quarta-feira, 30 de junho de 2010
Caminhos do Divino, um livro excepcional Eduardo Mayone Dias (2/2)
terça-feira, 29 de junho de 2010
António Quadros sobre António Manuel Couto Viana (1923-2010)
António Quadros sobre António Manuel Couto Viana (1923-2010)
Palavras de António Telmo
Mulheres degeneradas?
Valdeci Rezende Borges
O romancista e dramaturgo José de Alencar (1829-1877), que até hoje desfruta de boa popularidade, foi visto como imoral em sua época e em parte do século XX, irritando conservadores e moralistas pelas cenas, inclusive de erotismo, que produziu, especialmente em perfis de mulheres, como Lucíola, Diva e Senhora.
Logo em seu romance de estréia, Cinco Minutos (1856), e em A Viuvinha, de 1860, ele trata dos costumes urbanos e já esboça os traços femininos predominantes de sua obra com um propósito educativo. Para alguns críticos, esses livros possuem um lirismo suave. Mas para outros, como frei Pedro Sinzig (1876-1952), em seu "guia para as consciências", Através dos romances (1915), manual de leitura de ficção, o primeiro é "bastante exaltado", com "descrições de paixões um tanto vivas e voluptuosas", e o segundo tem "algumas descrições muito ousadas". Portanto, desaconselhava tais leituras.
Soldados esquecidos
Rosely Batista Miranda de Almeida
Não foram só as forças armadas do Império que deram ao Brasil a vitória no maior conflito bélico jamais ocorrido na América do Sul. Pesquisas já mostraram que gente do povo, mulheres, escravos e ex-escravos também tiveram atuação marcante na Guerra do Paraguai (1864-1870). De todas essas minorias combatentes, a participação dos índios era menos conhecida. Hoje se sabe que eles atuaram no conflito como verdadeiros soldados, e foram considerados "bravos auxiliares" por oficiais do nosso exército. Existem muitos relatos sobre gestos heróicos de soldados indígenas que fazem jus aos elogios, como, por exemplo, o de grupos avançando de peito nu, numa demonstração de extrema coragem, para desalojar soldados paraguaios escondidos nas matas que eles tão bem conheciam. Ou de pelotões indígenas realizando com êxito a missão de observar os movimentos do inimigo ou de trazerem de volta aos seus destacamentos soldados desertores e escravos fugidos.
Vida e Morte no Cristianismo Primitivo (parte1)
Vida e Morte no Cristianismo Primitivo (parte1)
Marcos Caldas
Professor de História Antiga da Universidade Federal Fluminense
A denominação 'cristianismo primitivo' compreende o período que vai da morte de Jesus em 33[1] A.D[2] até a chamada "conversão de Constantino" (306-337)[3], ocorrida ao que parece no ano de 337 d.C. Este período pode ser dividido em três fases: a) a primeira fase está situada entre época da vida de Jesus até o ano 100, data em que a maioria dos contemporâneos de Jesus já havia falecido; b) a segunda fase vai do ano 100 ao ano de 250, no momento em que o Cristianismo se propagava fora da Palestina, principalmente nas províncias romanas mais antigas (Síria, Ásia Menor, Egito e, é claro, pela Itália, especialmente em Roma), sem, no entanto, constituir uma religião universal; e c) o terceiro momento abrange a época em que o Cristianismo foi mais intensamente perseguido pelo Estado romano (entre 250 e 311) até sua aceitação como religião do Estado imperial romano a partir de 391[4]. Ler mais
Vida e Morte no Cristianismo Primitivo (parte 2)
Vida e Morte no Cristianismo Primitivo (parte 2)
Marcos Caldas*
acerca, por exemplo, do desrespeito por viúvas e órfãos - como em Timóteo[34] - aparecem com toda força e não se restringem apenas às camadas sociais mais desprivilegiadas, mas também a alguns setores da elite imperial. Alguns aspectos sociais de época são também ressaltados nos textos do NT, como é o caso da Escravidão. Os escravos lhes são naturais e não há qualquer tentativa de impedir a escravidão[35], pois a vida econômica dependia, ao menos no ocidente, de sua permanência[36]. No plano político, a mensagem do evangelho alcançava vagarosamente os estratos sociais mais elevados, tornando-se aos poucos uma real ameaça à política imperial[37]. Entre as personalidades de grande prestígio que abraçam a mensagem cristã nessa época podemos citar a figura singular Quintus Septimus Florens Tertullianus (160-220 d.C.). Nascido em Cartago, cidade do norte da África, Tertuliano filho de oficial romano, impressionado e entusiasmado com movimento cristão, passa a defender vigorosamente o novo credo em face à opressão religiosa estatal. Em suas obras, a ressurreição dos mortos abre caminho ao desenvolvimento das visões do além-mundo.
Nelas, o reino dos mortos ganha uma sistematização ainda não vista, de modo a assegurar aos post mortes a justa recompensa ou a severa punição. Ler mais
segunda-feira, 28 de junho de 2010
António Manuel Couto Viana – Breve evocação de António José de Brito
sábado, 26 de junho de 2010
Contos do Rei Preto
Nações terrestres e nações marítimas
Nações terrestres e nações marítimas
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Homenagem a Carlos Pato (2)
A 25 de Setembro publicaram a entrevista com Maria Rodrigues Pato, a mãe de Carlos Pato, que faria 74 anos em Outubro desse ano.
Homenagem a Carlos Pato (1)
Memória de António Manuel Couto Viana por Manuel Poppe
Memória de António Manuel Couto Viana por Manuel Poppe
Manuel Poppe
In Jornal de Notícias, p. 51. 13.06.2010
No adeus a Couto Viana de Cláudio Lima
António M. Couto Viana (1923-2010) (E)vocação literária, de António Carlos C...
As minhas memórias de Couto Viana por Alberto de Araújo Lima
As minhas memórias de Couto Viana por Alberto de Araújo Lima
Conheci-o pessoalmente num dos jantares anuais comemorativos do 28 de Maio e mais tarde, revi-o no centenário de Salazar (1989), no Porto. Onze anos depois revia-o novamente por ocasião do 50.º aniversário da morte de Alfredo Pimenta, onde palestrou, na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, levada a cabo a 29 de Novembro de 2000, em Lisboa.
A minha aproximação a Couto Viana dá-se pela boa mão de Rodrigo Emílio, a quem Couto Viana perguntou se sabia de alguém que o pudesse ajudar na recolha dos poemas publicados n`A Rua sobre o Ano Internacional da Criança e Rodrigo disse-lhe que sim, falando no meu nome como detentor da colecção quase completa desse magnífico semanário.
Concluída, então, a pesquisa e recolha dos poemas bem como das imagens que os ilustravam, fiz chegar ao António Manuel com impressões a laser. Couto Viana ficou radiante ao conseguir reconstituir essa selecta de poemas e ver assim dar à luz mais um livro da poesia "Criança é Rima de Esperança" (2001), com o que me brindou numa exagerada e "extraordinária gentileza" dedicatória. Ler mais
O nosso muito caro Amândio César
O nosso muito caro Amândio César
Mas eu conto:
SARAMAGO FELIZ
José Adelino Maltez – Discurso faccioso e tribal, proferido ontem, por mim p...
Herculano e os Açores - Eduíno de Jesus
EU JÁ VI NUMA ILHA
(Excerto do poema "Tristezas do Desterro")
Eu já vi numa ilha arremessada
às solidões do mar , entre os dous mundos,
vestígios de vulcões que hão sido extintos
em não sabidos séculos. Cintilam,
aqui e ali, nos areientos plainos,
onde espinhosas sarças só vegetam,
restos informes de metais fundidos
pelas chamas do abismo, entre afumadas
pedras que em parte amarelece o enxofre,
que a lava em rios dispersou, deixando
só dele a cor em lascas arrancadas
das entranhas dos montes penhascosos.
