiais do desemprego. Pode-se caminhar pelas ruas de qualquer cidade americana e encontrar um grande número de homens e mulheres desempregados. No entanto, poucos deles são considerados "desempregados" pelo ministério do trabalho norte-americano. Em segundo lugar, por incrível que possa parecer, 2% de toda a força de trabalho masculina nos Estados Unidos está actualmente na prisão, de longe a maior percentagem de trabalhadores encarcerados em qualquer país do mundo. Em terceiro lugar, a economia americana trouxe de volta ao trabalho um número recorde de desempregados americanos nos últimos oito anos, criando uma inédita força de trabalho "just in time". Hoje, milhões de trabalhadores americanos são alugados aos empregadores por organizações de trabalho temporário. Milhões deles que outrora tiveram trabalhos a tempo inteiro com os benefícios inerentes, estão agora a trabalhar com contratos a prazo como consultores ou freelancers. Enquanto os níveis de desempregados diminuíram, o número de trabalhadores subempregados aumentou significativamente.

Finalmente, o milagre americano tem, em larga medida, sido comprado a crédito. É impossível compreender a redução dramática do desemprego nos Estados Unidos nos anos mais recentes sem examinar a estreita relação entre a criação de emprego e o crescimento recorde do crédito ao consumo. Este tem vindo a crescer quase há uma década. Companhias de cartões de crédito estão a conceder crédito a níveis sem precedentes. Milhões de consumidores americanos estão a comprar a crédito – e, por isso, milhões de outros americanos regressaram ao trabalho para fabricar os bens e serviços que são comprados.

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A substituição a curto prazo de crédito barato em vez de uma larga redistribuição dos frutos de novos ganhos de produtividade na forma de aumentos de rendimentos e benefícios é um assunto que tem recebido pouca, se alguma, atenção entre os economistas. Até agora, mantém-se o facto de grandes revoluções tecnológicas – como a substituição da máquina a vapor pela electricidade – se espalharem em regra rapidamente, logo que todos os factores críticos estejam presentes. (É bom lembrar que levou várias décadas até o electro-dínamo entrar em operação e obter êxito. Logo que, contudo, todas as condições necessárias se concretizaram, o novo paradigma tecnológico mudou em todas as indústrias em menos de uma década). O problema é que é necessária pelo menos uma geração ou mais até uma nova tecnologia ter começado a operar, para que os movimentos sociais ganhem a devida consistência e força para exigir uma parte justa nos vastos ganhos de produtividade proporcionados pela nova tecnologia. O mesmo fenómeno está a ocorrer hoje. Os ganhos de produtividade trazidos pelas revoluções nas tecnologias de informação e telecomunicações estão finalmente a ser sentidas e, no processo, virtualmente todas as grandes indústrias estão a sentir uma subutilização global da sua capacidade e procura insuficiente pelos consumidores.

[...]

Escondendo os números do desemprego, encarcerando um grande número de trabalhadores masculinos, criando uma força de trabalho "just in time", e aumentando o crédito ao consumo para lubrificar o motor económico, são tudo medidas débeis e temporárias que, no fim de contas, se mostrarão ineficazes a lidar com o desemprego estrutural a longo prazo causado pelo avanço tecnológico e o deslocamento organizacional dos trabalhadores na nova economia. O século XXI será crescentemente caracterizado por uma transição de um emprego de massas para um emprego de elites à medida que mais e mais trabalho na agricultura, indústria e serviços forem executados por tecnologia inteligente. O resultado será que os trabalhadores mais baratos do mundo – desde as linhas de produção da fábrica aos gabinetes profissionais – não serão tão baratos e eficientes como o software inteligente e o wet-ware [software com capacidade lógica humana] que estão aí a chegar para os substituir.

Em meados do século vinte e um, computadores, robotização, biotecnologias e nano-tecnologias serão capazes de produzir bens e serviços baratos e em abundância para a população humana mundial, empregando uma fracção desse trabalho humano mundial no processo. Baseados nas tendências actuais e futuras, na agricultura, na indústria e nos sectores de serviços, no ano 2050, será necessário menos de cinco por cento da população humana do planeta – trabalhando a par de tecnologia inteligente – para produzir todos os bens e serviços necessários à raça humana. Só uma pequena minoria dos CEO (diretores-executivos) com quem falei está convencida que serão necessárias grandes quantidades de trabalho humano para produzir os convencionais bens e serviços daqui a 50 anos. Praticamente todos os outros acreditam que a tecnologia inteligente será a força de trabalho do futuro.

A grande questão será redefinir o papel do ser humano num mundo que não necessitará de quase nenhum trabalho físico e mental humano. Temos ainda de criar uma nova visão social e um novo contrato social suficientemente forte para corresponder ao potencial das novas tecnologias que vão ser introduzidas nas nossas vidas. Até que ponto vamos ser capazes de o fazer, determinará em larga medida se iremos experimentar uma nova renascença ou um período de grande revolta social neste século que agora começou.

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