sexta-feira, 2 de outubro de 2009

António de Oliveira Salazar. O dedo de Deus

António de Oliveira Salazar. O dedo de Deus

via universidade de Gil Gonçalves em 28/09/09

Fernando Correia da Silva

Numa primeira fase ponho à disposição dos rebeldes os nossos portos e os nossos caminhos de ferro para o aprovisionamento de víveres, armas e munições. Numa segunda fase, também permito que os meus legionários arregimentem 8000 voluntários para combater o bolchevismo em Espanha. São os nossos Viriatos.

http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm

A Alemanha e a Itália apoiam os nacionalistas espanhóis. A França e a Inglaterra optam pela não-intervenção e assim condenam à derrota os vermelhos. Para alguma coisa havia de nos servir a Democracia nesses dois países...

Vencedor da guerra civil, e incentivado pelo falangista Serrano Suñer, Franco pensará agora anexar-nos. Mando avisá-lo: mal as suas tropas se concentrem na fronteira, de imediato accionarei o velho Tratado de Aliança entre Portugal e o Reino Unido. Repare ele que a Segunda Guerra Mundial não tarda aí, a guerra civil que devastou a sua Espanha foi o ensaio geral. E que se os nacionalistas espanhóis se sentem obrigados a alinhar com a Alemanha, eu sinto-me obrigado a alinhar com a Inglaterra em virtude da nossa Aliança. Se tal acontecer, sacrificados aos interesses de outras potências serão os nossos povos. Realço ainda que os regimes de Espanha e Portugal são idênticos: católicos, autoritários, antiliberais, antiparlamentares e antidemocráticos. Será sinal que Deus nos manda para se constituir aquém Pirinéus um bloco neutral, nem a favor da Grã-Bretanha, nem a favor da Alemanha, mas só a nosso favor. Assim defenderemos os povos da Península e a sobrevivência dos nossos regimes. Ou não estais vós, espanhóis, cansados de tanta guerra? Eu, por meu lado, para evitar envolver-me no próximo conflito europeu, já declarei publicamente:

- Somos sobretudo uma potência atlântica, presos pela natureza à Espanha, política e economicamente debruçados sobre o mar e as colónias.

Depois de muitas discussões, de avanços e recuos, a 13 de Março de 1939 consigo finalmente assinar com a Espanha o Tratado de Amizade e Não Agressão. Vencido o bolchevismo espanhol, que era o perigo maior, assim desarmo o menor. Ao mesmo tempo alivio a pressão britânica sobre o meu Governo; por causa de Gibraltar e do acesso ao Mediterrâneo, convém-lhes a neutralidade da Península. E a Alemanha desistirá de forçar a Espanha a entrar em guerra.

Há muitas formas de matar pulgas, diria a Maria...

O DEDO DE DEUS

Em 1940 assino a Concordata com a Santa Sé. Não vou restaurar o poder da Igreja, não lhe devolvo os seus haveres expropriados pela República em 1911, não vou abolir o divórcio. Mas isento a Igreja e o clero do pagamento de impostos ou contribuições, quaisquer que sejam. Deus, Pátria e Família, é evidente, mas quem manda sou eu! É um bom acordo para a Igreja e o Manuel Cerejeira sabe disso.

Na carta pastoral de 1942, bodas de prata das aparições de Fátima, os bispos já dizem que, nas mudanças operadas da Primeira República para o Estado Novo, poder-se-á ver o dedo de Deus.

E em 1945, a propósito de uma outra visão da Irmã Lúcia, o Cerejeira escreve-me: "O facto de ser a nossa paz um favor do Céu (predito pela Irmã Lúcia), não te tira nem diminui o mérito. Pelo contrário, faz de ti um eleito, quase um ungido de Deus. Foste tu o escolhido para realizar o milagre".

Até que enfim...

O MUNDO PORTUGUÊS

"A nossa paz...", dirá a Irmã Lúcia. Antecipo: a paz que eu forjei e o passado glorioso que me forjou. Os heróis é que fazem a História, não são os povos. Felizes os povos que têm heróis a conduzi-los. Ontem demos novos mundos ao mundo, hoje somos um oásis de paz num mundo em guerra. É isso mesmo que torno evidente em 1940, com a Exposição do Mundo Português. Ali mesmo, à beira-Tejo, não muito longe de onde partiram as naus do Vasco da Gama. Comemoramos oito séculos sobre a Fundação da nacionalidade em 1140, e três sobre a da Restauração, em 1640. Dois homens me ajudam a planear a Exposição: António Ferro com epopeias escritas, faladas, esculpidas e pintadas e Duarte Pacheco com a imponência dos pavilhões. Um, é o meu Ministro da Propaganda. Outro, é o meu Ministro das Obras Públicas, que já as fez sumptuosas, como convém que sejam as do Estado. Dois frenéticos que, por ora, me servem bem.

Mando que na Exposição também sejam alojados, em palhoças, uns tantos pretos e pretas, adultos e crianças, primitivos que retirámos da selva... Que todos admirem a obra dos nossos missionários em África! Aquele pretos, bem doutrinados, bons cristãos podem ainda vir a ser. De segunda ou terceira, porém cristãos.

http://www.vidaslusofonas.pt/salazar.htm
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