A natureza é morta em todo o espaço
que ela correu no dia em que, rugindo,
da cratera fervente, à voz do Eterno,
desceu ao mar turbado, e ele, escumando,
a engoliu e passou, qual sumiria
de sossobrada nau celeuma inútil.
Tal é meu coração. [...]
ALEXANDRE HERCULANO
HERCULANO E OS AÇORES
Eduíno de Jesus
EDUÍNO DE JESUS
(Texto inédito, Maio 2010)
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Paiva Couceiro exilado por Salazar !
Paiva Couceiro exilado por Salazar !
Exilado pelo salazarismo a 16 de Setembro de 1935, por seis meses, por ter criticado publicamente a política colonial do regime.
Polícia de Vigilância e de Defesa do Estado (mais tarde P.I.D.E.) – "Certificado de viagem" com que Henrique Paiva Couceiro saíu de Portugal para o seu último exílio em Espanha. Ia fazer 77 anos! Mesmo assim foi tratado por Salazar como o pior dos criminosos…
A carta que escreveu a Salazar a 31/10/1937 e que lhe valeu esse derradeiro exílio pode ser lida no link seguinte:
http://www.angelfire.com/pq/unica/ultramar_1937_paiva_couceiro_ultramar.htm
Fonte : Miguel Paiva Couceiro
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Retornados, espoliados do Ultramar: Discurso do Prof. Dr. Adriano Moreira
Cecília Meireles sobre Fernanda de Castro
Cecília Meireles sobre Fernanda de Castro
terça-feira, 22 de junho de 2010
Memórias de um letrado
Memórias de Um Letrado (1980) vol. 3.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Pergunta sobre a cegueira- Onésimo Teotónio de Almeida
Testemunho de Onésimo Teotónio Almeida sobre Ensaio sobre a Cegueira (filme)
(Jornal de Letras, Artes e Ideias JL, 18 de Junho de 2010)
terça-feira, 15 de junho de 2010
A FALHA GEOLÓGICA DE ALQUEVA
Segundo um estudo encomendado, em 1996, pela Empresa de Desenvolvimento da Infra-Estrutura de Alqueva (EDIA) e levado a efeito por investigadores do Instituto de Ciência Aplicada e Tecnologia, de Évora, a barragem do Alqueva assenta numa falha sísmica com indícios de actividade, correndo o risco de ser destruída se ocorrer um sismo de magnitude máxima, de 6,1 na escala de Richter, prevista para esta falha. O estudo admite, ainda, que, na ocorrência de um abalo desta magnitude, a rotura à superfície do terreno originaria um deslocamento na ordem dos 20 a 30 centímetros, ao longo de sete quilómetros de extensão, o que seria suficiente para destruir a barragem.
Reagindo à divulgação deste estudo, a EDIA insistia na segurança da barragem, reafirmando que a referida falha não tem actividade sísmica, no que era corroborada por outros dois estudos elaborados na mesma altura, um pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil e outro por Lloyd Cluff, investigador norte-americano da Universidade da Califórnia. Nestes termos, a EDIA decidiu manter a construção da barragem no local para onde fora projectada. Como resposta a esta decisão, o Prof. Alexandre Araújo, da Universidade de Évora, defendia que a prudência aconselhava a deslocação da barragem, entre 100 a 200 metros para jusante do local onde estava e acabou por ser construída. Tal deslocação não aconteceu porque, na altura, as obras já tinham sido iniciadas. Segundo este investigador a referida deslocação seria suficiente porque, assim, a falha não passaria debaixo do respectivo paredão. Perante a eventualidade de um sismo da referida magnitude, a estrutura poderia abanar, mas não seria destruída. Alexandre Araújo lembrou, ainda, que o facto de se criar ali uma grande albufeira, esta poderá desencadear um efeito catalizador, uma vez que o peso da coluna de água irá aumentar a pressão sobre o terreno, e que a presença de tanta água poderá lubrificar as fracturas, provocando aquilo a que se dá o nome de sismicidade induzida.
Ao que indicam os estudos realizados, o intervalo de recorrência entre dois sismos máximos desencadeados por esta falha parece ser muito largo, na ordem dos 10 mil anos, mas a realidade é que se desconhece quando ocorreu o último abalo. O próximo, argumentava-se na altura, tanto pode ser amanhã, como daqui a mil anos.
A falha geológica do Alqueva foi descoberta na década de 70, no decorrer de um estudo geológico efectuado aquando do projecto inicial da barragem. Mas, ao que parece, não mereceu qualquer atenção por parte de quem tinha capacidade para decidir. Como resultado, houve uma significativa derrapagem nos custos da construção deste empreendimento - falava-se em 3 000 000 de contos, 15 000 000 de euros, na moeda actual - uma vez que foi necessário consolidar a referida falha com muito mais trabalho e muitos milhares de metros cúbicos de betão.
sábado, 12 de junho de 2010
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades - [Discurso de António Barreto - cerimónias oficiais]
Senhor Presidente da República,
Senhor Presidente da Assembleia da República,
Senhor Primeiro-Ministro,
Senhor Presidente do Supremo Tribunal de Justiça,
Senhor Presidente do Tribunal Constitucional,
Senhores Ministros,
Senhores Deputados,
Senhores Embaixadores,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Faro,
O DIA DOS PORTUGUESES ou, oficialmente, o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, comemorado em 2010, tem um significado especial. Na verdade, assistimos esta manhã a um desfile das nossas Forças Armadas precedido de uma extensa delegação de Veteranos, de Antigos Combatentes, mais singelamente de combatentes dos exércitos em todas as guerras e conflitos em que Portugal esteve envolvido desde meados do século XX.
Ao ver desfilar umas dezenas de antigos combatentes, de todos os teatros de acção militar em que Portugal participou, não sentimos vontade nem necessidade de lhes perguntar pela guerra, pela crença ou pela época. Sentimos apenas obrigação de, pelo reconhecimento, pagar uma dívida. Sentimos orgulho por saber que é a primeira vez na história que tal acontece e que está aberta a via para a eliminação de uma divisão absurda entre Portugueses. Com efeito, é a primeira vez que, sem distinções políticas, se realiza esta homenagem de Portugal aos seus veteranos.
Centenas de milhares de soldados portugueses combateram em nome do seu país, do nosso país, desde os inícios do século XX até à actualidade. Já não há sobreviventes do Corpo Expedicionário Português enviado para Flandres, na 1ª Grande Guerra Mundial, nem das forças que, no mesmo conflito, lutaram em África. O último veterano dessa guerra, José Maria Baptista, morreu a 14 de Dezembro de 2002. Depois daquele conflito, as guerras foram, durante décadas, poupadas aos Portugueses. Só a partir de finais dos anos 1950 os soldados e outras forças militarizadas voltaram a encontrar-se em situações de combate aberto, primeiro no então Ultramar português, depois em múltiplos teatros de guerra, em associação com forças armadas dos nossos aliados da NATO e da União Europeia e em missões organizadas sob a égide das Nações Unidas. Independentemente das opiniões de cada um, para o Estado português todos estes soldados foram Combatentes, são hoje Antigos Combatentes ou Veteranos, mas, sobretudo, são iguais. Não há, entre eles, diferenças de género, de missão ou de função. São Veteranos e foram soldados de Portugal. É assim que deve ser.
Em Portugal ou no estrangeiro, no Continente ou no Ultramar, na Metrópole ou nas Colónias, as Forças Armadas portuguesas marcaram presença em vários teatros de guerra e em diversas circunstâncias. Militares portugueses lutaram em terra, no mar ou no ar, cumpriram os seus deveres e executaram as suas missões. Em Goa, em Angola, em Moçambique, na Guiné, no Kosovo, em Timor ou no Iraque. Todos fizeram o seu esforço e ofereceram o seu sacrifício, seguindo determinações políticas superiores. As decisões foram, como deve ser, as do Estado português e do poder político do dia. Mas há sempre algo que ultrapassa esse poder. O sacrifício da vida implica algo mais que essa circunstância: é, para além das vicissitudes históricas e dos ciclos de vida política, a permanência do Estado.
