terça-feira, 17 de março de 2009

Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas (XII)

Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas (XII)

via Carreira da Índia de Leonel Vicente em 17/03/09

Em 1640, numa altura em que o Estado da Índia atravessava as maiores dificuldades e a V.O.C. (Companhia das Índias Orientais) holandesa vivia os seus dias de maior pujança, os holandeses julgaram ter chegado a hora de tentar uma nova investida contra Malaca. O comércio desta encontrava-se então reduzido ao trato de mercadorias de segunda categoria, mediante a exploração de rotas de curto e médio curso, com pequenos navios de remo, os únicos capazes de escapar às naus inimigas. O cerco demorou vários meses, saldando-se em pesadas baixas e na destruição de parte da cidade. Apesar da completa falta de reforços da Índia, do número reduzido de defensores e das próprias querelas internas, nomeadamente entre os capitães Diogo Coutinho Docem e Luís Martins Chichorro, a cidade resistiu até Janeiro de 1641.

Malaca nunca mais voltou a reaver o antigo fulgor. A conquista holandesa valeu sobretudo pelo prestígio de obter a antiga capital malaia e desferir o golpe de misericórdia aos rivais portugueses; a capital da V.O.C. permaneceu, contudo, em Batávia. A ocupação holandesa foi severa para com os vestígios da presença portuguesa: igrejas destruídas ou transformadas em dependências militares, A Famosa tornada armazém, proibição do culto católico. O centro de influência portuguesa na região transferiu-se para Macassar e, posteriormente, para Timor. Só nas primeiras décadas do século XVIII é que a ortodoxia calvinista permitiria a abertura de uma igreja católica em Malaca. O período de domínio britânico não foi menos ingrato: a demolição integral do impressionante complexo fortificado (de que só resta hoje uma porta, a de Santiago), a transferência da capital administrativa para a ilha de Penang e a fundação de Singapura consumaram o apagamento de Malaca. No que toca à presença portuguesa, resta hoje uma pequena comunidade de mestiços cristãos, que falam um dialecto eivado de arcaísmos, chamado "papiá cristão" e que reclamam, com visível orgulho, a descendência portuguesa.

Paulo Jorge de Sousa Pinto. "Malaca: Uma encruzilhada de rotas e culturas" In Os Espaços de um Império – Estudos. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999.

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