terça-feira, 31 de março de 2009

Relações entre a PIDE/DGS e a CIA

via Caminhos da Memória de Irene Pimentel em 30/03/09
A PIDE começou a chamar a atenção da Central Intelligence Agency (CIA), em1949, quando Portugal ingressou na Aliança Atlântica (NATO). Analistas dessa agência de Intelligence norte-americana consideraram que aquela polícia política tinha adquirido, em Portugal, um extraordinário poder, efectuava prisões arbitrárias, utilizava a brutalidade física e detinha presos na cadeia por prazo indefinido [1]. Depois, [...]

segunda-feira, 30 de março de 2009

Aljubarrota por António Sardinha

via nonas de nonas em 29/03/09
«Só Nun`Álvares persistiria, — só Nun`Álvares teimara, cheio do sentido religioso duma predestinação a cumprir.» (p.220)
«Saído da nobreza, D. Nuno tira dela as virtudes precisas para acudir à crise de que depende a sorte do Portugal futuro e aproveita o vento incendiário da rebelião que nos parece devorar para assentar solidamente a independência da nossa terra. Tal é a vocação desse herói extraordinário, que, como Joana d`Arc, é um verdadeiro enviado providencial.
Portugal rompia, deste modo, do seu nacionalismo instintivo para a categoria já estável duma nacionalidade, graças à acção iluminada do Condestabre. (...) Aljubarrota marca a passagem duma fase embrionária e latente da Pátria para a sua maioridade reconhecida, de agora em diante, nos vínculos do sangue e da terra. A Grei vai surgir do choque doloroso duma hora mais longa do que as longas passadas dum século. E Portugal atira-se para o caminho do engrandecimento, com o seu génio já clarificado na vocação colectiva da nacionalidade que se conhece e possui enfim.
Não é outra a lição de Aljubarrota, cuja lembrança Portugal nos manda que a meditemos, para honra nossa e louvor dos nossos Mestres. É hoje tão incerto como então o nosso destino. Mas um acto de fé naquele esforço de outrora, que dorme dentro de nós o sono do Encoberto, vivificará talvez, no sonambulismo vergonhoso em que nos estagnamos, as energias de milagre que nunca nos faltaram, sempre que para elas houve alguém que apelasse. É esse o encargo que pertence à mocidade do nosso país mais do que a ninguém.
Não nos amedrontem os negrumes de que se carrega o dia de amanhã! A estrada a pisar-se é só uma e já Deus nos fez a mercê de nos ensinar qual ela seja. Se os perigos, aumentando, nos procuram como ferros de espada, tanto melhor! A nossa existência encher-se-á dum sabor de virtude e de heroísmo, por onde há-de regressar à nossa terra o património esquecido da sua glória e da sua grandeza. Só assim seremos dignos da pátria que nos foi transmitida como um bem de família e que, como um bem de família, é preciso defender e conservar! (pp. 227/228)

António Sardinha
In «Na feira dos mitos», cap. Aljubarrota, 2.ª edição, Edições Gama, 1942, pp. 227/228.

Nun`Álvares por António Sardinha

via nonas de nonas em 29/03/09
NUN`ÁLVARES

Foi ontem dia de Nun`Álvares pela comemoração nacional do seu nascimento. Essa figura erguida, uma das maiores da nossa história, é na sua dupla posição de guerreiro e de santo a incarnação perfeita da alma de Portugal. Ninguém como ele teve o gládio para manter a justiça e para defender a terra. Ninguém como ele soube o poder do espírito quando se recolhe em Deus e não confia senão na força superior duma aspiração imortal! Entre a Espada e a Cruz decorreu feliz e gloriosa a existência passada da nossa Pátria. À Espada e à Cruz nós agradeceremos ainda o acto de milagre que nos há-de restituir ao caminho perdido da nossa vocação de povo.
Sobre Nun`Álvares pesa a ignorância imperdoável de quanto ele nos merece como herói representativo da nacionalidade. Oliveira Martins surpreendeu-o em acasos brilhantes do seu brilhantíssimo talento. Mas a compreensão total do grande Condestabre não a soube abranger o historiador, enevoada a sua inteligência pelas piores bastardias filosóficas. Um aspecto há, notável, no livro de Oliveira Martins. É aquele em que o carácter do herói se destaca como formado moralmente pela influência mística da Cavalaria nos seus votos permanentes de sacrifício e de castidade. Oliveira Martins subtraiu-se assim, pela visão do que fora a Idade Média, às ideias dominantes no seu tempo, que consideravam os fenómenos místicos, debaixo da influência intelectual de Charcot, como puras manifestações patológicas. De resto, a Vida de Nun`Álvares vale mais como subsídio para a biografia mental do seu autor do que propriamente como o estudo que Portugal deve ao extraordinário patrono da nossa independência.
Nas Crónicas, — na singeleza gótica das suas páginas, é que nós podemos sentir bem Nun`Álvares em toda a sua plenitude e em todo o alvoroço do seu coração de Cavaleiro e de Monge. É um compromisso de honra, cujo não cumprimento nos cobre a nós de vexame, redimirmos Nun`Álvares das falsificações literárias em que o seu nome se vê corrompido e corrompida a sua acção virtuosa e salvadora. Junqueiro, num panfleto que é desforra atávica da sua ascendência israelita contra a nossa disciplina católica e monárquica, serviu-se do Condestabre como braço de anátema que o ódio político do poeta precisava de armar na indignação retórica dos seus verbalismos truculentos. Depois, numa página vergonhosa, um outro homem de letras tentou reduzir a estatura do Condestabre à craveira deplorável dum impulsivo sem grandeza consciente, quando não dum doido acabado e simples.
Era este precisamente o ponto sobre o qual eu desejaria insistir, não só para lavar a memória de Nun`Álvares do sacrilégio que a pretendeu enxovalhar, mas para demonstrar como cientificamente as afirmações do senhor Júlio Dantas — é ao senhor Júlio Dantas que me refiro, — são erróneas e em todo indignas de quem conviva as coisa elevadas da inteligência. Sei que não é assunto para o debate rápido duma pequena nota. Mas enunciando-o, embora de leve, não fujo a declarar, a respeito do famoso libelo que uma fantasia censurável em quem se supõe fazer obra de história colocou na boca do Cardeal do Diabo durante o decurso da beatificação de Nun`Álvares, que ele não passa, o referido libelo, de um reflexo cabotino dos ensinamentos da Salpêtriere acerca do misticismo e da natureza das suas personificações. Ora o desenvolvimento dos estudos psicológicos modificou completamente as observações de Charcot. Ninguém como os místicos resolve e domina os conflitos da nossa vida moral, a que num livro recente, L`hérédo, com tanto vigor de expressão Léon Daudet chamou o «drama interior».
Inegavelmente, desde que a «terceira experiência» ou «experiência religiosa» foi instituída pelas necessidades indagadoras da própria psicologia, não é lícito já pensar-se acerca dos Santos como pensaria Mr. Homais alinhando os botões da sua botica em Ruão. William James abriu o caminho. E hoje já não tem conta os trabalhos que, sem preocupações apologéticas, nos ajudam debaixo dum exclusivo critério experimental, a aproximar os Santos, como realidades vivas, da concepção sobre-humana que neles nos apresenta a Teologia.
Nun`Álvares encontra-se psicologicamente dentro desse juízo sereno e reabilitador. Nem ele é o histérico, que um golpe de efeito sobre o público procurou inculcar como tal, nem a sua genealogia, por carregada de estigmas que se nos revelasse, constituiria motivo irremovível para uma condensação. Um médico ilustre, — o Dr. Ch. Fiessinger, — demonstra-nos que o inconsciente se educa e que a religião é precisamente o seu maior educador. A igual conclusão chegou igualmente Léon Daudet. De facto, nós não ignoramos que Santo Inácio de Loiola era um colérico, S. Francisco Xavier, um ambicioso, e o Povorello de Assis, um gastador. A disciplina religiosa interveio. E do colérico saiu o disciplinador admirável dos Exercícios Espirituais, do ambicioso o evangelizador das Índias e do gastador o esposo amorável da Senhora Pobreza, beijando as chagas dos leprosos e cantando ao Senhor Nosso Deus o louvor de todas as criaturas.
A Igreja exige para a canonização, mais que os milagres, o «exercício heróico» das virtudes cristãs. O «exercício heróico» das virtudes cristãs pressupõe a afirmação da vontade. Se os Santos realmente não passassem duma floração hospitalar, de degenerados, mordidos de raivas epilépticas e com hiatos frequentes de personalidade, a vontade desertá-los-ia, como abúlicos inevitáveis que seriam. Escuso de ressaltar, a unidade de vida e pensamento característica dos Santos, que são essencialmente gigantes da vontade. A Santidade é assim uma introspecção activa e constante do soi — como diria Daudet, sobre o moi, isto é, da parte deliberativa e consciente do nosso ser sobre o tumulto de instintos em que a nossa autonomia espiritual quase sempre naufraga.
Enganou-se, pois, o senhor Júlio Dantas, — e enganou-se, não só como escritor mas até como médico, ao assegurar a degenerescência de Nun`Álvares. A unidade da sua existência moral é comprovada pelo testemunho das Crónicas. O epiléptico não se descobre nele, porque a vontade no Condestabre é permanente e robusta. Há uma continuidade de acção e de pensamento em Nun`Álvares que nos enche de assombro e dissipa toda e qualquer suspeita de desequilíbrio. Violento e sanguinário? Mas eu inutilizo, logo que o senhor Júlio Dantas o deseje, a sua acusação? Então por ser casto? Mas hoje a medicina reconhece na castidade uma virtude higiénica. Talvez porque no desfiar dos anos se recolheu a um convento e vestiu a estamenha carmelita? Precisamente a isso responde a psicologia com a «terceira experiência», verificando no misticismo, quando superior, um poderoso desenvolvimento da nossa individualidade.
Muito gostaria de me alongar com o interesse que a questão legitimamente suscita. Raspando de sobre o Condestabre esse pingo de lama que, afinal, nem o salpicou, os meus votos são para que a Festa a Nun`Álvares se torne um dos objectivos mais ardentes do espírito patriótico. Adoremo-lo nos altares e aclamemo-lo nas praças! Nun`Álvares mostra-nos com a espada terminando na cruz que o patriotismo é uma virtude eminentemente cristã. Como cristãos não consintamos jamais que nos roubem o Condestabre, traindo-o e abastardando-o numa espécie de culto maçónico, tal como o que teima apagar Camões o poeta do renascimento católico, fiel à Igreja e ao sentimento ortodoxo emanado do concílio de Trento.
Juntemos os nossos esforços para que Nun`Álvares tenha o seu dia, — mas o seu dia como Santo e como Herói, não separando nunca as duas faces da sua alma admirável, que só se completam integradas uma na outra.

António Sardinha
In «Na feira dos mitos», cap. Nun`Álvares, 2.ª edição, Edições Gama, 1942, pp. 165/166/167/169/170.

N'riquinha - Um E.T.D. sem retorno...

N'riquinha - Um E.T.D. sem retorno...

via Caçadores 3441 de Pedro Cabrita em 29/03/09
Jamais consegui explicar a razão da minha afeição às gentes do aldeamento da N´riquinha. 
Porque fiz quase minhas as dores daquela gente e porque sofri na partida, quando era uma incontida alegria que me deveria inundar por finalmente abandonar aquele autêntico "buraco" onde nos amarraram longos dezoito meses e meio.
Porque interiorizei o sofrimento daquela gente e, nesse sentido, quanto martirizei a "minha tropa" em apoios, transportes e protecção de uma população que não tinha que me dizer nada, porque eu estava ali para fazer a guerra e não para me sensibilizar com o sofrimento escorrido dos nossos 500 anos de ocupação, em que nem a língua materna fomos capazes de lhes transmitir.
Talvez a minha origem humilde possa explicar este acolhimento insensato para um "guerreiro" armado para fazer a guerra. Talvez se tenham enganado os Senhores da Guerra quando me descortinaram engenho e chama para a beligerância a que me destinaram; ou, quem sabe, nem tenham tido tempo para perceberem que a peça não era muito talhada para a função almejada.
Talvez a comunhão sempre viva no dia-a-dia da minha aldeia tenha permitido e incentivado esta minha extensão às agruras das gentes das Terras do Fim do Mundo que nos calharam em sorte e em tempo de guerra.
Talvez "a minha tropa" nunca venha a entender porque os obriguei a tanto tempo extra em devoção a gente tão despida de valores materiais, mas tão rica na nobreza de nos aceitarem com 500 anos de soberania prepotente, tempo aparentemente insuficiente para lhes termos dispensado uma réstia de dignidade que nunca fomos capazes de lhes proporcionar.
Quem sabe se não me pesaram na consciência esses 500 anos de ostracismo e desdém com que brindámos o seu consentimento em deixar-se ser portugueses sem o pedirem.
A partida de N'riquinha foi dos momentos mais doridos de entre todos os 1400 dias de serviço militar a que me vi obrigado a cumprir.
Não encontro melhor forma de vos fazer compreender o meu sentimento por aquela gente senão transcrevendo-vos como o vivi.
Apenas referir que este escrito tem cerca de nove anos. Li-o uma única vez depois de publicado. Não consegui voltar a lê-lo.
Não será hoje que o faço. Transcrevo-o apenas.

"…A grande viagem vai começar. N'riquinha-Luanda.
Dois mil quilómetros em linha recta. Bastantes mais pelas picadas e asfaltos que nos esperavam.

As despedidas estão feitas. Cerca de 140 militares distribuem-se por não sei quantos camiões civis, sentando-se sobre as caixas, malas e múltiplas embalagens, que albergam uma mistura de espólios de guerra com esbulhos de uma civilidade havia muito perdida e encaixotada, e que agora cortejavam a esperança de poderem voltar a florescer, depois de vencido o bafio e a poeira do tempo.
A primeira viatura faz-se preguiçosa e indolente à porta de saída. Soam os primeiros gritos de alegria de despedida de um inferno que por fim se extinguia. Em pé os soldados, enfardados num camuflado desbotado dos tombos da guerra, erguem a G3 como se acabados de conseguir a maior vitória das suas vidas. Os putos, menos doridos e molestados pelos sentimentos de proximidade e pieguice dos adultos, saltitavam em bandos ao lado das primeiras viaturas, alegremente contagiados pela alegria que explodia em cada uma delas.
Ao fundo, comedidamente à distância, na beira do kimbo defronte da picada por onde iríamos passar, aglomera-se um magote de gente silenciosa e mortalmente imóvel. Mulheres com crianças às costas, velhos que se vergam à frente apoiados em paus longos, raparigas adolescentes de braços cruzados que mordem uma ponta do pano que lhes envolve o corpo esguio, mulheres idosas, que se ficam mais atrás apoiando-se na última cubata, com a mão sobranceira aos olhos protegendo-se do sol.
Um kimbo inteiro.
Um kimbo inteiro veio despedir-se da tropa matchiririca que chegou um dia para fazer a guerra com armas que matam e acabou por se consumir noutras batalhas tão indesejáveis e perversas quanto aquela. Uma luta pela dignidade da vida dos que nada tinham e uma autêntica guerra contra o isolamento e as agruras duma fome ignóbil de comunidade perdida nos confins de África, uma autêntica tribo de índios ainda perdida nos confins duma Amazónia deserta, também esta em vias de extinção por via do progresso e de causas justas.
A coluna já se forma lá fora do aquartelamento iniciando preguiçosa uma caminhada de serpente, marcada por nuvens de poeira que se vão elevar nos céus assinalando a sua passagem. A picada segue inicialmente a linha da pista de aviação em direcção a Mavinga, correndo paralela ao quartel e ao kimbo.
Agitam-se lenços, braços e gritos. Uns quantos não resistem e correm até junto da picada. Crianças, adolescentes e mulheres, algumas com crianças às costas. O movimento das viaturas induz-lhes o acompanhamento destas.
Correm. Num impulso contagiante, mais gente vem descendo por entre tufos de capim seco que saltam com destreza. Já há uma pequena multidão que corre paralela à coluna acenando e gritando palavras que continuo sem entender o significado mas que desta vez dispenso tradução. Alguns correm apenas e nada dizem, nada fazem. Apenas querem correr e ficar mais um pouco junto de nós. Uma derradeira companhia, um último momento de uma despedida que já levava dias. Apenas o prolongar um pouco mais da agonia do fim de uma amizade fraterna que a proximidade confortava e induzia um pouco mais de segurança, bem-estar e protecção.
Centenas de metros percorridos e quase ninguém desiste. Corações ao alto, corações ofegantes, corações que persistem numa corrida sem fim nem proveito. Uma corrida quase suicida de ir até ao fim, de ir até cair.
Estou sentado ao lado do condutor que sorri meio estupefacto e me diz.
- Nunca vi nada disto.
Mando abrandar.
Que raio de ideia. Retemperam-se do esforço e dispõem-se a ir muito mais longe.
Mando acelerar e deixo de olhar. Fecho os olhos naufragados numa comoção que transcende aquilo que se espera de um comandante de guerra. Esqueceram-se que um militar nasce militar, não se fabrica por conveniência. Sinto que aceleramos e deixo passar mais uns metros seguros de não ver mais aquela espécie de loucura, de suicídio colectivo, um mar de baleias que dão à costa e se matam com um sorriso de prazer inexplicável recusando voltar atrás, que nos sobreleva o entendimento ou nos desvirtua a propalada razão e superioridade humana.
Por entre um marejar turvo de imagens desfocadas consigo perceber que há ainda um resistente que ao nosso lado se mantém firme de olhos em frente e um sufoco estampado no rosto. Traz vestida uma pequena tanga que esvoaça e denuncia os restos de um camuflado há muito esquartejado, que disfarça agora a sua nudez e sufoca o que resta de uma dignidade que recusa perder.
Fecho os olhos em definitivo e recosto-me no banco. Passo as costas da mão pela testa em busca de um suor que não existe e prolongo o gesto pelos cantos dos olhos, onde estrangulo uma dor que se me escorre de dentro sem que se entenda bem onde nasce. Preciso urgentemente de me explicar quando percebo que o condutor me olha de soslaio e desvia a atenção da picada.
- ... Esta poeirada...!
- ...?!
Mantenho-me assim por dez minutos e percorro em sentido inverso aqueles dois, três quilómetros já percorridos. Tento entender e não consigo. Ficamos sempre com uma imagem de um determinado bem que se faz, de umas migalhas que se oferecem e nos deixam alguma paz de espírito que nos conforta o sentimento de bem-estar connosco próprios. De acordo com as circunstâncias em que ali fomos vivendo todo aquele tempo, atribuímos um determinado significado às coisas, sempre parco quando o comparamos com os nossos padrões de vida, os nossos hábitos e anseios. Esquecemo-nos que o pouco que por vezes se oferece tem um significado tão intenso e duradouro quanto miserável é o significado das suas vidas e quão vulneráveis ficam os seus corações a gestos de pouca monta, mas tesouros de riqueza desmedida que retribuem com as únicas moedas que possuem: a solidariedade e o reconhecimento.
O condutor não pára de olhar pelo retrovisor.
- Parece que já ficaram para trás, diz espreitando dos dois lados como que receando que se tivessem passado para o outro lado.
Não arrisco a abrir os olhos para confirmar. No fundo, talvez eu quisesse guardar aquela imagem lá bem no meu íntimo. Uma prenda simbólica que nos cinzela a memória corroída por inutilidades. Uma fenda esculpida a marteladas de vida que nos deixa marcas que perduram pela vida fora e nos humedece ainda os olhos, trazendo à mente uma catadupa de sons e imagens de significado imenso e de tão grata recordação.
- Estava a ver que vinham atrás de nós até Mavinga...
Diz-me ainda o condutor, mais preocupado com aquela perseguição tenaz, que com o trilho baço de poeira da viatura da frente.
Não! Virão atrás de nós muito para lá de Mavinga. Virão atrás de nós todo o tempo que eu viver e for capaz de me lembrar deles, da sua simplicidade, dos seus corações abertos, dos seus hábitos e tradições, da sua inocência de fazer casa grande para captão e mulher do Puto, de acreditarem numa pátria que nunca viram nem sentiram como sua, de serem capazes de acreditar todos os dias em qualquer coisa sem terem nada em que acreditar. 
Abro por fim os olhos. Agora sim mergulhados num verdadeiro tormento de poeira, uma extensão daquele escuro de nuvem confusa que me faz perder o norte e me baralha a mente com pensamentos descoordenados que me desalinham a recentíssima alegria de partir.
Não me sinto.
Não sei se venho. Não sei que partes de mim vêm. Não sei o que trago. Não sei o que deixo. Não sei o que perco.
Mas sei o que ganho.
E que me dói já a certeza de jamais poder com eles usufruir do que bebi dessas lições de vida sentida e dorida, trituradas a golpes magoados de pilão e sublimadas a bálsamos de batucadas ardentes vencidas pela noite dentro, até que a dor morresse e um novo dia de fé ausente nascesse.
Já não ouço vozes. Só corações soçobrando num adeus derradeiro que se extingue num último suspiro sem sinais de revolta.
Agitam-me os tombos da picada. Agitam-me os meus pensamentos desarrumados. Agitam-se-me revoltas de sentimentos de impotência e remorsos de me vir embora quase feliz. De deixar para trás um fosso com gente dentro que chegou a acreditar que tinha chegado a hora de fugir daquele gueto de guerra e poder morar livre como o vento no mato longínquo e seguro das terras do Cuando-Cubango.
- Estava a ver que vinham atrás de nós até Mavinga… (120 Km)
De soslaio vou dando miradas pelo espelho retrovisor, não sei se na esperança de ainda ver alguém, se de não ver. Mas se vir, garanto a mim próprio que mando parar a coluna e o abraço longamente até sentir que o seu coração se acalma e se me ensurdecem os gritos de despedida que ainda ouço.
Convenço-me por fim que já não vêm. Convenço o condutor a olhar apenas em frente porque é por ali que passa o futuro. Tenho pela frente quatro dias de comer quilómetros de poeira que embaciam um céu limpo sem nuvens. Um circo em movimento que se move em busca de outros públicos e os mesmos aplausos dos que querem continuar donos e senhores da terra que, para muitos, os viu nascer.
Mavinga, de passagem. Quase sem tempo para uma cerveja refrescante que nos lave estômago e a bexiga dos primeiros 120 km de um pó eterno que mastigávamos já com naturalidade, quando o sentíamos ranger entre dentes ou lacrimejar turvo que escorria pelo canto do olho levado pelo vento que nos temperava das ondas tórridas de um calor sempre sufocante.
Andar, andar. Está no andar. Dali para fora. Com calor, com sufoco, com gosto ou desgosto.
Um último relance pelo fim da picada que vinha de N'riquinha. Um último sossego de caminho vazio onde a poeira fina ainda paira no ar como cacimbo seco e colorido obstinado em ficar por ali tingindo as árvores da cor da picada.
- Estava a ver que vinham atrás de nós até Mavinga… – ainda me ressoa perturbador como vaga que me quer engolir e atirar de encontro ao rochedo do meu medo de olhar para trás…"

N´riquinha – Entregar, peça por peça, um quartel vazio de gente e de almas…

via Caçadores 3441 de Pedro Cabrita em 29/03/09

Tinha deixado a promessa de por aqui passar com mais regularidade, deixando uma ou outra intervenção que ecoasse a nossa memória colectiva daqueles anos 71/73. Não que não tenham buscado e rebuscado uma ou outra história ainda "secreta" que valesse a pena trazer ao conhecimento dos nossos cabelos brancos e olhos ávidos de lembranças de uma mocidade que nos calhou viver em comunhão e em sofrimento.

Mas a verdade é que, para já, não encontrei senão episódios dispersos a que acabei por não dar relevo.

Prometo continuar a procurar. A memória já não é o que era; mas aquela daqueles anos ficou como marca indelével, que se nos vai avivando em cada ano em que matamos saudades nos encontros que o Duarte em boa hora empreendeu.

Mas este vazio de reconstrução de histórias novas também tem uma outra justificação que se prende a uma ou outra aventura literária em que me fui metendo, acabando por quase esgotar o manancial de narrativas passíveis de reproduzir agora e de novo.

Entendo, no entanto, que este lugar nos deve merecer um inusitado carinho, louvando, desde já, o Egídio Cardoso pelas belas prosas e fotos com que nos tem brindado. Pela minha parte farei o possível.

Deste modo, e perdoem-me a falta de originalidade, achei que talvez não fosse despropositado trazer um ou outro eco de trechos que já escrevi noutros sítios, na certeza de que muitos dos nossos companheiros ainda os não terão lido e outros nem tenham lá chegado, se porventura se aventuraram a lê-los.

Escolhi duas situações. Esta que aqui vos vou deixar e uma outra que transcreverei noutra folha.

Especialmente para a malta do "arame" (para os leigos, não confundir com "malta do dinheiro"… O "arame" aqui era o arame farpado, querendo referir os militares especialistas que faziam a sua actividade militar no aquartelamento, logo, dentro do arame farpado); dizia então que, para estes, e não só, deixava a recordação da entrega do aquartelamento à Companhia que nos foi render e os milhares de apetrechos e artefactos que foram necessários contabilizar e conferir, numa saga inimaginável, ou só admissível numa instituição como a militar. Também para muitos outros que não fará a mínima ideia de como aquilo era.

Então foi mais ou menos assim que eu senti aqueles três ou quatro dias em que cheguei a ter cãibras na mão direita de tanto assinar papel:

"… Por fim a trouxa militar está entregue. As mais de mil e quinhentas assinaturas estão rabiscadas noutros tantos formulários e modelos militares garantindo a passagem de testemunho, consubstanciado em milhares de peças e pecinhas com os mais variados tamanhos e funções.

Garfos, quase conferidos dente a dente para verificar da sua operacionalidade, colheres, casas, pré-fabricados com telhas de zinco que voam nas tempestades mas param submissas a cinquenta metros de distância e aguardam que as tragam de volta vezes sem conta, como crianças que se obstinam em fugir ao controlo dos progenitores; máquinas de escrever, que por vezes escreviam; mapas, que falavam mas nada diziam e por vezes mentiam; cadeiras, secretárias (de madeira…), chaves de fenda, de cruzeta, de boca, sem boca, com dentes, sem dentes; motores que trabalhavam, outros que se reformavam, e ainda os que morreram há muito e já não respiram, mas continuam pertença e tesouro da República; retretes que fediam, camas que gemiam, colchões sem edredões; passeios de tabuinhas cruzados por milhões de viagens nos dois sentidos e sem sentido; arame farpado com bicos que ameaçavam rasgar a carne aos que queriam entrar, mas também dos que queriam sair; holofotes com luz, sem luz, antenas, bombas de água que nos bombeavam a paciência, geradores que muitas vezes trabalhavam; câmaras frigoríficas a funcionar, avariadas, inutilizadas, obsoletas, mas ainda zelosamente à carga, não fosse desertarem para as bandas do inimigo; camiões, unimogs, jipes, uns a andar, outros parados, vandalizados, canibalizados; uma prisão com telhado de capim, paredes de barro (espesso…!) e grades de vento; areia, muita areia, pedrinhas pintadas de branco que faziam de ruas que não levavam a lado nenhum e davam uma ilusão de ordem que apontava um caminho que não existia; uma taberna travestida com o eufemismo de cantina; bidões de gasóleo, cunhetes de munições contadas caixinha a caixinha, cunhetes de cerveja contadas na garganta duas a duas; janelas com rede mosquiteira, quartos com mosquitos, panelas de 50 litros e tachos de 30 que tresandam a um aroma de gordura militar que se esvai três dias depois da fome nos ter dizimado as resistências do olfacto e o último furo do cinto; um Chiado (vazio) onde em época alta se pode encontrar o último grito de sabão azul cortado em fatia fina com faca de queijo; um clima variado (de 45º a – 3º), noites escuras, de solidão, de desespero, de medo, blenorragias, pagas em moeda corrente ou géneros de primeira necessidade; ("… furrié é bom p'ra mim; furrié dá sapato, dá pano, dá dinhêro p'ra comprá cérvêja lá nos cantina…"); paludismos distribuídos gratuitamente a febres de 41º repartidas por 15 dias de férias em cama fresca de abundante suor; vacinas contra a mosca do sono (1cm3 por cada 10 kg inoculados por agulhas de 8cm enterradas na alva nádega sem dó nem piedade); medicamentos, para as doenças e para afugentar o medo das balas; um milhar de bugigangas agrupadas em pacotes de função, outro milhar dividido em função de pacotes, ainda um outro sem pacote nem função, e, por fim..., um kimbo com gente viva dentro, porque se mexia; uma bandeira num mastro altaneiro que se esfalfa todos os dias para afirmar a nossa autoridade naquele lugar e uma guerra; uma guerra que começa à porta de armas e termina nas margens de um rio Cuando majestoso e indiferente, que nos separa da soberania do povo do lado de lá, mas que os do kimbo não entendem porque os apartam dos família do outro lado de um rio sem paredes nem muralhas, feito apenas de água que corre límpida e sem raivas em ambas as margens.

Ficam de fora, com o consentimento das NEP's (normas da coisa militar que nos orientavam em tudo, por vezes até os gestos e os desejos) depois de demorada consulta para esse efeito, a gata (a "chaninha" para os mais íntimos, companheira inseparável das noites de insónia em que nos achávamos a fazer de ratos para a gata brincar); uma cabra bebé, poupada a um tiro de G3 num intervalo da guerra, passando a fazer parte da carga da Companhia (até que um dia a fome ditasse um outro destino) e… o Dango (depois Dango Cabrita), a peça de guerra mais representativa que foi possível achar, depois de capturada ao inimigo nas terras do Cuando-Cubango.

Tudo contado, conferido e entregue, soa um batuque fúnebre que carpirá noite dentro uma dor cíclica de perder quase para sempre, e de uma só vez, um amontoado de amigos trazidos pela guerra e pela guerra levados.

Tropa matchiririca parte amanhã bem cedo…"

Inter e transdisciplinaridade em geologia

Inter e transdisciplinaridade em geologia
via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 29/03/09
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TENDO COMO OBJECTIVO o conhecimento da história da Terra e da Vida, no contexto da realidade física do Universo, a Geologia é um dos ramos científicos que mais tem recorrido à interdisciplinaridade. E, ao procurar a unidade do saber na perspectiva da globalidade do real, a Geologia segue também os caminhos da transdisciplinaridade, tal como a definiu G. Berger, em 1972. Com efeito, não é possível abarcar a complexa e longa história do planeta (cerca de 4600 milhões de anos) sem o recurso às muitas disciplinas que a integram, entre outras, Física, Química, Biologia, e, ainda, disciplinas do âmbito da Matemática, como Probabilidades e Estatística, Cálculo Vectorial, Cálculo Tensorial, etc. A demonstrá-lo estão alguns dos mais importantes domínios da Geologia, como, por exemplo, Mineralogia, Cristalografia, Petrologia, Geoquímica, Geofísica, Tectónica, Geocronologia, Paleontologia, Estratigrafia, Vulcanologia e, ainda, nos de carácter tecnológico e aplicado como a Hidrogeologia e a Geologia de Engenharia, entre outros.
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Restringindo-nos à realidade que nos é dada observar à superfície da Terra, citam-se, como demonstração destas interdisciplinaridade e transdisciplinaridade:
.........as rochas e os minerais, o seu quimismo, as leis da Termodinâmica que lhes ditam as respectivas naturezas e, ainda, a Física do Estado Sólido no que se refere às estruturas cristalinas;
.........a alteração das rochas e os solos, com os inúmeros factores físico-químicos e biológicos intervenientes (dilatação e contracção térmicas, solubilidade, hidrólise, oxidação–redução, bioquimismo associado à matéria orgânica, à fauna e à flora do solo, etc.);
.........a erosão, o transporte e a sedimentação, face às leis da Mecânica Clássica (newtoniana), no campo gravítico terrestre, com relevo para as estudadas no domínio da Hidráulica;
.........os fósseis e a respectiva sistemática, como veículos ao estabelecimento da história da biodiversidade;
.........a elevação das montanhas, o vulcanismo e os sismos, como manifestações do calor interno do planeta através, nomeadamente, da convecção térmica;
.........a planetologia comparada, e as leis fundamentais da Física e da Química, a Astrofísica, a Astroquímica;
.........as explorações mineiras, do petróleo, dos aquíferos subterrâneos e geotecnia, e as suas inevitáveis ligações à Economia, à Sociologia e às Ciências Políticas.
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Nestes termos, a Geologia, para além dos aspectos científicos fundamentais e dos aspectos práticos indispensáveis às sociedades humanas, tem vindo e vai continuar a dar resposta a problemas importantes habitualmente formulados no domínio da Filosofia.

sexta-feira, 27 de março de 2009

O Pais pouco original do Medo

via Caminhos da Memória de Diana Andringa em 26/03/09
Durante as dezenas de anos do Estado Novo, muitos portugueses olharam cuidadosamente em redor, na rua, no café ou na tasca, antes de exprimir a sua opinião sobre qualquer assunto tido por «político». Temiam os «bufos», que informavam a polícia política do que ouviam, e os resultados da denúncia: perseguição, desemprego, prisão. O medo insinuava-se nas [...]

quarta-feira, 25 de março de 2009

Ecos (36) - [Sofia Ferreira]

Ecos (36)

via Caminhos da Memória de Joana Lopes em 25/03/09
Há 60 anos, em 25 de Março de 1949, Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro e Sofia Ferreira foram presos no Luso. Num vídeo hoje publicado no Jornal de Notícias, Sofia Ferreira resume o momento dessa detenção que tantas repercussões teve na vida do Partido Comunista Português e da resistência antifascista em Portugal. (Ler, neste blogue, [...]

terça-feira, 24 de março de 2009

Test - Desculpem

Test - Desculpem.

segunda-feira, 23 de março de 2009

COMO OS ÁRABES VÊEM OS JUDEUS

via DIÁRIO DA ÁFRICA de Diário da África em 24/02/09
Recebi o texto por e-mail e achei interessante.

Foi escrito pelo rei Abdállah I, em 1947, na edição de novembro da "The American Magazine".

Também está disponível na internet.

Abdállah foi avô do rei Hussein, da Jordânia.

Foi publicado nos Estados Unidos seis meses antes do início da Guerra de 1948, entre israelenses e palestinenses.

Vamos ao texto:

"É prazer especial dirigir-me ao público norte-americano, porque o trágico problema da Palestina não será jamais resolvido sem a simpatia dos norte-americanos, sem seu apoio, sem que compreendam.

Já se escreveram contudo tantas palavras sobre a Palestina – é talvez o assunto sobre o qual mais se escreveu em toda a história –, que hesito. Mas tenho de falar, porque acabei por concluir que o mundo em geral, e os EUA em especial, sabem praticamente nada sobre a causa pela qual os árabes realmente lutam.

Nós, árabes, acompanhamos a imprensa dos EUA, talvez muito mais do que os senhores pensem. E nos perturba muito constatar que, para cada palavra impressa a favor dos árabes, imprimem-se mil a favor dos sionistas. Há muitas razões para que isto aconteça.

Vivem nos EUA milhões de cidadãos judeus interessados nesta questão. Eles têm vozes fortes, falam muito e conhecem bem os recursos da divulgação de notícias. E há poucos cidadãos árabes nos EUA, e ainda não conhecemos bem as técnicas da propaganda moderna.

Os resultados disto têm sido alarmantes. Vemos na imprensa dos senhores uma horrível caricatura de nós mesmos e lemos que aquele seria nosso verdadeiro retrato. Para que haja justiça, não podemos deixar que esta caricatura seja tomada por nosso retrato verdadeiro.

Nosso argumento é bem simples: por quase 2.000 anos, a Palestina foi quase 100% árabe. Ainda é preponderantemente árabe, apesar do enorme número de judeus imigrantes. Mas se continuar a imigração em massa, em pouco tempo seremos minoria em nossa própria casa.

A Palestina é país pequeno e muito pobre, quase do tamanho do estado de Vermont. A população árabe é de apenas 1,2 milhão de pessoas. E fomos obrigados a receber, contra nossa vontade, cerca de 600 mil judeus sionistas. E nos ameaçam com muitos mais centenas de milhares. Nossa posição é tão simples e natural, que surpreende que tenha sido questionada. É exatamente a mesma posição que os EUA adotaram em relação aos infelizes judeus europeus. Os senhores lamentam que eles sofram o que sofrem hoje, mas não os querem em seu país.

Tampouco nós os queremos em nosso país. Não porque sejam judeus, mas porque são estrangeiros. Não queremos centenas de milhares de estrangeiros em nosso país, sejam ingleses, noruegueses, brasileiros, o que sejam.

Pensem um pouco: nos últimos 25 anos, fomos obrigados a receber população equivalente a um terço do total de habitantes nativos. Nos EUA, seria o mesmo que o país ser obrigado a receber 45 milhões de estrangeiros, contra a vontade dos norte-americanos, desde 1921. Como os senhores reagiriam a isto?

Por nossa reação perfeitamente natural, contra sermos convertidos em minoria em nossa terra, somos chamados de nacionalistas cegos e anti-semitas impiedosos. A acusação seria cômica, se não fosse tão perigosa.

Nenhum povo da Terra jamais foi menos anti-semita que os árabes. Os judeus sempre foram perseguidos quase exclusivamente por nações ocidentais e cristãs. Os próprios judeus têm de admitir que nunca, desde a Grande Diáspora, os judeus desenvolveram-se com tanta liberdade e alcançaram tanta importância quanto na Espanha enquanto a Espanha foi possessão árabe. Com pequenas exceções, os judeus viveram durante séculos no Oriente Médio, em completa paz e amizade com seus vizinhos árabes.

Damasco, Bághdade, Beirute e outros centros árabes sempre incluíram grandes e prósperas comunidades de judeus. Até o início da invasão sionista na Palestina, estes judeus receberam tratamento mais generoso – muito, muito mais generoso - do que o que receberam na Europa cristã.

Hoje, infelizmente, pela primeira vez na história, aqueles judeus começam a sentir os efeitos da resistência árabe ao assalto sionista. Muitos judeus estão tão ansiosos quanto os árabes e querem o fim do conflito. Muitos destes judeus que encontram lar acolhedor entre nós ressentem-se, como nós, com a chegada de tantos estrangeiros.

Por muito tempo intrigou-me muito a estranha crença, que aparentemente persiste nos EUA, segundo a qual a Palestina sempre teria sido, de algum modo, "terra dos judeus". Recentemente, conversando com um norte-americano, desfez-se o mistério. Disse-me ele que a maioria dos norte-americanos só sabem, sobre a Palestina, o que lêem na Bíblia. Dado que havia uma terra dos judeus no tempo de que a Bíblia fala, pensam eles, concluem que nada tenha mudado desde então.

Nada poderia ser mais distante da verdade. E, perdoem-me, é absurdo recorrer ao alvorecer da história, para concluir sobre quem 'mereceria' ser dono da Palestina de hoje. Contudo, os judeus fazem exatamente isto, e tenho de responder a este "clamor histórico". Pergunto-me se algum dia houve no mundo fenômeno mais estranho do que um grupo de pessoas pretenderem, seriamente, reclamar direitos sobre uma terra, sob a alegação de que seus ancestrais ali teriam vivido há 2.000 anos!

Se lhes parecer que argumento em causa própria, convido-os a ler a história documentada do período e verificar os fatos.

Registros fragmentados, que são os que há, indicam que os judeus viviam como nômades e chegaram do sul do Iraque ao sul da Palestina, onde permaneceram por pouco tempo; e então moveram-se para o Egito, onde permaneceram por cerca de 400 anos. À altura do ano 1300 a.C. (pelo calendário ocidental), deixaram o Egito e gradualmente dominaram alguns – mas não todos – os habitantes da Palestina.

É significativo que os Filistinos – não os judeus – tenham dado nome ao país. "Palestina" é, simplesmente, a forma grega equivalente a "Philistia".

Só uma vez, durante o império de David e Salomão, os judeus chegaram a controlar quase toda – mas não toda – a terra que hoje corresponde à Palestina. Este império durou apenas 70 anos e terminou em 926 a.C. Apenas 250 anos depois, o Reino de Judá já estava reduzido a uma pequena província em torno de Jerusalém, com território equivalente a 1/4 da Palestina de hoje.

Em 63 a.C., os judeus foram conquistados pelo romano Pompeu, e nunca mais voltaram a ter nem vestígio de independência. O imperador Adriano, romano, finalmente os subjugou em circa 135 d.C. Adriano destruiu Jerusalém, reconstruiu-a sob outro nome e, por centenas de anos, nenhum judeu foi autorizado a entrar na cidade. Poucos judeus permaneceram na Palestina; a enorme maioria deles foram assassinados ou fugiram para outros países, na Diáspora, ou Grande Dispersão.

Desde então, a Palestina deixou de ser terra dos judeus, por qualquer critério racional admissível.Isto aconteceu há 1.815 anos. E os judeus ainda aspiram solenemente à propriedade da Palestina! Se se admitir este tipo de fantasia, far-se-á dançar o mapa do mundo!

Os italianos reclamarão a propriedade da Inglaterra, que os romanos dominaram por tanto tempo. A Inglaterra poderá reclamar a propriedade da França, "pátria" dos normandos conquistadores. Os normandos franceses poderão reclamar a propriedade da Noruega, "pátria" de seus ancestrais. Os árabes, além disto, poderemos reclamar a propriedade da Espanha, que dominamos por 700 anos.

Muitos mexicanos reclamarão a propriedade da Espanha, "pátria" de seus pais ancestrais. Poderão exigir a propriedade também do Texas, que pertenceu aos mexicanos até há 100 anos. E imaginem se os índios norte-americanos reclamarem a propriedade da terra da qual foram os únicos, nativos, ancestrais donos, até há apenas 450 anos!

Nada há de caricato, aí. Todas estas aspirações e demandas são tão válidas e justas – ou tão fantasiosas – quanto a "ligação histórica" que os judeus alegam ter com a Palestina. Muitas outras ligações históricas são muito mais válidas do que esta.De qualquer modo, a grande expansão muçulmana, dos anos 650 d.C., definiu tudo e dominou completamente a Palestina. Daquele tempo em diante, a Palestina tornou-se completamente árabe, em termos de população, de língua e de religião. Quando os exércitos britânicos chegaram à Palestina, durante a última guerra, encontraram 500 mil árabes e apenas 65 mil judeus.

Se uma sólida e ininterrupta ocupação árabe, por 1.300 anos, não torna árabe um país... o que mais seria preciso?

Os judeus dizem, com razão, que a Palestina é a terra de sua religião. Parece ser o berço da cristandade. Mas, que outra nação cristã faz semelhante reivindicação? Quanto a isto, permitam-me lembrar que os cristãos árabes – e há muitas centenas de milhares de cristãos árabes no mundo árabe – concordam absolutamente com todos os árabes, e opõem-se, também, à invasão sionista da Palestina.

Permitam-me acrescentar também que Jerusalém, depois de Meca e Medina, é a cidade mais sagrada no Islam. De fato, nos primórdios de nossa religião, os muçulmanos rezávamos voltados para Jerusalém, não para Meca.

As "exigências religiosas" que os judeus fazem, em relação à Palestina, são tão absurdas quanto as "exigências históricas". Os Lugares Santos, sagrados, para três grandes religiões, devem ser abertos a todos, não monopólio de qualquer delas. E não confundamos religião e política.

Tomam-nos por desumanos e sem coração, porque não aceitamos de braços abertos talvez 200 mil judeus europeus, que sofreram tão terrivelmente a crueldade nazista e que ainda hoje – quase três anos depois do fim da guerra – ainda definham em campos gelados, deprimentes. Permitam-me destacar alguns fatos.

A inimaginável perseguição aos judeus não foi obra dos árabes: foi obra de uma nação cristã e ocidental. A guerra que arruinou a Europa e tornou impossível que estes judeus se recuperassem foi guerreada exclusivamente entre nações cristãs e ocidentais. As mais ricas e mais vazias porções do planeta pertencem, não aos árabes, mas a nações cristãs e ocidentais.

Mesmo assim, para acalmar a consciência, estas nações cristãs e ocidentais pedem à Palestina – país muçulmano e oriental muito pequeno e muito pobre – que aceite toda a carga. "Ferimos terrivelmente esta gente", grita o Ocidente para o Oriente. "Será que vocês podem tomar conta deles, por nós?"

Não vemos aí nem lógica nem justiça. Não somos, os árabes, "nacionalistas cruéis e sem coração"?

Os árabes somos povo generoso: nos orgulhamos de "a hospitalidade árabe" ser expressão conhecida em todo o mundo. Somos solidários: a ninguém chocou mais o terror hitlerista do que aos árabes.

Ninguém lastima mais do que os árabes o suplício pelo qual passam hoje os judeus europeus.

Mas a Palestina já acolheu 600 mil refugiados. Entendemos que ninguém pode esperar mais de nós – nem poderia esperar tanto. Entendemos que é chegada a vez de o resto do mundo acolher refugiados, alguns deles, pelo menos.

Serei completamente franco. Há algo que o mundo árabe simplesmente não entende. Dentre todos os países, os EUA são os que mais pedem que se faça algo pelos judeus europeus sofredores. Este pedido honra a humanidade pela qual os EUA são famosos e honra a gloriosa inscrição que se lê na Estátua da Liberdade.

Contudo, os mesmos EUA – a nação mais rica, maior, mais poderosa que o mundo jamais conheceu – recusa-se a receber mais do que um pequeníssimo grupo daqueles mesmos judeus!Espero que os senhores não vejam amargura no que digo.

Tentei arduamente entender este misterioso paradoxo. Mas confesso que não entendo. Nem eu nem nenhum árabe. Talvez tenham ouvido dizer que "os judeus europeus querem ir para a Palestina e nenhum outro lugar lhes interessa."

Este mito é um dos maiores triunfos de propaganda, da Agência Judaica para a Palestina, a organização que promove com zelo fanático a emigração para a Palestina. É sutil meia-verdade; portanto, é duplamente perigosa.

A estarrecedora verdade é que ninguém no mundo realmente sabe para onde estes infelizes judeus realmente querem ir!Imaginar-se-ia que, tratando-se de questão tão grave, os americanos, ingleses e demais autoridades responsáveis pelos judeus europeus teriam pesquisado acurada e cuidadosamente – talvez por votos –, para saber para onde cada judeu realmente deseja ir.

Surpreendentemente, jamais se fez qualquer levantamento ou pesquisa! A Agência Judaica para a Palestina impediu-o.

Há pouco tempo, numa conferência de imprensa, alguém perguntou ao Comandante Militar norte-americano na Alemanha o que lhe dava tanta certeza de que todos os judeus quisessem ir para a Palestina. Sua resposta foi simples: "Fui informado por meus assessores judeus."

Admitiu que não houvera qualquer votação ou levantamento. Houve preparativos para uma pesquisa, mas a Agência Judaica para a Palestina fez parar tudo.

A verdade é que os judeus, nos campos de concentração alemães, estão hoje sob intensa pressão de uma campanha sionista, por métodos aprendidos do terror nazista.

É perigoso, para qualquer judeu, declarar que prefere outro destino que não seja a Palestina. Estas vozes dissonantes têm sofrido espancamentos severos e castigos ainda piores.

Também há pouco tempo, na Palestina, cerca de 1.000 judeus austríacos informaram à organização internacional de refugiados que gostariam de voltar à Áustria e já se planejava o seu repatriamento.

Mas a Agência Judaica para a Palestina soube destes planos e aplicou forte pressão política para que o repatriamento não acontecesse. Seria má propaganda, contrária aos interesses sionistas, que houvesse judeus interessados em deixar a Palestina. Os cerca de 1.000 austríacos ainda estão lá, contra a vontade deles.

O fato é que a maioria dos judeus europeus são ocidentais, em termos de cultura e práticas de vida, com experiência e hábitos urbanos. Não são pessoas das quais se deva esperar que assumam o trabalho de pioneiros, na terra dura, seca, árida da Palestina.

Mas é verdade, sim, pelo menos um fato. Como estão postas hoje as opções, a maioria dos judeus europeus refugiados, sim, votarão por serem mandados para a Palestina, simplesmente porque sabem que nenhum outro país os acolherá.

Se os senhores ou eu tivermos de escolher o campo de prisioneiros mais próximo, para ali vivermos a vida que nos reste, ou a Palestina, sem dúvida também escolheríamos a Palestina.

Mas dêem alternativas aos judeus, qualquer outra possibilidade, e vejam o que acontece!

Contudo, nenhuma pesquisa ou escolha terá alguma utilidade, se as nações do mundo não se mostrarem dispostas a abrir suas portas – um pouco, que seja – aos judeus.

Em outras palavras, se, consultado, algum judeu disser que deseja viver na Suécia, a Suécia deverá estar disposta a recebê-lo. Se escolher os EUA, os senhores terão de permitir que venha para cá.

Qualquer outro tipo de consulta ou pesquisa será farsa. Para os judeus desesperados, não se trata de pesquisa de opinião: para eles, é questão de vida ou morte.

A menos que tenham certeza de que sua escolha significará alguma coisa, os judeus continuarão a escolher a Palestina, para não arriscarem o único pássaro que já têm em mãos, por tantos que voam tão longe.

Seja como for, a Palestina já não pode aceitar mais judeus. Os 65 mil que havia na Palestina em 1918, saltaram hoje para 600 mil. Nós árabes também crescemos, em número, e não por imigração.

Os judeus eram apenas 11% da população, naquele território. Hoje, são um terço.

A taxa de crescimento tem sido assustadora.

Em poucos anos – a menos que o crescimento seja detido agora – haverá mais judeus que árabes, e seremos significativa minoria em nossa própria terra.

Não há dúvida de que o planeta é rico e generoso o bastante para alocar 200 mil judeus – menos de um terço da população que a Palestina, minúscula e pobre – já abriga.

Para o resto do mundo, serão mais alguns. Para nós, será suicídio nacional.

Dizem-nos, às vezes, que o padrão de vida árabe melhorou, depois de os judeus chegarem à Palestina. É questão complicada, dificílima de avaliar.

Mas, apenas para argumentar, assumamos que seja verdade. Neste caso, talvez fôssemos um pouco mais pobres, mas seríamos donos de nossa casa. Não é anormal preferirmos que assim seja.

A triste história da chamada Declaração de Balfour, que deu início à imigração dos sionistas para a Palestina, é complicada demais para repeti-la aqui, em detalhes.

Baseia-se em promessas feitas aos árabes e não cumpridas – promessas feitas por escrito e que não se podem cancelar.

Declaramos que aquela declaração não é válida. Declaradamente negamos o direito que teria a Grã-Bretanha de ceder terra árabe para ser "lar nacional" de um povo que nos é completamente estranho.

Nem a sanção da Liga das Nações altera nossa posição.

Àquela altura, nenhum país árabe era membro da Liga. Não pudemos dizer sequer uma palavra em nossa defesa.

Devo dizer – e, repito, em termos de franqueza fraterna –, que os EUA são quase tão responsáveis quanto a Grã-Bretanha, por esta Declaração de Balfour. O presidente Wilson aprovou o texto antes de ser dado a público, e o Congresso dos EUA aprovou-o, palavra por palavra, numa resolução conjunta de 30 de junho de 1922.

Nos anos 1920, os árabes foram perturbados e insultados pela imigração dos sionistas, mas ela não nos alarmou. Era constante, mas limitada, como até os sionistas pensavam que continuaria a ser.

De fato, durante alguns anos, mais judeus deixaram a Palestina, do que chegaram – em 1927, os que partiram foram o dobro dos que chegaram.

Mas dois novos fatores, que nem os britânicos nem a Liga nem os EUA e nem o mais fervoroso sionista considerou, começaram a pesar neste movimento, no início dos anos 30, e fizeram a imigração subir a patamares jamais imaginados.

Um, foi a Grande Depressão mundial; o outro, a ascensão de Hitler.Em 1932, um ano antes de Hitler tomar o poder, só 9.500 judeus chegaram à Palestina.

Não os consideramos bem-vindos, mas não tememos que, àquele ritmo, ameaçassem nossa sólida maioria árabe.

Mas no ano seguinte – o ano de Hitler –, o número saltou para 30 mil. Em 1934, foram 42 mil! Em 1935, 61 mil!Já não era a chegada ordeira de idealistas sionistas.

Em vez disto, a Europa jorrava sobre nós levas de judeus assustados. Então, sim, afinal, nos preocupamos.

Sabíamos que, a menos que se detivesse aquele fluxo gigantesco, seria a catástrofe para nós, os árabes, em nossa pátria palestina. Ainda pensamos assim.

Parece-me que muitos norte-americanos crêem que os problemas da Palestina são remotos, que estão muito distantes deles, que os EUA nada têm a ver com o que lá acontece, que o único interesse dos EUA é oferecer apoio humanitário.

Creio que os norte-americanos ainda não viram o quanto, como nação, são responsáveis em geral por todo o movimento sionista e, especificamente, pelo terrorismo de hoje.

Chamo-lhes a atenção para isto, porque tenho certeza de que, se se aperceberem da responsabilidade que lhes cabe, agirão com justiça e saberão admiti-la e assumi-la.

Sem o apoio oficial dos EUA ao Lar Nacional preconizado por Lorde Balfour, as colônias sionistas seriam impossíveis na Palestina, como seria impossível qualquer empreitada deste tipo e nesta escala, sem o dinheiro norte-americano.

Este dinheiro é resultado da contribuição dos judeus norte-americanos, num esforço pleno de ideais, para ajudar outros judeus.

O motivo foi digno: o resultado foi desastroso.

As contribuições foram oferecidas por indivíduos, entidades privadas, mas foram praticamente, na totalidade, contribuições de norte-americanos, e, como nação, só os EUA podem responder por elas.

A catástrofe que estamos vivendo pode ser deposta inteira, ou quase inteira, à porta de suas casas. Só o governo norte-americano, voz quase única em todo o mundo, insiste que a Palestina admita mais 100 mil judeus – depois dos quais incontáveis outros virão.

Isto terá as mais gravíssimas conseqüências e gerará caos e sangue como jamais houve na Palestina.

Quem clama por esta catástrofe – voz quase única no mundo – são a imprensa dos EUA e os líderes políticos dos EUA.

É o dinheiro dos EUA, quase exclusivamente, que aluga ou compra os "navios de refugiados" que zarpam ilegalmente para a Palestina: as tripulações são pagas com dinheiro dos EUA.

A imigração ilegal da Europa é montada pela Agência Judeus Americanos, que é mantida quase exclusivamente por fundos norte-americanos. São dólares norte-americanos que mantêm os terroristas, que compram as balas e as pistolas que matam soldados ingleses – aliados dos EUA – e cidadãos árabes – amigos dos EUA.

Surpreendeu-nos muito, no mundo árabe, saber que os norte-americanos admitem que se publiquem abertamente nos jornais anúncios à procura de dinheiro para financiar aqueles terroristas, para armá-los aberta e deliberadamente para assassinarem árabes.

Não acreditamos que realmente estivesse acontecendo no mundo moderno.

Agora, somos obrigados a acreditar: já vimos estes anúncios com nossos próprios olhos.

Falo sobre tudo isto, porque só a franqueza mais completa pode ser-nos útil.

A crise é grave demais para que nos deixemos deter por alguma polidez vaga, que nada significa.

Tenho a mais completa confiança na integridade de consciência e na generosidade do povo norte-americano.

Nós, árabes, não lhes pedimos qualquer favor.

Pedimos apenas que ouçam, para conhecer a verdade inteira, não apenas metade dela.

Pedimos apenas que, ao julgarem a questão palestina, ponham-se, todos, no lugar em que estamos, nós, os palestinos.

Que resposta dariam os norte-americanos, se alguma agência estrangeira lhes dissesse que teriam de aceitar nos EUA muitos milhões de estrangeiros – em número bastante para dominar seu país – meramente porque eles insistem em vir para os EUA e porque seus ancestrais viveram aqui há 2.000 anos?

Nossa resposta é a mesma.

E o que farão os norte-americanos se, apesar de terem-se recusado a receber esta invasão, uma agência estrangeira começar a empurrá-los para dentro dos EUA?

Nossa resposta será a mesma."

sexta-feira, 20 de março de 2009

Agostinho da Silva: “O Português preferiu a poesia da aventura, do sonho, a ...

Agostinho da Silva: “O Português preferiu a poesia da aventura, do sonho, a ser impelido para as coisas, ao trabalhinho que teve o holandês, que teve o inglês”

via Q u i n t u s de Clavis Prophetarum em 23/02/09

"O Português preferiu a poesia da aventura, do sonho, a ser impelido para as coisas, ao trabalhinho que teve o holandês, que teve o inglês. Agora Portugal vai ter problemas. Portugal vai ter o grande problema que nós todos temos, que é sermos o que somos. De nos cumprirmos. O grande problema que nós temos na vida é cumprirmo-nos." (…) "Nós fomos feitos para o impossível. Deixe o possível para os alemães. O possível, com grande magnanimidade eu deixo para os alemães e para os franceses. Nós o que temos que cumprir é o impossível."

Agostinho da Silva

Portugal foi formado na beira de um Oceano, não nas margens do Danúbio ou nas escuras florestas góticas da Escandinávia ou nas cinzentas colinas dos Países Baixos. A viva luz ambiente, a pressão -por vezes esmagadora - imposta pela presença de uma imensa e turbulenta massa oceânicas imprimiu desde cedo um carácter muito especial aos povos que foram chegando a este extremo europeu, que aqui se foram mesclando, camada após camada, ate enformarem aquilo que hoje conhecemos como o "português" e que espalhando-se pelo mundo fora, haveria de botar sementes de Lusofonia no Brasil, em África e na Oceânia que ainda hão de frutificar e unir - nesse carácter aventureiro comum - todos estes povos dispersos pela geografia e pelos acasos da Historia.

Foi a paixão pela aventura, que nunca existiu num formato tão essencial e absoluto em nenhum outro povo alem, talvez, excepto, nos gregos e dos fenícios, de que a portugalidade é plena herdeira, quer geneticamente, quer em termos de temperamento e alma. Se holandeses, ingleses e alemães se bastam e satisfazem como formiguinhas metódicas e organizadas, o português aborrece-se de morte nessas tarefas contabilistas e contadoras e sonha com mares abertos, com aventuras em terras distantes e feitos únicos. Por isso um pais tão pequeno conseguiu colonizar um pais continente tão extenso e diverso como o Brasil, por isso o regime de Salazar fez tudo quanto pode para travar os fluxos migratórios para África, por isso a emigração portuguesa foi sempre tão intensa ao longo de tantas décadas (e por isso mesmo regressa agora em plena força). O português não se fez para viver em Portugal. O português é acima de tudo um cidadão do mundo, fiel à aventura do Descobrimento e do Desbravamento e sonhando com novos mares e terras renovadas. Quando tentaram fazer de nos um "país europeu" entrámos em longa depressão coletiva numa Europa de germânicos e eslavos com quem não nos identificamos nem na alma profunda, nem no temperamento superficial. Os nossos irmãos mediterrâneos, espanhóis, italianos e gregos comungam connosco deste sentido sentimento de inferioridade em relação aos Senhores do norte da Europa, mas não têm a força anímica que já revelámos ter, resistindo a duas perdas de independência e mantendo as fronteiras mais estáveis de todo o continente.

Portugal tem a missão e o dever históricos de liderar os povos mediterrâneos, da margem nortenha deste mar, ate um ponto comum, que os separe dos povos do norte que sempre cobiçaram os seus Estados e solarengas paragens, que os afaste para as escuras e húmidas florestas do norte e que refundem em torno dos conceitos mediterrâneos de "vida conversável" e aventura empolgante as formas de vida que os neo germânicos tornaram em contabilidade e aforramento financeiro. O Homem mediterrâneo não foi formado para contar e somar, o mediterrâneo, de onde brota em primeira linha o portugueses e através dele, o lusófono, fez se para viver e contar o que viveu, não para somar o número de pregos que usou na sua caravela, nem os quilos de pimenta que embarcou em Cochim. Foi quando o passámos a fazer que desenhámos o fim de Portugal e preparámos - séculos depois - a adesão a uma Comunidade europeia com a qual nada temos a ver.

Publicado também na Nova Águia

Posted in Brasil, Movimento Internacional Lusófono, Nova Águia, Portugal, Sociedade Portuguesa

Carta da Sibéria para Nova York. Em… 1933

Carta da Sibéria para Nova York. Em… 1933

via Caminhos da Memória de Raimundo Narciso em 19/03/09
Ir à terra é rever os amigos, saber quem nasceu ou morreu, visitar o único moinho de vento a moer trigo, sobrevivente dos muitos que alvejavam no cimo dos montes que se erguem em redor da aldeia e são a antecâmara da Serra de Montejunto. E constatamos o envelhecimento da população, o declínio da agricultura e [...]

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Livro da Quinta

O Livro da Quinta

via Revisionismo em Linha de Johnny Drake em 19/03/09

Em Junho de 1941, Theodore N. Kaufman, presidente do Movimento Americano para a Paz e conselheiro do Presidente Roosevelt, revelou um plano para a "Solução Final". O genocídio torna-se política oficial - O PLANO DE EXTERMÍNIO DO POVO ALEMÃO.
O sistema politicamente correcto que vigora na sociedade actual não deixa que apareça nos livros de História que não foi Adolf Hitler, mas sim um judeu, T. N. Kaufman, quem inventou o termo "Solução Final". Onde está a coragem para afirmar que os Estados Unidos e o lobby da imprensa Sionista Americana aplaudiram o trabalho de Kaufman, planeando a "Solução Final": a aniquilação do povo Alemão?
"Germany Must Perish ["A Alemanha Precisa Morrer"] apresenta um plano para a permanente e definitiva paz entre as nações civilizadas. E é um, e apenas um, com Pena Máxima:

"'A Alemanha precisa morrer' para sempre! De facto - não em fantasia!... A guerra-luxúria existe como um conjunto nas massas Alemãs. Os líderes Alemães não estão isolados desta vontade do povo Alemão (...) " (páginas 6 e 7).
"Eu não sinto nenhum ódio pessoal a mais por estas pessoas [os Alemães] que eu poderia sentir por um rebanho de animais selvagens ou um grupo de répteis venenosos... Eles perderam as características dos seres humanos. Eles são bestas; eles precisam de ser tratados como tal (16)".
"Só há uma forma de frustrar este desejo: a meta de dominação mundial precisa de ser removida do alcance do povo Alemão e a única forma de fazer isso é removendo dos Alemães do mundo (28)."
"O vírus maligno do Germanismo tinha sido injectado no fluxo de vida do público e os Alemães esperaram a epidemia que eles sentiam que infestaria o mundo mais cedo ou mais tarde (45)."

"Porque ela [a Alemanha] não fez nenhum esforço milhares de anos atrás para tornar-se civilizada, como fizeram os vizinhos dela, a Alemanha hoje é uma intrusa entre as nações civilizadas (77)."
"Reeducação da geração mais jovem? É altamente duvidoso que um grande programa de reeducação valeria o esforço ou alcançaria o seu objectivo. O espírito é grande e infinitamente mais poderoso que o cérebro. E as características militantes tornaram-se parte integrante do espírito dos Alemães. Algum dia a alma guerreira Alemã voltaria a dominar o seu cérebro (dos Alemães). Uma solução final: (…) aí está, não há nenhuma outra solução excepto:
A Alemanha precisa de desaparecer deste planeta para sempre! E, afortunadamente, como nós podemos ver agora, isso não é impossível de ser realizado. (82,83)."
"(…) Assim resta apenas uma maneira de livrar o mundo do Germanismo para sempre - e isso é eliminar a fonte destas almas guerreiras - impedindo o povo Alemão de reproduzir a sua espécie. Este método moderno, conhecido pela ciência como Esterilização Eugénica, que é prática, humana e perfeita. A esterilização tornou-se um provérbio da ciência, como o melhor meio de livrar a raça humana dos seus desajustados: os insanos, os criminosos hereditários.
(…) A esterilização (…) é uma operação simples e segura, totalmente inofensiva e indolor, nunca mutilando ou castrando os pacientes. Os seus efeitos (colaterais) não são mais sérios que a extracção de um dente. (…) A população da Alemanha, excluindo os territórios conquistados ou anexados, é de aproximadamente 70 milhões, igualmente divididos entre homens e mulheres. Para realizar o plano de extinguir o povo Alemão será necessário esterilizar apenas cerca de 48 milhões de pessoas – um número que exclui, devido à limitada capacidade deles se procriarem, homens com mais de 60 anos de idade e mulheres com mais de 45 anos. (…) Cerca de 20 mil cirurgiões como um número arbitrário e assumindo que cada um executa um mínimo de 25 operações por dia não precisaremos mais que um mês, no máximo, para completar a esterilização deles... O restante da população civil masculina da Alemanha pode ser tratado em três meses. (86-88)"
Leia mais sobre este assunto aqui.

"As águas cingiam-me até à alma"

via O que eu andei ... de João B. Serra em 13/03/09
Aquilo que imediatamente nos chama atenção é a sua singularidade no conjunto dos textos proféticos. Esta obra breve, a única que foi escrita na terceira pessoa, é a mais dramática história de solidão de toda Bíblia e, no entanto, é contada como que do exterior dessa solidão - como se, ao mergulhar no negrume dessa solidão, o "eu" se tivesse perdido de si mesmo. Portanto, o "eu" só pode falar de si mesmo como um outro. Como na frase de Rimbaud: "je est un autre".
Jonas não se mostra apenas relutante em falar (como Jeremias, por exemplo). Não, Jonas recusa-se mesmo a falar. "Agora a palavra do Senhor foi dirigida a Jonas (...) Mas Jonas levantou-se e fugiu da face do Senhor".
Jonas foge. Paga a sua passagem e embarca num navio. Rebenta uma tempestade terrível, de tal forma que os marinheiros temem que o navio naufrague. Todos pedem aos seus deuses que os poupem. Jonas, pelo contrário, "tinha descido ao porão e, deitando-se ali, dormia profundamente". O sono, portanto, como retirada absoluta do mundo. Sono como uma imagem de solidão. Oblomov enroscado no seu divã, regressando pelo sonho ao útero da mãe. Jonas no ventre da baleia.
O comandante do navio encontra então Jonas e diz-lhe que reze ao seu Deus. Entretanto, os marinheiros deitam sortes para ver quem será o responsável pela tempestade: "...e a sorte caiu sobre Jonas".
"E então ele disse-lhes: 'Pegai em mim e lançai-me ao mar e o mar se acalmará porque sei que foi por minha causa que vos sobreveio esta tempestade.'
"No entanto, os homens remavam para ver se conseguiam ganhar a terra, mas em vão, pois o mar cada vez se embravecia mais contra eles" (...).
"E foi assim que pegaram em Jonas e o lançaram ao mar e a fúria do mar acalmou-se".
Não obstante a mitologia popular em torno da baleia, o grande peixe que engole Jonas não é de modo algum um agente de destruição. É o peixe que o salva de morrer afogado. "As águas cingiam-me até à alma, o abismo cerrava-se à minha volta, as algas pegavam-se à minha cabeça".

Paul Auster, Inventar a Solidão. Porto, Asa, 2004. p. 141

quarta-feira, 18 de março de 2009

Dos Baixos Instintos

via INCONFORMISTA.INFO de Miguel Vaz em 17/03/09
"Ao contrário do catolicismo, o comunismo não tem uma doutrina. Enganam-se os que supõem que ele a tem. O catolicismo é um sistema dogmático perfeitamente definido e compreensível, quer teologicamente, quer sociologicamente. O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema – o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós.
O comunismo não é uma doutrina porque é uma antidoutrina, ou uma contradoutrina. Tudo quanto o homem tem conquistado até hoje, de espiritualidade moral e mental – isto é, de civilização e de cultura – tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem."

Fernando Pessoa

in "À Procura da Verdade Oculta – Textos Filosóficos e Esotéricos", 1915.

Espera em Catió

via Caminhos da Memória de João Tunes em 17/03/09
É um dado normalmente adquirido que no «virar» do corpo de oficiais profissionais do exército colonial contra a continuação das guerras e que desembocou no 25 de Abril, teve influência importante o «contágio político» devido à incorporação, como oficiais milicianos, de muitos dos dirigentes e activistas (os que não optaram pela deserção e exílio) vindos [...]

terça-feira, 17 de março de 2009

Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas (XII)

Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas (XII)

via Carreira da Índia de Leonel Vicente em 17/03/09

Em 1640, numa altura em que o Estado da Índia atravessava as maiores dificuldades e a V.O.C. (Companhia das Índias Orientais) holandesa vivia os seus dias de maior pujança, os holandeses julgaram ter chegado a hora de tentar uma nova investida contra Malaca. O comércio desta encontrava-se então reduzido ao trato de mercadorias de segunda categoria, mediante a exploração de rotas de curto e médio curso, com pequenos navios de remo, os únicos capazes de escapar às naus inimigas. O cerco demorou vários meses, saldando-se em pesadas baixas e na destruição de parte da cidade. Apesar da completa falta de reforços da Índia, do número reduzido de defensores e das próprias querelas internas, nomeadamente entre os capitães Diogo Coutinho Docem e Luís Martins Chichorro, a cidade resistiu até Janeiro de 1641.

Malaca nunca mais voltou a reaver o antigo fulgor. A conquista holandesa valeu sobretudo pelo prestígio de obter a antiga capital malaia e desferir o golpe de misericórdia aos rivais portugueses; a capital da V.O.C. permaneceu, contudo, em Batávia. A ocupação holandesa foi severa para com os vestígios da presença portuguesa: igrejas destruídas ou transformadas em dependências militares, A Famosa tornada armazém, proibição do culto católico. O centro de influência portuguesa na região transferiu-se para Macassar e, posteriormente, para Timor. Só nas primeiras décadas do século XVIII é que a ortodoxia calvinista permitiria a abertura de uma igreja católica em Malaca. O período de domínio britânico não foi menos ingrato: a demolição integral do impressionante complexo fortificado (de que só resta hoje uma porta, a de Santiago), a transferência da capital administrativa para a ilha de Penang e a fundação de Singapura consumaram o apagamento de Malaca. No que toca à presença portuguesa, resta hoje uma pequena comunidade de mestiços cristãos, que falam um dialecto eivado de arcaísmos, chamado "papiá cristão" e que reclamam, com visível orgulho, a descendência portuguesa.

Paulo Jorge de Sousa Pinto. "Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas" In Os Espaços de um Império – Estudos. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Os Capuchos no "Livro das grandezas de Lisboa" (1804)

via SOS Capuchos de RS em 16/03/09
Da obra "Livro das grandezas de Lisboa", por Nicolau de Oliveira. Publicado por Impressaõ regia, 1804. Página 150.

Sobre Sintra:

"Tem mais três Mosteiros: o primeiro , e mais chegado á villa, he o Mosteiro da Sanctissima Trindade , o qual tem dez Religiosos. O segundo he de Religiosos da Ordem de Saõ Hieronymo , chamado nossa Senhora da Pena, situado todo quasi sobre hum penedo no principio da Serra, e tem vinte Religiosos. O terceiro, que he de Franciscanos Capuchos , está quasi no fim da mesma Serra , e delle se afirma ser o mais pequeno em sitio, mais pobre, e mais áspero que todos os do mundo; e sendo este, daõse alguns Religiosos por desconsolados por lhes naõ darem seus Prelados licença pera serem moradores daquella casa onde ha dez Religiosos"

Como participei na coluna de Salgueiro Maia na madrugada do 25 de Abril de 1974

via Caminhos da Memória de Eduardo Graça em 16/03/09
Com o João Mário Mascarenhas na Porta de Armas do 2º GCAM, no Campo Grande, em Lisboa. Pelo 35º aniversário da revolução, em homenagem aos meus companheiros de armas Capitão Teófilo Bento Quando eclodiu o 25 de Abril, cumpria serviço militar, como oficial miliciano, desde finais de 1971, no quartel do Campo Grande, em Lisboa. Nunca soube [...]

Olhando o PCP, entre o sol da terra e a nossa terra, com Pável em memória

via Sobre o tempo que passa de JAM em 16/03/09

Jerónimo e Sócrates são activistas partidários pós-abrileiros, tal como Cavaco e Portas. Apenas Manela e Louçã deram sinais de empenhamento cívico antes do 25A, ambos como estudantes da mesma escola, em duas crises estudantis do velho Quelhas e, curiosamente, no mesmo lado antiditatorial. Jerónimo acusa Sócrates de utilizar a real imagem dos sindicatos como "correias de transmissão", segundos os ditames do Komintern, coisa que já não há, não reparando que o nosso PCP já não depende de qualquer "sol na Terra", sendo o mais teluricamente antigo da nossa própria terra. O PCP tem, portanto, mais de oito décadas de vivência, desencadeada pela Federação Maximalista que, começou por ser uma dissidência da central sindical lusitana da CGT, de ampla maioria anarco-sindicalista, até chegar o revisionismo celular e sovietista de Bento Gonçalves e Álvaro Cunhal.

Carvalho da Silva é doutor sem ser de encomenda espanhola, para cumprimento das "quotas" gagueiras, tal como Alexandre Vieira, Ferreira de Castro e Mário Domingues eram jornalistas do diário da CGT. Duzentos mil na rua contra os ministros do reino por vontade estranha são autenticidade que nenhuma entrevista de palanque consegue apagar nem cicratizar com parangonas. O primeiro-ministro de Portugal não pode descer ao nível de um qualquer Luís Filipe Vieira.


Manela diz que já não tem tabu quanto à escolha do cabeça de lista ao parlamento europeu. Está no seu direito, agora que se começa a habituar ao vedetismo mediático e nos entra casa dentro quase todos os dias. Espero que a política lusitana não se reduza a estes bailaricos aonde não vão os homens livres que não gostam de festas com porta estreita de saída.

É por isso que me dediquei a rever a biografia de Francisco de Paula Oliveira Júnior (1908-1993), dito Pável, depois de uma troca de "mails" com o respectivo filho. Esse destacado e mítico militante dos tempos heróicos do PCP. Operário no Arsenal da Marinha catequetizado por Bento Gonçalves (1929). Em Janeiro de 1932 já aparece como secretário da Federação da Juventude Comunista Portuguesa. Contudo, a partir de Abril de 1939, instala-se no México, desaparecendo da cena política portuguesa. Aí adopta o novo nome de Antonio Rodriguez, tornando-se escritor e professor universitário, de tal maneira se ligando ao Novo Mundo que até esquece a língua materna. Recebi, do respectivo filho, um informe sobre este escritor, periodista, investigador, luchador social, educador y crítico de arte.


En Portugal fue periodista y dirigente político y luchó contra la dictadura de Oliveira Salazar. Estudió en la Unión Soviética. Participó del lado de las fuerzas republicanas en la guerra civil española. Continuó su lucha contra el fascismo en Francia, en abril de 1939 llegó a México con el exilio español y se naturalizó mexicano en 1941. Dirigió el Departamento de Difusión Cultural del Instituto Politécnico Nacional y el Museo Tecnológico de la Comisión Federal de Electricidad. Fundó el Club de periodistas de México, del cual fue Secretario General. Fundó y dirigió la revista "IPN. Ciencia, arte: cultura." Fue director fundador del Museo del Quijote de la Fundación Eulalio Ferrer, en la Ciudad de Guanajuato, Guanajuato. Escribió cientos de artículos y reportajes en numerosos periódicos y revistas de México, entre ellos: "El popular", "El Nacional", "El día", "Excélsior", "El diario de México", "Impacto", "Hoy", "Mañana", "Siempre" (revista en la cual colaboró desde su fundación). Escribió decenas de catálogos para exposiciones individuales y colectivas de artistas plásticos.


Premios y distinciones:


En 1947 obtuvo el primer premio, en la sección ensayo, en el certamen convocado por Talleres gráficos de la Nación con el libro "El Quijote mensaje oportuno."En 1960 obtuvo de manos del Presidente de la República mexicana el premio "Francisco Zarco", al trabajo periodístico de mayor trascendencia nacional, otorgado por la Asociación Mexicana de Periodistas, con los reportajes publicados en la Revista Siempre y posteriormente en forma del libro "El rescate del petróleo. Epopeya de un pueblo." En 1968 en la Feria internacional del libro de Francfort, Alemania, la edición en alemán de su libro "El Hombre en llamas." ("Der Mench in Flammen") obtuvo el primer lugar como libro de arte. En 1979 obtuvo el Premio Nacional de Periodismo Cultural, que otorga el gobierno de los Estados Unidos Mexicanos.

En 1985 le pusieron el nombre de "Antonio Rodríguez" a una escuela técnica agropecuaria en Ixmiquilpan, en el Valle del Mezquital, Estado de Hidalgo, México, como reconocimiento a su novela reportaje "La nube estéril. Drama del Mezquital." En 1990 obtuvo el grado de Comendador de la orden del Infante Don Enrique, el navegante, que otorga el Gobierno de la República de Portugal En 1994 la Casa de la Cultura del periodista le puso el nombre de "Antonio Rodríguez" a su galería de arte. En 1994 el Instituto Politécnico Nacional le puso el nombre "Antonio Rodríguez" a la galería del Centro cultural "Jaime Torres Bodet" de la Unidad Profesional "Adolfo López Mateos." En 1993 el Museo de la Estampa de la Ciudad de México le puso el nombre de "Antonio Rodríguez" a una de sus salas de exhibición. El 15 de agosto de 1995 el gobierno del Departamento del Distrito Federal le puso el nombre de "Antonio Rodríguez" a una calle de a Colonia San Simón de la Delegación "Benito Juárez".

Publicó los siguientes libros:

Novela reportaje:

"La nube estéril. Drama del Mezquital."(1952).

Ensayos y grandes reportajes, publicados como libros:

"El Quijote visto por grandes escritores." (1947).

"La Revolución francesa. Síntesis histórica."(1947).

"El rescate del petróleo. Epopeya de un pueblo."(1958).

"Declaración de amor a Praga." (1959).

"Reportajes en China y en Corea."(1959).

"El henequén, una planta calumniada."(1967).

Coautor de los libros de crítica de arte:

"Diego Rivera, 50 años de labor artística". (1951).

"Kunst windersrand im malerai, graphik, plastik 1922-1945. " (1968).

"Siqueiros." (1985).

"Diego Rivera. Hoy." (1986).

"Capdevilla. Visión múltiple." (1987).

Autor de los libros de crítica de las artes plásticas, arquitectura, literatura y urbanismo: "Diego Rivera, pintor del pueblo mexicano." (1948).

"Le Corbusier, paladín y profeta de los tiempos modernos." (1967).

"Elegancia, optimismo y buen gusto de la pintura francesa." (1967).

"La ciudad, obra maestra del hombre." (1968).

"A history of mexican mural painting." (1969).

"Dr. Atl." (1969).

"El Hombre en llamas." (1970).

"Francisco Marín. Escultura." (1970).

"La Anunciación en la pintura del renacimiento italiano." (1973).

"Siqueiros." (1974).

"La Piedad en la obra de Miguel Angel." (1975).

"Posada. El artista que retrató a una época." (1977).

"Jesús Reyes Ferreira". (1978).

"Saudade". (1979).

"Las cuevas pintadas en Baja California". (1982).

"Guernica: grito de cólera contra la barbarie, incitación del hombre a la esperanza." (1982).

"Crucifixión y resurrección en la pintura de Grunewald". (1983).

"La pintura mural en la obra de Orozco." (1983).

"Canto a la tierra. Los murales de Diego Rivera en Chapingo." (1986).

"Diego Rivera. Los murales de la Secretaría de Educación Pública." (1986).

"Diego Rivera. Pintura mural." (1987).

"Siqueiros. Pintura mural." (1992).

Cuatro de sus libros están inéditos:

"Alfredo Zalce." (1992).

Una autobiografía, sin título (1992).

Una antología de los artículos sobre "José Luis Cuevas", elaborada por el Museo "José Luis Cuevas" de la Ciudad de México.

Una antología sobre sus artículos de arquitectura.