Os soldados cumprem as suas missões por diversos motivos. Por dever. Por convicção. Por obrigação inescapável. Por desempenho profissional. Por sentido patriótico, político ou moral. Só cada um, em sua consciência, conhece as razões verdadeiras. Mas há sempre um vínculo, invisível seja ele, que o liga aos outros, à comunidade local ou nacional, ao Estado. É sempre em nome dessa comunidade que o soldado combate.
Na verdade, em todos os episódios de guerra referidos e noutros mais, há fenómenos de natureza diversa. Houve decisões políticas de carácter exclusivamente nacional, mas também houve actos de colaboração em missões multinacionais, como houve decisões estratégicas colectivas das alianças de que Portugal é membro. Também conhecemos decisões políticas tomadas em vários quadros: com e sem legitimidade democráticas, com e sem referenda parlamentar. E até, finalmente, situações em que o Parlamento fica aquém daquela que deveria ser a sua função. Com efeito, a Constituição e as leis não obrigam, infelizmente, a que as missões no estrangeiro sejam aprovadas pelo Parlamento. Apenas admitem o "acompanhamento do envolvimento" militar no estrangeiro, o que nem sempre é rigorosamente cumprido.
A análise destas diferenças pode ser importante do ponto de vista político, histórico e intelectual. Mas, no plano do reconhecimento de um povo, do respeito devido e do esforço do soldado, essas distinções são secundárias ou inúteis. Foram, simplesmente, militares portugueses que tudo deram ou tudo arriscaram. É esse o reconhecimento devido.
Um antigo combatente não pode nem deve ser tratado de colonialista, fascista, democrata ou revolucionário de acordo com conveniências ou interesses menores. A sua origem, a sua classe social, a sua etnia, as suas crenças ou a sua forma de vínculo às Forças Armadas são, a este propósito, indiferentes: foram, simplesmente, soldados portugueses.
Pelo sacrifício, pela duração e pelas implicações políticas, as guerras do Ultramar foram evidentemente as que mais marcaram as gerações das últimas décadas. Mas, ao longo dos trinta anos de democracia e de compromissos internacionais, muitas centenas ou milhares de cidadãos portugueses estiveram presentes em teatros de guerra e em missões de protecção da paz ou de mediação. Novos sacrifícios foram feitos, vidas foram interrompidas, carreiras e famílias suspensas.
Todos esses militares, os de Luanda ou do Líbano, os da Guiné ou da Bósnia, merecem o nosso respeito. São antigos combatentes. São Veteranos. São soldados que cumpriram os seus deveres e que, com excepção dos que tenham moralmente abusado das suas funções, merecem a nossa homenagem. Não há lugar, não deve haver lugar para diferenças entre esses Veteranos. Não há Veteranos melhores ou piores do que outros. Não há Veteranos que mereçam aplauso e Veteranos a quem se reserve o esquecimento. Não há Veteranos ou Antigos Combatentes fascistas ou democráticos, socialistas ou comunistas, reaccionários ou revolucionários. Não há Veteranos de antes ou de depois do 25 de Abril. Não há Antigos Combatentes milicianos ou de carreira ou contratados. Há Veteranos e Antigos Combatentes, ponto final! É o que nós lhes devemos. Nós, todos, os que fizeram ou não, os que concordaram ou não com as guerras, sem distinção de época, de governo ou de cor política.
Portugal não trata bem os seus antigos combatentes, sobreviventes, feridos ou mortos. É certo que há, aqui e ali, expressão de gratidão ou respeito, numa unidade, numa autarquia, numa instituição, numa lei ou numa localidade. Mas, em termos gerais e permanentes, o esquecimento ou a indiferença são superiores. Sobretudo por omissão do Estado. Dos aspectos materiais aos familiares, passando pelos espirituais e políticos, o Estado cumpre mal o seu dever de respeito perante aqueles a quem tudo se exigiu.
Em cada momento, em cada conflito, houve quem tivesse ideias diferentes e se opusesse à intervenção militar. Uns, mesmo nessas condições, cumpriram as ordens oficiais, outros recusaram-se. Por oportunidade, por convicção política, por uma interpretação diferente do interesse nacional, houve refracção e objecção. Em certos casos, pensava-se que as operações militares não tinham sido referendadas pelo povo soberano ou eram contrárias à ética e ao interesse nacional. Noutros casos, faltava o assentimento parlamentar. Aliás, o acompanhamento parlamentar do envolvimento militar é deficiente, apesar de estatuído pela Constituição.
Houve soldados que combateram sob um regime autoritário, outros em regime democrático. Houve soldados que combateram integrados em forças nacionais, outros em forças aliadas ou internacionais. Como houve soldados que, de outras origens étnicas então e tendo hoje nacionalidade diferente, serviram nas Forças Armadas portuguesas.
Em 1974, jovens militares decidiram derrubar o regime autoritário e dar uma oportunidade à democracia. Outros tentaram estabelecer um novo regime político que eventualmente limitaria as liberdades. Outros ainda ficaram independentes e equidistantes. Enquanto outros, finalmente, teriam preferido continuar sob o regime anterior. Prefiro os primeiros, os que ajudaram a fundar o Estado democrático. Mas, pelo sacrifício das suas vidas e pelo cumprimento dos seus deveres, respeito-os todos.
Qualquer guerra ou envolvimento militar é controverso e suscita opiniões diversas e contraditórias. É assim no Afeganistão ou no Iraque. Foi assim no Ultramar. Como também na Flandres, nas Linhas de Torres ou em Aljubarrota. Essas divergências podem ser legítimas e compreensíveis. Traduzem ideias, interesses, convicções e doutrinas diferentes. Assim como versões diversas do interesse nacional. Mas isso não justifica a ausência de respeito por aqueles que combateram, que correram riscos, que ficaram feridos ou deram a sua vida.
As diferenças de opinião e de crença não devem impedir de respeitar todos os que fizeram a guerra, com convicção ou por obediência ao poder político, desde que, evidentemente, o tenham feito sem abuso. Merecem as pensões que lhes são devidas. Merecem atenção e cuidado. Merecem um Dia do Combatente oficialmente estabelecido. Merecem que as suas associações sejam consideradas de utilidade pública. Merecem estar presentes nas cerimónias públicas e oficiais. Mas sobretudo merecem respeito.
Os Portugueses são parcos em respeito pelos seus mortos e até o Estado não é muito explícito no cumprimento desse dever. Pois bem: está chegada a altura de eliminar as diferenças entre bons e maus soldados, entre Veteranos de nome e Veteranos anónimos, entre recordados e esquecidos. Pela Pátria ou pelo seu País, pelo Estado ou pela sua profissão, foi pela sua comunidade nacional que todos eles combateram e se sacrificaram.
É possível que o comportamento do Estado, a atitude de políticos e os sentimentos de cidadãos para com os militares sejam determinados, em parte, pela avaliação que se faz do modo como deram ou retiraram apoio a certos dirigentes e a certas formas de regime. Não se nega o facto. Mas, perante o antigo combatente, recusa-se o juízo de valor.
Aos Veteranos e antigos Combatentes que hoje estiveram connosco pela primeira vez, nada se lhes pede. Nada devem aos seus contemporâneos. Nós é que estamos em dívida para com eles. São o Estado e a sociedade que lhes devem algo. O que lhes pedimos hoje foi muito simples: aceitem a homenagem que o Estado e os Portugueses vos prestaram! Não estamos aqui a festejar a guerra, mas sim os soldados! E não há melhor dia, do que o Dia de Portugal, para o fazer.
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Faro, 10 de Junho de 2010