sexta-feira, 20 de março de 2009

Agostinho da Silva: “O Português preferiu a poesia da aventura, do sonho, a ...

Agostinho da Silva: “O Português preferiu a poesia da aventura, do sonho, a ser impelido para as coisas, ao trabalhinho que teve o holandês, que teve o inglês”

via Q u i n t u s de Clavis Prophetarum em 23/02/09

"O Português preferiu a poesia da aventura, do sonho, a ser impelido para as coisas, ao trabalhinho que teve o holandês, que teve o inglês. Agora Portugal vai ter problemas. Portugal vai ter o grande problema que nós todos temos, que é sermos o que somos. De nos cumprirmos. O grande problema que nós temos na vida é cumprirmo-nos." (…) "Nós fomos feitos para o impossível. Deixe o possível para os alemães. O possível, com grande magnanimidade eu deixo para os alemães e para os franceses. Nós o que temos que cumprir é o impossível."

Agostinho da Silva

Portugal foi formado na beira de um Oceano, não nas margens do Danúbio ou nas escuras florestas góticas da Escandinávia ou nas cinzentas colinas dos Países Baixos. A viva luz ambiente, a pressão -por vezes esmagadora - imposta pela presença de uma imensa e turbulenta massa oceânicas imprimiu desde cedo um carácter muito especial aos povos que foram chegando a este extremo europeu, que aqui se foram mesclando, camada após camada, ate enformarem aquilo que hoje conhecemos como o "português" e que espalhando-se pelo mundo fora, haveria de botar sementes de Lusofonia no Brasil, em África e na Oceânia que ainda hão de frutificar e unir - nesse carácter aventureiro comum - todos estes povos dispersos pela geografia e pelos acasos da Historia.

Foi a paixão pela aventura, que nunca existiu num formato tão essencial e absoluto em nenhum outro povo alem, talvez, excepto, nos gregos e dos fenícios, de que a portugalidade é plena herdeira, quer geneticamente, quer em termos de temperamento e alma. Se holandeses, ingleses e alemães se bastam e satisfazem como formiguinhas metódicas e organizadas, o português aborrece-se de morte nessas tarefas contabilistas e contadoras e sonha com mares abertos, com aventuras em terras distantes e feitos únicos. Por isso um pais tão pequeno conseguiu colonizar um pais continente tão extenso e diverso como o Brasil, por isso o regime de Salazar fez tudo quanto pode para travar os fluxos migratórios para África, por isso a emigração portuguesa foi sempre tão intensa ao longo de tantas décadas (e por isso mesmo regressa agora em plena força). O português não se fez para viver em Portugal. O português é acima de tudo um cidadão do mundo, fiel à aventura do Descobrimento e do Desbravamento e sonhando com novos mares e terras renovadas. Quando tentaram fazer de nos um "país europeu" entrámos em longa depressão coletiva numa Europa de germânicos e eslavos com quem não nos identificamos nem na alma profunda, nem no temperamento superficial. Os nossos irmãos mediterrâneos, espanhóis, italianos e gregos comungam connosco deste sentido sentimento de inferioridade em relação aos Senhores do norte da Europa, mas não têm a força anímica que já revelámos ter, resistindo a duas perdas de independência e mantendo as fronteiras mais estáveis de todo o continente.

Portugal tem a missão e o dever históricos de liderar os povos mediterrâneos, da margem nortenha deste mar, ate um ponto comum, que os separe dos povos do norte que sempre cobiçaram os seus Estados e solarengas paragens, que os afaste para as escuras e húmidas florestas do norte e que refundem em torno dos conceitos mediterrâneos de "vida conversável" e aventura empolgante as formas de vida que os neo germânicos tornaram em contabilidade e aforramento financeiro. O Homem mediterrâneo não foi formado para contar e somar, o mediterrâneo, de onde brota em primeira linha o portugueses e através dele, o lusófono, fez se para viver e contar o que viveu, não para somar o número de pregos que usou na sua caravela, nem os quilos de pimenta que embarcou em Cochim. Foi quando o passámos a fazer que desenhámos o fim de Portugal e preparámos - séculos depois - a adesão a uma Comunidade europeia com a qual nada temos a ver.

Publicado também na Nova Águia

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