domingo, 10 de maio de 2009

Açores, um laboratório vulcanológico desaproveitado

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 10/05/09
Vulcão do Pico
.
JÁ O TENHO ESCRITO por diversas vezes e afirmado em vários fóruns que é lamentável que não se promova uma certa regionalização no ensino da Geologia, nesta e noutras parcelas do território nacional. Aqui, onde o programa oficial é exactamente o mesmo que vigora nas escolas do continente, os professores, ao cumpri-lo obrigatoriamente, não lhes resta tempo para abordar, sequer, a única matéria face à qual dispõem de exemplos didácticos bem concretos, variados e abundantes.
-
No conjunto das suas nove e belas ilhas, os Açores são um laboratório vulcanológico do maior interesse, excepcional, tendo em conta, não só as múltiplas expressões de uma prolongada e complexa actividade vulcânica passada e presente, como também o quadro tectónico, à escala global, onde se inserem, dada a sua localização no encontro de três grandes placas litosféricas (americana, eurasiática e africana), num chamado "ponto triplo", sobreposto a um muito provável hot spot (ponto quente), entendido como uma imensa fonte de calor em profundidade, no manto superior, e sem esquecer as investigações em curso nos fundos marinhos envolventes, com destaque para o hidrotermalismo a nível do substrato oceânico.
-
Vêm estas considerações a propósito da recente instalação, no Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (OVGA), em São Miguel, de um terminal electrónico que vai possibilitar ao cidadão, em geral, e aos estudantes, em particular, a observação em tempo real de alguns vulcões activos neste nosso planeta e ouvir as explicações que sobre eles são dadas por especialistas. Inserido na Rede Vulcanológica Internacional, o OVGA é mais um argumento a favor desta possibilidade de permitir à Região Autónoma promover o ensino, a sério, da Vulcanologia e demais temas a ela associados, nomeadamente, Petrologia, Geoquímica, Geodinâmica, Sismologia, Geotermia, entre os mais destacáveis.

Caldeira de colapso do Faial
.
Cones vulcânicos imponentes e embrionários, testemunhos dos mais variados tipos de actividade, desde as escoadas lávicas de basalto às violentamente explosivas, com pomitos e ignimbritos, caldeiras de colapso, macro e microssismos, fumarolas e outras expressões de vulcanismo residual, há de tudo nestas belas paisagens da Macaronésia.
-
E uma coisa é certa. A experiência mostra que um ensino deste tipo, praticando e aprofundando um dado tema, cria hábitos de trabalho e incentiva a procura da excelência, com reflexos positivos numa melhor atitude face às restantes disciplinas curriculares.

.
«DN» de 9 de Maio de 2009

Sem comentários: