sábado, 7 de março de 2009

Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas (V)

Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas (V)

via Carreira da Índia de Leonel Vicente em 06/03/09

Malaca sempre contou com um rival de peso nascido do próprio acto de conquista da cidade: o sultanato de Johor, fundado pelo filho do último sultão malaio. Durante as primeiras décadas, o temor das investidas de Johor, eventualmente para recuperar a cidade perdida, prevaleceu sobre outras ameaças. Contudo, na década de 1530, este panorama veio a sofrer alterações, com a entrada em cena do sultanato de Achém, na ponta setentrional de Samatra, que capitalizou o efeito da conquista portuguesa e se assumiu, com o apoio nominal do Império Otomano, o papel de vanguarda islâmica na região. Em 1537, veio pôr cerco à cidade, inaugurando uma série de ataques que só terminaria em 1629, com uma derrota estrondosa às mãos de Nuno Álvares Botelho. O Achém tornou-se assim o principal adversário dos portugueses na região e a grande ameaça para Malaca, se se exceptuar um breve período de paz na década de 1590. Esta tendência atingiu o seu auge nas décadas de 1560 e 1570, quando uma conjuntura anti-portuguesa se estendeu por todo o Índico, juntando num esforço comum diversas potências islâmicas, do Guzerate a Malaca.

À medida que crescia o poderio achém, a hostilidade de Johor para com os portugueses atenuava-se. Na verdade, este sultanato era igualmente atingido pela hostilidade do Achém, que por diversas vezes, o tentou suplantar e neutralizar. Assim, Johor aproximou-se pontualmente dos portugueses, sobretudo quando o inimigo comum se tornava mais ameaçador, como ocorreu no decorrer dos ataques a Malaca em 1568 e 1573-75. A hegemonia sobre a região dos Estreitos de Malaca passou assim a ser partilhada por três poderes rivais, marcando o equilíbrio geopolítico da região que se manteve, sem alterações de maior, até à chegada dos holandeses, nos finais do século XVI. A estratégia de sobrevivência de Malaca, num meio que se tornou gradualmente hostil, e dada a grande distância que a separava de Goa e do Índico Ocidental, onde se concentrava o grosso das armadas portuguesas, passou pela gestão ponderada deste equilíbrio, doseando a diplomacia com a pressão militar (3).

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(3) Cf. Paulo Jorge de Sousa Pinto, Portugueses e Malaios - Malaca e os Sultanatos de Johor e Achém (1575-1619). Lisboa, 1997.

Paulo Jorge de Sousa Pinto. "Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas" In Os Espaços de um Império – Estudos. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999.

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